Estudante de Engenharia Química no Instituto Superior Técnico, tendo sido colega de curso de Maria de Lurdes Pintasilgo, viria posteriormente a ordenar-se sacerdote, tendo-se doutorado em Filosofia na Universidade de Lovaina. Regressou ao Instituto Superior Técnico como docente de História da Ciência, tendo testemunhado de perto as convulsões e crises académicas da escola antes de 1974. Ao mesmo tempo manteve sempre a atividade de sacerdote, sendo prior da Capela do Rato, que funcionava como lugar de reunião de católicos antisalazaristas. Por estas razões era elemento suspeito para o regime fascista, tendo sido vigiado pela PIDE durante as suas homilias e mesmo fora da igreja.
Já depois do 25 de Abril continuou como sacerdote e a dar aulas de física (História das Ideias e Mecânica Analítica) no Instituto Superior Técnico, tendo sido professor de grande parte dos elementos deste blogue. Das suas aulas recordo o profundo respeito pela diversidade de opiniões. Resina era um homem que sabia ouvir, e respeitava quem pensasse de forma diferente da sua. Nas suas aulas falava-nos do valor inquestionável da ciência (ele próprio foi cientista) e jamais se serviu da sua posição de docente no ensino superior público para qualquer tipo de proselitismo. Fazia questão de frisar que não estava interessado ali em saber se éramos crentes ou não.
A sua posição sobre o aborto, que podemos ler nesta entrevista a António Marujo, e que podemos sumarizar como “as leis do Estado não têm que traduzir a posição da Igreja Católica”, demonstram como um sacerdote católico pode entender o que é a laicidade. É pena que haja tão poucos assim.
A título pessoal, recordo a aula teórica que ele teve de dar de pé em cima da secretária num anfiteatro do Pavilhão Central, para chegar a um quadro que estava avariado, e que ele próprio classificou como “aula de alto nível”. Recordo também as aulas práticas, onde enfatizava os conceitos essenciais (algo que todo o bom professor deve fazer) com a famosa expressão “não saber isto é pior que cuspir na sopa”. Se eu lhe colocava alguma questão que ele achava que eu deveria saber, ele respondia, num tom levemente irritado: “Ó homem, não me chateie!” Logo de seguida arrependia-se e, num tom algo condescendente mas que revelava toda a sua bondade, recordava-me: “Eu provei isso na aula teórica…”
Será recordado por quem o conheceu. Como diria Vinicius, eu, que não creio, peço a Deus pelo prof. Resina.
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