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Há um ano falava-se da crise e de como ela mostrava as mazelas do capitalismo. 2009 prometia ser o ano da regulação, de novas regras, quiçá da morte e substituição do sistema.
Um ano depois a grande excitação da esquerda, que deixou outra vez de falar do capitalismo como um moribundo, é o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Uma espécie de vingança dos impotentes que foi aprovada essencialmente porque irrita e escandaliza os "burgueses" que continuam a mandar na economia e a maioria do povo que não votou como devia.
Há um ano o governo do engenheiro Sócrates prometia, custasse o que custasse, tudo fazer para impedir que as pretensões carreiristas dos professores se sobrepusesse aos interesses da generalidade dos cidadãos.
Um ano depois todo o leque parlamentar rejubila pela paz nas escolas al(can)çada pela aceitação de uma avaliação em que 95,5% dos professores são bons, muito bons ou excelentes e uma carreira que, para todos, "é o reino dos céus". Os partidos só discutem a quem atribuir os louros de tal façanha.
Isto em que vivemos no dealbar da nova década já não é propriamente uma democracia mas não sei que raio de nome lhe havemos de chamar. Os tiques democráticos continuam presentes mas funcionam como mero formalismo e servem de álibi ao constante favorecimento de corporações e grupos de pressão (para além do tradicional "poder económico" que agora até se pode queixar de concorrência desleal).
Sucedem-se incontáveis trapalhadas administrativas, fracassos e adiamentos da justiça, uma opacidade generalizada e suspeitas de corrupção ou manipulação a torto e a direito (hoje surgiram dois novos casos: as irregularidades administrativas e económicas no Ministério da Justiça e as promoções irregulares no Ministério das Finanças).
Qualquer funcionário se sente no direito de sonegar informação ao público. Presidentes disto e daquilo, e até ministros, julgam poder recusar-se a estabelecer prazos para a conclusão das tarefas para que foram nomeados. Os nossos dinheiros são gastos de forma muito pouco transparente e só por acaso isso chega ao conhecimento público.
Ninguém é responsabilizado, ninguém é preso e os vários partidos lá se entendem para sobreviver neste pântano que o outro desdenhou. Uma casta vive suspensa acima das nossas cabeças e tem do nosso mundo uma ideia ficcionada. Somos apenas um tema literário dos discursos.
Isto em que vivemos já não é propriamente uma democracia no sentido do “governo do povo e para o povo”. Mas também não é uma ditadura.
Que raio havemos de chamar a isto ?
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