O jornal New York Times retirou do seu site imagens de um trabalho fotográfico de Edgar Martins, por alegadamente terem sido manipuladas digitalmente, uma decisão que o galerista do autor português diz ser «um mal-entendido».
«Eu acho que tudo não passa de um mal entendido. O Edgar Martins não é um fotojornalista», disse José Mário Brandão, da galeria Graça Brandão, que tem sido galerista do autor português nos últimos cinco anos.
Edgar Martins, 32 anos e vencedor este ano do Prémio BES Photo, foi convidado pelo jornal New York Times para um projecto editorial sobre a recessão económica nos Estados Unidos.
O artista português percorreu 19 cidades dos Estados Unidos em 21 dias e o resultado deste trabalho foi publicado no passado domingo na revista do New York Times e numa fotogaleria no site oficial do jornal.
Na quarta-feira, o diário nova-iorquino decidiu retirar o trabalho jornalístico, intitulado Ruins of the Second Gilded Age, da Internet, alegando que Edgar Martins manipulou as imagens digitalmente.
Diário Digital
Edgar Martins passou 21 dias a fotografar 19 cidades norte-americanas, a convite da New York Times Magazine. O trabalho, com mais de uma centena de fotografias sobre os efeitos da crise económica no país, foi publicado no passado fim-de-semana, em seis fotografias. E retirado na terça-feira, depois de um leitor ter identificado nas imagens alterações feitas em computador.
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Nas fotografias imperam imagens de casas inacabadas, vazio e destruição deixados para trás por famílias e empresas norte-americanas arruinadas pela crise. Mas o que foi detectado por um leitor do Minnesota, programador informático, que confessa nem perceber de fotografia, foi que, em pelo menos um caso, onde se via o interior vazio de uma grande casa em madeira, havia manipulação digital da imagem: um dos lados era literalmente o espelho do outro, uma imagem simétrica só conseguida com recurso a um editor de fotografia, como o conhecido programa Photoshop.
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"Soubessem os editores que as fotografias tinham sido manipuladas digitalmente e o trabalho não teria sido publicado. Por isso foi retirado", pode ler-se numa mensagem deixada no lugar do portfólio.
Edgar Martins, vencedor do prémio BES Photo 2009, responde à polémica: "Já esperava esta discussão, o que não esperava era a forma como aconteceu", disse ao PÚBLICO. "O problema foi o New York Times ter vendido a história como vendeu", disse, negando a acusação de manipulação. "Sou crítico do fotógrafo como turista, que produz um trabalho factual, recuso ser um mero intermediário, que dá uma visão fragmentária", acrescenta o autor, referindo que nunca lhe foi dito que o objectivo era uma abordagem factual, apesar de conhecer "as ansiedades da editora" sobre trabalhos conceptuais que permitem todo o tipo de liberdades estilísticas."Sabia que ia desafiar as convenções do jornalismo. Eu não fui para observar, fui para comentar", admite Edgar Martins, que frisa que nunca colocou de lado o uso do computador e que fala de "um desencontro" sobre o modo como cada parte assumiu o ponto de partida para o trabalho.
..."Não foi uma alteração para servir a estética. É uma mensagem que eu quero passar da dualidade entre a aspiração e o excesso, a ruína e a decadência."O autor, que já falou sobre este assunto com críticos de arte norte-americanos, e que está em negociações para publicar o trabalho integral com uma editora norte-americana, felicita-se sobre a abertura de um debate sobre um assunto que há muito deveria ter sido lançado, sobre o factual e o conceptual na fotografia.
Jornal Público 11.07.2009
Esta discussão veio para ficar. Qual é a definição de fotografia e quais são os limites aceitáveis à sua manipulação/transformação digital ?
No caso em apreço penso que o autor devia ter explicitado o carácter da sua abordagem. Na medida em que se tratava de endereçar jornalisticamente um tema de "realismo social" era expectável uma leitura não conceptual por parte do público leitor.
Por isso, embora se respeite a liberdade do autor na produção da obra também se percebe a atitude do jornal que necessita de garantir a "credibilidade" das imagens que publica, no contexto em que actua.
Sobre este tema:
A mentira das imagens (1)
A mentira das imagens (2)
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