Vi este físico alemão pela primeira e única vez na conferência dos 30 anos da supergravidade, em Paris, em Outubro passado. Ainda há duas semanas deu um seminário numa sessão plenária da SUSY 2007, a conferência anual sobre supersimetria. Morreu no passado dia 8, quando ainda era um cientista activo, até há pouco tempo líder de um grupo na Universidade de Munique, e que orientava mestrados e doutoramentos.
Será recordado na física teórica não como o inventor da supersimetria, mas um dos descobridores das primeiras teorias de campo supersimétricas consistentes. A supersimetria deixava de ser uma simetria obscura proposta por uns russos para passar a ser uma propriedade das teorias de campo que, quando estas a manifestassem, lhes conferia muito melhores propriedades quânticas. Estava lançado o mote para que se construíssem modelos em física de partículas que permitiam resolver vários problemas fenomenológicos. Wess foi ainda o co-autor de importantíssimos trabalhos em teorias quânticas de campo (não necessariamente supersimétricas), permitindo nomeadamente entender melhor as anomalias. Os seus principais trabalhos – e foram muitos – foram sempre em co-autoria com o italiano Bruno Zumino, hoje professor jubilado ainda activo da Universidade de Berkeley na Califórnia.
Wess foi ainda o autor do livro “Supersymmetry and Supergravity”, a mais divulgada obra de introdução a estes assuntos, vulgarmente designada por “Wess & Bagger”, os dois autores oficiais – Wess ditava, o estudante Bagger escrevia, e isto é mais do que má língua. É um livro péssimo que toda a gente que trabalha na área tem. Quem não conhecer o assunto não aprende absolutamente nada ao lê-lo, mas nele encontram-se muitas fórmulas úteis que de outra forma estariam dispersas por artigos. Arrependo-me muitas vezes de ter comprado o meu, mas não creio que o vendesse.
A supersimetria ainda não foi descoberta. Tem que ser quebrada no mundo em que vivemos (onde não se observa), e nos aceleradores de partículas até ao presente nunca se atingiu uma escala de energias tal que se permite observar matéria nas condições em que a supersimetria não é quebrada. Concordo com o optimista Lubos Motl: Wess morreu um ano antes de a supersimetria ser descoberta (no LHC, o novo acelerador de partículas do CERN, que daqui a menos de um ano estará a dar os primeiros resultados). E assim perdeu o prémio Nobel (que, se fosse vivo quando a supersimetria for descoberta, seria seu e de Zumino de caras). Outros prémios ganhou. Era um dos maiores físicos teóricos do nosso tempo.
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