A mesma extraordinária funcionalidade do google que me alertou aqui há uns anos para a existência de um dentista brasileiro chamado Rogério Casanova, alertou-me agora para o facto de o cidadão Hélder Beja alimentar algumas dúvidas quanto à minha mais elementar espectacularidade em matéria de dizer coisas sobre livros:
«Quero acrescentar o seguinte: Rogério Casanova, todos sabemos, venera Pynchon. Nenhum mal vem ao mundo, cada qual gosta do que quer. O que é grave é que Casanova, nesta crítica a O Leilão do Lote 49, escreva algo tão disparatado como que o livro tem «uma revisão competente e, a espaços, inspirada». A revisão é, só, do pior que me passou pelas mãos desde que ando nisto dos livros.»
Não sei há quanto tempo o cidadão Hélder Beja anda "nisto dos livros", e o equívoco até pode ser da minha inteira responsabilidade, mas reside aqui: quando falei na revisão, referia-me à revisão da tradução, como conseguirá perceber qualquer pessoa que leia o que vem antes e depois na mesma frase. Falo na correcção de tempos verbais em relação ao original inglês; falo na correcção de lapsos de tradução e na introdução de lapsos novos. De tradução. Sobre a revisão do texto, sobre a fiscalização gráfica, falo muito de raspão, e sempre a caminho do grande objectivo de 90% dos meus porejamentos sobre as massas, que é fazer uma piadinha antes de falar de coisas extremamente sérias do ponto de vista da seriedade antes de fazer outra piadinha. A tradução, no geral, e com uma ou outra falha (em particular quando decide editar a sintaxe do original), continua a parecer-me boa, ou pelo menos aceitável, tendo em conta a trabalheira sisífica que é traduzir Pynchon.
Quanto às gralhas, sendo mais ou menos consensual que o Thomas Pynchon não trabalha para a Relógio D'Água e não teve nada a ver com o assunto, estou-me moderadamente a cagar para elas, especialmente quando há ali um livro sobre o qual é preciso falar. Eu, por coincidência, falo sobre livros aí em sítios (ainda não tenho Meo em casa) e gastar um milímetro que seja do exíguo espaço que dão a uma pessoa como eu para andar aí nos sítios a falar de livros em pormenores como acentos graves e agudos parece-me tão pertinente como fazer uma crítica ao Inglourious Basterds falando nos estofos dos assentos no Alvaláxia. Regra geral (eu tenho regras gerais) gosto de pensar num livro traduzido como um artefacto cuja vulnerabilidade ao pacote mais inepto não deve ser reforçada por uma crítica que se centre no aparato em torno do livro (o aparato publicitário, o aparato gráfico) em vez de se centrar no seu objecto essencial que é, digamos assim, o conjunto de virtudes e defeitos estéticos de uma obra escrita por um gajo que provavelmente não sabe que a língua portuguesa desenvolveu acentos graves e agudos para lhe complicar a vida. As gralhas que me incomodam são gralhas de estilo, de inteligência, de imaginação. Quando falo de livros (eu falo de livros) eu tento falar disto e não de outras coisas. Cada um fala do que quiser quando fala de livros, evidentemente; mas o meu texto era essencialmente sobre O Leilão do Lote 49, não era sobre literacia, sobre a competência dos funcionários da Relógio D'Água ou sobre a qualidade das gráficas nacionais - tudo áreas que me interessam tanto como a programação dos quatro canais terrestres neste preciso momento.
«Quero acrescentar o seguinte: Rogério Casanova, todos sabemos, venera Pynchon. Nenhum mal vem ao mundo, cada qual gosta do que quer. O que é grave é que Casanova, nesta crítica a O Leilão do Lote 49, escreva algo tão disparatado como que o livro tem «uma revisão competente e, a espaços, inspirada». A revisão é, só, do pior que me passou pelas mãos desde que ando nisto dos livros.»
Não sei há quanto tempo o cidadão Hélder Beja anda "nisto dos livros", e o equívoco até pode ser da minha inteira responsabilidade, mas reside aqui: quando falei na revisão, referia-me à revisão da tradução, como conseguirá perceber qualquer pessoa que leia o que vem antes e depois na mesma frase. Falo na correcção de tempos verbais em relação ao original inglês; falo na correcção de lapsos de tradução e na introdução de lapsos novos. De tradução. Sobre a revisão do texto, sobre a fiscalização gráfica, falo muito de raspão, e sempre a caminho do grande objectivo de 90% dos meus porejamentos sobre as massas, que é fazer uma piadinha antes de falar de coisas extremamente sérias do ponto de vista da seriedade antes de fazer outra piadinha. A tradução, no geral, e com uma ou outra falha (em particular quando decide editar a sintaxe do original), continua a parecer-me boa, ou pelo menos aceitável, tendo em conta a trabalheira sisífica que é traduzir Pynchon.
Quanto às gralhas, sendo mais ou menos consensual que o Thomas Pynchon não trabalha para a Relógio D'Água e não teve nada a ver com o assunto, estou-me moderadamente a cagar para elas, especialmente quando há ali um livro sobre o qual é preciso falar. Eu, por coincidência, falo sobre livros aí em sítios (ainda não tenho Meo em casa) e gastar um milímetro que seja do exíguo espaço que dão a uma pessoa como eu para andar aí nos sítios a falar de livros em pormenores como acentos graves e agudos parece-me tão pertinente como fazer uma crítica ao Inglourious Basterds falando nos estofos dos assentos no Alvaláxia. Regra geral (eu tenho regras gerais) gosto de pensar num livro traduzido como um artefacto cuja vulnerabilidade ao pacote mais inepto não deve ser reforçada por uma crítica que se centre no aparato em torno do livro (o aparato publicitário, o aparato gráfico) em vez de se centrar no seu objecto essencial que é, digamos assim, o conjunto de virtudes e defeitos estéticos de uma obra escrita por um gajo que provavelmente não sabe que a língua portuguesa desenvolveu acentos graves e agudos para lhe complicar a vida. As gralhas que me incomodam são gralhas de estilo, de inteligência, de imaginação. Quando falo de livros (eu falo de livros) eu tento falar disto e não de outras coisas. Cada um fala do que quiser quando fala de livros, evidentemente; mas o meu texto era essencialmente sobre O Leilão do Lote 49, não era sobre literacia, sobre a competência dos funcionários da Relógio D'Água ou sobre a qualidade das gráficas nacionais - tudo áreas que me interessam tanto como a programação dos quatro canais terrestres neste preciso momento.
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