Primeiro vieram as Pessoas da Ciência, transportando a Ciência em baldes, e depositando-a debaixo da Suiça. A Ciência adquiriu a forma de um túnel circular, com 27 kms de perímetro. O túnel serve para acelerar partículas até estas atingirem sete TeV. Isto é mais difícil do que parece, dada a natureza obstinada das partículas, e a sua conhecida propensão para a indolência.
Uma equipa de Pessoas da Ciência incita grupos seleccionados de protões a entrarem no Grande Colisionador Hadrónico. Os protões são então neutralizados com poesia francesa e velhas músicas de Dean Martin. No outro lado do túnel, uma segunda equipa de Pessoas de Ciência acena com chocolates, rebuçados e confeitaria avulsa. Espera-se que os protões corram nessa direcção a uma velocidade de 99,9998% da velocidade da luz (unidade de medida conhecida em física de partículas como “David Suazo”). Os primeiros protões a completar o percurso serão recompensados com os melhores chocolates e apurados para a fase seguinte; os mais lentos receberão um certificado de participação e serão colocados a rodar num colisionador hadrónico com menos exigências competitivas.
A segunda fase envolve colocar os protões num anel de colisão, e fazê-los entrar em choque uns com os outros. Para este efeito, a reputação da mãe de um dos protões será questionada, através de rumor e insinuação, pelas Pessoas da Ciência. Espera-se que a confusão consequente provoque uma tumulto de recriminações e lavagem de roupa suja que ajude a explicar a origem da massa das partículas elementares.
Uma destas partículas é conhecida como “Bosão de Higgs”. A Ciência anda há décadas a perseguir o “Bosão de Higgs”. O “Bosão de Higgs” permanece irredutível na sua reclusividade, indiferente a ramos de flores, caixas de After Eight, e até àqueles postais que tocam o «Für Elise» quando são abertos. Os rumores apontam para que o “Bosão de Higgs” esteja escondido num Holiday Inn em Palma de Maiorca, com receio de ser chantageado pelo marido da Ciência.
O Grande Colisionador de Hadrões gerou alguns receios entre Pessoas da Ciência. Temia-se que fosse criado um buraco negro capaz de engolir o Universo. Na verdade, o pior que poderia acontecer seria uma reacção em cadeia através da qual toda a matéria fosse transformada em “matéria estranha”, um tipo de matéria apática e desinteressada, incapaz de participação cívica na sociedade, desejando nada mais do que ficar em casa o dia inteiro a ver televisão. As Pessoas da Ciência explicam que, mesmo que um buraco negro fosse produzido pelo Grande Colisionador de Hadrões, ele seria inofensivo - um buraco negro meio flâneur, passeando pelo planeta num bildungsroman sub-atómico, ganhando alguma espessura psicológica, mas desprovido de massa, e escrevinhando notas melancólicas nos bancos de jardim de Genebra, pelo que podemos todos dormir descansados.
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