Julguei ter deixado bem claro no meu penúltimo texto sobre a praxe que a minha amostra era limitada e que, portanto, as minhas conclusões não podiam ser definitivas. Nomeadamente não conhecia o comportamento dos alunos naturais de Lisboa mas deslocados. E conheço poucas opiniões de alunos naturais de outras cidades e não deslocados. (Conheço um caso, de um leitor deste blogue, que sempre viveu e fez o curso no Porto e é contra a praxe.) O que escrevi foi que a praxe não era seguramente um hábito oriundo de Lisboa (há registos históricos que o comprovam, e o eloquente comentário que eu citei confirma-o mais uma vez), e que era um hábito provinciano. Deixei bem claro que tal não implicaria que quem fosse de fora de Lisboa fosse a favor da praxe, e muito menos provinciano!
Mas houve quem não entendesse bem a implicação. E tal motivou uma série de insinuações sobre, por exemplo, "a minha ignorância do resto do país." Quem ler este blogue, e mais ainda quem me conhecer pessoalmente, sabe que eu embora não conheça o que se passa em muitas partes do país, não sei só o que se passa em Lisboa (nomeadamente, tenho raízes no distrito de Aveiro). Nem sei por quanto mais tempo vou continuar a viver em Lisboa, e não teria problema nenhum em viver noutro distrito. Mas eu sinceramente nem dou grande crédito às insinuações do Luís Aguiar Conraria, que não me conhece o suficiente para as poder fazer (só revelam uma dor de cotovelo que os lisboetas estão habituados a causar a algumas pessoas). Espero é que o Luís tenha dito o mesmo aos seus amigos, que ele não especificou se eram ou não de Lisboa e que julgavam que Braga era no "interior": que eram uns "ignorantes do resto do país". O que eu queria sobre isto afirmar é que, ao contrário do Luís, eu não tive a sorte (aqui estou mesmo a falar de "sorte") de arranjar um emprego académico antes de iniciar o meu doutoramento. (O Luís é um típico liberal português: teve desde o princípio o futuro garantido e sempre o salário ao fim de todos os meses, pago pelo bom Estado, é claro.) Isso levou a que percorresse diversos pontos do mundo (EUA e Europa) ao longo da minha carreira académica. Não me estou aqui a queixar de nada: não me arrependo de ter escolhido esta carreira e ter tomado estas opções. Conheço várias universidades e muitos antigos alunos de vários países, e sei que algo como a praxe não é visto em mais nenhum país civilizado. (E conheço muitas festas, e sei que a Festa do Avante é muito boa em qualquer parte do mundo.)
Também não quero com isto dizer que me considero de alguma forma "melhor" do que outras pessoas que tenham vivido sempre em Portugal, dentro ou fora de Lisboa. Tudo isto são opções de vida. Só que no meu caso, as minhas opções de vida levaram-me a passar muitas fronteiras. E sempre vi como se vivia para além dessas fronteiras. Para mim os EUA não são só Nova Iorque, Nova Iorque não é só o Rockefeller Center, a França não é só Paris, Paris não é só o Quartier Latin, Portugal não é só Lisboa e Lisboa não é só a Baixa-Chiado.
As acusações que o Luís me faz de "incapacidade de passar da sua minúscula fronteira", por isso, em mim fazem ricochete. E reafirmo tudo o que escrevi.
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