Sunday, November 11, 2007

Para além do espectáculo

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É certo que os jornalistas hipervalorizaram o reencontro frente-a-frente entre Sócrates e Santana. É verdade que muitas vezes a comunicação social se fica pela espuma dos dias, aborda a rama dos assuntos e não vai fundo na substância dos mesmos. Mas é também uma realidade indesmentível que, neste caso concreto, no primeiro dia de debate parlamentar do Orçamento do Estado para 2008, quer o primeiro-ministro, quer o líder parlamentar da oposição fugiram às suas responsabilidades políticas de debate e de aprofundamento das respectivas propostas orçamentais e resvalaram para um mediatismo básico e oco.
A responsabilidade primeira nesta fuga ao debate político de substância é do primeiro-ministro, que logo ao abrir a sessão parlamentar, para além de apresentar algumas medidas concretas de governação, como lhe competia, optou por puxar à colação a governação do seu antecessor. O recurso usado por José Sócrates é básico e tem como finalidade desviar a discussão daquilo que poderia dificultar-lhe o dia no Parlamento, ou seja, a discussão das suas medidas e das suas opções orçamentais.
O que é certo é que Santana Lopes, bem como a comunicação social em geral, dançaram a música que José Sócrates quis.Mas o facto de José Sócrates ter conseguido condicionar o debate, e ter por isso ganho no plano mediático, não quer dizer que o tenha ganho do ponto de vista político. No plano da discussão política, o primeiro-ministro perdeu a sessão de abertura do debate parlamentar sobre o Orçamento do Estado para 2008. E perdeu porque na substância não respondeu às questões que lhe foram colocadas.
Exemplifiquemos. José Sócrates preferiu atacar Santana Lopes e achar que o colocava mal, amesquinhando-o por ter sido por si derrotado nas legislativas de 20 de Fevereiro de 2005. E ficou-se em jogos florais e acusações inconsequentes sobre o passado, sem responder às duas questões que Santana Lopes lhe colocara. Uma sobre o facto de existirem, segundo dados do Estado espanhol, 80 mil portugueses a descontar para a Segurança Social espanhola. A outra sobre o facto de, no passado, José Sócrates ter dito que não se podiam mexer nos direitos adquiridos, mas tê-lo feito ao aprovar a reforma da Segurança Social.Mas o problema das respostas de José Sócrates neste debate não se ficou apenas pelo embate com Santana Lopes. O primeiro-ministro respondeu demasiadas vezes ao lado. Quando Paulo Portas o interrogou sobre fiscalidade, José Sócrates falou do Estatuto do Aluno. Perante as perguntas de Jerónimo de Sousa e de Francisco Louçã, José Sócrates insistiu na tese de que estes dois líderes partidários não estavam satisfeitos e achavam pouco as medidas de carácter social do Governo. É pena que tenha sido perdida uma oportunidade de debater a sério não só as propostas do Governo, como também as propostas alternativas da oposição. E que a discussão sobre o Orçamento tenha começado apenas no segundo dia de debate.
São José Almeida, Público 10.11.2007
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Subscrevo isto

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