Sunday, February 20, 2011

China, uma superpotência em construção


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O ano que findou ficou marcado por SEIS factos simbólicos que poderão ser considerados como "pontos de inflexão" do papel da China na geografia económica e política do planeta.
Primeiro: O atual presidente chinês Hu Jintao foi considerado pela Forbes como o homem mais poderoso do mundo, destronando, pela primeira vez, o presidente americano - a decisão da revista de negócios americana surpreendeu, mas não gerou movimentos de protesto entre os leitores. Sinal dos tempos.
Segundo: No confronto do que já se convencionou chamar de G2 (Estados Unidos e China), o poder real de Beijing, como fator condicionante e mesmo de bloqueio da estratégia global americana, ficou patente na cimeira do G20 em Seul, em novembro passado. A decisão recente da Reserva Federal americana de inundar o mundo com "dinheiro quente", ao abrigo de uma nova onda de "alívio quantitativo" (quantitative easing, na designação original), conseguiu que a China formasse uma aliança ad hoc contra a estratégia monetária americana, incluindo aliados tradicionais de Washington, como a Alemanha e os países da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático, envolvendo dez países), que inclusive foram mais "agressivos" nas críticas do que Beijing.
Terceiro: Pela primeira vez, a China chegou ao primeiro lugar em supercomputadores, retirando a liderança aos Estados Unidos. O "Via Láctea", alojado no Centro Nacional de Supercomputação na cidade de Tianjin, destronou em outubro o "Jaguar" do Departamento de Energia americano.
Quarto: Inesperadamente, a China apresentou-se na própria Europa como "bombeiro"-ajudante - a par do Banco Central Europeu - no apagar dos fogos da crise da dívida soberana em vários países da zona euro. Em junho, o gigante chinês COSCO assinou um acordo com o porto grego de Pireu para 35 anos e os chineses prometeram, recentemente, comprar dívida portuguesa, o que revela uma estratégia global que não passa só pelo posicionamento em África ou na América Latina, fora do seu espaço regional asiático, como tem sido mais mediatizado.
Quinto: Num dos despachos revelados pela Wikileaks, há um desabafo da secretária de Estado Hillary Clinton que resume bem o dilema americano: "Como é que se lida com firmeza com o vosso banqueiro?".
Sexto: Finalmente, menos falado é o facto de que, por debaixo do contencioso diplomático aceso entre a China e o Japão sobre águas territoriais e ilhotas em disputa, Beijing procedeu a uma compra massiva de ativos nipónicos, empurrando o iene para um caminho de apreciação e "testando" a capacidade de se impor a Tóquio como a superpotência emergente na região.
Apenas num terreno, Beijing perdeu a cartada - na oposição à atribuição do Prémio Nobel de 2010 ao dissidente político Lio Xaobo, que cumpre uma pena de onze anos de prisão. A China tentou criar uma larga plataforma de boicote à sessão de atribuição do Prémio em Oslo em dezembro, mas falhou redondamente. E mesmo a tentativa de atribuir no mesmo dia, em Beijing, um Prémio da Paz com o nome de Confúcio redundou num flop, em que o próprio premiado, um político de Taiwan, recusou. Este parece ser o mais óbvio calcanhar de Aquiles da China na cena internacional.

Jorge Nascimento Rodrigues, Expresso 19.02.2011 (ler o artigo completo aqui)

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