Monday, November 16, 2009

A dupla face da Face Oculta

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Para se poder compreender o real significado dos episódios recentes que envolvem Sócrates, indirectamente, na Face Oculta é preciso pôr este caso em paralelo com a “crise das escutas” a Cavaco tão discutida em Setembro e Outubro.

1- Em ambos os casos os jornais revelaram de forma ilegítima o conteúdo de documentos: num caso, o de Cavaco, foi publicado um email privado trocado entre jornalistas do jornal Público e agora foram divulgados “extractos” de certidões enviadas por um juiz de instrução criminal ao PGR. Quer Cavaco quer Sócrates são envolvidos em consequência de actos cometidos por terceiros.

Mas enquanto que no primeiro caso o PR era apenas mencionado agora Sócrates é, ele próprio, interveniente nas conversas telefónicas.
Enquanto que Cavaco, a serem confirmadas as suspeitas, teria tentado obter a publicação de uma notícia, Sócrates tratava de subverter a completa linha editorial de uma estação de televisão.
No caso de Sócrates houve mesmo um procurador e um juiz que, ao extrair a certidão das escutas, consideraram que o seu comportamento punha em causa o Estado de Direito.

Pode portanto concluir-se que o grau de envolvimento e a gravidade do comportamento de Sócrates é muito maior.

2 – Posto isto é legítimo comparar as consequências dos dois casos.

Os críticos de Cavaco, em que pontificava ainda que cinicamente o Partido Socialista, louvaram a divulgação de correspondência privada pelo DN com base na relevância social do caso. Mas em relação a Sócrates, cujo caso tem relevância social ainda maior, decide-se ocultar e destruir as provas.

A Cavaco toda a gente exigia que desse esclarecimentos sobre uma conversa em que não estivera presente e em relação à qual se conhecia apenas a versão de um dos intervenientes. A Sócrates, em contrapartida, permite-se que escude o silêncio relativamente às escutas em argumentos formais.

Cavaco foi crucificado em público na sequência da sua inábil intervenção televisiva sem preocupações relativamente à dignidade do cargo. Mas Sócrates aparece na televisão a fazer exigências ao Presidente do STJ e ao PGR, falando em tom de ameaça aos procuradores e juízes que tiveram a ousadia de o escutar.

Enquanto Cavaco era ridicularizado por recear ser escutado, durante a campanha eleitoral em Setembro, o PGR já tinha na sua secretária as escutas que envolviam Sócrates e também o despacho do STJ a mandar destruí-las. E nada disse.
A Face Oculta veio mostrar, de forma irónica, que afinal os receios do Presidente estavam longe de ser absurdos. A ocultação da existência das certidões e dos despachos à opinião pública constituiu sem dúvida uma interferência grave no processo eleitoral e condicionou sem dúvida os seus resultados.
Mostrou também quem é que realmente tem influência na comunicação e na justiça.

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