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"Mas o ponto é que os intelectuais perderam o poder: não são eles que medeiam a cultura nos espaços colectivos, em especial na televisão.
Agora, ocupam um nicho: são seus alguns lugares da cidade, certas ruas, certas salas de espectáculos. Para lá chegarem, têm que atravessar ruas e praças que detestam.
São seus certos programas de televisão, a certas horas. Para os verem têm que fazer zapping.
São suas certas estantes de certas livrarias. Para verem o que lá está, têm que passar pelas outras estantes com intenso espanto perante as porcarias que o "povo" lê.
Ao viajarem, restam -lhes cada vez menos paisagens intocadas por horrendas casas, estúpidos anúncios, hordas de turistas que todos os dias os fazem pensar que o mundo está cada vez mais feio.
Como não têm dinheiro para fugir para longe ou construírem um mundo aparte, remetem-se aos seus nichos como se os tivessem escolhido. Mas não se trata de escolha. Trata-se de exílio.
Todavia, há um território onde os intelectuais podem entreter a ilusão da sua importância: a Internet.
A ilusão é aqui possível porque na Internet não há espaço público, não há ruas, não há praças, não há sobretudo televisão, ou seja, na Internet os intelectuais não são obrigados a conviver com o "povo"-podem, como toda agente, saltar de sítio em sítio nesse território atomizado e sonhar que estão na academia, numa enciclopédia, numa galeria de arte.
Refugiados em casa, vêem suspensa, no brilho tremeluzente do ecrã do computador, a sua condição de exilados. "
Paulo Varela Gomes, Público, 02.01.2009
(ilustração de André Carrilho)
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