Saturday, July 18, 2009

Um paradoxo sem classe nenhuma

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Li ontem dois artigos muito interessantes no Jornal I. Um de Pedro Lomba "A sua classe? Ex-classe média" e outro de Paul Krugman "Encanar a perna à rã".
Pedro Lomba faz uma excelente abordagem de um problema que, como Paul Krugman diz no outro texto, ilustra bem a dificuldade que temos em reagir a desgraças que, gradual e insidiosamente, nos espreitam.

"Leio na "Time" desta semana uma reportagem sobre a nova geração dos 20 anos na Europa. O local: Espanha, após o apogeu dos últimos anos (mas bem podia ser França ou Portugal, porque a realidade não é muito diferente). As personagens: jovens com menos de 30 anos, uns no desemprego, outros com trabalhos mal pagos na economia dos serviços. O argumento: de filme negro, série B, sem nenhum final feliz. Um longo cardápio de queixas, desilusões, frustrações. Ou, traduzindo em palavras mais directas, os novos vintões e vintonas, mesmo cheios de mestrados e doutoramentos, podem vir a ser a primeira geração desde há décadas a descer de classe social. "
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"A ex-classe média viverá em casa dos pais até tarde e, muito provavelmente, girará entre empregos, apartamentos arrendados ou relações amorosas sem se agarrar a nada e sem construir nada. Vai ser uma geração cínica e desenraizada, cutucando no Facebook para aplacar a solidão. "

Há um certo paralelismo entre os artigos de Pedro Lomba e de Paul Krugman. Diz este:

"Actualmente, porém, a crise aguda deu lugar a uma ameaça muito mais insidiosa. Para muitos dos que fazem previsões em economia, o crescimento do produto interno bruto está para acontecer em breve, se é que não aconteceu já. Mas tudo aponta para uma "recuperação sem empregos": em média, os analistas sondados pelo "The Wall Street Journal" estão persuadidos de que a taxa de desemprego vai continuar a aumentar no próximo ano e no fim de 2010 será tão alta como a actual. "

A falta de horizontes profissionais das novas gerações tem muito a ver com a recuperação económica que está a verificar-se sem que haja criação de empregos. Em minha opinião esta tendência não é conjuntural e explica-se pelo advento da sociedade tecnológia e do primado da informação.

Perante tão graves ameaças à ordem social vigente soa paradoxal o que vem sendo noticiado sobre a comparação entre os salários na administração pública e no sector privado.
Um estudo recente revela que, para trabalhos equivalentes, se ganha muito mais na função pública (para além de se disfrutar de uma segurança de emprego muito maior).

Este paradoxo é social e económicamente insustentável.
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