Sunday, April 15, 2007

Era uma vez uma fábrica...

Era uma vez uma fábrica militar que dava pelo nome de FNMAL, Fábrica Nacional de Munições para Armas Ligeiras, e que nos anos oitenta foi integrada, juntamente com outras, na INDEP, Indústrias Nacionais de Defesa. Ficava ao fundo da Avenida de Moscavide.




Durante mais de trinta anos vi da minha janela a sua imponente chaminé de tijolo.





Centenas de pessoas que ainda hoje vivem em Moscavide trabalharam nesta fábrica e, muitas delas, passaram dentro da FNMAL a maior parte das suas vidas.
Em 2001 as instalações da FNMAL foram encerradas e nunca mais voltaram a funcionar.

Durante anos os edifícios aguardaram, no seu recolhimento e decadência, aquilo que o destino lhes reservasse.









No dia 12 de Fevereiro de 2007 apercebi-me de movimentações pouco usuais para alguém que passa frequentemente no local. Pareceu-me que se preparavam para a demolição. Quem ? porquê ? ninguém no local me soube explicar.

Desde essa data, nos últimos dois meses, a maquinaria abateu-se sobre os velhos pavilhões.







Como pretendia saber o que se estava a passar e o que se preparavam para construir no local dirigi-me à junta de Freguesia de Moscavide onde o próprio Presidente me disse, com a maior das calmas, que nada sabia sobre o assunto.
Deixei o meu contacto para me telefonerem quando conseguissem a informação pretendida. Até hoje.

Enviei uma mensagem electrónica para o Município de Loures pedindo informações sobre o projecto mas, apesar de ter sido registada com o número 18184 de 16/02/2007, a pergunta nunca mereceu qualquer resposta.

Entretranto os trabalhos continuavam.







Então resolvi, no dia 3 de Abril de 2007, dirigir-me presencialmente ao atendimento do Departamento de Gestão Urbanística da Câmara Municipal de Loures.

Para meu grande espanto comunicaram-me que nada sabiam sobre projectos para os terrenos da velha FNMAL em Moscavide. Simpaticamente sugeriram que me dirigisse ao Departamento de Projectos Estruturantes (ou seria Estorturantes ?) pois aí concerteza que saberiam esclarecer-me.

Lá fui, bastante esperançado, mas a única coisa que me disseram foi que uma empresa de nome MAVIFA solicitara autorização para demolir a antiga fábrica, aparentemente já depois de ter iniciado os trabalhos.
Sobre o futuro disseram-me, a muito custo, que um projecto para o local fora reprovado pela vereação e que se aguardava a reformulação do mesmo para eventual aprovação.

Entretanto a fábrica estava quase totalmente demolida.





E transformara-se, depois de triturada, num conjunto de montículos de terra.





Qual não é o meu espanto quando hoje, 10 de Abril, apenas uma semana depois de ter estado nos Projectos Estruturantes de Loures, vejo à porta da demolida fábrica este flamejante cartaz:





Eu para já não tenho nada contra o projecto, nem contra a empresa OBRIVERCA que o vai fazer (propriedade de um famoso dirigente desportivo), nem contra a indústria da construção em geral, mas que tudo isto cheira a esturro lá isso cheira.
No mínimo, no mínimo, houve um total desprezo pelo direito dos cidadãos à informação levando a suspeitar que se está a tentar esconder qualquer coisa.

Não há por aí ninguém disposto a fazer uma reportagem jornalística sobre tudo isto ? ou um trabalho académico no domínio da sociologia ?

Eu possuo, e posso disponibilizar, umas centenas de fotografias das operações de demolição e dos interiores da fábrica tal com eram imediatamente antes da demolição.

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