Detesto a pergunta "o que falta para cumprir Abril ?" com que uma chusma de piedosos comentadores nos bombardeia por estes dias.
"Cumprir" o quê ? mas quem é que tinha que "cumprir" tal coisa ?
Há nesta abordagem uma menorização do povo. Um povo que, pelos vistos, aguarda ainda, passivamente, que "Abril se cumpra". Ou que as mentes esclarecidas e de vanguarda lhe realizem o "céu na terra" e lho ofereçam de bandeja.
Os militares de Abril, e os milhares de homens e de mulheres que antes deles semearam Abril, desbloquearam o acesso à Liberdade como lhes competia. Pode parecer pouco mas, afinal, é tudo.
O ponto onde estamos é exactamente aquele onde, por acções ou por omissões, quisemos estar. Como dizia Brecht "na cama que fazemos é onde nos deitamos". O "povo é quem mais ordena", ou não ?
Começo a ter a desagradável sensação de que muitas das "comemorações de Abril" não passam de oportunismos que em nada ajudam a dignificá-lo.
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