Tuesday, September 2, 2008

Com a Rússia não se brinca e com os cidadãos também não


"Com a Rússia não se brinca nem se ameaça: negoceia-se. Eis uma regra que os dirigentes europeus deveriam ter sempre presente e, nomeadamente, nos tempos que correm. Para não se deixarem levar pela onda de propaganda, soprada pela Administração Bush, nem pelas provocações do perigoso Presidente da Geórgia, Saakashvili.Tem toda a razão o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, quando, numa entrevista concedida ao Expresso, teve a coragem de criticar o modo como os Estados Unidos e a União Europeia têm tratado a Rússia, nos últimos anos. Durante a presidência portuguesa, Portugal bateu-se - e bem - para normalizar as relações entre a União e a Rússia, nomeadamente na Cimeira que promoveram. Mas, depois, a instalação dos mísseis na Polónia e na República Checa, o imprudente relacionamento criado pela NATO com os países limítrofes da Rússia, da Ucrânia, do Cáucaso e do Mar Cáspio, a independência do Kosovo, aplaudida pelos Estados Unidos e por boa parte dos países europeus, foram demasiadas provocações. Bernard Kouchner ameaçou aplicar sanções contra a Rússia. Quais e como?... A Rússia reagiu com brutalidade. Medvedev avisou: "Se a Europa quiser uma deterioração das relações, vai tê-la naturalmente." Numa escalada preocupante, o Ministério da Defesa russo confirmou o êxito dos testes de um míssil balístico intercontinental, capaz de suplantar as tecnologias de defesa "inimigas". Entretanto, a Rússia reconheceu a independência da Abcásia e da Ossétia do Sul. Como sempre, Putin, mais directo, acusou os Estados Unidos de terem empurrado a Geórgia para o conflito para beneficiar McCain, nas próximas eleições presidenciais, visto McCain ter apelado à expulsão da Rússia do G8. Que insensatez... Espero que o Conselho Europeu que está reunido, quando escrevo estas linhas, saiba moderar uma situação que pode tornar-se desastrosa..."
(Mário Soares, DN 02.09.2008)
Nesta matéria sou surpreendido por uma rara concordância com Mário Soares (e Chavez, vejam lá). Gostava de saber como reagiria o "Ocidente" se os russos desatassem a incitar o Irão a atacar Israel ou se instalassem mísseis "defensivos" no México ou no Canadá.
Com a Rússia não se brinca e com os cidadãos também não.

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