Tuesday, November 3, 2009

Até a roubar temos de ser rascas?

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Aqui a dimensão é outra, e é essa outra dimensão que espanta: a forma como uma sucateira de Ovar consegue alegadamente corromper quadros de topo das maiores empresas nacionais. Um pequeno selfmade man com muitas notas e capacidade para oferecer Mercedes topo de gama chega à EDP, à Galp, à Refer, à REN, à PT, com a maior das facilidades influenciando concursos a seu favor. Um chico-esperto com os bolsos cheios consegue enfiar no bolso dezenas de pessoas poderosas. Mais do que isso: tem a pretensão de poder afastar presidentes de empresas estatais que lhe dificultam a marosca. Eu já vi coisas destas, sim. Mas era um episódio de Os Sopranos.
Esta facilidade com que um muito pequeno influencia os muito grandes é a coisa que mais se aproxima em Portugal de um procedimento mafioso. Mas não há corpos atirados para o rio: à boa maneira lusitana, é uma cosa nostrinha. Portugal é um país livre da mmfia porque não é preciso ameaçar ninguém com uma pistola. Basta abanar com um maço de notas. Um Mercedes com jantes de liga leve? Ó meu amigo, leve lá a sucata para casa. Dez mil euros? Está bem, eu faço dois ou três telefonemas. Golpes de colarinho banco com os quais se compram ilhas em paraísos tropicais eu ainda posso perceber. Mas esta corrupção dos pobrezinhos nas maiores empresas portuguesas é verdadeiramente deprimente. Até a roubar temos de ser rascas?
João Miguel Tavares, DN 03.11.2009
Os aspectos caricatos da Face Oculta multiplicam-se: há "funcionários" que utilizam telemóveis pagos pelo sr. Godinho e até há um director das Finanças que o sr. Godinho diz estar ao seu serviço em part-time.
A investigação já acumulou 8.000 páginas no processo e, se avançar para as autarquias, corremos o risco de os arguidos só caberem, para ser julgados, no Pavilhão Atlântico.
É normalmente assim que os casos morrem, ou são mortos, em Portugal; demasiadas páginas, demasiados arguidos e testemunhas, demasiada confusão e demasiado tempo. Acabam por prescrever ou ser anulados por uma irregularidade formal qualquer.
Ou seja, morrem de morte macaca. Esperemos que tal não aconteça neste caso.
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