Na noite de quarta-feira, no Casino Lisboa (Parque das Nações), encontrei um homem extraordinariamente parecido com Saul Bellow - incluindo o desmazelo oco nos ombros, o impecável Borsalino, e aquele olhar húmido e inchado do observador veterano - sentado diante de uma das slots Star Wars.
Devo ter andado por ali em círculos uns bons vinte minutos, à espera que o homem jogasse, falasse, respirasse, sei lá.
Quando já me preparava para abandonar esta deprimente vigilância, um funcionário do casino aproximou-se do senhor Bellow com um sorriso solícito. Só então reparei que a luzinha no topo da máquina estava acesa, sinal de que o cliente pediu assistência técnica. Antes de virar costas, ainda ouvi Saul Bellow queixar-se, num sotaque inconfundivelmente beirão: «Veja lá isso, que a puta da nota ficou encravada».
(Entretanto, na mesa da roleta, que ia fiscalizando com este meu outro olho, notei que a cor 'Preto' saiu sete - sete! - vezes seguidas, facto que me parece eminentemente investigável pelas autoridades competentes).
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