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Como já disse encontro-me na ilha da Boavista, em Cabo Verde.
Nesta época do ano as belíssimas praias são varridas por uma brisa constante que transporta consigo uma areia fininha.
Mas ao contrário do que poderia pensar-se não foi na praia, mas frente à televisão, que me foi atirada mais areia para os olhos.
Sócrates conseguiu arranjar maneira de esconder seis anos de governação irresponsável atrás de uma única votação da Assembleia da República. O homem é mesmo um artista português. Palavras para quê?
Já ninguém fala do aumento de 2,9% aos funcionários públicos, em 2009, nem das fortunas gastas num aeroporto "jamais" e num TGVirtual. Sócrates foi eleito em 2009 prometendo mundos e fundos e desdenhando da "velha" que insistia em dizer que estávamos à beira da bancarrota.
Nada disso conta agora. Ele apresenta a AR como um bando de irresponsáveis que o impediu de salvar a nação.
A rejeição do PEC 4 mostrou a toda a Europa que o primeiro-ministro de Portugal se tinha ido comprometer, irresponsávelmente, com medidas para as quais não obtivera prévio consenso.
A manobra de alto risco destinou-se a entalar a oposição. Sabendo que a Finlândia, em período eleitoral, não permitiria obter uma ajuda externa disfarçada, Sócrates optou por uma cilada ao seus adversários para poder culpá-los da indisfarçável "ajuda externa" que aí vem.
Com acesso previlegiado aos meios de comunicação pôs todos os ministros a debitar a cartilha que tenta convencer o povo da desgraça que é a "ajuda externa" e culpar a Assembleia da República por esse insucesso.
Os problemas de Portugal não são, portanto, o gigantesco endividamento que ele promoveu e a falta de competitividade da nossa economia. O grande problema de Portugal é não o terem deixado fingir que não era "ajuda externa" a "ajuda externa" que ele estava a mendigar na Europa para se manter no poder.
A saída de Sócrates pode não ser suficiente, mas era sem dúvida condição necessária para sairmos do pântano em que nos afundamos.
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