Walker Percy era um espécime raro: um escritor católico norte-americano. Além dele, só me ocorrem Flannery O'Connor, J. F. Powers e William Peter Blatty (o autor de O Exorcista), mas é provável que me esteja a escapar algum.
Mas o catolicismo de Percy era muito particular, mais tributário de Kierkegaard do que de qualquer colecção de sacramentos. Aliás, The Moviegoer parece-me - ainda vou nas primeiras páginas - fortemente ancorado num irresistível mecanismo narrativo: transportar o típico flâneur Kierkegaardiano (o Esteta Observador) para o séc. XX, e transformá-lo um cinéfilo obsessivo.
«The search is what anyone would undertake if he were not sunk in the everydayness of his own life. This morning, for example, I felt as if I had come to myself on a strange island. And what does such a castaway do? Why, he pokes around the neighborhood and he doesn't miss a trick. To become aware of the possibility of the search is to be onto something. Not to be onto something is to be in despair.
The movies are onto the search, but they screw it up. The search always ends in despair. They like to show a fellow coming to himself in a strange place - but what does he do? He takes up with the local librarian, sets about proving to the local children what a nice fellow he is, and settles down with a vengeance.»
(Walker Percy, The Moviegoer, Methuen, p. 13)
(Reparei que, no índice onomástico do Prova de Vida do Pedro Mexia, "Kierkegaard" tem o mesmo número de menções que "Jesus Cristo". O catolicismo de Walker Percy, palpita-me, tinha mais ou menos a mesma ratio.)
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