Por estes dias, em Pequim, presenciei os frenéticos preparativos para as comemorações do 60º aniversário da República Popular da China.
Lamentavelmente não consegui vencer o bloqueamento do Blogger, nem do Twitter nem do Facebook. Por isso agora, que regressei, vou ter que relatar as minhas experiências em diferido.
No próximo dia 1 de Outubro os chineses vão, de novo, tentar espantar o mundo. Diz-se que 200.000 pessoas participarão cantando, dançando ou desfilando. Um espectáculo a não perder, ao menos na televisão.
O imenso mercado-formigueiro que é Pequim não exagera, nas ruas, os símbolos da Revolução.
Mas os retratos de Mao, em algumas montras e na exposição retrospectiva de 60 anos de pintura, parecem assistir atónitos ao pulular dos Business Centers e do Kentucky Fried Chicken.
Consegui em Pequim, apesar de tudo, ler na internet os nossos jornais e até ouvir as nossas rádios. Assim recebia ecos fragmentados da campanha política em curso.
Confesso que os debates me soavam ainda mais patéticos naquele mundo em que me encontrava.
Tinha estado em Pequim em 2006 e, passados três anos, senti uma enorme evolução. Não só nos espantosos edifícios (estádio olímpico, centro de artes performativas, torre da CCTV, etc) mas a todos os níveis.
Sente-se que estamos perante um país cada vez mais rico e os shows televisivos de exaltação nacional, de estilo impensável pelos nossos padrões, não parecem ser destituídos de razão aos olhos dos chineses.
Nas ruas tem-se uma sensação brutal de vitalidade, literalmente milhões de pessoas lutam árduamente, penosamente, pela sua sobrevivência e por uma vida melhor. Sessenta anos de socialismo ensinaram-lhes que o Estado não pode ser a solução para tudo e muito menos para a angariação do sustento de cada família. Eles trabalham sem rede mas com uma comovente dignidade.
Essa atitude de um povo que ignora a resignação e a dependência é, quanto a mim, a maior força da China.
Em Portugal quase todos os discursos, para ganhar as eleições, convencem o povo de que os direitos do Estado Social são viáveis, sem grandes sacrifícios, apesar de o país empobrecer todos os dias.
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