Como diz a publicidade de um novo jornal "I de repente tudo muda": Sócrates passa de virtual vencedor das legislativas, sem adversário à altura, para bombo da festa. À medida que o Governo sente aumentar o perigo da derrota eleitoral multiplicam-se os sinais de submissão às corporações.
Por exemplo o "Governo dá por terminada a redução de funcionários do Estado", ou propõe "Menos tempo para chegar ao topo da carreira docente", ou admite que as "Quotas para classificações de mérito afinal são transitórias". Mas também o principal partido da oposição declara que dará prioridade à Justiça e à Educação e percebe-se que conta com os votos dessas classes profissionais, a quem tudo prometerá, para vencer o partido do governo.
Por comodismo, ou oportunismo eleitoral, demasiados políticos esquecem os interesses mais gerais do país e, na véspera das eleições, cedem a todas as chantagens dos grupos de pressão. Foi assim com Cavaco, quando liderou o PSD, e com Guterres quando teve responsabilidades de governação. Ainda hoje estamos a pagar esses erros.
Mas não são esses políticos que pagam as benesses concedidas ou sofrem o descontentamento dos cidadãos que efectivamente as pagam. Os sacrifícios resultantes só se sentem nas legislaturas seguintes e "quem vier atrás que feche a porta".
É esta a triste sina de uma democracia que se deixou cair sob a tutela das corporações. Em que certas corporações têm uma espécie de "golden share" eleitoral, uma espécie de "voto de quantidade".
Um dia, outros usarão este pretexto para destruir o regime.
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