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"Uma esquerda grande contra a ganância do capital" foi o destaque maior da Convenção do BE no fim-de-semana passado.
Segundo Louçã para combater a exploração e a ganância - que é o "nome próprio do capitalismo" - é necessária uma "esquerda grande".
Este discurso faz-me temer mais uma daquelas ondas emotivas em que a esquerda tem sido pródiga e ineficaz. Em plena era digital ataca-se o capitalismo com o velho arsenal dos adjectivos da revolução industrial.
Sem cuidar de encontrar novas formulações e novas respostas cavalga-se a conjuntura que nos caiu do céu aos trambolhões. Mas uma esquerda, mesmo que grande, não pode deixar de ser esclarecida e inteligente.
À falta de verdadeiras propostas de futuro as atenções são agora polarizadas em torno de Manuel Alegre. Por vezes tenho a sensação de regressar à campanha presidencial de Otelo em 1976, com as mesmas esperanças infundadas e com o mesmo tipo de militantes, retóricas e radicalismos.
Neste tempo em que o sistema revela as suas fraquezas e limitações importaria, em vez de gritar a ganância, demonstrar a necessidade e inevitabilidade de uma alternativa ao sistema e não só ao governo.
Neste tempo em que milhares são lançados no desemprego, com reduzidas probabilidades de regressar ao "mercado de trabalho", um partido como o BE devia estar a explicar que o trabalho assalariado não é uma solução natural e muito menos obrigatória. Devia estar a apoiar iniciativas dos desempregados para refazerem as suas vidas em novas bases, adoptando a lógica das cooperativas.
O BE em vez de estar a exigir a proibição dos despedimentos, na prática a continuação da exploração e da "ganância", devia era estar a exigir o apoio do Estado para formas alternativas de organização da produção e da distribuição. Para recusar aos patrões gananciosos o seu bem mais precioso: o trabalho (dos outros) que cria valor.
Fazer crer que o capitalismo é mau porque os patrões são gananciosos induz a falsa ideia de que ele seria aceitável se os patrões fossem moderados.
Ou se trata de uma visão teórica paupérrima ou, ainda pior, de uma forma de convencer "as massas" assumindo que tal só é possível na base das imagens simplistas e da manipulação.
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