Têm medrado ultimamente, com objectivos distintos, os discursos que falam do crescimento da "esquerda à esquerda do PS". Os autores, tanto à esquerda como à direita, vão de exagero em exagero a ponto de recentemente Alberto João Jardim ter afirmado em comício (mais coisa menos coisa): "uma esquerda comunista com mais de 20% dos votos é um dos piores resultados da governação do PS. Tal nunca aconteceu num país da Europa civilizada".
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No quadro acima comparámos o número de votos nas legislativas do conjunto PS+PSD+CDS (os chamados partidos do arco da governabilidade - PAG), com os votos do conjunto PCP+BE (em que ao BE, nos anos que antecedem a sua fundação, são atribuídos os votos das forças que nele se coligaram).
Os PAG só uma vez, em 1995, quando surgiu Guterres, totalizaram mais de cinco milhões de votantes e tiveram o seu resultado mais modesto em 1985, quando surgiu o PRD, obtendo então cerca de três milhões e meio de votos. Os partidos "à esquerda do PS" têm o seu ponto mais baixo em 2002, quando venceu Barroso, com 529.836 votos e o ponto mais alto no tempo da AD, em 1979, tendo então alcançado 1.297.142 votantes.
O gráfico não parece portanto justificar, apesar do resultado animador de 2005, a ideia agora em circulação de que estamos a viver um período de grande afirmação dos partidos "à esquerda do PS".
Tal ideia é ainda mais negada pelo quadro que se segue onde mostramos a que percentagem dos votos PS+PSD+CSD coresponderam os votos PCP+BE.
Constata-se que até 1985 eram comuns as votações dos partidos à esquerda correspondentes a 25%, ou mais, das votações nos PAG (partidos do arco da governabilidade). Mas em 2005 obtiveram apenas 17,1%.
Este tipo de ideias erróneas tem sempre uma explicação. No caso vertente penso que se trata de um efeito da recente votação para o Parlamento Europeu. Nessa eleição, com elevadíssima abstenção e com reduzido efeito de bipolarização, o PCP e o BE obtiveram realmente 21,4% ao totalizarem 762.454 votos.
Acontece porém que este número de votos obtido em Junho de 2009 é inferior àquele (798.340) que nas legislativas de 2005 lhes rendeu apenas 13,9% dos votos expressos. Não é pois legítimo projectar mecânicamente nas próximas legislativas de Setembro o resultado PCP+BE na votação para o Parlamento Europeu realizada em Junho passado. Nem como papão nem como ilusão.
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