"O latinzinho é a basezinha", repetia o abade em Santa Olávia enquanto se servia dos melhores pedaços de frango sobre o fricassé. Pode ser a "basezinha", mas ninguém pensa em aprender latim hoje em dia se não for linguista ou estudante de letras (isto é, se o seu objectivo for só falar uma língua nova). Ninguém precisa de aprender latim se o seu objectivo for comunicar em francês, espanhol ou italiano. Ou português. A estrutura destas línguas tem origem no latim, mas aprende-se aprendendo muito bem uma. Para a maior parte das pessoas, o latinzinho é uma perdazinha de tempo. Julgo que isto é evidente para a maior parte das pessoas, exceptuando os casos perdidos de reaccionarismo atávico. Por isso costumo dizer, em mais uma das minhas generalizações, que "o latim é uma língua de fachos e padrecos". Sabia que já tinha escrito esta expressão nalgum sítio (que, repito, costumo dizer oralmente): só a encontrei
aqui, no comentário da 1:10 de 4 de Maio de 2006. Vale a pena repeti-lo, dedicado aos senhores jornalistas que tanto falavam no "momentum", por exemplo, de Barack Obama (sem fazerem ideia do que é o tal "momentum"):
Se houver algum linguista que me saiba explicar o “momento”, agradeço.
Notem que em inglês há o “moment” e o “momentum”! “Moment” é p.e. o momento de uma força; “momentum” é o momento linear (que na excelente edição em português do Brasil da saudosa MIR da Mecânica do Landau e Lifshitz é o “impulso”). Em inglês um sinónimo de “momento angular” é “moment of momentum” (no Landau e Lifshitz, “momento do impulso”!).
Fernando, explica aí à malta o “moment” e o “momentum”, se puderes. Deve vir do latim, mas eu sempre achei que o latim era uma língua de fachos e padrecos.
Mas voltando ao latim: eu nem levava excessivamente a sério aquela minha generalização, assim como não levo as minhas generalizações em geral. Mas que fazer depois de ler
este texto? Bem me queria parecer. Não se deve levar as generalizações à letra (que é como quem diz: não estou a chamar "facho" nem "padreco" ao André Azevedo Alves). Mas que as generalizações têm sempre algo de verdade, lá isso têm.
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