Ao contrário do que possa parecer, à luz das ameaças que enfrentamos, a paralisação dos camionistas não é muito negativa. De certo ponto de vista pode até ser benéfica porque nos ajuda a tomar consciência das dificuldades que vamos ter num futuro próximo.
O fim da paralisação dos camionistas representará apenas o alívio temporário de quem não estava realmente preparado para este esboço de caos. Se o preço dos combutíveis tiver a trajectória prevista dentro de pouco tempo estaremos numa situação tão má, ou pior, do que aquela que estamos a viver.
Os preços muito altos dos combustíveis levarão à falência, ou tornarão inviáveis, muitas actividades económicas e, como tenho dito desde o início da crise, modificará de forma brutal o nosso padrão e estilo de vida.
Como venho dizendo, o que mais me espanta é a aparente inconsciência do governo e demais autoridades públicas. Não anteciparam a gravidade da situação actual e continuam a tratar este problema como se fosse apenas mais uma luta reivindicativa que é necessário gerir.
Neste momento devia estar em curso a nível nacional uma acção de planeamento intensivo e de redimensionamento do sistema público de transporte de passageiros, de reconfiguração do sistema logístico de abastecimento de mercadorias e de reconsideração dos investimentos projectados.
Ao mesmo tempo o governo devia estar a equacionar uma redução brutal de despesas, com eventual eliminação de departamentos do Estado cuja actividade não é essencial, por forma a libertar recursos para cobrir suspensão do imposto sobre combustíveis durante uma fase de transição, com o objectivo de garantir a mobilidade custe o que custar.
A nível internacional a UE devia estar a usar todo o seu peso e influência económica para forçar uma negociação vantajosa dos preços do petróleo. Continuo a não perceber a passividade europeia e a sua aparente subordinação à estratégia americana.
Os americanos ocuparam o Iraque por causa do petróleo e não, como alguns dizem, por uma tolice de Bush. Dominam o médio Oriente e ameaçam o Irão provavelmente por ser fonte de abastecimento da China e não por causa da ameaça nuclear (lembram-se das armas de destruição maciça ?).
A China pactua com Chavez e com regimes africanos de duvidoso mérito para assegurar o seu abastecimento. Alia-se com a Rússia e infiltra-se no Cazaquistão.
Estamos aparentemente numa corrida estratégica ao petróleo que pode muito bem acabar numa nova guerra mundial.
E a Europa vê os "combóios passar" ? Nós somos apenas os peões que pagam as despesas ?
(ver mais informações no Público)
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