Friday, February 27, 2009

O que é que nós temos ?

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O Diário de Notícias entrevistou Vitorino Magalhães Godinho. Algumas passagens:

DN - E a técnica não ajudou a evoluir o mundo nem sistematizou os sistemas económicos?
Não. Criou condições que têm em si a contradição. Houve uma série de invenções que se industrializaram - computadores e telemóveis - e que, entre as várias características, tem uma que é permitir a automatização do trabalho e redução de mão-de-obra. Além disso, adoptou-se o imperativo do crescimento e todos os anos os números têm de ser superiores mesmo sem se produzir em função de uma procura efectiva. Produz-se por si e o resultado é o mundo estar com os armazéns cheios; não se vende porque o que foi produzido não contava com a redução da procura e o progresso criou uma contradição: maior produção e menor procura. E por isso a crise que temos é financeira mas sobretudo de procura.
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DN - O que motivou o estrangulamento da procura?
O estrangulamento da procura resulta do excesso de produção e saturação de mercado e das pessoas.
DN - Acusa a classe política pela situação. Acha que a nossa classe política não está à altura?Acho que a nossa classe política é mais do que lamentável. Os nossos políticos não têm ideias e não debatem. Assiste-se a qualquer sessão do Parlamento e verifica-se que há afirmações mas nunca as demonstram. Diz-se que o TGV é fundamental mas ninguém o justifica. Quando há uma crítica ninguém responde, porque há uma incapacidade de argumentar nos nossos políticos. Em todos!
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DN - Houve, então, um esvaziamento das ideias?
Os que dizem que as ideologias morreram têm uma ideologia: a actividade privada, o lucro e um sistema de governação que na aparência imita a democracia mas não o é realmente. Nós não temos democracia em Portugal, isso é fantasia.
DN - O que é que nós temos?
Um Estado corporativo como Salazar sonhou e nunca conseguiu. Realizámos o que desejava, que é o poder nas mãos de organizações profissionais.
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