Thursday, March 17, 2011

Só faltam nove dias para isto acabar e voltarmos a ler livros

Comentário de um arquétipo ao post anterior:

«Anónimo disse...
Óbvio, entre isto e os russos que metem aqui 50 milhões por amor Sporting, venha o diabo e escolha.

Por amor de deus, tu queres o Inácio a director? Mais o Virgílio?

Eu percebo que gostem de ouvir o rapaz, que o rapaz anime o espírito num debate face ao iPdad do Godinho e o Ba ba baltazar. Mas russos? Com 50 milhões? Só porque sim? E não podem vir cá os russos a Lisboa se isto tanto lhes interessa? É preciso o Bruno ir a Moscovo? E a CMVC come o fundo sem chatices?

Mais o Inácio e o Virgílio na estrutura directiva? Não se arranja mais ninguém? Mais os gritos histéricos de defesa do Eduardo Barroso?

Isto tem pouco de Obama, pá.
»

Isto é útil. Vamos respirar fundo e dialogar.
Antes de mais, e começando pelo fim, eu nunca participei em duas eleições pelos mesmos motivos. Umas eleições servem para eleger alguém espectacular, outras para eleger alguém adequado, outras para derrotar as Forças de Satanás, outras para impedir a vitória de um candidato deprimente, bastando para isso votar em alguém que seja um bocadinho menos deprimente. Não se vota só para eleger o Obama. Nem os meus quatro votos nestas eleições servem só para eleger o Bruno de Carvalho e "querer" o Inácio e o Virgílio na estrutura directiva; servem igualmente para não eleger os outros, e para "não querer" o Futre, o Zico, o Paulo Pereira Cristóvão, o Carlos Barbosa - e o Cunha e Vaz, que tem coordenado a campanha de Godinho Lopes com esta eloquência. Especialmente os últimos três, eu não os quero associados ao Sporting nem besuntados em maionese. Mas vamos às objecções.

«Mas russos? Com 50 milhões? Só porque sim?»

Um clube na situação do Sporting tem três maneiras de arranjar dinheiro para financiar uma equipa de futebol: ou consegue mais crédito da banca, agravando o passivo; ou vende 3 ou 4 activos por valores que lhe permitam reinvestir em 8 ou 9, com lucro financeiro e ganhos qualitativos; ou encontra investidores externos dispostos a fazer o que, nesta altura, não deixa de ser um investimento de risco. Activos valiosos não temos nem um, portanto sobram duas alternativas. Vejamos então como os três candidatos à presidência do Sporting propõem resolver o problema (digo três candidatos, porque o Abrantes Mendes é o Garcia Pereira, e porque, apesar de admitir a forte hipótese de o Pedro Baltazar não ser tão pateta como parece - ninguém pode ser tão pateta como ele parece - também acho que não deve andar muito longe):

Godinho Lopes - Disse que o Sporting precisa de 100 milhões a curto prazo, incluindo 40 para reforçar a equipa já no Verão. Garantiu também já ter esses 100 milhões. Explicou como? Não. Mas como nunca disse em voz alta a palavra "russos", está tudo bem, e não vale a pena ter dúvidas sobre a palavra de alguém com tanta credibilidade.

Dias Ferreira - Começou por dizer que o Sporting "terá um orçamento", que será feito por ele, ou por outras pessoas, não há crise, a malta desenrasca-se. Agora já veio dizer publicamente que a única solução realista passa por "investimento estrangeiro". Há algum problema com isto? Evidentemente que não, pois a palavra "russos" nunca foi utilizada, e os investidores estrangeiros talvez sejam do Canadá ou das Ilhas Vanuatu.

Bruno de Carvalho - Anunciou muito cedo um fundo fechado de 50 milhões de euros para investir no futebol. Admitiu que palmou a ideia ao Braz da Silva, porque a ideia não só tem sido usada com sucesso por outros clubes, como é a única forma de financiar aquisições sem recorrer ao BES ou a um mecenas qualquer. Não inventou a pólvora. Estamos a falar de um método de financiamento semelhante (embora com algumas diferenças) ao que permitiu ao Benfica ter o Ramires durante 2 anos. É verdade que envolve russos, ao contrário do Benfica Stars Fund, que envolve iranianos e angolanos. Aqui compreendo a perturbação de muitas pessoas, pois como se sabe o Rasputine era russo, tal como o Lenine, o Beria, o Yuran, o Kulkov, o inventor do morteiro, e aquele soldado psicótico do Guerra e Paz que embriagava ursos em casa.
Isto não é solidariedade entre nações irmãs, nem é uma obra de caridade. É um investimento que, como qualquer investimento, implica perdas se correr mal e ganhos se correr bem. O sucesso do mesmo depende das mesmas variáveis de outros acordos semelhantes: os jogadores adquiridos terão de ser bons, e pelo menos alguns deles terão de ser revendidos por verbas superiores. É só isto.

«E não podem vir cá os russos a Lisboa se isto tanto lhes interessa? É preciso o Bruno ir a Moscovo?»

Outro mistério terrível. O Bruno de Carvalho prometeu com muita antecedência que ia apresentar os investidores no dia 16 de Março. Acontece que os investidores só teriam disponibilidade para estarem todos em Lisboa no dia 21. Não querendo falhar uma promessa, o Bruno de Carvalho decidiu ir a Moscovo para os apresentar no dia anunciado. Porquê? Epá, porque pode, tendo um passaporte. Ter um passaporte é muito útil nos dias que correm. O director-desportivo da lista do Godinho Lopes, por exemplo, não podia ter ido a Moscovo, pois está com termo de identidade e residência.

«E a CMVC come o fundo sem chatices?»

Presumo que a CMVC seja a Câmara Municipal de Vale de Cambra, mas não percebo o papel da mesma nesta questão. É possível que estejamos a falar da Comissão do Mercado de Valores Imobiliários, mas, ao contrário do que a excelente e ultra-competente imprensa desportiva tem dado a entender, esta também não tem qualquer relevância para isto. Descobriu-se agora que os "fundos" demoram 6 meses a ser mastigados, digeridos e aprovados pela CMVM, e o facto de o fundo conter essa tóxica substância pelo nome de "russos" talvez alargue o prazo para anos e anos.
Meia hora no google e no site da CMVM é suficiente para perceber que nada disto é relevante. O regime jurídico de facto fala nos prazos citados pelo Record, mas os mesmos referem-se a "organismos de investimento colectivo", que são fundos de investimento abertos a subscrição pública por investidores indeterminados, que se dirijam a pelo menos 100 investidores, e precedidos por actividades de prospecção e promoção. Acho que o Benfica Stars Fund funciona nesses moldes, mas o "fundo" apresentado pelo Bruno de Carvalho não partilha nenhuma destas características. A recolha de capitais não se fez por subscrição pública. É um fundo "fechado", só com três investidores, não estando por isso sujeito ao mesmo regulamento, nem precisando de autorização prévia da CMVM ou da Câmara Municipal de Vale de Cambra.
Admito que se tenham dúvidas sobre isto; eu próprio talvez tivesse mais dúvidas, não fosse a blindagem fornecida pela minha iliteracia económica. Mas no que diz respeito a métodos de financiamento, a candidatura do Bruno de Carvalho é a única sobre a qual é possível ter dúvidas, por ser a única que até agora deu pormenores concretos. Sobre as outras não há nada. Temos uma pessoa a falar em termos vagos em "investimento estrangeiro"; outra a falar em termos ainda mais vagos em 100 milhões de euros, sobre os quais se limita a explicar que "tem as condições necessárias para obter esse montante através da apresentação de um projecto credível"; e temos o Bruno de Carvalho que explicou quanto, como, de quem, e para quê. Mas ele é que é o problema, ele é que é um embuste e um aventureiro perigoso. Não percebo, juro que não percebo, mas estou aqui até dia 26, disponível para ser esclarecido.

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