Wednesday, March 7, 2007

James in Greeneland

Graham Greene escreveu admiravelmente sobre James, mas devemos sempre desconfiar da honestidade de um homem capaz de se converter ao catolicismo por conveniência estética: um homem assim - capaz de alugar a alma por uma boa base simbólica - estará sempre tentado a deformar qualquer interpretação literária até ela caber na prateleira, arrumadinha ao lado da King James Bible. Esse ensaio acaba por nos revelar menos sobre o 'universo privado' de Henry James do que sobre Graham Greene; a 'figure in the carpet' que ele finge descortinar na obra do Mestre é pouco mais do que uma tentativa de validação das suas próprias preocupações narrativas.
Parece-me também que ele confunde dois conceitos distintos em James: o sacro terrore, definido como «the witheld glimpse of dreadful matter», e que tanto pode ser despoletado pelo que é divino como pelo que é mitológico; e uma noção de evil muito idiossincrática. O Mal, para James, era uma deformação moral individual, não admitindo (com a provável excepção de Turn of the Screw e de alguns dos contos de fantasmas) uma fonte sobrenatural, ou exterior, nem podendo ser cancelado pela Graça Divina. É um Mal abrangente, que tanto inclui o comprazimento na corrupção dos outros, como falta de etiqueta à mesa de jantar, mas que tem muito pouco a ver com a teologia católica.
Num texto sobre Turgeniev, James elogia-o pelo seu entendimento de que « ...Evil is insolent and strong; beauty enchanting but rare; goodness very apt to be weak; folly very apt to be defiant; wickedness to carry the day; imbeciles to be in great places, people of sense in small, and mankind generally, unhappy... ». Lá está: isto diz-nos mais sobre James do que sobre Turgeniev; e explica melhor a sua noção de Mal do que o ensaio de Graham Greene (que, volto a dizer, com a magnanimidade que me caracteriza, é muito bom).
Aliás, o parágrafo explica quase tudo, menos isto: como é que este homem recebia tantos convites para festas.

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