Tuesday, August 25, 2009

Correntes!

Recebi nas últimas semanas, pela minha saúde, três mails diferentes de três pessoas que não conheço a perguntarem-me a minha opinião sobre aquilo do ponto de exclamação. As coisas chegaram mesmo a este ponto? Três mails de três pessoas que, tanto quanto sei, nem sequer têm blogues (estamos em 2009, por amor de Deus). Se me vão enviar mails, sugiro que seja com apostas sobre a próxima jornada. Mas era preferível abrirem um blogue e mandarem-me correntes - como aquela corrente dos 15 filmes na qual ainda ninguém teve a decência de me incluir.
Quanto ao ponto de exclamação, a verdade é que tentei, na altura própria, emitir a minha opinião, mas acabei sempre por perder os sentidos e desmaiar em cima do computador, o que fez com que minha empregada moldava tivesse de me vir acordar ao nascer do sol, descolando-me a cabeça do teclado com o cabo do espanador. As minhas perdas de consciência costumam ocorrer com timing perfeito, e é evidente que a polémica foi tão escandalosamente artificial que só pessoas extremamente com blogue a poderiam levar a sério. Ainda por cima está tudo facilitado - esta é daquelas em que basta um único exemplo contrário para embaraçar a oposição. O Portnoy's Complaint deve ter aproximadamente trezentos e noventa pontos de exclamação e não há um único que possa ser retirado sem tornar o livro pior. De resto, creio que a proposta de banir o uso de uma convenção gráfica por causa da minoria que a abusa é tão absurda que se refuta a si própria. Seria como banir o uso de gravatas apenas porque alguns excêntricos a gostam de usar virada para as costas, ou dentro das calças, enrolada à volta do Portnoy. Se todas as discordâncias retóricas fossem tão fáceis de resolver, nunca teria havido necessidade de inventar o diálogo socrático, o argumento crítico sofisticado, ou o Pacheco Pereira. É evidente que há maus escritores que usam mal o ponto de exclamação; mas é altamente provável que os que o fazem também usem mal as reticências, a vírgula, a metáfora, e a cabeça. Nas imediações de um ponto de exclamação abusivo há sempre delinquências tão ou mais relevantes a serem cometidas. E isto acaba por dizer mais sobre as pessoas que quiseram levar a arma do crime a tribunal - não como prova, mas como réu - do que sobre os esporádicos infractores. Se num mau livro, ou numa passagem particularmente má de um mau livro, o maior defeito que o equipamento estético do leitor consegue detectar é um ponto de exclamação mal posicionado tacticamente, então o leitor é tão superficial quanto o escritor que está a tentar denunciar. Três mails sobre isto, três, numa altura em que eu tenho de me levantar às 9:10 da manhã para ir jogar ténis de praia.

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