Sunday, October 31, 2010

Os limites e as confusões do Nuno

Escreve o Nuno Ramos de Almeida:“Um dos princípais passos no sentido de uma emancipação global é recusar os limites do pensável que a ideologia do capitalismo nos impõe. (...) Do meu ponto de vista, o erigir de reformas parciais como o alfa e omega de toda a política significa aceitar esses limites. Um verdadeiro partido socialista deve propor medidas que melhorem a vida das pessoas, mas não pode desistir da ideia de uma transformação radical da sociedade. A sua função principal é tornar essa transformação pensável e, como tal, possível.”Nuno, nem todos os limites nos são impostos pela ideologia capitalista. Posso querer um moto-contínuo ou, mais ainda, uma máquina de produzir energia; posso querer que o calor flua naturalmente dos objetos mais frios para os mais quentes. Mas tal não me serve de nada, pois não os consigo obter. Não consigo obter tais máquinas, mas consigo pensar sobre elas. Como tal, evidentemente é falso que tudo o que seja pensável seja possível. Não é a ideologia capitalista a responsável por nada disto, mas a natureza que, ao contrário do que um teu muito histriónico colega defende, não é nenhuma construção social. E que nos impõe limites, esses sim intransponíveis.No teu “ponto de vista” sobre as reformas parciais, não explicitas de que limites falas: se os naturais, se os impostos pelo capitalismo. Discordo de que aceitar reformas parciais seja aceitar os limites “do capitalismo” (embora concorde que seja aceitar limites não impostos pela natureza, que eu classificaria como éticos). O “socialismo científico” consiste em saber distinguir os diferentes tipos de limites. Pelo teu texto, é um conceito que pelos vistos tu deixaste cair. É pena. Assim, creio que não vais a lado nenhum.

O novo petróleo?

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O fato de esse incidente opor China e Japão é muito eloquente, por um lado, por causa das relações execráveis entre os dois gigantes econômicos, por outro lado, e principalmente, porque essas terras raras pontuam as relações comerciais Japão-China.
Para compreender a questão, é preciso saber o que são terras raras.
São minerais não ferrosos que incluem 17 variedades de elementos químicos. Sua lista se assemelha a um poema surrealista: lantânio, neodímio, cério, praseodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, escândio e lutécio.
Para que servem? Para a alta tecnologia - por exemplo, a dos ímãs que transformam a energia elétrica em energia mecânica. Encontramos essas terras raras em todos os produtos high tech, celulares, trens-bala, iPods, fibras óticas, painéis solares, etc.
É aqui que encontramos de novo o Japão e a China. De fato, o campeão desses produtos de alta tecnologia é o Japão que, não dispondo de recursos naturais, baseia sua economia nas indústrias de ponta. Ao contrário, os chineses, que não dominam a alta tecnologia, são os maiores produtores de terras raras. Os dois países se complementam.
Portanto, se a China quiser pressionar o Japão, bastará que limite suas entregas de terras raras, como a Rússia, quando a Ucrânia faz má-criações, fecha seus gasodutos ou oleodutos.
Manobras. Isso significa que a China possui todas as terras raras do planeta? Não, ela sabe manobrar. Em 1992, o líder chinês Deng Xiao Ping quis que lhe explicassem a história das terras raras. Deng tinha 87 anos, mas tinha um espírito muito vivo, e concluiu: "O Oriente Médio tem óleo. A China terá as terras raras". Desde então, a China produz terras raras a preços imbatíveis. Ela conseguiu asfixiar a concorrência, de modo que outros países abandonaram a exploração de terras raras, a ponto de hoje Pequim ter praticamente o monopólio.
Estadão.com.br, 30.10.2010

A China concentra 97% da produção mundial dos metais de terras raras segundo a Associated Press.


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Saturday, October 30, 2010

Se os recursos fossem ilimitados não precisaríamos da esquerda para nada

“Assumindo recursos infinitos, a economia continuará a crescer, em média, com mais ou menos crises pelo meio”, prevê candidamente o Ricardo Schiappa. “Quase todos nós tendemos a encarar a presente crise como uma breve pausa no processo de crescimento”, escreve naturalmente o João Pinto e Castro. Neste caso não me parece que seja isto que ele pensa, mas de qualquer maneira o que me incomoda é o “quase todos nós” que o João familiarmente escreve. “Quase todos nós” achamos que o crescimento não parará. Que é como quem diz que “quase todos nós” achamos que os recursos naturais são inesgotáveis. Estamos aqui a falar do setor primário: sem ele não há comida. Mas mesmo o setor terciário, o das “ideias”, das “oportunidades”, que contribuem para o crescimento económico e em teoria podem ser inesgotáveis, não o é na vida real.Estes “quase todos nós” a que o João Pinto e Castro se refere somos nós, do hemisfério norte, que crescemos e vivemos habituados a uma economia do desperdício. Tal facto é particularmente notório nos EUA, mas também se verifica na Europa. Continuamos a conduzir estupidamente os nossos carros, mesmo em percursos de centenas de metros, mesmo em localidades bem servidas de transportes públicos, como se o petróleo fosse inesgotável e o espaço para circular e estacionar nas cidades fosse infinito (sem falar nos enormes prejuízos ecológicos, de que o aquecimento global é só um exemplo). Continuamos criminosamente a comer jaquinzinhos e petingas, sem nos preocuparmos se no futuro os nossos filhos poderão comer carapaus e sardinhas frescos, capturados no mar. E assim sucessivamente – os exemplos não são poucos.Que as pessoas de direita pensem, erradamente, que os recursos são inesgotáveis, ainda compreendo. O que não consigo entender é que tal passe sequer pela cabeça de pessoas que se digam de esquerda. Marx, provavelmente o primeiro ecologista, apercebeu-se da finitude dos recursos, ou não teria escrito “O Capital”.A esquerda é, acima de tudo, a redistribuição da riqueza de uma forma justa, consagrando a igualdade nas oportunidades e nos recursos básicos. Não aceito que haja quem coma banquetes todos os dias e haja quem passe fome. Não aceito que haja quem possua casas para arrendar e haja quem nem sequer possui uma casa própria onde morar. A questão é: num mundo imaginário onde houvesse uma infinidade de recursos naturais, não me importaria nada que houvesse quem os explorasse arbitrariamente. Não me importaria nada que se comesse bacalhau indiscriminadamente se ele nunca se esgotasse. Esquecendo agora as questões ecológicas (nada menosprezáveis no mundo real), não me importaria nada que nesse tal mundo um meu vizinho tivesse um poço de petróleo se eu também pudesse ter o meu. Nesse mundo os preços do petróleo, do bacalhau e de tudo o resto baixariam drasticamente: os preços só são altos devido à escassez. As diferenças de rendimento seriam, aí sim, somente uma questão de iniciativa e de talento. Não digo que ainda assim não houvesse injustiças nem necessidade de alguma proteção social (seguramente menos do que no mundo real, onde os bens escasseiam), mas quem disse que a direita não tem preocupações sociais, desde que não ponham em causa a distribuição de riqueza? Num mundo imáginário com infinidade de recursos, que é onde julgam viver muitos americanos (os EUA são um país muito grande e rico) e muitas pessoas de direita (que nunca passaram necessidades), não haveria necessidade de haver “esquerda”. É por isso que eu me espanto que haja pessoas de esquerda, que deveriam ter noção da escassez dos recursos, que não se preocupem com o equilíbrio do planeta ou com o desenvolvimento sustentável. E que continuem a exigir reformas antes dos 60 anos e maternidades e escolas em locais onde não vivem pessoas que as justifiquem.

Produtividade

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Fotografias de Alain Delorme, feitas em Xangai em 2009 e 2010

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Haverá alguma relação entre esta produtividade chinesa e o enorme crescimento da sua economia e do saldo positivo da sua balança comercial? Responda quem souber.

Friday, October 29, 2010

Vias nadáveis

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Depois do enorme investimento nas "vias cicláveis", para fomentar o ciclismo inexistente, a CML lançou agora as "vias nadáveis" para fomentar a prática da natação.
É, valha-nos isso, mais barato pois basta não fazer nada e esperar pelas chuvadas de Outono.

25 anos

Sempre LEFT!XIV Semana da Física a decorrer esta semana.Jantar comemorativo logo à noite.

Thursday, October 28, 2010

Da mão-de-obra barata para o petaflop barato

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A China apresentou hoje, durante o National High Performance Computing (HPC China 2010), em Pequim, o supercomputador mais potente do mundo.
Chamado de Tianhe-1A, a máquina tem capacidade de processamento de 2,507 petaflops, medidos por meio do software Linpack.
Para atingir o novo recorde de performance, o Tianhe-1A conta com 14 336 processadores Intel Xeon, GPUs Nvidia Tesla M2050, 103 armários e pesa 155 toneladas.

O equipamento foi desenvolvido pela Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa (NUDT), na China, com custo de 88 milhões dólares. Em operação, ele consome 4,04 megawatts de eletricidade.
O Tianhe-1A derrubou o recorde anterior do Cray XT5 Jaguar, que é usado pelo Centro Nacional dos EUA para Ciências da Computação, no Oak Ridge National Laboratories. O Cray XT5 Jaguar é capaz de processar até 1,75 petaflops.
O Tianhe-1A vai operar com um sistema de código aberto e será usado para realizar cálculos científicos em larga escala.
Info.abril.com, 28.10.2010

Não, ainda não se sabe quando estará à venda numa "loja do chinês" perto de si.
Mas estamos a assistir a uma séria tentativa de passar da mão-de-obra barata para o petaflop barato.
Foi certamente nesta enorme potência de cálculo que se baseou a opinião da vice-ministra dos Negócios Estrangeiros chinesa, Fu Ying, que a propósito de uns empréstimos a Portugal afirmou: «Acreditamos que as medidas tomadas pelo Governo português conduzirão à recuperação dos sectores económico e financeiro de Portugal».
Trata-se de um inesperado, e exótico, apoio às medidas de austeridade de Sócrates ou apenas de uma forma muito rentável de aplicar as gigantescas reservas financeiras chinesas?
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Os frescos de Santa Águeda

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A Capela de Santa Águeda/Ermida de São Neutel está situada nos arredores de Vila Nova da Baronia.
Propriedade da Igreja Católica, inclui azulejos e o retábulo do Século XVI no altar-mor.
Integrada no Herdade dos Aires é rodeada por terrenos agrícolas. Várias construções (outrora funcionando como casas dos romeiros) rodeiam a capela a Norte e Sul. Nas imediações um palanque com espaldar em madeira decorado com pinturas recentes representando o orago, onde se realizam os festejos anuais.
A sua construção é do início do Século XVI e dedicada a Santo Eleutério, Papa de 174 a 189, cujo nome por corruptela popular se transformou em São Neutel, personagem hagiográfica lendária. Em 1570 é executado o retábulo-mor, no Século XVII a construção da galilé e em 1755 a construção do portal, após o terramoto quando a ermida recebeu então o onomástico adicional de Santa Águeda, santa de grande devoção local, provocando uma implantação humana em redor, que deu origem à aldeia de São Neutel, de que subsistem as casas existente em redor do templo.
Possui um notável conjunto de pinturas murais nos alçados e coberturas (ver aqui).

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Tuesday, October 26, 2010

Best. Footnote. Ever.

Tendo em conta o azarento historial de equívocos entre realidade e onionismo que tem marcado as tentativas de divulgação da obra e pessoa de David Foster Wallace na imprensa nacional, cabe-me aqui relatar um facto pertinente que, mesmo depois da mais diligente e exaustiva pesquisa online, se poderia pensar ser tão fabricado como a história do bilhete de suicídio de trezentas páginas ou a dear john letter de sessenta: nos anos 90 David Foster Wallace tatuou o nome de uma namorada no braço; em 2003, quando a relação terminou, em vez de apagar a tatuagem, tatuou um asterisco ao lado da mesma, remetendo para uma outra tatuagem em nota de rodapé, com o nome da nova namorada, com quem se viria a casar. Gostaria de pensar que tanto o Sérgio C. Andrade e o Rui Catalão como aqueles que lhes apontaram os erros passaram por esta história e a acharam pouco plausível (com toda a razão, embora seja verdadeira). Quanto ao resto, vamos nutrindo com tranquilidade um torcicolo e perdoamos todos aqueles que estão do lado do Bem.

Um país (re)ciclável

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As vias cicláveis estão na moda. Em Lisboa, onde falta tanta coisa, a Câmara precipitou-se na sua construção.
Na avenida do Brasil, por exemplo, com grandes custos e incómodos, lá surgiu uma longa faixa vermelha que rouba espaço aos passeios em frente ao Júlio de Matos e ao LNEC. Nunca lá vi, nas minhas passagens frequentes, qualquer ciclista.
Esta apologia bem-pensante antecipou-se a qualquer necessidade real; antes de haver ciclistas com problemas criou-se uma solução para eles. Como se os recursos abundassem e pudessem ser malbaratados.
Noutras circunstâncias haveria um movimento de cidadãos contra os riscos de quedas e fracturas expostas. Ou então protestando contra uma infraestrutura que discrimina os velhos e os incapacitados. 
Funcionamos assim, por entusiasmos fátuos, construindo os castelos de areia de uma modernidade inadaptada.

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Monday, October 25, 2010

O Alandroal é Portugal

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Alandroal por Maluda, Óleo sobre tela, 1988, 54×65cm




Sejam bem-vindos ao Alandroal. Um concelho alentejano lindíssimo e de que recomendo a vila de Terena e uma visita ao seu castelo. Agora, alguns dados sobre o Alandroal: o concelho tinha, no censo de 2006, exactamente 6187 almas (infelizmente, é provável que o número tenha diminuído e não aumentado).
Para assistir devidamente os seus 6187 habitantes, o concelho tem nada menos do que dezasseis freguesias e a Câmara Municipal emprega 220 funcionários, mais a vereação — ou seja, um funcionário camarário para cada 28 habitantes.
Para poder alimentar este exército camarário seria de supor que a Câmara gozasse de uma privilegiada situação a nível de receitas. Não, infelizmente: segundo nos informa o “Diário de Notícias”, o município sobrevive “praticamente sem receitas próprias”, que não as que recebe das transferências do Orçamento do Estado.
Uma visita à terra mostra-nos porquê e explica-nos que há bens que vêm por mal: lá isolado, em plena planície, longe da costa e de Alquevas, o município não pode acrescentar às verbas do OE as que resultariam do imposto municipal sobre imóveis referente a urbanizações e aldeamentos turísticos, marinas e campos de golfe que não tem. O Alandroal está assim preservado dos PIN e do desvario urbanístico e paga por isso um preço, pois que a lógica do ordenamento do território em vigor estabelece que quem mais constrói, quem mais construção autoriza, mais dinheiro tem.
O Alandroal vive, pois, exclusivamente à custa dos contribuintes. Note-se: não são os habitantes (que, esses gozam de outros apoios sociais): é o próprio concelho. Ora, isto é meio caminho andado para a desgraça e para a irresponsabilidade: é sabido que quem vive de gastar o que não tem, não lhe dá o devido valor. Não admira, pois, que, entre 2001 e 2009 e ao ritmo de três milhões por ano, o concelho tenha acumulado uma dívida de 28 milhões de euros (4525 por habitante, a acrescer aos cerca de 13.000 que cada português deve em nome da República).
Em 2008, o município, liderado por um socialista, excedeu em dois milhões os limites de endividamento fixados na lei, e, em 2009, ano de eleições autárquicas, triplicou a derrapagem, ultrapassando em mais seis milhões os limites legais de endividamento. Chegou agora a factura: conforme estabelecido, a lei penaliza o seu endividamento além dos limites, cortando-lhe 10% nas transferências do OE. O novo presidente da Câmara queixa-se, e com razão, de “estarem a ser penalizados por decisões tomadas no passado”. E queixa-se, sem razão, de que, se o Governo aplicar a lei, não terá dinheiro para pagar os subsídios de Natal à sua legião de funcionários. E não vê outra solução que não a de cortar no “que não é fundamental: iluminações de Natal, festas, horas extraordinárias e ajudas de custo”. Realmente, pensando que temos mais de 300 municípios e alguns deles na mesma situação do Alandroal, também não vejo outra solução... Só não percebo é por que razão foi preciso esperar até quase ao final do ano para se darem conta... das contas. E, francamente, custa-me a entender como é que, com um funcionário por cada 28 habitantes, ainda é necessário pagar horas extraordinárias, e como é que, com 4525 euros de dívida pesando nas costas de cada munícipe, ainda sobra dinheiro para festas.
Se quer saber como é que chegámos onde chegámos, à iminência da bancarrota, é fácil: o Alandroal é Portugal.
Miguel Sousa Tavares
Expresso, 23.10.2010
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Prólogos do Apocalipse

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Onze pessoas aterrorizadas atiraram-se da janela de um segundo andar para fugir ao que pensavam ser o diabo. Na sequência da queda, sete ficaram feridas, três das quais crianças. Entre estas, um bebé de quatro meses acabou por morrer.

Tudo aconteceu sábado à noite em La Verrière, nos arredores de Paris, em França.

E o diabo era, afinal, o pai de uma das crianças.
Os resultados das primeiras investigações dão conta de que "13 pessoas estavam a ver televisão quando, por volta das 03.00 da manhã, um dos ocupantes do apartamento ouviu o filho a chorar", conta Odile Faivre.
A procuradora adjunta do Ministério Público de Versailles avança que o pai do bebé, totalmente nu e ainda algo ensonado, "se levantou para preparar o biberão" quando a mulher , ao vê-lo, terá gritado: "É o diabo, é o diabo!"

A cunhada do homem em causa feriu-o gravemente na mão com uma faca e expulsou-o do apartamento. Quando ele tentou entrar novamente em casa, "os outros ocupantes puseram-se em fuga, em pânico, e, com medo do diabo, saltaram pela janela".

A responsável do Ministério Público avançou, porém, existirem ainda muitos pontos obscuros na história. Mas, adianta, com base nas investigações feitas pela polícia, que "nenhuma sessão espírita foi realizada no apartamento e também não foi ali encontrada qualquer substância alucinogénica."

Diário de Notícias 24.10.2010

Sucedem-se os sinais de um apocalipse eminente.
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Sunday, October 24, 2010

Matti e o novo Puntilla

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O Teatro Aberto mostra a inesquecível peça de Brecht, com excelentes actores e excelente encenação.
É a história de um patrão umas vezes generoso, quando está bêbado, e outras tirânico, quando está sóbrio. É difícil perceber em que modo se torna mais insuportável.
Esta fábula, que marcou o século XX, tornou-se anacrónica num tempo em que os trabalhadores cada vez mais se confrontam com as grandes empresas e com o próprio Estado.
Precisávamos de um novo Brecht que tratasse destes novos patrões sem rosto, que não se metem nos copos. Talvez assim a retórica da esquerda acabasse por reconquistar um sentido actual.

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Friday, October 22, 2010

Enquanto nós discutimos o Orçamento...

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A China inaugura mais uma linha ferroviária de alta velocidade (TGV) na próxima terça-feira, reforçando a posição de líder mundial do setor com uma rede que, em menos de uma década, ultrapassou os 7.000 quilómetros de extensão.


A nova linha, um troço de 202 quilómetros entre Xangai e Hangzhou, é também o palco do novo recorde mundial de velocidade: 416,6 kms/hora.
Nos testes realizados o mês passado, o mais moderno “tgv chinês”, o “CRH380A”, excedeu em 22,3 Kms/hora a marca alcançada no verão de 2008 na primeira linha férrea chinesa de alta velocidade, que liga Pequim a Tianjin.
O engenheiro-chefe do Ministério dos Caminhos de ferro, He Huawu, anunciou esta semana que a China está a desenvolver um comboio ainda mais rápido, capaz de atingir 500 kms/hora, a velocidade de alguns aviões pequenos.
“Queremos liderar o mundo na construção ferroviária de alta velocidade”, disse He Huawu num fórum internacional da especialidade em Wuhan, centro da China.
O “CRH380A” que vai operar na linha Xangai-Hangzhou – um comboio «made in China» com oito carruagens e capacidade para 500 passageiros – atinge os 350 kms/hora ao fim de apenas dez minutos.
Segundo a previsão das autoridades, cerca de 80 milhões deverão viajar anualmente naquela linha, que liga a “capital económica da China” à capital da província de Zhejiang, uma das mais prósperas do país.
No final de setembro, a China já tinha 7055 quilómetros de via-férrea de alta velocidade, devendo chegar aos 13 000 quilómetros em 2012 – mais do que toda a rede existente hoje no mundo inteiro.
Em 2009, o Japão e a França – os outros países que mais têm investido neste domínio – tinham, respetivamente, 2000 e 1900 quilómetros.
Pelos patrões da International Union of Railways, organização com sede em Paris, a alta velocidade corresponde a mais de 200 kms/hora.
Entre os dez mil quilómetros em construção na China destaca-se a linha Pequim-Xangai, com 1318 quilómetros, uma empreitada que no ano passado empregava cerca de 110 000 trabalhadores e cuja abertura está prevista para 2012
A viagem entre as duas principais cidades do país passará a demorar menos de cinco horas, metade do tempo atual.
He Huawu prevê que “num futuro próximo, a rede chinesa de alta velocidade atingirá 50 000 quilómetros de extensão, ligando todas as cidades com mais de 500 000 habitantes”.


Diário Digital /Lusa

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Variações

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Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar


Já toda a gente percebeu que vamos ter que mudar de vida. Que as políticas e práticas das últimas décadas foram, no mínimo, irresponsáveis e inconsequentes. Que vamos ter que encontrar novos actores, novo texto e nova encenação para podermos construir um futuro com dignidade.
Por isso não consigo compreender como o "circo mediático" se continua a ocupar dos fait-divers da aprovação do orçamento e, mesmo a esse nível, se fale mais dos aspectos processuais e psicológicos do que da substância das propostas e soluções.
Tem que haver alguém que, com revisão constitucional ou sem ela, faça uma ruptura com o passado e apresente aos portugueses uma nova visão da nossa economia e da nossa política. Para que seja possível acreditar que ainda há soluções e saídas possíveis.
Toda a pressão sobre o PSD para que aprove o OE 2011 parece pretender, no essencial, que tal ruptura não se dê e que tal alternativa radical não surja.
Mas os que fazem tal pressão deviam saber que se a alternativa não surgir de dentro dos partidos do regime acabará por eclodir contra o regime.

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Thursday, October 21, 2010

O offshore está offside

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São cerca de 600 os contribuintes chamados a provar a origem das verbas enviadas para paraísos fiscais em 2009.

A Direcção-Geral dos Impostos está a investigar as transferências para off-shores de contribuintes singulares que não declararam rendimentos que justifiquem essas operações.

A acção de fiscalização, a nível nacional, abrange cerca de 600 contribuintes responsáveis por transferências, em 2009, para paraísos fiscais na ordem dos 55 milhões de euros, e que estão já a ser chamados para justificar as mesmas.

A notícia foi ontem avançada pelo Correio da Manhã e dava conta que, dos 600 contribuintes referenciados pela banca como tendo enviado verbas para territórios com regimes de tributação privilegiada, colectados como trabalhadores independentes, cerca de 500 "não tinham qualquer actividade conhecida ou não entregaram a declaração de rendimentos referente a 2009".


Ver o artigo no DN, 21.10.2010


Foi preciso o país chegar à bancarrota para se lembrarem de fiscalizar o óbvio.

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866 milhões de euros para contar 1.300 milhões de chineses



A China vai contar a sua população entre 01 e 10 de novembro, num censo de porta-a-porta que se realiza uma vez por década e que mobilizará este ano cerca de seis milhões de pessoas e uma despesa estimada em mais de 866 milhões de euros.
No último censo, em 2000, a China tinha 1 265 830 000 habitantes, mas 1,8 por cento da população (quase 23 milhões) não foi contabilizada, disse hoje o diretor do departamento de demografia do Instituto Nacional Estatísticas, Feng Nailin.
Pela primeira vez, serão também abrangidos os estrangeiros e os “compatriotas de Hong Kong, Macau e Taiwan”.
Cada recenseador será responsável por “um bloco de 250 a 300 pessoas”, através de mais de 300 cidades e 680 000 aldeias, indicou Feng Nailin.
Segundo o mesmo responsável, a operação está orçada em oito mil milhões de yuan (cerca de 866,5 milhões de euros) e os resultados vão demorar um ano a processar.
As “maiores dificuldades” dizem respeito aos trabalhadores migrantes, estimados em cerca de 200 milhões, e ao “receio” de muitas famílias de serem multadas se declararem a existência de um segundo filho, reconheceu o responsável.
Em julho passado, a ministra Li Bin, diretora da Comissão Nacional da População e Planeamento Familiar, estimou que em 2015 a China chegará aos 1400 milhões – mais 80 milhões que no final de 2008 – e, pela primeira vez, a maioria viverá em cidades.
Nos primeiros 30 anos de governo comunista, até ao final da década de 1970, a população quase triplicou, para cerca de mil milhões, mas o crescimento caiu 40 por cento com a política de “um casal, um filho”, imposta em 1980.
Pelas estimativas do Instituto de Estatisticas da China, no final de 2009, o país tinha cerca de 1340 milhões de habitantes - mais de um quinto de toda a Humanidade.

Diário Digital /Lusa

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Wednesday, October 20, 2010

ZÉMAX

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Capucho sugere «mediador» para acelerar acordos PS-PSD

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Alfredo Luz

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Alfredo Luz tem, na Galeria São Francisco à Rua Ivens, uma belíssima exposição de pintura. Para ver.



 
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Tuesday, October 19, 2010

Fetichismo

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Orçamento de Estado,
Orçamento deste Estado,
Orçamento des-tEstado,
Orçamento detEstado.
Um caso de fetichismo colectivo.


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O motorista invisível

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A Google quer definitivamente sentar-se no banco do motorista de nossos automóveis. É o que mostra a retomada do projeto 'Pribot', com modelos Toyota Prius repletos de sensores, radares e muita tecnologia embarcada para garantir que os motoristas humanos são dispensáveis — os veículos já rodaram mais de 225 mil km, incluindo 1,6 mil km sem motorista.
Para garantir total segurança em caso de falha dos sistemas, os carros contam com um 'motorista' treinado e um engenheiro de software que monitora tudo, em tempo real, no banco do carona. Os testes que acabaram de ser realizados foram feitos na Lombard Street, em São Francisco, e na California Highway One, estrada que vai até Los Angeles.
De acordo com Dr. Sebastian Thrun, diretor do Laboratório de Inteligência Artificial de Stanford, engenheiro do Google (co-inventor do Google Street View) e vencedor da corrida de 2005 de carros dirigidos por robôs da Agência de Projetos Avançados de Defesa (Darpa), a intenção da Google é contribuir para reduzir em mais de 50% o número de acidentes causados por falhas humanas.
Ele afirma que até mesmo quem acha o projeto avançado demais para a realidade atual da maioria dos países há de concordar que os estudos feitos pela empresa podem, no mínimo, ajudar a criar dispositivos que assumam, de maneira segura, o comando do veículo em situações de risco, como, por exemplo, aqueles segundos na hora de ligar o som do carro ou em infrações como beber, comer ou enviar mensagens de texto ao volante.
Os Toyota Prius da Google respeitam limites de velocidade dos locais por onde passam, sinais de trânsito, placas de advertência, bem como a distância segura em relação a outros carros e a presença de obstáculos. Veja como no box ao lado. Na coluna 'Segurança', na página 3, o que foi debatido em Paris sobre o futuro da mobilidade.
- Um sensor rotativo no teto escaneia mais de 61 metros em todas as direções para gerar um mapa tridimensional preciso de tudo o que está ao redor do veículo.
- Câmeras montadas próximas ao retrovisor interno detectam as luzes dos sinais de trânsito e ajudam os computadores a bordo a reconhecerem obstáculos móveis como, por exemplo, pedestres e ciclistas.
- Quatro radares convencionais automotivos, três na dianteira e um na traseira, ajudam a determinar a posição de objetos distantes.
- Um sensor, montado na roda traseira esquerda, é responsável por medir pequenos movimentos feitos pelo carro. Com isso, ele contribui para localizar de maneira bastante precisa a posição do automóvel no mapa.


O DIA Online, 14.10.2010


Aqui está uma contribuição decisiva, não retórica, para a segurança rodoviária.

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Ex-votos da Senhora D'Aires

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Na Senhora D'Aires, de ao pé de Viana (Alentejo), têm-se feito e pago muitas promessas.
Veja AQUI uma reportagem dos ex-votos populares.

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Monday, October 18, 2010

Um homem à frente do seu tempo

Artigo de Marco Vaza, Público, 16-10-2010.
Malcolm Allison (1927-2010), o treinador que gostava de viver para lá do futebol Malcolm Allison não escondia de ninguém os charutos nem as garrafas de champanhe. “O champanhe é uma bebida boa, uma bebida limpa”, dizia. Não se importava que os jogadores bebessem, responsabilizava-os pelas suas atitudes, mas premiava-os se fossem vencedores. “Fomos a Paris fazer um jogo particular com o PSV, já depois de termos sido campeões e ter vencido a Taça”, recorda ao PÚBLICO Manuel Fernandes, avançado do Sporting que coincidiu com o técnico britânico em Alvalade em 1981/82, ano de muitas conquistas para o clube. “Depois do jantar, regressámos ao hotel às duas da manhã e eu perguntei-lhe: “A que horas temos de acordar amanhã?” Ele respondeu: “Hoje ninguém vai dormir, vamos para os copos em Paris. Já fomos campeões. Agora temos de nos divertir e conviver uns com os outros.” Regressámos às seis da manhã.” Morreu aos 83 anos o homem do chapéu, dos charutos e do champanhe. Da liberdade responsabilizada e dos métodos inovadores. “Era uma pessoa à inglesa. Para ele, liberdade era igual a responsabilidade. Criou-se essa imagem de uma pessoa anarca e irresponsável, mas era exactamente o contrário. E era igual para todos”, conta ao PÚBLICO António Oliveira, avançado do Sporting daquele tempo, a quem Allison chamava “Oli”. “Se tínhamos um treino à terça-feira, ele dizia: “Oli, vai ver a família, e vem só na quarta-feira.” Ele queria tirar partido da parte psicológica.” Nascido em Dartford a 5 de Setembro, Malcolm Alexander Allison, Big Mal, chumbou de propósito na escola para poder ir jogar futebol, chegando ao Charlton com 18 anos em 1945, depois de ter passado os últimos anos da guerra como moço de entregas para uma mercearia. No Charlton teve poucas oportunidades e passou para outro clube de Londres, o West Ham, onde jogou até aos 31 anos, terminando a carreira de forma precoce devido a uma tuberculose que fez com que lhe retirassem um pulmão. Estreou-se como treinador aos 36 anos no modesto Bath City, andou pelo Canadá e passou pelo Plymouth, antes de chegar ao Manchester City, onde foi adjunto entre 1965 e 1972, cumprindo a época seguinte como técnico principal - como adjunto, foi campeão inglês, venceu as taças de Inglaterra e da Liga e uma Taça das Taças. Ainda em Inglaterra, foi marcante a sua passagem pelo Crystal Palace, clube do qual foi despedido por se ter deixado fotografar nu com uma actriz porno numa banheira nas instalações do clube. Chegou a Portugal em 1981 e conduziu o Sporting ao título e à Taça de Portugal, falhando por pouco o sucesso na Europa - foi eliminado pelo Neuchâtel Xamax nos oitavos-de-final, depois de uma eliminatória anterior marcante com o Southampton de Kevin Keegan, com um triunfo por 4-2 em Inglaterra e um empate sem golos em Lisboa. “Nesse jogo, ele começou por me colocar a defesa-direito e a ordem era: “Meszaros [o guarda-redes], quando tiveres a bola joga para o Oli”. Marcámos quatro”, recorda António Oliveira. Apesar da época de sucessos, a permanência de Big Mal em Alvalade terminou logo no início da época seguinte. O britânico seria despedido, por alegadamente beber demasiado, mas voltaria a Portugal para treinar Vitória de Setúbal e Farense. “Foi um processo muito injusto. Um empresário estava a preparar a vinda do Josef Venglos e inventaram uma história que o Allison tinha bebido uma quantidade impossível de álcool”, lamenta Oliveira, que seria o substituto imediato do britânico, como treinador-jogador antes de Venglos chegar a Alvalade. O Sporting foi o último clube onde teve sucesso como treinador, tendo ainda passagens falhadas pelo Middlesbrough, pela selecção do Kuwait e pelo Bristol, onde terminou a carreira em 1993. Sofreu nos últimos anos da sua vida com os excessos que antes cometera. Quase todos os seus relacionamentos amorosos - um deles com uma coelhinha da Playboy - falharam e a sua saúde degradou-se de forma irreparável pelo álcool que consumiu - admitiu o seu alcoolismo -, terminando os seus dias num lar, já praticamente desligado do mundo. Mas seguramente, garante quem o conheceu, sem arrependimentos. Palavra a António Oliveira: “Era um homem que gostava de viver e transmitia-nos o gozo pela vida para lá do futebol.”

Assaltumbanco

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O espectáculo a que ninguém fica indiferente, um prodígio de criatividade que é também uma lição de vida.
A resposta aos desafios do momento presente. Leve a família toda e volte mais rico para casa.

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A assobiar para o ar

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O que mais me espanta na situação actual é a preocupação em impedir a crise desta semana, em tentar enganar "os mercados" nem que seja mais uns dias aprovando um orçamento qualquer.
Já nem falo do passado. Não há responsáveis? Onde estiveram os deputados durante todos os anos em que se cavou o buraco actual? Não é para isso que pagamos um "regime democrático"? E os partidos "à esquerda", que tanto se mobilizam em defesa de certas corporações, porque não fizeram a insurreição enquanto o país ainda não tinha sido totalmente delapidado?
Onde estava o juiz Carlos Moreno, que agora escreveu um livro, durante estes anos todos? Só o casmurro do Medina Carreira, honra lhe seja feita, é que gritou que vinha aí o lobo. E vinha mesmo.
Mas há que falar do futuro. Não haverá futuro enquanto não percebermos como, e porquê, caímos neste atoleiro. Para evitar repetir os mesmos erros.
Para haver um futuro alguém tem que ter a coragem de romper com o marasmo do sistema. Alguém tem que assumir um projecto de futuro em que seja possível acreditar e, à luz dele, determinar todos os sacrifícios que forem necessários.
Isto não vai lá pelo método habitual, com troca de favores nos camarins e depois assobiar para o ar para o "mercado" ver.

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Sunday, October 17, 2010

Os frescos do Alentejo

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Passei o sábado a visitar os frescos alentejanos. Vila nova da Baronia, Santa Águeda, Alvito, Senhora de Aires de ao pé de Viana e São Cucufate.
Um dia bem passado.

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Friday, October 15, 2010

Malcolm Allison (1927-2010)


As melhores evocações desta antiga glória do Sporting, que aqui transcrevo, li-as num artigo de Rui Tovar no jornal I, através do blogue Leão da Estrela.

Com o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal 1980-81 entregues ao Benfica e sem estaleca para a Taça dos Campeões, o Sporting começou cedo a preparar a época seguinte. Bem ao seu estilo, o presidente João Rocha queria um avançado e um treinador. Para o primeiro objectivo foi ao FC Porto buscar o virtuoso Oliveira para juntar à dupla Manuel Fernandes-Jordão. Já o treinador não foi tão fácil. José Maria Pedroto foi sondado, mas preferiu o Vitória Guimarães. Viria Malcolm Allison. É nessa memorável época de 1981-82 que o Sporting enche o país de verde e branco. À conta de vitórias e bom futebol. O excêntrico Malcolm Allison entra em cena e tem uma equipa de luxo à sua disposição. Além de Oliveira, ex-FC Porto, e Meszaros, guarda-redes húngaro para o lugar de Vaz, chegam Melo, Venâncio, Nogueira, Virgílio e Alberto. O Sporting começa por empatar 2-2 em casa com o Belenenses de Artur Jorge, num jogo com cinco expulsões (4-1 para os azuis). Seguem-se cinco vitórias consecutivas, ciclo travado por Boavista (3-3) e Benfica (1-1). No final da primeira volta, o Sporting continuava invicto, com quatro pontos de avanço sobre o Benfica e cinco sobre o FC Porto. Em Março, o Sporting bate o Benfica em Alvalade por 3-1, num encontro em que o brasileiro Jorge Gomes, o primeiro estrangeiro de sempre nos encarnados, acusa o árbitro Marques Pires. "Ele é que devia ir ao controlo antidoping. Um homem no seu estado normal não faz aquelas coisas!" O título não era uma miragem e tornou-se realidade a três jornadas do fim, no Estoril. Só faltava Jordão ser o melhor marcador. Mas o portista Jacques tirou-lhe o título na derradeira jornada, em que os dois se defrontaram nas Antas (2-0 para os dragões, com um golo de Jacques). A festa continua na Taça, uma semana mais tarde, com um inequívoco 4-0 sobre o Braga, na tarde em que Quinito, treinador do bracarenses, se apresentou no Jamor de fraque creme e laço castanho. Na hora de receber o troféu, Manuel Fernandes despiu a camisola 9, deu-a ao presidente João Rocha e foi de tronco nu para a tribuna de honra, onde estava Ramalho Eanes com a Taça. É a quinta dobradinha na história do Sporting! O mérito é de todos e de Allison, o treinador inglês que nunca mais ganhou nada a partir daí. Big Mal, como lhe chamam, fez ontem 83 anos. Está internado num lar de idosos, com doença de Alzheimer, mas é um homem que continua no coração dos sportinguistas. Por isso, o "i" falou com quatro jogadores para ouvir histórias de outros tempos. Tempos de glória, lá para os lados de Alvalade.

MESZAROS, O REFORÇO PARA A BALIZA "Devo-lhe muito. Ele é que me contratou para o Sporting. E para o V. Setúbal [1987-88]. Há um pormenor de que nunca me esquecerei: num jogo da Taça, em casa, com o Boavista, estávamos a perder 2-1 ao intervalo. Nós, jogadores, estávamos no balneário, ele abre a porta e só nos diz isto: ''Se quiserem ganhar, passem a bola ao Mário Jorge.'' Depois saiu e bateu com a porta. Ficámos todos a olhar uns para os outros. Na segunda parte, o Mário Jorge fez a jogada do 2-2 para o Manuel Fernandes e foi derrubado na área, no lance de que resultou o penálti do 3-2, marcado pelo Oliveira."

EURICO, O PATRÃO DA DEFESA "Há 29 anos acabaram-se os estágios. Allison chegou a Lisboa e deu-nos responsabilidade. Mas não se ficou por aí. Todos nós, jogadores, tínhamos direito a um copo de vinho, sempre servido por empregados à mesa, durante as refeições. Num dos primeiros almoços que tivemos nessa época, um empregado de mesa serviu-nos o vinho e ia levar a garrafa quando se ouviu o Allison a dizer: ''Deixe aí a garrafa!'' "

CARLOS XAVIER, O MIÚDO "De cada vez que jogávamos em Alvalade chegávamos ao estádio às 10h30 e almoçávamos a essa hora. O Malcolm Allison dizia-nos para comer à vontade: batatas, ovos, carne, peixe, massa. Era só escolher. Até ao jogo, ficávamos lá no estádio à espera de entrar em campo. Quando íamos a caminho do relvado já estávamos em pele de galinha, porque o Allison entrava em campo antes de nós e era um espectáculo dentro do próprio espectáculo. Dava a volta ao campo com o braço no ar a segurar o inconfundível chapéu. Os adeptos deliravam e nós também. Houve uma altura em que até havia música ao vivo e se tocava o "Comanchero". O estádio ia abaixo. Nunca o ouvi berrar. Nem nos treinos. Quando eu cometia um erro, aproximava-se e segredava-me qualquer coisa como ''não me lixes'', como quem diz: ''não sejas assim, tão apático, és capaz de muito melhor.'' "

MANUEL FERNANDES, O CAPITÃO "Dois dias depois de ganharmos a Taça, jogámos com o PSV Eindhoven em Paris. Na véspera, à noite, Allison concentrou os jogadores no hall do hotel e começou a falar das aventuras em Inglaterra. A conversa, animada como sempre, durou das 23 às duas da manhã. A essa hora, eu, como capitão, sugeri que fôssemos para a cama. Ele virou-se para mim: ''Fomos campeões, vencemos a Taça e vamos dormir? Nada disso. Vamos todos sair para Paris.'' E lá fomos, todos nós, aos bares e aos cabarés de Paris, àqueles mais conhecidos e tudo, como o Lido. Foi uma noite-manhã inesquecível. Aliás, essa sintonia de grupo já vinha de Agosto do ano anterior [1981], quando o Allison chegou a Lisboa. Dizia-nos para almoçarmos, jantarmos, cearmos ou sairmos à noite, mas sempre na véspera da folga. Como esse dia calhava à terça-feira, o plantel do Sporting, formado por 20/25 jogadores, começou a sair à segunda. Às vezes encontrávamo-nos ao almoço, ficávamos no restaurante até ao jantar e depois ainda íamos dançar até não aguentar mais. A essas noitadas o Malcolm nunca foi. Só mesmo a de Paris e por isso é que foi tão inesquecível. Porque fechou uma época de ouro no Sporting."

Os cães ladram e o orçamento passa

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Thursday, October 14, 2010

Leonard Maltin's Auteur Porn Guide!



Ladri di bissexuali, Vittorio de Suckit

Prickpocket, Bobby Bresson

Die bitteren Tranny der Petra von Cunt, Rainer Werner Fastbanger

Sluttily Last Summer, Joseph Wankiewick

Diciotto e Mezzo, Federico Fellatio

Pierrot le Fister, Jean-Luc Got Hard

The Ladyboy from Shanghai, Foursome Welles

The Great Dick-taster, Charlie Chaplips

The Testicle of Dr. Abuse, Fritz Languid

Rui Palha - para redescobrir as ruas de Lisboa

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Rui Palha, um grande fotógrafo das gentes de Lisboa, acaba de publicar o seu livro "Fotografias de Rua".
Já está à venda na Livraria Barata e é a sua oportunidade para descobrir o fotógrafo e redescobrir a cidade.
Recomendo absolutamente.

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O atraso e o esgotamento do regime



Acontece que, enquanto a política se fez segundo um modelo que combinava a distribuição daquilo que não se tinha com a fuga (em geral "em frente"!) ao que incomodava, tudo parecia fácil. Mas agora, que as coisas mudaram, a incapacidade política revelou-se de um modo tão estrondoso como evidente.
Esta incapacidade é bem clara no impasse actual: por um lado, exibe-se um optimismo todo feito de deslumbramento tecnológico e de virtualidades mediáticas, que vive ao sabor dos movimentos quase infinitesimais das estatísticas mais irrelevantes. Mas ao mesmo tempo insiste-se, por outro lado, no fatalismo mais paralisante: "ninguém previu", "não há alternativas", "a culpa é da crise internacional", etc. Com o optimismo, procura ganhar-se em tempo o que se perde em acção, com o fatalismo, procura ganhar-se em impunidade o que se esconde de irresponsabilidade.
De resto, que classe política, que não fosse dominada pelo arcaísmo das suas ideias e pelo egoísmo dos seus interesses, poderia, há um ano, ter pensado - um só segundo que fosse! - que seria possível lidar com a mais grave crise que Portugal enfrentou desde 1974, com um governo minoritário?
Mais: que outra classe política poderia, de um modo tão inconsciente, ter completamente esquecido a lição das experiência minoritária de 1995/2001, e o "pântano" a que ela conduziu? (Compare-se, a propósito, com o que recentemente - em situação análoga - aconteceu em Inglaterra).
Manuel Maria Carrilho, DN 14.10.2010


MMC deixou-se de rodriguinhos e resolveu atacar a fundo.
No seu caso pode sempre perguntar-se em que medida o faz por despeito mas a justeza das suas críticas é indubitável.
Se virmos bem é o próprio regime que ele põe em causa pois, como quase todos os críticos, não apresenta nenhuma ideia séria para o rectificar.
O que é verdadeiramente trágico no momento presente não é a novela do Orçamento mas sim termos a certeza de que o actual governo, e o que ele representa, devem ser varridos do poder e não vermos quem, nem como, pode constituir uma alternativa que nos devolva a esperança colectiva.
Não há sintoma mais claro do esgotamento do regime.
E ainda há quem ache que é inútil, ou mesmo perverso, "mexer" na Constituição.
Santa ingenuidade...

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Wednesday, October 13, 2010

A democracia e a ópera

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A democracia parlamentar e a ópera, como passatempos dos ricos, têm muito em comum.
As encenações são demasiados caras, os cenários são exagerados e o guarda roupa é espampanante.
É no salão nobre, ou nos "passos perdidos", que se fazem os melhores negócios mas, para acalmar o povo, há transmissões em directo para um ecran "no largo" ou nas nossas casas.
Vivem ambas das tragédias e dos golpes de teatro mas, quando saímos, emocionados, o pedinte da esquina continua exactamente na mesma esquina.

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Tuesday, October 12, 2010

O meu Prémio Nobel da Paz

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Liu Wei é o meu Prémio Nobel da Paz

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PEC 3,5

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Ontem tivemos um PEC (Pró E Contras) 3,5. Três ex-presidentes e um reitor, este num ingrato papel de trintanário.
Nesta encruzilhada, sem saber o que fazer, voltámos aos oráculos do regime. E eles deram a receita: remendar o centrão, ou seja, mais do mesmo como não podia deixar de ser.
Talvez não sejam as pessoas certas para falar do futuro mas podiam ter explicado por que é que, com o seu beneplácito, chegámos onde estamos. Poder podiam, mas não era  a mesma coisa.
Enquanto assistia ao programa perguntava a mim próprio quantos portugueses se atreveriam a entregar a estes homens, confiadamente, a gestão de uma parte significativa do seu património pessoal.

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Monday, October 11, 2010

Notícia desonesta



Lisboa, 09 Out (Lusa) - A China é o país que, anualmente, executa mais pessoas, superando a soma de execuções de todas as outras nações que aplicam a pena capital, revela a Amnistia Internacional, na véspera do Dia Mundial contra a Pena de Morte.

Esqueceram-se de dizer que a China tem uma população pelo menos duas vezes maior do que todos os outros países que aplicam a pena de morte no seu conjunto.
Assim se manipula vergonhosamente.

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Sunday, October 10, 2010

Os rumores da minha morte foram manifestamente bem escondidos, uma vez que não encontrei nenhum

FAQ

1. Então, isto está morto?

Ora essa, está mais vivo do que nunca. As medidas de austeridade blogosférica impostas durante Agosto e Setembro revitalizaram a economia local, permitindo um regresso em força, em que inclusivamente se prometem três posts por semana até ao fim do ano civil, em comemoração da não-atribuição do Nobel da Literatura a Murakami, como chegou a ser ventilado por cobarde sms, na semana passada.

2. Quando prometes três posts por semana, podemos assumir que haverá alguma punição em caso de não cumprimento?

Evidentemente que não. Continuarei a gozar de total impunidade quando regressar em Janeiro.

3. Então o que é que fizeste nas férias?

Estive duas semanas no Pinhão, onde comi javali ilegalmente caçado no dia anterior, perdi a caderneta de recibos verdes, passeei à beira do Douro ao fim da tarde deixando que a Natureza percebesse a sua insignificância ao contemplar-me, li o Guerra e Paz em vinte e um dias, e vi um cidadão puxar o alarme para interromper a marcha do comboio entre Mosteirô e a Régua por "precisar de um bocadinho de ar fresco".

4. E o Sporting, tens visto o Sporting?

There was a time when, though my path was rough,
This joy within me dallied with distress,
And all misfortunes were but as the stuff
Whence Fancy made me dreams of happiness:
For hope grew round me, like the twining vine,
And fruits, and foliage, not my own, seemed mine, etc.

5. E achas que as crianças deviam ler o Moby Dick ou não?

Mesmo com a vasta exposição à minha experiência pessoal que a minha experiência pessoal me possibilitou, nunca tenho a certeza de conseguir extrair dela as implicações correctas. É verdade que li o Moby Dick aos 15 anos e cresci heterossexual, mas nada me garante que tudo o resto não tenha sido um gigantesco acidente.

6. No caso de precisarmos de escrever um daqueles artigos parvinhos para a National Review sobre a maneira como certas neuroses liberais e pós-coloniais deformam a apreciação contemporânea da obra de Kipling, tens algum título fixe para sugerir?

White man's "white man's burden" man's burden

7. Eheheheh, isso é espectacular! Por favor repete.

White man's "white man's burden" man's burden

8. Apesar da piada extraordinária sobre o Kipling, e mesmo que isso implique uma qualquer transacção perniciosa, tipo uma aceitação passiva e não-examinada de liberdades triviais e efémeras em detrimento de liberdades substanciais e duradouras, não achas que a gente tem o direito de não te amar?

Não.

7. Queres partilhar alguma coisa de relevante que possamos ter perdido nestes dias, tipo dois links e um vídeo do YouYube?

Tolan: . . .Uma coisa que me chateia nos amigos e amigas que têm filho é que deixam de me considerar a pessoa mais importante na vida delas, o que acontecia antes. Nota-se perfeitamente. Os meus discursos sobre a mulher segundo Hemingway ou que o primeiro punk da história é o protagonista do Herói do Nosso Tempo do Leermontov são frequentemente interrompidos por ruídos indistintos de bebé. Fico a falar sozinho, o bebé eventualmente cala-se e depois fica toda gente calada e se eu não relembrar as pessoas que eu estava a falar, ninguém se lembra. . .

O Vermelho e o Negro: . . . este primeiro conto dos Contos de Odessa de Issak Bábel, por mim traduzido penosamente. . .

Garbage Day:

I am indignant

The likes of us should quit politics and stick to dreams. It gave me pleasure to hear that I recently figured in a dream of yours positively. I recently dreamt:
Dream I: I identify Tolstoy as the driver of a beat-up white van on the expressway. I ask the old guy at the wheel of this crumbling van what he can do to keep his flapping door from banging against the finish of my car. When he leans over to the right I see that he is none other than Leo Tolstoy, beard and all. He invites me to follow him off the expressway to a tavern and he says, "I want you to have this jar of pickled herring." He adds, "I knew your brother." At the mention of my late brother I burst into tears.
Dream II: A secret remedy for a deadly disease is inscribed in Chinese characters on my penis. For this reason my life is in danger. My son Greg is guarding me in a California hideout from the agents of a pharmaceutical company, etc.
Dream III: I find myself in a library filled with unknown masterpieces by Henry James, Joseph Conrad and others. Titles I have never seen mentioned anywhere. In shock and joy I open a volume by Conrad and read several pages, sentence after sentence after sentence in the old boy's best style, more brilliant than ever. "Why in the hell was I never told about this?" I ask. Certain parties have been holding out on us. I am indignant.


(Saul Bellow, carta a Martin Amis, aqui)

Trata a Vida Por Tu Gal

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O mercado dos cursos de auto-ajuda e motivação está a crescer em Portugal. E hoje enfrenta uma prova de fogo inédita, garante Daniel Sá Nogueira. O motivador e guru é o responsável pela iniciativa que promete encher o Pavilhão Atlântico, em Lisboa, tornando as dez mil pessoas na plateia mais optimistas e confiantes.
"Trata a Vida Por Tu Gal", assim se chama o espectáculo que quer mostrar aos portugueses como podem ser mais positivos e alcançar os seus objectivos. Ainda há lugares livres, mas Daniel Sá Nogueira garante que a maior sala do País está praticamente esgotada.

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Diques de areia

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Desde o 25 de Abril que tem havido um aumento de interesse pela maçonaria?
Sim, duplicámos o número de maçons nos últimos dez anos. É natural que estejamos a crescer, mas não queremos muitos mais. Atenção que a maçonaria não é uma instituição de massas, como um partido político. Nós próprios não queremos ultrapassar um determinado número. Somos muito selectivos.
Como é feita essa selecção? Que tipo de pessoas procuram?
As elites académicas, culturais, políticas... As elites em geral. As pessoas não vêm directamente ter connosco. Em geral isso faz-se indirectamente, através de pessoas do GOL que já se conhecem. Determinado obreiro, "irmão" (termo maçónico), propõe uma pessoa das suas relações.
A maçonaria é reconhecida ainda hoje como ordem secreta. Apesar de vivermos num regime democrático, a maioria dos maçons não admite que o é. Porquê?
É a própria pessoa que pode, se assim quiser, comunicar que é maçon. Ninguém é obrigado a assumir-se, isso seria uma violação da liberdade de consciência. Ninguém tem de se declarar benfiquista ou sportinguista e portanto também não tem de se declarar maçon.
Manter a identidade maçónica em segredo é muito comum entre os magistrados. Nenhum se assume como maçon, mas há muitos magistrados que o são.
Existe um certo preconceito no poder judicial. Alguns magistrados não aceitam muito bem a maçonaria. E, com medo que a opinião publica os condene - baseada naquela ideia de que a maçonaria é como uma instituição tentacular, uma espécie de polvo, que controla as instituições de todos os poderes, o que é inteiramente falso - não o assumem. Isso pode criar desconfianças, suspeitas dentro do poder judicial relativamente à condição de maçon de determinado juiz ou procurador. Por isso a maioria prefere não revelar.
Como já disse, os maçons têm cargos preeminentes na sociedade, as suas decisões podem influenciar o futuro do país. É normal discutirem os problemas actuais e a melhor forma para os resolver?
Sim, tentamos dar o nosso contributo, tentamos formar os nossos membros para que consigam, dentro das actividades que exercem, resolver os problemas do país. Mas eu sou grão-mestre e não reúno aqui nem em lado nenhum com ministros, deputados e juízes que são maçons para lhes dar instruções sobre o que devem fazer no governo ou na magistratura. Algumas pessoas vivem obcecadas com essa ideia.
Há casos em que de recusa quando tentam recrutar para o GOL?
Sim, porque não têm interesse ou têm medo. Mas normalmente quando um maçon convida uma pessoa já sabe que existe uma certa probabilidade de ela aceitar. Primeiro há uma observação, conhecimento do carácter da pessoa, e logo depois é que se vê se essa pessoa tem apetência para este tipo de trabalho. Ser maçon exige uma apetência da própria pessoa para praticar aquilo a que chamamos uma espiritualidade laica, para uma reflexão sobre temas que têm a ver com o sentido da existência, o sentido da vida, sem terem de passar pelo crivo religioso. A maçonaria está acima das divisões religiosas e político-partidárias.

António Reis, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) ao jornal I, 09.10.2010
 

Qualquer grupo de pessoas, unidas por uma crença de verificação impossível, ligadas por códigos de fidelidade apertados, pode obter resultados surpreendentes e muito acima da sua representatividade ou peso relativo.
Esta tese tem sido demonstrada, pela vida, vezes sem conta.
Assim se explica, por exemplo, como uma célula partidária composta por uma dúzia de militantes consegue controlar e determinar a comissão de trabalhadores numa empresa com centenas de empregados ideológicamente distanciados.
As células dos partidos comunistas usaram esse método por todo o lado, através das suas disciplinadas reuniões de planeamento e distribuição de tarefas, com  enorme eficácia.

A maçonaria aplica o mesmo método, mas num plano mais elitista, apostando na colocação de “pedras” em lugares chave da comunicação, da administração e dos orgãos de poder.
Nada de novo, portanto.

Quando, em certas raras circunstâncias, esta questão invade o espaço público é comum ouvir vozes que verberam as distorções da democracia que tais métodos podem acarretar, já que os cidadãos “organizados” dispõem de uma capacidade de intervenção social que não está ao alcance do cidadão comum, por norma isolado.
Mas essa é apenas uma faceta do problema.
Há porventura consequências mais graves resultantes do funcionamento de grupos institucionalizados que, no seu interior, proporcionam aos seus membros uma sensação de impunidade, ou superioridade, que os limita na capacidade de compreender os “gentios” e de olhar para a sociedade como um organismo vivo com a sua genética e o seu determinismo natural.
Ideais que seriam salutares e desejáveis quando exercidos por cada um dos cidadãos, na sua intervenção cívica, podem converter-se em pesadelos quando vigoram no seio de grupos institucionalizados que se auto-delimitam do exterior. Todos os defeitos do clubismo e do fanatismo, tão óbvios e tão ridicularizados no futebol, encontram terreno fértil mesmo que adoptem práticas mais sofisticadas.
As crenças comuns desses grupos tendem a ser sobrevalorizadas ao ponto de a realidade passar a constituir um empecilho das engenharias sociais.

Há sem dúvida uma contradição insanável entre o vanguardismo necessário ao progresso social e a democraticidade das opções e decisões. Mas existe também uma contradição entre o vanguardismo e os ritmos e modos passíveis de ser realizados num dado contexto histórico e numa dada situação sócio-cultural.
É muito fácil cair-se na luta pela conquista de posições de poder, a todo o custo, sem fazer o esforço necessário para compreender certas dinâmicas inelutáveis no âmbito económico e cultural. Como se a bondade das intenções, e a superioridade moral das soluções, bastassem para garantir o sucesso.

A história da primeira República, tão invocada nos últimos dias, é um bom exemplo desse erro. O mesmo poderá ser dito da revolução de Outubro e da URSS.
A República actual, em Portugal, parece estar a seguir o mesmo padrão. Não há ideais, por mais justos que sejam, que resistam à decadência económica e ao desmoronamento das instituições minadas pelo clientelismo e o proteccionismo dos confrades.
A história tem mostrado que tais experiências terminam sempre em longos períodos de retrocesso social e político.

Está por inventar um modo de actuação que garanta o desenvolvimento de novas ideias e de novas formações sociais com base na compreensão profunda dos limites naturais impostos pelo acumulado histórico presente na realidade social. Substituindo os grupos enquanto instituições por grupos dinâmicos de cidadãos que nascem para realizar projectos e que morrem quando já não são necessários.
Corrigindo e redireccionando as forças que espontâneamente se movem na sociedade, em vez de tentar estancá-las com diques de areia.
 
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Saturday, October 9, 2010

Um barco chamado Portugal

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Um grupo de pescadores tenta levar para o mar um barco que ficou preso no porto de Tanmen, na província de Hainan. Chuvas torrenciais atingiram mais de mil localidades naquela ilha chinesa, informou a agência de notícias Xinhua.Fotografia:China Daily/Reuters

Faz-me lembrar um barco chamado Portugal, que também encalhou, mas sem o sentido gregário de entreajuda dos chineses.

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Friday, October 8, 2010

Muita tranquilidade para a seleção

Independentemente da enorme trapalhada que se gerou, regozijo-me pelo afastamento de Carlos Queirós do cargo de selecionador nacional. É indesmentível: enquanto treinador principal de séniores, o currículo de Paulo Bento é muito melhor. E agora desejo que o Paulo faça na seleção um trabalho se possível ainda melhor que o que fez no Sporting.

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