Friday, August 1, 2008
Alô Gil, aquele abraço
Quando chegou ao Ministério da Cultura, foi aclamado internacionalmente como o sucessor de Nana Mouskouri. Mas não deixou de fazer exigências: queria ter tempo para continuar a fazer as suas digressões e dar os seus espectáculos mundo fora. Pior: não queria “perder dinheiro” por ser ministro. Era essa a justificação oficial.
Lula mesmo assim aceitou, e o Brasil passou então a ter o “ministro cantor”.
Eu não estou em condições de julgar o seu trabalho enquanto ministro, e nem é esse o meu objectivo neste texto. É claro que era engraçado e original o Brasil ter um ministro que de dia tinha reuniões políticas e à noite actuava em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, ou em Paris, na Praça da Bastilha. Mas também era agradável para o cantor em questão ser reconhecido como “o ministro”, e seguramente tal não o tornou menos famoso. Nem as iniciativas dentro e fora do Brasil por si patrocinadas. Posso testemunhar as iniciativas associadas ao “ano do Brasil em França “ (2005): o seu nome aparecia em maiúsculas, sempre em lugar de destaque (e sem nenhuma comunicação ou outro motivo que o justificasse). Não bastava a referência às entidades em abstracto (neste caso o Ministério da Cultura): nunca faltava o “Ministro da Cultura - Gilberto Gil”.
Ficou famosa uma greve prolongada dos funcionários do seu ministério (que praticamente o parou) a exigirem melhores salários. Gil não demonstrou nenhuma solidariedade para com o ministro das Finanças, seu colega no governo: preferiu refugiar-se em mais uma digressão pelo estrangeiro e dizer que nada sabia nem tinha a ver com o assunto.
Podem ter-se visto muitos resultados desta passagem de Gil pelo Ministério da Cultura do Brasil; para além do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (que é justo destacar), já disse que não sei. Sei o que nunca se viu (pelo menos que eu tenha dado por isso): um ministro com sentido de Estado, sentido de dever, ética republicana, espírito de missão. Gil sempre se achou mais importante que o país ou o seu ministério. Por “dificuldades para conciliar as atribuições oficiais do cargo de ministro da Cultura com a sua carreira artística”, Gilberto Gil já não é ministro da Cultura do Brasil. E o Rio de Janeiro continua lindo.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
Blog Archive
-
▼
2008
(890)
-
▼
August
(61)
- Obama segundo VPV
- Democracia no avião
- Só mesmo na China
- Desdramatizar não resolve
- Quem assume a responsabilidade ?
- O Amolador
- Vocês sabem do que estou a falar
- União de facto
- Meu querido mês de Agosto
- Charlemagne
- Ascensão e Queda dos Impérios
- A outra discussão: os “sacrilégios” da China
- A URSS ganharia os Jogos de Pequim ?
- Olimpismo à portuguesa
- Comments Off
- O budismo, a compaixão e a "democracia" estão na moda
- Turismo científico
- Cem anos de Henri Cartier-Bresson
- A defesa das Verdades por meios violentos
- Parabéns ao SLB!
- PEPS Independência
- Um verdadeiro artista
- Esta não é a Ana Sá Lopes
- Calma é que é preciso
- Dia Mundial da Fotografia
- O que é uma criança ?
- Os fatos dos nadadores
- Serviço Policial Obrigatório
- "É doce morrer no mar.."
- Ao cuidado de Teixeira dos Santos
- Começar bem
- Os ricos pagaram a crise ?
- Monopólio
- Genes
- Bom Povo Português
- O outro texto do João Miranda
- Grande texto, João Miranda
- Dark Matter
- O milagre que ainda falta
- Sinto-me tão pouco preocupado com o Benfica que ch...
- Natação Phelpuda
- A "sociedade do risco"
- Uma bela síntese
- Espírito Olímpico
- Pequim responde com arte e elevação
- China promete distribuir 50 mil bíblias aos atletas
- 08-08-08, 08:08
- Entram de costas para fingir que vão a sair
- Morreu o bispo de Aveiro
- Leituras de Verão
- Coisas que enfurecem o mais pacato cidadão
- A bowl of Martian fatworm soup
- N'importe quoi ?...
- Marx, le retour
- Galactic Pot-Healer
- Um monólogo de Sérgio Gouveia, por Sérgio Gouveia
- A Herança
- Energias renováveis ?
- O "perigo amarelo"
- Alô Gil, aquele abraço
- O Presidente ideal
-
▼
August
(61)
No comments:
Post a Comment