Thursday, April 19, 2007

Da natureza do fanatismo


Já depois de ter escrito o post anterior, em que referi a questão do fanatismo, tive acesso ao fabuloso "Contra o Fanatismo" de Amos Oz.
O livrinho foi distribuído com o jornal Público e eu recomendá-lo-ia em todas as escolas.

Posso dizer que encontrei uma "alma gémea" e que subscrevo tudo o que o livro diz; gostava muito de ter o seu talento e não me importo nada que os meus escritos pareçam plágios de Amos Oz. Aqui fica um "aperitivo" retirado do referido livro:

Vou contar uma história em jeito de divaga­ção: eu sou um reconhecido divagador, estou sem­pre a divagar. Um querido amigo e colega meu, o admirável romancista israelita Sammy Michael, pas­sou uma vez pela experiência, por que todos nós passamos de vez em quando, de andar de táxi du­rante um bom tempo com um condutor que lhe ia dando a típica palestra sobre como é importante para nós, Judeus, matar todos os Árabes. Sammy ouvia-o e, em vez de lhe gritar, «Que homem hor­rível que você é! É nazi ou fascista?», decidiu ir por outro caminho e perguntou-lhe: «E quem acha que deveria matar todos os Árabes?» O taxista dis­se: «O que quer dizer com isso? Nós! Os Judeus Israelitas! Temos de o fazer! Não há escolha. Veja só o que nos fazem todos os dias!» «Mas quem, especificamente, é que deveria fazer o trabalho? A polícia? Ou o Exército talvez? O corpo de bom­beiros ou as equipas médicas? Quem deveria fazer o trabalho?»
O taxista coçou a cabeça e disse: «Penso que devíamos dividi-lo em partes iguais entre cada um de nós, cada um de nós devia matar alguns.» E Sammy Michael, ainda no mesmo jogo, disse: «Pois bem, suponha que a si lhe toca um determinado bloco residencial da sua cidade natal, Haifa, e que bate às portas ou toca às campainhas, e pergunta: 'Desculpe, senhor, ou desculpe, senhora. Por acaso é árabe?' E se a resposta for afirmativa, você dispa­ra. Quando acaba o seu bloco, dispõe-se a regressar a casa, mas, ao fazê-lo,» continuou Sammy «ouve, algures no quarto andar do seu bloco, o choro de um bebé. Voltaria para matar o bebé? Sim ou não?» Houve um momento de silêncio e, então, o taxista disse a Sammy: «Sabe, o senhor é um homem muito cruel.»


Se quer ler o resto deste belo texto, o capítulo "Da natureza do fanatismo", clique AQUI
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