Foi a pior Grand National de que tenho memória: uma série de falsas partidas e um steward com um caso extremo de retenção anal ameaçaram transformar a corrida numa farsa antes sequer da primeira sebe ser transposta. O pior estaria para vir, contudo, com a vitória a sorrir o seu sorriso esborratado de lipstick foleiro ao palerma Robbie Power, justamente punido com quatro dias de suspensão por uso excessivo do chicote (só por acaso não escavacou uma rótula ao animal). Razão, suponho, para cobrir de elogios o cavalinho vencedor, Silver Birch, que mais não seja pela contenção que revelou. Outros cavalinhos, por muito menos, fizeram aquilo que ele deveria ter feito: usar a transposição de um obstáculo como pretexto para depositar cuidadosamente o seu jockey na relva.
Tudo isto torna ainda mais vergonhoso o facto de ter sido esta a única Grand National nos últimos 5 anos a dar-me algum dinheiro - Slim Pickings, o cavalo irlandês que era a minha back-up bet, chegou em terceiro lugar, o que rende 1/3 das odds, embora não chegue a restaurar 1/33 de auto-estima. Quanto ao cavalinho Dun Doire, ficou provada a sua completa incapacidade para competir em terrenos que não se assemelhem às trincheiras do Somme. Dun Doire é o equivalente equestre àquelas equipas de futebol que só ganham partidas jogadas em lamaçais - como o antigo estádio/quintal do Gil Vicente, de cujo nome agora não me recordo, mas que espero já tenha sido demolido para dar lugar a uma estufa. Já agora, para quem gosta de ver jockeys derrotados passarem um lenço saturado em graxa pela carapaça do cágado, Paul Carberry escreveu uma autópsia para o The Guardian. Para o ano há mais.
(A árvore da imagem é um silver birch, julgo eu. Que é o nome inglês para um vidoeiro, julgo eu. Mas nestas coisas, é sempre melhor ir confirmar aqui, ou perguntar ao João Miranda, que sabe tudo.)
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