Muito se tem falado do envelhecimento da população. O prolongamento da vida proporcionado pela ciência actual está sem dúvida a produzir um número historicamente inédito de pessoas fisicamente velhas na nossa sociedade.
Esse fenómeno tem, no entanto, ocultado um outro tanto ou mais importante; na nossa sociedade não existem, ou são mediaticamente irrelevantes, os velhos enquanto detentores da sabedoria, da prudência e do cinismo salutar. Quase não há no espaço público quem transmita ponderação, quem separe o essencial do acessório, quem sirva de contraponto ao primarismo dos entusiasmos juvenis que caracteriza as campanhas fervorosas a favor disto e daquilo.
Com honrosas excepções a geração que foi jovem nos anos 60, que cometeu todos os erros a que tinha direito na sua juventude, que viveu a guerra colonial, o fascismo e o PREC recusa-se a envelhecer e, dessa forma, transmitir aos jovens actuais a sua experiência. Recusa-se a reconhecer os erros que cometeu e a aprender com eles na vã ilusão de assim perpetuar a juventude. Não apaga a memória dos tiques e clubismos de sempre. Corre atrás de qualquer moda contestatária, usurpando dessa forma a irresponsabilidade daqueles que estão na idade de ser irresponsáveis e se vêem na contingência de não ter “jarretas" a quem ultrapassar, quanto mais contrariar.
Esta geração que toma o reumático por acne juvenil, que se recusa a "entrar para o armário", devia era usar a sua longa experiência de muitos falhanços e alguns sucessos para ensinar aos jovens a arte do equilíbrio na avaliação das verdadeiras consequências das nossas paixões. Não o faz.
Apoia alegremente a causa do Dalai Lama, os casamentos homossexuais, as lâmpadas ecológicas. Em vez de ensinar o papel perene das utopias afadiga-se como a Lili Caneças das “causas” fracturantes. Demite-se da sua função geracional e dessa forma inibe os realmente jovens de o ser plenamente.
Onde estão os nossos jovens iconoclastas ? Se acaso existem ninguém dá por eles.
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