Friday, July 29, 2011

Para dançar el tango son precisos dos



Ontem à noite tive uma experiência perturbante.
Resolvi ir ver uma exposição de fotografia em Lisboa.
Dirigi-me ao local, por sinal muito pouco frequentado, e procurei a sala que me interessava.
Dei com a porta fechada mas ouviam-se cá fora, distintamente, os acordes de um tango.
Depois de hesitar durante algum tempo, dado que àquela hora a exposição deveria estar aberta ao público, acabei por rodar a maçaneta e espreitar para o interior.
Acorreu uma mulher, que depois concluí ser a professora, e  informou-me do encerramento por estar uma aula em curso.
Realmente encontrava-se na espaçosa sala, onde o tango continuava a ecoar, uma outra pessoa que só poderia ser o aluno de uma aula individual.
Apesar de me parecer bizarra esta situação de encerrar uma exposição para usar a sala como pista de dança, tal estranheza passou de imediato para segundo plano. É que o aluno, com ar esfalfado e em mangas de camisa, era nem mais nem menos do que um dos principais banqueiros portugueses.
Voltei para casa a magicar acerca das motivações que podem levar uma pessoa daquelas, com todos os problemas que neste momento afectam os bancos portugueses, a receber aulas de tango.
É verdade que a Argentina é um case study por ter entrado em incumprimento das suas dívidas e, em consequência, ter passado por terríveis apertos. Mas aprender a dançar o tango parece-me uma via demasiado retorcida para exorcizar o mesmo destino.
Também é verdade que ainda há pouco tempo tínhamos um primeiro ministro que explicou a uma plateia madrilena, em castelhano técnico, que "para dançar el tango son precisos dos".
Só não consigo atinar com quem é que um banqueiro de meia idade, com problemas de liquidez, precisa de saber dançar.

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