O Joaquim Gomes foi a enterrar no Domingo passado.
Esta notícia triste fez-me recordar os meus vinte e tal anos quando o conheci.
Eu tinha vindo da Guiné e retomara a minha actividade partidária no princípio dos anos setenta, antes da Revolução.
A primeira vez que nos encontrámos, em Campo de Ourique, depois dos complicados protocolos a que obrigava a clandestinidade, pareceu-me um calmo contabilista por causa do seu trajar convencional e austero.
Essa nossa reunião, de curta duração, decorreu enquanto caminhávamos pelas ruas daquele bairro tão característico de Lisboa.
Depois disso passámos a reunir em minha casa, nas Linhas de Torres, onde por vezes pernoitava. Longos serões de informação política e distribuição de tarefas.
Ele estava então na maturidade dos seus cinquenta e tratava-nos com afabilidade, demonstrando compreensão pelo nosso estatuto de quadros bem remunerados numa empresa multinacional.
Pela natureza das coisas eu não fazia ideia nenhuma de quem ele era nem da sua importância na estrutura do Partido.
Só depois do 25 de Abril, através dos jornais, soube o seu nome.
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