Friday, June 29, 2007
"Um passo a pé gasta as caligae..."
Na figura vê-se a Via Appia antiga (no piso original - e que engraçado é ver os carros a lá passarem!), local das catacumbas onde se refugiavam os cristãos, quando eram perseguidos. Vale a pena visitá-la. É mesmo muito longa. Recomendo que tomem um autocarro se lá forem. Não façam como eu, que fui a pé a partir das termas de Caracalla (de acordo com as descrições do meu péssimo guia, tudo parece muito perto).
Ao regressar estive quase uma hora à espera do tal autocarro, porém. Conformei-me em ter de regressar a pé, e meti de novo os pés a caminho. Entre duas paragens, o autocarro apareceu. Felizmente vi-o a tempo de correr para a paragem seguinte (e fazer com que ele me visse) e apanhá-lo. Neste aspecto, a minha verdadeira experiência italiana não foi (e ainda bem) completa.
(Pergunta: quem conhece a citação do título?)
Química real na Tailândia
"É a festa, a festa dos touros" explicou a voz, na RTP. A voz pertencia a uma pessoa que julgo chamar-se José Castro. Outra voz, que pertencia a outra pessoa, confirmava: "É de facto a festa dos touros". A presidente da Câmara Municipal do Montijo, Maria Amélia Antunes, apareceu de repente no ecrã, revelando a sua felicidade por estar ali, a participar naquela "festa, a festa dos touros". Tentou ainda, durante vários segundos, pronunciar a palavra "intervenientes", mas acabou por abandonar esse projecto em favor de um projecto alternativo, que consistia em pronunciar novamente a palavra "festa", o qual conseguiu concluir com um moderado grau de sucesso. O entrevistador desejou-lhe "uma boa corrida", o que a deixou com um ar compreensivelmente alarmado.
No AXN, que passava o filme Devil's Own, Brad Pitt aperfeiçoava a sua imitação do mais implausível sotaque irlandês da história do cinema (que viria a sublimar em Snatch). Harrison Ford fazia trejeitos com a boca. "How can you say that?", perguntou ele. Todas as evidências apontam para que se estivesse a referir ao sotaque de Brad Pitt. Um argumentista honesto teria alterado a deixa para: "How can you say it that way?"
Após um zapping de vários minutos por quarenta e dois canais, a voz que julgo pertencer a José Castro continuava a enumerar os motivos pelos quais todos estávamos em festa: "A praça de touros do Montijo completa este ano cinquenta anos"; "Sónia Matias estreia hoje uma casaca nova"; e o crucial "É isto que é a festa, a festa dos touros".
Na MTV podia ver-se um programa chamado «The Real World», no qual um número real de pessoas reais é catapultado pelos produtores em diversas direcções reais, até que duas delas, por mero encolher de ombros estatístico, decidam dormir juntas, de uma forma real. Uma loura real chamada Jennifer revelou a sua ansiedade em encontrar-se de novo com Stephen em Denver, porque "we had real chemistry in Thailand". O mundo não se torna muito mais real que isto.
De volta à festa na RTP, um grupo de adolescentes descritos como sendo «forcados amadores de Alcochete» prepararam uma manobra no sentido de evitar que um touro com um ar muito pouco festivo se deslocasse do ponto A ao ponto C. Para este efeito, um dos adolescentes colocou-se no ponto B, tendo ainda o cuidado de informar a audiència sobre a espécie de animal que ali se encontrava para participar na festa: "É touro! É touro! É touro!"
O plano, contudo, foi evidentemente mal ensaiado. O touro, talvez com o pensamento ocupado por chapéus coloridos, línguas-da-sogra, e outros artigos festivos, insistiu em deslocar-se até uma determinada secção da arena, situada precisamente atrás do grupo de adolescentes. O primeiro adolescente tentou abraçar o touro. O segundo adolescente tentou abraçar o primeiro adolescente. O terceiro, quarto e quinto adolescentes tentaram abraçar-se a si próprios, enquanto o touro se esquivava a todas as manifestações de camaradagem, mostrando uma indiferença pelo clima próprio das festas que foi descrita pelo comentador da RTP nestes termos: "o touro a mostrar ali alguma maldade".
Não consigo, sinceramente, decidir o que penso sobre as touradas. Contavam-se alguns aficionados entre os Casanovas e, durante a infância, o espectáculo assumiu a banalidade do que é familiar (e poucas coisas são mais banais para uma criança do que aquilo que os avós gostam de ver na televisão). Alguns anos de afastamento obliteraram por completo essa familiaridade; é inquestionável que uma corrida de touros, para alguém alheado dos ingredientes históricos e coreográficos da modalidade, é um espectáculo que pode perfeitamente ser descrito como ridículo, cruel ou degradante. Poder-se-ia dizer o mesmo de certos reality shows, é certo, mas nenhum daqueles a que assisti se baseava numa representação cénica de um ritual arcaico, actualizado com óbvias vantagens para uma das partes, e na qual um elemento fulcral é o sofrimento escusado da outra. (Esclareço que nunca consegui ver o 1º Big Brother dos Famosos, e que me pode faltar informação relevante).
As frases mais lúcidas da noite foram os elogios dirigidos aos cavalos de João Moura. Ter de andar a fugir de um touro bravo, num espaço reduzido, com os olhos tapados, e montado por um rotundo homem aos berros, não deve ser tarefa nada fácil, e revela grandes doses de Química Real. Mal sabem os velozes cavalinhos do Reino Unido a sorte que têm, nascendo, como o fazem, numa espécie de "Horsie Heaven" na Terra.
Pedem-me sempre tão pouco
O Major continua a envolver pessoas em correntes, querendo agora saber quais os últimos cinco livros que li. Não tenho nada contra o arremesso de memes, e até acho que apenas costumam pecar por falta de ambição. Participaria de bom grado numa corrente deste género: «Crie um post no qual enumere os últimos quinhentos livros que leu, e inclua para cada um deles uma ilustração criada com o Paintbrush e uma citação retirada de uma página ímpar».
À falta de ambição responde-se sempre com o essencial; neste caso, nem sequer vou dizer o que penso sobre o raio dos livros. E não passo nada a ninguém.
Cara ou Coroa, Ellery Queen
À falta de ambição responde-se sempre com o essencial; neste caso, nem sequer vou dizer o que penso sobre o raio dos livros. E não passo nada a ninguém.
Cara ou Coroa, Ellery Queen
The Dreaming Swimmer (Essays: 1987-1992), Clive James
Retratos e Auto-Retratos, Vasco Pulido Valente
The Moviegoer, Walker Percy
Jesus' Son, Denis Johnson
Retratos e Auto-Retratos, Vasco Pulido Valente
The Moviegoer, Walker Percy
Jesus' Son, Denis Johnson
Thursday, June 28, 2007
Luís Rainha no Público?
Para quem, como é o meu caso, se questiona sobre o que será feito do Luís, aqui têm uma bela pista: esta iniciativa do Público, a que cheguei via Nélson. Não se vê o nome dele na ficha técnica, mas eu diria que uma ideia destas só poderia sair da cabeça dele.
Wednesday, June 27, 2007
Um post ofegante
O blogue do Filipe Guerra foi de férias, despedindo-se com um telegrama fabuloso que me fez lembrar o bloco de notas de Chekhov (e isto é um elogio que só utilizo uma vez por ano).
O Memória Inventada, surpreendendo tudo e todos, regressou de férias. O primeiro post de «fim de pausa» (categoria que já devia estar incluída no índice) pôs-me a pensar num casal de tartarugas que eu tive quando morei em Sacavém. Uma vez apanhei uma a mordiscar as patinhas da outra, que sorria; os meus pais nunca acreditaram nesta história. O segundo post pós-pausa tem uma ilustração da qual é impossível desviar o olhar. Há um livro de Isaiah Berlin cujo infeliz grafismo da capa da edição portuguesa (Gradiva, parece-me) sugere que existem oito inimigos da liberdade, entre os quais se incluem Rousseau, a cidade de Berlim e o profeta Isaías. Já aquela capa que ali está no MI parece insinuar que Vasco Graça Moura, Cyrano de Bergerac e Edmond Rostand colaboraram num romance histórico intitulado Bertrand. Ou que dois franceses escreveram um poema épico chamado Vasco Graça Moura.
O autor do blogue A Causa Foi Modificada. obrigou-me ontem a subir a Calçada da Ajuda em 7.4 segundos, uma audaz manobra estratégica que, no entanto, falhou o seu objectivo principal que era, claramente, matar-me.
Peguem num papel e num lápis e tentem fazer um anagrama a partir de Ex-Ivan Nunes. A sério, tentem. É impossível. Aliás, a brincadeira dos anagramas começa a cansar-me. Ando a experimentar algumas ideias para refazer a lista de links. Darei novidades em breve.
Tony Blair não sabe jogar à bola.
Também vasculhei o YouTube à procura de provas visuais de que o Derlei não percebe nada de política externa, mas em vão.
O Memória Inventada, surpreendendo tudo e todos, regressou de férias. O primeiro post de «fim de pausa» (categoria que já devia estar incluída no índice) pôs-me a pensar num casal de tartarugas que eu tive quando morei em Sacavém. Uma vez apanhei uma a mordiscar as patinhas da outra, que sorria; os meus pais nunca acreditaram nesta história. O segundo post pós-pausa tem uma ilustração da qual é impossível desviar o olhar. Há um livro de Isaiah Berlin cujo infeliz grafismo da capa da edição portuguesa (Gradiva, parece-me) sugere que existem oito inimigos da liberdade, entre os quais se incluem Rousseau, a cidade de Berlim e o profeta Isaías. Já aquela capa que ali está no MI parece insinuar que Vasco Graça Moura, Cyrano de Bergerac e Edmond Rostand colaboraram num romance histórico intitulado Bertrand. Ou que dois franceses escreveram um poema épico chamado Vasco Graça Moura.
O autor do blogue A Causa Foi Modificada. obrigou-me ontem a subir a Calçada da Ajuda em 7.4 segundos, uma audaz manobra estratégica que, no entanto, falhou o seu objectivo principal que era, claramente, matar-me.
Peguem num papel e num lápis e tentem fazer um anagrama a partir de Ex-Ivan Nunes. A sério, tentem. É impossível. Aliás, a brincadeira dos anagramas começa a cansar-me. Ando a experimentar algumas ideias para refazer a lista de links. Darei novidades em breve.
Tony Blair não sabe jogar à bola.
Também vasculhei o YouTube à procura de provas visuais de que o Derlei não percebe nada de política externa, mas em vão.
Goodbye, mister socialism
Eduardo Prado Coelho, no Público de hoje, informa:
...
António Negri publicou em 2006, na Feltrinelli, um livro a que deu o provocador título de Goodbye, mister socialism. Trata-se uma longa entrevista feita por Ralf Valvola Scelci, onde Negri expõe, de um modo sucinto mas incisivo, o seu actual pensamento político.
...
Porquê este adeus ao socialismo? Porque segundo Negri as esquerdas tradicionais têm uma concepção muito simplificada das suas tarefas: aceitam o liberalismo capitalista mas procuram dar-lhe enquadramento social. E defendem acima de tudo os interesses sindicais dos que têm emprego.
Pode-se dizer que a sua grande obsessão é o emprego. Falta-lhe uma ideia de conjunto que integre as profundas transformações da sociedade contemporânea.
"Os socialistas perderam as referências colectivas."
E é aqui que os movimentos sociais (que são capazes da violência pontual, mas não sonham com a tomada de poder) entram em cena em nome de uma ideia inovadora do "comum". Hoje mobilizar a sociedade significa "entrar profundamente nas consciências".
...
_____________________________________________
Noto, modestamente, a semelhança entre estas ideias e aquelas que tenho defendido nos últimos anos, quer em livro quer neste blog.
Fiquei muito interessado em ler o livro, o que farei em breve, para depois comentar.
Creio que a defesa deste tipo de teses explicará o súbito eclipse de Negri que ainda recentemente andava nas "bocas do mundo" (de certa esquerda).
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Até já, Tony Blair
Tenho sentimentos ambíguos em relação a Tony Blair. Na política internacional creio que o seu balanço é sem dúvida muito negativo, tal resultando principalmente (mas não só) da desastrosa e irresponsável invasão do Iraque. Já na política interna britânica, apesar de não a conhecer aprofundadamente, creio que o seu balanço é largamente positivo, embora não isento de problemas. A economia cresce e o desemprego é baixo. O investimento público é alto, mas os serviços públicos são muito maus. Recorde-se a paz na Irlanda do Norte, a transferência de poderes para a Escócia e, sobretudo, as alterações democratizantes introduzidas na Câmara dos Lordes.
É claro que a Grã-Bretanha ainda é uma monarquia eurocéptica. Enfim, é claro que a Grã-Bretanha ainda é... a Grã-Bretanha, mesmo se por vontade de Blair devesse ser muito mais europeia. A minha simpatia (apesar de tudo) por este homem deve-se a isto: ele é muito maior, de horizontes bem mais largos, do que o seu próprio país. Era difícil imaginar que da Grã-Bretanha pudesse vir coisa melhor. Agora, que serviços poderá Blair ainda prestar à Europa e ao mundo?
Tuesday, June 26, 2007
O novo tratado europeu
Sem tempo para escrever eu mesmo, gostaria ainda assim de propor a leitura do texto "Fabius chuta contra o Tratado eee... auto-golo!", do Rui Curado Silva. Destaco as seguintes partes:
A Europa é actualmente líder nalguns dos principais desafios do planeta: combate às alterações climáticas, moderação de conflitos regionais (no Líbano foi evidente), respeito pelos direitos humanos, da sexualidade, da laicidade e da paridade. Estes são desafios muito caros à esquerda, mas se os erros da esquerda retirarem à Europa a sua capacidade de iniciativa esta caberá aos EUA e à China e todos sabemos muito bem a leviandade com que cada um destes países trata estes assuntos. A responsabilidade da Esquerda Europeia estende-se à aproximação da UE aos cidadãos. Neste particular, o actual formato de realização de 27 referendos dispersos no tempo não faz qualquer sentido do ponto de vista democrático e matemático (...). Deste modo, um NÃO tem um peso excessivo, que favorece claramente a generalidade das posições anti-europeístas. Um referendo a nível europeu, realizado no mesmo dia, de uma forma clara e simples para todo o cidadão europeu, não só reforçaria o sentimento que vivemos numa casa comum, com um destino comum, como evitaria o falseamento democrático dos resultados e das reais escolhas dos europeus. Somados os votos de todos os referendos ao Tratado Constitucional, qual foi a percentagem de voto NÃO? 20%? 30%? E entre os votos NÃO havia mais esquerda ou mais direita? Havia certamente muito mais direita, e havia direita da piorzinha...
Monday, June 25, 2007
"Modern literature's finest drunken stupor"
Under the Volcano é o «livro da vida» de muita gente. Não será o meu, porque essa posição está muitíssimo bem ocupada, mas admito perfeitamente que pudesse ser, caso lhe tivesse chegado um pouco mais cedo, ou um pouco mais tarde. Tenciono confirmar as memórias difusas que dele tenho nos próximos dias (não lhe pego há quase dez anos); na altura, essa experiência adolescente representou uma turbulenta dilatação das possibilidades da literatura: a ideia de que um livro podia ser um enorme tecido alusivo, remetendo continuamente para precedentes, referenciando tanto a high como a low art; e a revelação (na altura) de que era possível escrever quatrocentas páginas lúcidas sobre uma broega infinita, em que muito pouca coisa acontece fora da consciência do protagonista.
A edição da HarperCollins - cuja capa se pode admirar três posts abaixo - é bastante recomendável. (Os livros com esta chancela têm várias vantagens, das quais destaco duas: uma boa relação peso-volume, que julgo dever-se ao tipo de cola utilizada, e uma encadernação extraordinária que permite manter o livro aberto durante a refeição sem a necessidade de recorrer a contrapesos, e sem afectar a sua integridade).
Vem também acompanhada de uma introdução inconstante e algo repetitiva de Stephen Spender, que denuncia irremediavelmente a sua vetustez (o texto é de 1965) com esta infeliz sugestão: «Someone should write a thesis on the influence of cinema on the novel». Quarenta anos depois, é possível navegar até ao México numa jangada construída com este tipo de teses.
Spender recolhe alguns aplausos da plateia quando tenta evitar a preguiçosa inclusão do romance numa tradição modernista específica dos anos 20 e 30, mostrando como a complexa utilização de mitos e símbolos por parte de Lowry é radicalmente diferente da de Joyce, Eliot ou Faulkner, mas deita tudo a perder quando recorre aos mais estafados lugares-comuns para explicar o horror que Lowry tinha à sobriedade. «The real cause of alcoholism is the complete baffling sterility of existence as sold to you». A frase é de Lowry, mas podia ser de qualquer outro bêbedo eloquente, meia-hora antes de ser corrido do bar. Spender engole o isco, a linha, o anzol, e ainda lança olhares gulosos à cana de pesca: «...Lowry anticipates later artists - Jackson Pollock, for example - self-involved yet selfless, intoxicated yet wholly lucid, drinking themselves into sobriety, who in their very excesses seem to acquire some quality of saintliness, as though undergoing what in others might appear to be vices, for the sake of the rest of us». A tese, portanto, é esta: Lowry, e outros mártires de taberna, enfrascavam-se não por eles, mas pelos pecados da humanidade. Uma ideia suficientemente lunática para induzir no leitor um desejo irreprimível de ir até ao bar mais próximo martirizar-se um bocadinho.
O que levou Lowry a vomitar órgãos internos em metade dos tascos do hemisfério norte não foi um qualquer complexo messiânico, mas sim a mesma pulsão masoquista que sempre coordenou a sua biografia. E parece-me igualmente evidente que se Lowry tivesse combatido a "esterilidade da existência" através do consumo compulsivo de amendoins ou da ocasional partidinha de canasta, as lombadas com o seu nome nas livrarias do mundo seriam muito mais numerosas, aí sim, com incontornáveis benefícios para a humanidade.
O livro esteve disponível na Fnac do Chiado pela muito razoável quantia de doze euros e cinquenta e seis cêntimos, mas eu comprei o último exemplar e trouxe-o para a margem Sul, o que não augura nada de bom para vocês, os privilegiados, os felizes, os do lado de lá.
(A propósito do mórbido alcoolismo de Lowry, uma teoria alternativa foi ensaiada por Martin Amis, num dos parágrafos mais cómicos da sua carreira:
«Dipsomaniacs are either born that way, or they just end up that way. Vastly distinguished in the sphere of dipsomania, Malcolm Lowry, it seems, actually planned to be that way, from childhood. The gift was not inherited. In an early short story the narrator records his (Methodist) father"s disapproval of a local lawyer, who lacked "self-discipline"."He did not know," Lowry wrote, "that secretly I had decided that I would be a drunkard when I grew up." While most schoolboys dreamt of becoming engine-drivers or cattle-punchers, little Malcolm dreamt of becoming an alcoholic. And the dream came true. Excluding a few dry-outs, in hospitals and prisons, and the very occasional self-imposed prohibition, Malcolm Lowry was shitfaced for thirty-five years.»
O texto está incluído na colecção The War Against Cliché)
Nove não chega sequer para meter as vírgulas no sítio
Foi o Horácio. Está na Ars Poetica. E quem joga pelo seguro aponta para os vinte anos.
Pequeno esboço de psicologia étnica
A frase que mais vezes ouço, sempre que venho a Portugal, continua a ser: «Não sei se tenho troco para isso».
He has a cunning plan
Segundo as opiniões dos leitores que participaram na sondagem ao longo dos últimos dias, o próximo presidente da Câmara de Lisboa será o candidato da Nova Democracia.
Favas contadas, amigos: os meus leitores nunca se enganam.
De volta
Praça do Povo, Roma. Fotografia tirada da Villa Borghese. Ao fundo vê-se o Vaticano.
Tive de sair da conferência duas horas antes do fim, para contornar o sciopero ferroviario e apanhar um autocarro para Roma, de onde pude seguir para Fiumicino (para que conste - a 31 km do centro de Roma).
Não tenho muito tempo para escrever hoje, tendo de resolver assuntos pendentes, entre elas um relatório de arbitragem e uma mudança de gabinete (a título pessoal - é bom ter finalmente um gabinete com vista para a rua!). Deixo-vos com duas fotos de dois belos locais.
Cascatas do Tivoli
The Case is Altered
«...They all went to a tavern with some queer name, as 'The Case is Altered'...»
(Malcolm Lowry, Under the Volcano)
Saturday, June 23, 2007
A minha priminha de 4 anos, canalizando o espírito de Andrea Dworkin
- Catarina, que brinquedo é esse?
- É uma cama de princesa. Mas também pode ser uma prisão.
(Diálogo verídico, ocorrido ontem à noite)
- É uma cama de princesa. Mas também pode ser uma prisão.
(Diálogo verídico, ocorrido ontem à noite)
OPERACLICK
Eu gostei bastante da versão de Macbeth apresentada recentemente no Teatro de S. Carlos.
Fui descobrir uma crítica ao espectáculo no site italiano OPERACLICK (site que recomendo a quem queira estar a par do mundo da ópera a nível internacional).
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Thursday, June 21, 2007
"Sciopero nazionale del personale ferroviario"
Para acabar em beleza... greve da Trenitalia, a Ferrovia dello Stato, os caminhos de ferro italianos. Mesmo no dia do meu regresso. E eu, que ando de comboio todos os dias, nao vi nada anunciado em lado nenhum. Foi a Laura, uma colega minha italiana participante na mesma conferencia, que me falou na greve por acaso.
Quando eu chegar a Lisboa, se chegar (i.e. se nao perder o aviao gracas ao sciopero), conto pormenores da minha aventura romana.
Quando eu chegar a Lisboa, se chegar (i.e. se nao perder o aviao gracas ao sciopero), conto pormenores da minha aventura romana.
O Decálogo dos Condutores
O Vaticano divulgou recentemente o Decálogo dos Condutores, uma versão dos dez mandamentos para aplicação rodoviária, tentando contribuir dessa forma para o combate aos acidentes na estrada.
No sentido de acelerar os efeitos práticos desta medida foi nomeado um nuncio especial, o Cardeal Guido Ferrari, que iniciou em Lisboa um périplo europeu.
O cardeal, num gesto inédito, fez questão de usar um boné da Brigada de Trânsito, durante a bênção, para mostrar o seu desígnio de estabelecer uma cooperação intensa com a GNR.
Mais tarde reuniu com as Estradas de Portugal E.P.E. cuja denominação, segundo o cardeal, deveria nas novas circunstâncias ser modificada para Caminhos do Senhor E.P.E.
A proposta foi recebida no gabinete do ministro Mário Lino e vai ser estudada para averiguar do eventual impacto sobre a localização do novo aeroporto.
Para se deslocar até ao local das suas várias reuniões o embaixador do Vaticano não hesitou em montar um motociclo da BT, mitra ao vento, com o intuito de avaliar a potência dos meios usados pelas forças de segurança.
Antes de deixar o nosso país Monsenhor Guido Ferrari tem ainda agendada uma reunião na Direcção Geral de Viação por forma a harmonizar a punição das contra-ordenações que, para além das coimas e da inibição de conduzir, deverá também vir a contemplar a penitência do terço.
Em complemento será apresentado um projecto inovador: o “Rodofessionário”.
O projecto do “Rodofessionário”, que ainda procura fontes de financiamento, prevê a colocação de um confessionário em todas as Operações STOP da GNR, para ser usado nos mesmos moldes que o balão da alcoolemia embora com carácter facultativo.
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No sentido de acelerar os efeitos práticos desta medida foi nomeado um nuncio especial, o Cardeal Guido Ferrari, que iniciou em Lisboa um périplo europeu.
O cardeal, num gesto inédito, fez questão de usar um boné da Brigada de Trânsito, durante a bênção, para mostrar o seu desígnio de estabelecer uma cooperação intensa com a GNR.
Mais tarde reuniu com as Estradas de Portugal E.P.E. cuja denominação, segundo o cardeal, deveria nas novas circunstâncias ser modificada para Caminhos do Senhor E.P.E.
A proposta foi recebida no gabinete do ministro Mário Lino e vai ser estudada para averiguar do eventual impacto sobre a localização do novo aeroporto.
Para se deslocar até ao local das suas várias reuniões o embaixador do Vaticano não hesitou em montar um motociclo da BT, mitra ao vento, com o intuito de avaliar a potência dos meios usados pelas forças de segurança.
Antes de deixar o nosso país Monsenhor Guido Ferrari tem ainda agendada uma reunião na Direcção Geral de Viação por forma a harmonizar a punição das contra-ordenações que, para além das coimas e da inibição de conduzir, deverá também vir a contemplar a penitência do terço.
Em complemento será apresentado um projecto inovador: o “Rodofessionário”.
O projecto do “Rodofessionário”, que ainda procura fontes de financiamento, prevê a colocação de um confessionário em todas as Operações STOP da GNR, para ser usado nos mesmos moldes que o balão da alcoolemia embora com carácter facultativo.
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Free Super Saver Delivery!
Sabemos que a economia mundial está toda de pantanas quando um substancial investimento em Yeats não nos permite sequer começar a pensar em De Quincey.
Estas frases têm pessoas a mais
Há um nobre e enternecedor maneirismo na recensão literária curta que consiste em subjugar uma obra de difícil classificação através de uma imaginária triangulação de precursores, envolvendo-os em interactividades lunáticas. Murakami, um daqueles autores sem voz que usa as influências no peito como se fossem medalhinhas, tem sido uma vítima justa e recorrente desta tendência; os paperbacks ingleses das suas obras estão crivados de citações hilariantes. ("The kind of book that Raymond Carver would have written, after spending a drunken gay weekend with F. Scott Fitzgerald in a Tokyo brothel managed by William Gibson", ou coisas deste género).
O grande especialista nesta técnica é John Leonard, que escreve para a Nation e para o NYRB. Ultimamente em baixo de forma, Leonard conseguiu a proeza de escrever três peças consecutivas sem colocar autores mortos em bacanais autistas, mas neste texto para o NYRB (uma crítica ao mais recente calhamaço de Michael Chabon), apesar de não regressar aos tempos gloriosos em que empilhava toda a carne disponível no assador cultural, conseguiu sair-se com um bastante aceitável "as if Raymond Chandler and Philip K. Dick had smoked a joint with I. B. Singer".
O grande especialista nesta técnica é John Leonard, que escreve para a Nation e para o NYRB. Ultimamente em baixo de forma, Leonard conseguiu a proeza de escrever três peças consecutivas sem colocar autores mortos em bacanais autistas, mas neste texto para o NYRB (uma crítica ao mais recente calhamaço de Michael Chabon), apesar de não regressar aos tempos gloriosos em que empilhava toda a carne disponível no assador cultural, conseguiu sair-se com um bastante aceitável "as if Raymond Chandler and Philip K. Dick had smoked a joint with I. B. Singer".
O que importa aqui ter em conta é a componente surreal da ideia, que deve ser encarada como uma abstracção lúdica e nunca como uma útil especulação sobre a obra. (Até porque julgo existir um consenso neste ponto: se Chandler e Philip K. Dick tentassem partilhar um charro, com ou sem o beneplácito de Isaac, o resultado final não seria um romance de 400 páginas, mas sim um pequeno e triste incêndio num prédio em São Francisco).
Teoricamente, uma frase deste género poderia prolongar-se ad infinitum, acumulando referências absurdas e aberrações cronológicas. O tipo de maratona semântica idealizada por Douglas Adams, Arthur Balfour e pelo Duque de Palmela, depois de partilharem um furtivo croissant num cemitério em Viena - em que um dos coveiros é tio por afinidade de Franz Grillparzer - sob o olhar atento de uma delegação diplomática americana presidida por Jane Fonda, cuja gabardine revela uma mancha de humidade resultante de uma secreta e rancorosa urinadela de Edgar Allan Poe, num tasco em Baltimore que....
O Livro de Job reloaded
“Do que conheço dele, sou grande apreciador das suas qualidades.”
(Liedson, em Metternichianas declarações sobre Derlei, no Record de hoje.)
Desde que chegou a Portugal, Liedson foi submetido aos seguintes testes de personalidade: Lourenço, Elpídeo Silva, Sá Pinto, Douala, Pinilla, Deivid, Alecsandro e Carlos Bueno. Tudo isto sem nunca ficar grisalho, sem nunca mergulhar no alcoolismo, sem nunca agredir ninguém em público, sem nunca renegar o seu Criador.
(Liedson, em Metternichianas declarações sobre Derlei, no Record de hoje.)
Desde que chegou a Portugal, Liedson foi submetido aos seguintes testes de personalidade: Lourenço, Elpídeo Silva, Sá Pinto, Douala, Pinilla, Deivid, Alecsandro e Carlos Bueno. Tudo isto sem nunca ficar grisalho, sem nunca mergulhar no alcoolismo, sem nunca agredir ninguém em público, sem nunca renegar o seu Criador.
Mas vir agora ameaçá-lo com uma parceria com Derlei parece-me uma provação too many, e temo que o gesto o conduza irreversivelmente ao nihilismo.
Panic on the aisles of Continente
A selecção musical imposta aos incautos consumidores matinais pelos altifalantes do Continente do Fogueteiro é um portento de esquizofrenia. Em escassos dez/doze minutos (o tempo que levei a localizar e pagar uma embalagem gigante de Maltesers) ouvi «Things Have Changed» de Bob Dylan, «Like a Bird» de Nelly Furtado, «Solsbury Hill» de Peter Gabriel, e «Sei Que Vou Mais Além» dos Anjos.
Por esta ordem, às dez da manhã.
Novidades no futebol
O campeao de Espanha e o Real Madrid. Nao simpatizo com o clube madrileno, mas este ano fico contente. Gosto do treinador, Fabio Capello, e por tudo o que teve de passar este ano, merece. E depois, para titulos decididos com golos marcados com a mao, ja bastou este ano o portugues.
Desde que cheguei a Italia, a minha principal preocupacao, relativamente a noticias, era so uma. Nao era Socrates em Moscovo, nem cimeiras da UE, nem nada que se parecesse. Era o Romagnoli. Sempre que me ligava a internet, tinha esta preocupacao: entao e o Romagnoli? A contratacao foi finalmente oficializada e por muito bom preco. Esta de parabens a direccao da SAD do Sporting. Bem vindo, Pipi!
Finalmente ha o Derlei. Ao contrario dos sportinguistas que eu ja li, estou convencido de que se trata de uma boa aposta. Nao se deu bem no Benfica, mas desde quando e que um jogador e mau so por nao jogar bem no Benfica? E um excelente suplente para o Liedson, talvez ate possa jogar ao lado dele, e vai fazer muitos benfiquistas calarem a boca.
Desde que cheguei a Italia, a minha principal preocupacao, relativamente a noticias, era so uma. Nao era Socrates em Moscovo, nem cimeiras da UE, nem nada que se parecesse. Era o Romagnoli. Sempre que me ligava a internet, tinha esta preocupacao: entao e o Romagnoli? A contratacao foi finalmente oficializada e por muito bom preco. Esta de parabens a direccao da SAD do Sporting. Bem vindo, Pipi!
Finalmente ha o Derlei. Ao contrario dos sportinguistas que eu ja li, estou convencido de que se trata de uma boa aposta. Nao se deu bem no Benfica, mas desde quando e que um jogador e mau so por nao jogar bem no Benfica? E um excelente suplente para o Liedson, talvez ate possa jogar ao lado dele, e vai fazer muitos benfiquistas calarem a boca.
Wednesday, June 20, 2007
Pas-de-deux fabuloso
Por que nao tenho escrito muito
"Bacheca", "nuovo post", "pubblica post", "salva adesso", "mostra tutto"... E com isto que tenho de me debater no blogger (em italiano, claro). E ainda com um teclado esquisitissimo. Mas pronto, a conferencia esta a valer a pena, e estou em Roma, que vale sempre a pena...
Tuesday, June 19, 2007
Participem, participem
Os leitores do Pastoral Portuguesa (e não apenas os lisboetas) podem, a partir de hoje, participar numa sondagem sobre as eleições em Lisboa. O exemplo que segui - e o código que roubei - foi o do Arrastão. Pequenas alterações foram introduzidas, no sentido de adaptar a realidade à minha cabeça.
Peço desculpa pela curta ausência, mas estive ali entretido a ver televisão
Domingo à noite, num dos canais do surpreendente pacote TV Cabo, duas aranhas gigantes cercavam estrategicamente a cabeça indefesa de Robin Williams, que manteve, mesmo perante tal ameaça, uma histérica insistência em terminar o jogo com um derradeiro lançamento dos dados, no que me pareceu ser uma metáfora visual de gosto duvidoso sobre o flagelo da ludopatia.
O incómodo provocado pela cena (o filme em questão chama-se Jumanji, e é conhecido entre os adeptos como o Citizen Kane dos filmes sobre jogos de tabuleiro assombrados) seria multiplicado com escusada brutalidade alguns minutos depois, quando uma circunstancialmente pré-púbere Kirsten Dunst apareceu sorridente no ecrã, no que me pareceu ser uma metáfora visual de gosto duvidoso sobre o flagelo do time-travelling hormonal.
Perturbado e juridicamente confuso, mudei para a RTP Memória (que conceito fabuloso), ainda a tempo de ver o Fernando Couto versão 1994 perder um lance em velocidade para Julio Salinas (um saudoso acrobata geriátrico, cuja idade já na altura devia rondar os 60 anos).
Num dos canais noticiosos (que conceito fabuloso), um residente de Setúbal dizia gravemente que "isto assim não pode ser", afirmação que considero irrefutável.
Monday, June 18, 2007
Devolver a palavra ao povo
A confusão autárquica em Lisboa e a convocação de eleições, com Carmona e parte da vereação arguidos num processo, foi apenas o culminar de um longo estertor de acções e omissões em que quase todos os partidos estão comprometidos.
Quando as principais forças políticas tomaram finalmente a decisão de derrubar o executivo insistiram num mote de belo efeito: “devolver a palavra ao povo”. Não como uma inevitabilidade para a qual tinham contribuído mas sim como uma receita infalível para a resolução do imbróglio.
Cabe então perguntar se as eleições que se aproximam nos permitem, ao menos, ter a esperança de que os problemas de Lisboa se resolvam ?
Infelizmente, à luz das primeiras sondagens, a resposta a esta pergunta parece ser NÃO. Vejamos porquê:
- Tínhamos uma câmara apoiada por uma maioria na Assembleia Municipal. Agora parece que vamos ter guerra entre as duas instituições.
- Tínhamos uma maioria possível, na Câmara, pela simples aliança de dois partidos da mesma área política. Agora não se vislumbra o contorno de uma nova maioria.
- Tínhamos cinco partidos que se digladiavam na Câmara. Agora teremos quatro ou cinco partidos e mais dois independentes que o são em conflito com os partidos. Não parece mais fácil de conciliar.
- Tínhamos um Presidente independente embora eleito nas listas de um partido. Agora teremos um Presidente que é um alto dirigente partidário, ex-ministro, autor de leis autárquicas controversas e favorável à Ota.
Parece assim provável a invasão da Câmara pelas guerras contra o Governo do PS e portanto as convergências na Câmara, dadas as divergências a nível nacional, serão ainda mais difíceis.
São dados como certos no executivo camarário António Costa, Negrão, Carmona, Roseta, Ruben e Sá Fernandes. Eis então o que falta decidir :
- O Ruben levará com ele algum camarada ?
- O “Zé” terá a companhia de algum bloquista ?
- O Telmo entra ou não entra ?
- O Negrão fica à frente do Carmona ?
- A Roseta fica à frente do “Zé” ?
- O Carmona e a Roseta elegem quantos acólitos ?
- O Costa terá maioria se se aliar ao Negrão ?
Se esta última hipótese acontecer voltam a mandar em Lisboa os dois partidos que votaram tudo o que foi decidido nos últimos anos.
“Devolve-se a palavra ao povo” para isto ?
.
Sunday, June 17, 2007
Saturday, June 16, 2007
Músicas sobre Água
Friday, June 15, 2007
Thursday, June 14, 2007
Wednesday, June 13, 2007
Last Night I Dreamt of Norman Mailer
«Por exemplo, se sair uma combinação ganhadora depois de um período em que não saiu nada, é provavel que nas dez jogadas seguintes essa combinação saia mais uma, duas ou três vezes (é o chamado “chorrilho”). Também é importante deixar a máquina descansar. As pausas de cinco a dez minutos tornam-na mais generosa. Por isso, ganha-se eficácia ao jogar em duas ou mais ao mesmo tempo. É, ainda, uma máquina com que se pode ter um diálogo mental. Já estou com saudades.»
(ENP, n'A Sexta Coluna)
À primeira leitura julguei que isto era um daquelas analogias codificadas sobre relações, nas quais a Laura Abreu Cravo se especializa, mas depois confirmei, não sem uma pontinha de desapontamento ("As pausas de cinco a dez minutos tornam-na mais generosa", enfim, isto tinha algum potencial eufemístico-analógico por espremer, já para não falar na noção exageradamente optimista de que se ganha "eficácia ao jogar em duas ou mais ao mesmo tempo"), que o Eduardo estava mesmo a escrever sobre fruit-machines. O meu veneno é muito outro, e até serei o primeiro a admitir que Monte Carlo e Blackpool orbitam em planetas diferentes, mas queria deixar aqui uns retalhos de cautionary tale. É que a minha experiência não tem nada a ver com aquilo.
Por exemplo, se sair uma combinação ganhadora depois de um período em que não saiu nada, é provável que o beneficiário não seja eu, mas sim um oriental baixinho, sorridente e seco de carnes, que ocupou o meu lugar depois de eu ter ido buscar um guardanapo para fazer taciturnos cálculos a lápis. E se, nas dez jogadas seguintes, essa combinação sair mais uma, duas ou três vezes, é provável que eu não dê por isso, ocupado que estarei a consolar um amigo com um orifício no bolso das calças superior à dívida externa de Moçambique, e o cartão de débito do Lloyd's aprisionado nas entranhas da ATM do casino. E, se houver diálogo, este não será mental, mas violentamente físico. E se houver saudades, será da escola primária, e do jogo do galo.
(ENP, n'A Sexta Coluna)
À primeira leitura julguei que isto era um daquelas analogias codificadas sobre relações, nas quais a Laura Abreu Cravo se especializa, mas depois confirmei, não sem uma pontinha de desapontamento ("As pausas de cinco a dez minutos tornam-na mais generosa", enfim, isto tinha algum potencial eufemístico-analógico por espremer, já para não falar na noção exageradamente optimista de que se ganha "eficácia ao jogar em duas ou mais ao mesmo tempo"), que o Eduardo estava mesmo a escrever sobre fruit-machines. O meu veneno é muito outro, e até serei o primeiro a admitir que Monte Carlo e Blackpool orbitam em planetas diferentes, mas queria deixar aqui uns retalhos de cautionary tale. É que a minha experiência não tem nada a ver com aquilo.
Por exemplo, se sair uma combinação ganhadora depois de um período em que não saiu nada, é provável que o beneficiário não seja eu, mas sim um oriental baixinho, sorridente e seco de carnes, que ocupou o meu lugar depois de eu ter ido buscar um guardanapo para fazer taciturnos cálculos a lápis. E se, nas dez jogadas seguintes, essa combinação sair mais uma, duas ou três vezes, é provável que eu não dê por isso, ocupado que estarei a consolar um amigo com um orifício no bolso das calças superior à dívida externa de Moçambique, e o cartão de débito do Lloyd's aprisionado nas entranhas da ATM do casino. E, se houver diálogo, este não será mental, mas violentamente físico. E se houver saudades, será da escola primária, e do jogo do galo.
Mas isto são pormenores, insignificantes pormenores. Um facto que importa reter: a única petição que assinei na vida foi dirigida à entidade que regula as fruit-machines no Reino Unido (Campanha Fairplay, 2003). Esta ocasião de intervenção cívica é algo de que me orgulho bastante*. Ajudei a mudar uma lei perversa. E tu, que me lês, já ajudaste a mudar alguma lei perversa?
Outro facto a reter: o indivíduo com maior sentido empresarial que eu conheço é um natural das ilhas Orkney que se mudou para Edimburgo, alugou uma superfície comercial mesmo ao lado do casino, e abriu uma loja de penhores. Em menos de um ano, já tinha mudado de carro, de casa e de esposa, para além de ter acumulado uma respeitável colecção de aquários. Em situações de crise financeira, disse-me ele, o peixinho dourado é sempre a primeira vítima.
(*Também me orgulho muitíssimo da minha atitude numa situação mais recente, que pode parecer, ao leitor mais organizado, pertencer a um post diferente: ontem à noite, na fila para os táxis no Cais do Sodré - 50 ridículos minutos de espera - um turista americano passou uma eternidade a queixar-se dos calos nos pés, mergulhando indecorosamente no detalhe clínico específico (aprendi uma palavra inglesa nova: 'glabrous'). Revelando enorme empatia, acabei por me abrir com ele, confessando os meus problemas gástricos, a minha insónia crónica, e a minha mágoa por não ser um romancista judeu de 80 anos, com milhares de dólares em pensões alimentícias para pagar. A diferença que essa condição em particular provocaria na minha rotina diária é algo que apenas posso imaginar com um brilho nos olhos.)
Amis on Blair
(O Guardian convidou Martin Amis a acompanhar o farewell tour de Tony Blair. Amis parece-me estar nitidamente em baixo de forma neste tipo de peças. Ainda assim, e apesar de ficar muito aquém do brilho de textos gloriosos do passado, como aquele sobre a convenção Republicana de 1988 [recolhido salvo erro em The Moronic Inferno] é um evento jornalístico a não perder.)
Mötley Crüe
“I did actually throw a television out of the window, but I had checked that there was nobody coming beforehand and it was my television to do what I like with.”
(Da autobiografia de Alex James, esse grande maluco, citada no Times)
(Da autobiografia de Alex James, esse grande maluco, citada no Times)
Tuesday, June 12, 2007
Ciao Roma!
Sigo hoje para Roma, para uma conferência em Frascati e um pouco de "turismo científico" na Cidade Eterna e nas imediações. Nos próximos dias não vou escrever com a mesma regularidade. Para a semana devo escrever qualquer coisa, mas só depois do São João devo voltar ao ritmo normal.
A liberalização (europeia) dos mercados de viagens
Há pouco menos de um ano, viajei de Lisboa para Berlim numa companhia holandesa, tendo o bilhete sido comprado (electronicamente) numa agência francesa.
Viajo hoje de Lisboa para Roma numa companhia espanhola, tendo o bilhete sido comprado (electronicamente) na mesma agência francesa.
A raão? O preço anunciado é o total (taxas incluídas), como é honesto, e como desde o princípio deste mês é obrigatório. Mas tem uma distinção que a lei portuguesa não contempla: entre as taxas de aeroporto e as taxas de emissão por parte da agência. São de natureza bem diferente, e nas agências portuguesas vêm sempre indiscriminadas como "taxas". Só que para o mesmo bilhete (qualquer que este seja), o preço nessa agência francesa é sempre sistematicamente 15 euros inferior ao de uma conhecida agência portuguesa do Grupo Espírito Santo. Na agência francesa a "frais d'émission", de 5€, é explícito. Naquela agência portuguesa é de 20€, e só é explícito após a reserva do bilhete.
Viajo hoje de Lisboa para Roma numa companhia espanhola, tendo o bilhete sido comprado (electronicamente) na mesma agência francesa.
A raão? O preço anunciado é o total (taxas incluídas), como é honesto, e como desde o princípio deste mês é obrigatório. Mas tem uma distinção que a lei portuguesa não contempla: entre as taxas de aeroporto e as taxas de emissão por parte da agência. São de natureza bem diferente, e nas agências portuguesas vêm sempre indiscriminadas como "taxas". Só que para o mesmo bilhete (qualquer que este seja), o preço nessa agência francesa é sempre sistematicamente 15 euros inferior ao de uma conhecida agência portuguesa do Grupo Espírito Santo. Na agência francesa a "frais d'émission", de 5€, é explícito. Naquela agência portuguesa é de 20€, e só é explícito após a reserva do bilhete.
França e Itália, análise retrospectiva
A 10 de Abril de 2006 a Renovação Comunista publicou um comunicado, cheio de optimismo, sobre as manifestações em França e as eleições em Itália:
Renovação Comunista
Comunicado
A Europa está hoje a viver um dia particularmente significativo no plano político. Em França, o governo de Chirac-Villepin foi obrigado a retroceder na lei sobre o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), mercê da luta popular e das manifestações que têm trazido muitos milhões de franceses para a rua desde há várias semanas. Esta lei, particularmente gravosa para os jovens detentores do primeiro emprego, autorizava o despedimento ao fim de dois anos sem qualquer tipo de justificação. Uma forte mobilização dos jovens a que se juntaram os sindicatos e os partidos de esquerda obrigaram ao recuo da direita, abrindo espaço para a sua derrota nas eleições do próximo ano.
Em Itália, de acordo com as projecções realizadas à boca das urnas, a União do centro-esquerda, liderada por Romano Prodi e de que fazem parte os Democratas de Esquerda e a Refundação Comunista, derrotou os partidos da direita liderados pelo actual primeiro-ministro Sílvio Berlusconi. Apesar da heterogeneidade político-ideológica da União, este resultado foi possível devido aos esforços de convergência desenvolvidos pelas forças democráticas que a constituem, que se apresentaram às eleições com um programa de recuperação económica e de melhoria dos benefícios sociais para os mais carenciados.
A Renovação Comunista saúda a luta dos democratas de todos os quadrantes ideológicos que em França e Itália conseguiram, com êxito, travar uma encarniçada escalada neoliberal das forças de direita, criando condições para o desenvolvimento de políticas alternativas que ponham cobro ao desmantelamento do Estado social.
Lisboa, 10 de Abril de 2006
A Comissão Permanente da Renovação Comunista
No dia seguinte publiquei uma reacção ao referido comunicado com o seguinte teor:
Pelo contrário quer o caso da França quer o da Itália revelam, de forma dolorosa, as debilidades da "esquerda".
Na França desencadearam uma luta extremamente aguerrida por um objectivo ridículo. O problema não é o CPE mas sim o facto de o "sistema" capitalista já não estar em condições de assegurar o sustento das novas gerações que insistem em ser assalariadas.
De caminho abriram caminho para o Sarkozy e fizeram mais uma demonstração da pusilanimidade e impotência de um Estado de quem, no entanto, tudo esperam.
Trata-se de uma vitória de Pirro de uma esquerda incapaz de "inventar" um futuro diferente para a sua juventude.
O que vai acontecer é que o patronato continuará alegremente a deslocalizar para a China e para a Índia...
Em Itália, onde não se chega a perceber se a política é para rir ou para chorar, a "esquerda" arregimentou uma molhada cuja única lógica parece ser o facto de todos odiarem Berlusconi, o que é pouco para um projecto.
Apesar disso não conseguiram ter uma vitória convincente contra um adversário que é uma anedota (ao menos em Portugal o Sócrates afinfou uma maioria absoluta à conta do Santana...)
Como é que alguém se pode congratular com tais exemplos ?
________________________________________
Na altura fui, como é costume, mal compreendido.
Renovação Comunista
Comunicado
A Europa está hoje a viver um dia particularmente significativo no plano político. Em França, o governo de Chirac-Villepin foi obrigado a retroceder na lei sobre o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), mercê da luta popular e das manifestações que têm trazido muitos milhões de franceses para a rua desde há várias semanas. Esta lei, particularmente gravosa para os jovens detentores do primeiro emprego, autorizava o despedimento ao fim de dois anos sem qualquer tipo de justificação. Uma forte mobilização dos jovens a que se juntaram os sindicatos e os partidos de esquerda obrigaram ao recuo da direita, abrindo espaço para a sua derrota nas eleições do próximo ano.
Em Itália, de acordo com as projecções realizadas à boca das urnas, a União do centro-esquerda, liderada por Romano Prodi e de que fazem parte os Democratas de Esquerda e a Refundação Comunista, derrotou os partidos da direita liderados pelo actual primeiro-ministro Sílvio Berlusconi. Apesar da heterogeneidade político-ideológica da União, este resultado foi possível devido aos esforços de convergência desenvolvidos pelas forças democráticas que a constituem, que se apresentaram às eleições com um programa de recuperação económica e de melhoria dos benefícios sociais para os mais carenciados.
A Renovação Comunista saúda a luta dos democratas de todos os quadrantes ideológicos que em França e Itália conseguiram, com êxito, travar uma encarniçada escalada neoliberal das forças de direita, criando condições para o desenvolvimento de políticas alternativas que ponham cobro ao desmantelamento do Estado social.
Lisboa, 10 de Abril de 2006
A Comissão Permanente da Renovação Comunista
No dia seguinte publiquei uma reacção ao referido comunicado com o seguinte teor:
Pelo contrário quer o caso da França quer o da Itália revelam, de forma dolorosa, as debilidades da "esquerda".
Na França desencadearam uma luta extremamente aguerrida por um objectivo ridículo. O problema não é o CPE mas sim o facto de o "sistema" capitalista já não estar em condições de assegurar o sustento das novas gerações que insistem em ser assalariadas.
De caminho abriram caminho para o Sarkozy e fizeram mais uma demonstração da pusilanimidade e impotência de um Estado de quem, no entanto, tudo esperam.
Trata-se de uma vitória de Pirro de uma esquerda incapaz de "inventar" um futuro diferente para a sua juventude.
O que vai acontecer é que o patronato continuará alegremente a deslocalizar para a China e para a Índia...
Em Itália, onde não se chega a perceber se a política é para rir ou para chorar, a "esquerda" arregimentou uma molhada cuja única lógica parece ser o facto de todos odiarem Berlusconi, o que é pouco para um projecto.
Apesar disso não conseguiram ter uma vitória convincente contra um adversário que é uma anedota (ao menos em Portugal o Sócrates afinfou uma maioria absoluta à conta do Santana...)
Como é que alguém se pode congratular com tais exemplos ?
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Na altura fui, como é costume, mal compreendido.
Como se as minhas críticas fossem a causa dos problemas.
Passado pouco mais de um ano já é possível ver quem é que estava a ser realista na sua apreciação e quem é que estava a tomar os desejos por realidades.
A situação da esquerda em França e na Itália é desastrosa mas, como é habitual, ninguém parece interrogar-se sobre os erros que foram cometidos.
Quando é que nós começamos a aprender com os erros em vez de os varrermos para debaixo do tapete ?
.
Andam os meus amigos a casar e a procriar...
Cientistas portugueses em Inglaterra no DN
Recomendo a leitura da reportagem do Diário de Notícias. Para além do interesse geral da peça, há motivos pessoais. Encontro lá antigos alunos (quando eu era monitor de Matemática no IST), que já estão a acabar - alguns já acabaram - os seus doutoramentos. Encontro lá amigos. Encontro malta da LEFT. Encontro do melhor que Portugal produz e pode encontrar.
(Nuno, presenteias-nos com fotos dos teus piqueniques, presenteias-nos como fotos dos pés dos participantes nos teus piqueniques, mas não falas de nada disto?)
(Nuno, presenteias-nos com fotos dos teus piqueniques, presenteias-nos como fotos dos pés dos participantes nos teus piqueniques, mas não falas de nada disto?)
Monday, June 11, 2007
AllStars em Alvalade (II)
Para além do último golo da carreira do Sá Pinto, registe-se a assistência do Chico Buarque para golo do Linz. Quando o Chico foi substituído, afirmou (com razão) que o seu futebol não tinha sido bem aproveitado pela equipa. O locutor da televisão pediu-lhe para cantar em directo um pouco da música O Futebol (que eu coloquei na entrada anterior). Corporativamente o Chico recusou, dizendo que tal "não fazia parte do contrato". E esquecendo-se de que havia pessoas que tinham sintonizado na TVI só para verem esse pedido satisfeito. Porra, Chico!
Sunday, June 10, 2007
"Embarga Cá" Fernandes
Balanço pessoal de mais uma Feira do Livro de Lisboa
Já lá não ia há uns anos. Dado os (muitos) livros que tenho para ler, ia com a intenção de passear, ver as novidades e "não comprar nada". E vim com a sensação de "não ter comprado nada". Só que larguei 35 €. Tudo grandes negócios.
The movies, screwing it up
Walker Percy era um espécime raro: um escritor católico norte-americano. Além dele, só me ocorrem Flannery O'Connor, J. F. Powers e William Peter Blatty (o autor de O Exorcista), mas é provável que me esteja a escapar algum.
Mas o catolicismo de Percy era muito particular, mais tributário de Kierkegaard do que de qualquer colecção de sacramentos. Aliás, The Moviegoer parece-me - ainda vou nas primeiras páginas - fortemente ancorado num irresistível mecanismo narrativo: transportar o típico flâneur Kierkegaardiano (o Esteta Observador) para o séc. XX, e transformá-lo um cinéfilo obsessivo.
«The search is what anyone would undertake if he were not sunk in the everydayness of his own life. This morning, for example, I felt as if I had come to myself on a strange island. And what does such a castaway do? Why, he pokes around the neighborhood and he doesn't miss a trick. To become aware of the possibility of the search is to be onto something. Not to be onto something is to be in despair.
The movies are onto the search, but they screw it up. The search always ends in despair. They like to show a fellow coming to himself in a strange place - but what does he do? He takes up with the local librarian, sets about proving to the local children what a nice fellow he is, and settles down with a vengeance.»
(Walker Percy, The Moviegoer, Methuen, p. 13)
(Reparei que, no índice onomástico do Prova de Vida do Pedro Mexia, "Kierkegaard" tem o mesmo número de menções que "Jesus Cristo". O catolicismo de Walker Percy, palpita-me, tinha mais ou menos a mesma ratio.)
Alpha female
Sair do gueto
Fui quatro vezes à Feira do Livro este ano, e fiz compras em pelo menos oito pavilhões. Com cada mísera aquisição, deram-me saquinhos de plástico com laçarotes, catálogos coloridos, cupões de desconto, preçários, bookmarks, sorrisos, sugestões, ramos de flores, etc, etc.
Ontem, pela primeira vez, comprei uma recolha de textos de um blogue. O senhor feirante enfiou apressadamente o exemplar num saco de papel pardo amarrotado, como se faz às revistas pornográficas, e deu-me troco a mais.
Ainda há um longo caminho a percorrer.
Força Roger
Em pouco mais de três horas, Federer cometeu sessenta erros não-forçados. O que costuma ser a minha média em interacções sociais diversas. E eu ainda aqui ando, para as curvas, sem renunciar à terra batida.
Saturday, June 9, 2007
“Panaceia” Costa
Quer se trate dos fogos florestais, das morosidades da justiça ou da confusão das forças de segurança é ele o homem certo. Agora também para salvar a capital não se sabe bem de quê.
Remédio tão geral, para a calvície e para os calos e também para a comichão, era nos meus tempos baptizado como “banha da cobra”. Hoje é o “Panaceia” Costa.
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AllStars em Alvalade
Friday, June 8, 2007
Telmo, "O Desejado"
Há pessoal que ainda não se esqueceu do imposto comunitário
No Ípsilon da semana passada, o Pedro Mexia escrevia sobre «Guts», o conto-choque de Chuck Palahniuk que tem virado tripas em salas de leitura um pouco por todo o lado. A ideia que retenho de Palahniuk (um razoável escritor, mas um excelente entrevistado) é a de um homem vigorosamente perseguido pelo pormenor gótico. Lembro-me de lhe ler uma história horripilante, que não consegui, infelizmente, localizar, mas que posso parafrasear em poucas linhas (assim que as crianças saírem da sala).
Certo dia, numa sessão de autógrafos em Londres, Palahniuk foi abordado por um sujeito que se apresentou como empregado de mesa num restaurante da City, e que lhe confidenciou ter apreciado muitíssimo a referência ao «terrorismo gastronómico» em Fight Club, até porque - sorrisinho canalha - ele sabia por experiência própria que isso era uma ocorrência comum em alguns restaurantes frequentados por celebridades. Após demorada insistência de Palahniuk, que lhe agarrou o braço e ameaçou não autografar o livro até ele revelar pelo menos um nome, o homem inclinou-se e segredou isto na orelha autorial: «Margaret Thatcher has eaten my sperm. At least five times.»
Dead Celebrity Watch
Na noite de quarta-feira, no Casino Lisboa (Parque das Nações), encontrei um homem extraordinariamente parecido com Saul Bellow - incluindo o desmazelo oco nos ombros, o impecável Borsalino, e aquele olhar húmido e inchado do observador veterano - sentado diante de uma das slots Star Wars.
Devo ter andado por ali em círculos uns bons vinte minutos, à espera que o homem jogasse, falasse, respirasse, sei lá.
Quando já me preparava para abandonar esta deprimente vigilância, um funcionário do casino aproximou-se do senhor Bellow com um sorriso solícito. Só então reparei que a luzinha no topo da máquina estava acesa, sinal de que o cliente pediu assistência técnica. Antes de virar costas, ainda ouvi Saul Bellow queixar-se, num sotaque inconfundivelmente beirão: «Veja lá isso, que a puta da nota ficou encravada».
(Entretanto, na mesa da roleta, que ia fiscalizando com este meu outro olho, notei que a cor 'Preto' saiu sete - sete! - vezes seguidas, facto que me parece eminentemente investigável pelas autoridades competentes).
A minha escala Warhol
Retomo aqui a ideia do Francisco Frazão e do Pedro Mexia, adaptada ao meu caso: físicos famosos. Não me refiro a assistir a seminários: refiro-me a físicos com quem tenha privado uns instantes que seja (não espero que nenhum deles se lembre de mim). Restrinjo-me a laureados com o Prémio Nobel. Que eu me lembro, foram os que se seguem.
A minha recente conversa com Claude Cohen-Tannoudji foi relatada aqui. Os meus encontros com David Gross (em Santiago de Compostela) e Franck Wilczek (em Minneapolis) foram descritos aqui. Com Gerard ‘t Hooft, a olhar para o mar da Corunha, enquanto discutia com um espanhol a direcção em que ficava a Grã-Bretanha, falou-se da “estrutura fractal da costa marítima” (‘t Hooft entrou assim na discussão). Via C.N. Yang muitas vezes (doutorei-me no Instituto com o seu nome), mas a única vez que lhe falei foi numa entrevista que ele me concedeu (e ao Nuno, que me visitava), e que deve vir a ser publicada em breve.
Passando para a Medalha Fields, na Matemática, via John Milnor todos os dias no meu doutoramento (o seu instituto era ao lado do meu). Ele dizia-me sempre “hi”. (Uma vez, em Princeton, vieram sentar-se na mesa que partilhava com outros colegas ao almoço ele e o célebre John Nash, mas não lhes dissemos nada.)
Não quero deixar de referir Juan Maldacena, outro físico célebre: na referida escola de Santiago de Compostela, ele veio-me pedir e a outro colega se lhe podíamos emprestar um despertador. Depois fomos jantar umas chuletas de ternera.
Se retirasse esta fasquia “nobel”, a lista seria maior, mas como se definiria a “celebridade” sem um prémio deste género?
Ainda dentro dos “nobeis”, mas desta vez da literatura, como qualquer português que visite a Feira do Livro de Lisboa, tenho um livro autografado por José Saramago (ainda ele não era “nobel”).
E é isto.
A minha recente conversa com Claude Cohen-Tannoudji foi relatada aqui. Os meus encontros com David Gross (em Santiago de Compostela) e Franck Wilczek (em Minneapolis) foram descritos aqui. Com Gerard ‘t Hooft, a olhar para o mar da Corunha, enquanto discutia com um espanhol a direcção em que ficava a Grã-Bretanha, falou-se da “estrutura fractal da costa marítima” (‘t Hooft entrou assim na discussão). Via C.N. Yang muitas vezes (doutorei-me no Instituto com o seu nome), mas a única vez que lhe falei foi numa entrevista que ele me concedeu (e ao Nuno, que me visitava), e que deve vir a ser publicada em breve.
Passando para a Medalha Fields, na Matemática, via John Milnor todos os dias no meu doutoramento (o seu instituto era ao lado do meu). Ele dizia-me sempre “hi”. (Uma vez, em Princeton, vieram sentar-se na mesa que partilhava com outros colegas ao almoço ele e o célebre John Nash, mas não lhes dissemos nada.)
Não quero deixar de referir Juan Maldacena, outro físico célebre: na referida escola de Santiago de Compostela, ele veio-me pedir e a outro colega se lhe podíamos emprestar um despertador. Depois fomos jantar umas chuletas de ternera.
Se retirasse esta fasquia “nobel”, a lista seria maior, mas como se definiria a “celebridade” sem um prémio deste género?
Ainda dentro dos “nobeis”, mas desta vez da literatura, como qualquer português que visite a Feira do Livro de Lisboa, tenho um livro autografado por José Saramago (ainda ele não era “nobel”).
E é isto.
Thursday, June 7, 2007
Roseta, Arquitecta "não dependente"
Ser candidato independente é, hoje em dia, um grande problema.
"Arquitecta Independente" facilmente se confunde com "Arquitecta pela Independente" e refutar esta última interpretação pode ser visto como um ataque ao Senhor Primeiro Ministro.
Pelo sim pelo não é melhor Roseta apresentar-se como "não dependente".
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Wednesday, June 6, 2007
Ruben, "O Navegador Solitário"
Tuesday, June 5, 2007
Negrão, "O Voluntário"
Na escola punha sempre o dedo no ar para ir ao quadro e continuou assim pela vida fora.
Uma coisa temos que reconhecer: é um cavalheiro que nunca perde a compostura mesmo quando tem que fazer um frete a pedido do chefe.
Infelizmente para ele esta atitude é muitas vezes interpretada como subserviência.
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Um pouco de “Fox News” nos comentários de um blogue de física
Passam hoje quarenta anos sobre o início da Guerra dos Seis Dias. Entretanto tem dado que falar a recusa do físico americano Steven Weinberg em participar numa conferência no Reino Unido em homenagem ao falecido físico paquistanês Abdus Salam, fundador do Centro Internacional de Física Teórica, dirigido principalmente a físicos dos países em desenvolvimento. Weinberg (judeu) e Salam (muçulmano) partilharam com Sheldon Glashow o prémio Nobel da Física de 1979 pela formulação do Modelo Padrão das interacções electrofracas, que permitiu unificar a descrição do electromagnetismo e de um certo tipo de forças nucleares.
A razão da recusa de Weinberg é um “boicote ao boicote”: académicos britânicos não desejam a presença no país dos seus colegas israelitas, como forma de protesto contra a política levada a cabo pelos sucessivos diferentes governos de Israel no Médio Oriente. Weinberg, americano e professor reformado da Universidade do Texas em Austin, decidiu solidarizar-se com os seus colegas israelitas por considerar o protesto britânico de cariz… (adivinhem!) anti-semita.
A carta de Weinberg, e os detalhes da história, podem ser lidos aqui. Lendo a carta, podemos aperceber-nos que Weinberg vê “anti-semitismo” (ou em alternativa “medo de provocar a comunidade muçulmana na Grã Bretanha”) em órgãos como a BBC, o The Guardian e o The Independent.
Devo esclarecer que não acho adequado o boicote à presença de académicos de uma certa nacionalidade ou credo. O credo ou a nacionalidade não vinculam ninguém à política colonialista e agressiva de Israel. Concordaria se o boicote se limitasse a mercadorias, a bens de consumo. Mas pessoas não são mercadorias. Deve boicotar-se o capital, mas não as pessoas. Por isso lamento o tal boicote e lamento profundamente a decisão de Weinberg. O seu colega Salam, que tão frutíferas colaborações com ele teve, não o merecia.
Soube deste episódio através do blogue The Reference Frame. E é para esta mesma entrada deste blogue que eu quero chamar a vossa atenção, nomeadamente para os seus comentários. Comentários que demonstram bem como é impossível ter uma discussão racional sobre o conflito israelo-palestiniano nos EUA. Eu tentei ter essa conversa por algumas vezes e sei o que me aconteceu. Um comentador de bom senso (europeu), Kasper Olsen, fala timidamente sobre o direito dos palestinianos a terem o seu próprio estado, e é imediatamente rodeado por falcões pró-israelitas. Convido-vos a passarem por lá e a fazerem o vosso próprio julgamento. Podem encontrar opiniões que em Portugal (por enquanto) só o colunista do DN Alberto Gonçalves tem o desplante de emitir (enquanto escreve “Palestina” entre aspas), como
“I would probably also give up at this moment and give them a country - which means that Palestinians have the right, too. If you asked what I really think, my answer would be No, they don't deserve it. The concept of the Palestinian nation is just an abstract, soft construct.”
Eu sou contra a Intifada, mas notem que toda esta opinião – o “desistir e dar-lhes um país”, apesar de achar que os palestinianos não têm direito a ele – é o melhor argumento a favor dessa mesma Intifada que eu já li.
Quero ainda destacar
“The problem is that the more land and authority they were granted... the more israelis died in terrorist attacks...”
Como se os territórios ocupados fossem uma concessão feita aos palestinianos, uma prenda que se lhes dava – e não uma devolução daquilo que legitimamente sempre lhes pertenceu. É esta a visão que prevalece na opinião pública americana (que defende um “Grande Israel”) e nos principais meios de comunicação social (não é só a “Fox News”).
Não julguem que estes comentadores são necessariamente neoconservadores, ou mesmo simplesmente republicanos. Pelo contrário: muitos deles são, infelizmente, democratas.
Espero que esta pequena (mas representativa) amostra demonstre que a principal prioridade em política internacional é a necessidade de acabar com o apoio incondicional dos EUA a Israel, se se quer ter um mundo mais seguro. Enquanto isso não acontecer, no que a Europa deve apostar é numa política de defesa comum e autónoma (sem pôr em causa as suas alianças) o mais depressa possível. Que nos proteja das ameaças dos talibãs e dos Ahmenijads, sem dúvida. Mas que nos proteja também dos Drs. Estranhoamores de Washington e dos falcões de Tel Aviv.
Publicado também no Cinco Dias.
A razão da recusa de Weinberg é um “boicote ao boicote”: académicos britânicos não desejam a presença no país dos seus colegas israelitas, como forma de protesto contra a política levada a cabo pelos sucessivos diferentes governos de Israel no Médio Oriente. Weinberg, americano e professor reformado da Universidade do Texas em Austin, decidiu solidarizar-se com os seus colegas israelitas por considerar o protesto britânico de cariz… (adivinhem!) anti-semita.
A carta de Weinberg, e os detalhes da história, podem ser lidos aqui. Lendo a carta, podemos aperceber-nos que Weinberg vê “anti-semitismo” (ou em alternativa “medo de provocar a comunidade muçulmana na Grã Bretanha”) em órgãos como a BBC, o The Guardian e o The Independent.
Devo esclarecer que não acho adequado o boicote à presença de académicos de uma certa nacionalidade ou credo. O credo ou a nacionalidade não vinculam ninguém à política colonialista e agressiva de Israel. Concordaria se o boicote se limitasse a mercadorias, a bens de consumo. Mas pessoas não são mercadorias. Deve boicotar-se o capital, mas não as pessoas. Por isso lamento o tal boicote e lamento profundamente a decisão de Weinberg. O seu colega Salam, que tão frutíferas colaborações com ele teve, não o merecia.
Soube deste episódio através do blogue The Reference Frame. E é para esta mesma entrada deste blogue que eu quero chamar a vossa atenção, nomeadamente para os seus comentários. Comentários que demonstram bem como é impossível ter uma discussão racional sobre o conflito israelo-palestiniano nos EUA. Eu tentei ter essa conversa por algumas vezes e sei o que me aconteceu. Um comentador de bom senso (europeu), Kasper Olsen, fala timidamente sobre o direito dos palestinianos a terem o seu próprio estado, e é imediatamente rodeado por falcões pró-israelitas. Convido-vos a passarem por lá e a fazerem o vosso próprio julgamento. Podem encontrar opiniões que em Portugal (por enquanto) só o colunista do DN Alberto Gonçalves tem o desplante de emitir (enquanto escreve “Palestina” entre aspas), como
“I would probably also give up at this moment and give them a country - which means that Palestinians have the right, too. If you asked what I really think, my answer would be No, they don't deserve it. The concept of the Palestinian nation is just an abstract, soft construct.”
Eu sou contra a Intifada, mas notem que toda esta opinião – o “desistir e dar-lhes um país”, apesar de achar que os palestinianos não têm direito a ele – é o melhor argumento a favor dessa mesma Intifada que eu já li.
Quero ainda destacar
“The problem is that the more land and authority they were granted... the more israelis died in terrorist attacks...”
Como se os territórios ocupados fossem uma concessão feita aos palestinianos, uma prenda que se lhes dava – e não uma devolução daquilo que legitimamente sempre lhes pertenceu. É esta a visão que prevalece na opinião pública americana (que defende um “Grande Israel”) e nos principais meios de comunicação social (não é só a “Fox News”).
Não julguem que estes comentadores são necessariamente neoconservadores, ou mesmo simplesmente republicanos. Pelo contrário: muitos deles são, infelizmente, democratas.
Espero que esta pequena (mas representativa) amostra demonstre que a principal prioridade em política internacional é a necessidade de acabar com o apoio incondicional dos EUA a Israel, se se quer ter um mundo mais seguro. Enquanto isso não acontecer, no que a Europa deve apostar é numa política de defesa comum e autónoma (sem pôr em causa as suas alianças) o mais depressa possível. Que nos proteja das ameaças dos talibãs e dos Ahmenijads, sem dúvida. Mas que nos proteja também dos Drs. Estranhoamores de Washington e dos falcões de Tel Aviv.
Publicado também no Cinco Dias.
Leite democraticamente coalhado por meio de um fermento
A minha tendência natural para levar imediatamente o dedo ao gatilho sempre que ouço ou leio algum comentário, por mais pertinente e racional que seja, sobre a necessidade de haver certos limites na comédia, é algo de que não me orgulho, e que tenho vindo a tentar refrear com a ajuda de bastantes iogurtes naturais. A prova de um relativo sucesso terá sido uma ocasião recente, em que, evidenciando notável tolerância, decidi não partir uma única secção óssea do corpo de um conterrâneo de Jonathan Swift que afirmou à minha frente, e de uma forma muito séria, que a Sarah Silverman era uma cripto-fascista que merecia ser presa. A Sarah Silverman, esclareço, é alguém em quem não descortino um valor por aí além, com quem me rio apenas esporadicamente, e por quem nunca passarei noites na prisão. Mas há princípios com os quais não se brinca, até porque os iogurtes não são infalíveis.
(Para que as minhas caixas de comentários não comecem a ficar para trás em matéria de epítetos à queima-roupa, quero aqui relembrar que cada vez gosto mais do blogue do Luis Miguel Oliveira.
Há duas maneiras de ver isto. Uma é pensar que houve uma pessoa que conduziu um automóvel alcoolizada, colocando potencialmente em risco a integridade física de terceiros. Que foi posta sob liberdade condicional e que violou prontamente essas ditas condições. Que poucas horas antes de ter de se apresentar na cadeia para cumprir pena, e num clima noticioso totalmente dominado por esse facto, decide assistir ao vivo a uma cerimónia da MTV apresentada por uma comediante notoriamente avessa a piadinhas sobre amendoins ou "airline food", perante uma plateia constituída por pessoas que não me parecem estar a dar largas a nenhuma orgia de "moralismo sexual" ou "let's-all-laugh-at-the-rich-girl" (embora concorde com quase tudo o que o Bruno diz, custa-me ver a teoria do «momento de justiça/vingança (a ética do trabalho junta-se a algum moralismo sexual)» imputada a uma plateia que inclui Jack "orgy" Nicholson e Rogério "serially unemployed" Casanova).
Esta maneira de ver a coisa permite-me pensar que me ri daquilo sem grande desconforto porque aquilo tem piada (os fantasmas passíveis de análise sociológica também são um factor, mas não assumem maior ou menor relevância do que em todas as outras coisas a que eu acho piada, nomeadamente cartoons sobre ovelhas, vídeos com gatinhos, entrevistas do Norman Mailer, ou a Zita Seabra). No dia em que os comediantes começarem a dilatar o critério (que até considero válido) da «permeabilidade/fragilidade de quem é visado» para que este exclua a possibilidade de ser um bocadinho mauzinho para a Paris Hilton numa entrega de prémios da MTfuckingV, será, convenhamos, o dia em que a Via Láctea começará discretamente a cair aos bocados.
A outra maneira de ver as coisas é encarar tudo aquilo como "um nojo", "desumano" e "repugnante", posição adoptada por duas pessoas na caixa de comentários do Avatares (que também inclui o clássico gâmbito da "inveja, as pessoas que riem têm é inveja"). O que me põe a pensar, entre colheradas frenéticas de Adagio Simbiótico: que vocabulário é que restará a esta gente para descrever aquelas coisas - que nunca se passam em cima de um palco - e que são efectivamente "um nojo", "desumanas" ou "repugnantes"?
Esta maneira de ver a coisa permite-me pensar que me ri daquilo sem grande desconforto porque aquilo tem piada (os fantasmas passíveis de análise sociológica também são um factor, mas não assumem maior ou menor relevância do que em todas as outras coisas a que eu acho piada, nomeadamente cartoons sobre ovelhas, vídeos com gatinhos, entrevistas do Norman Mailer, ou a Zita Seabra). No dia em que os comediantes começarem a dilatar o critério (que até considero válido) da «permeabilidade/fragilidade de quem é visado» para que este exclua a possibilidade de ser um bocadinho mauzinho para a Paris Hilton numa entrega de prémios da MTfuckingV, será, convenhamos, o dia em que a Via Láctea começará discretamente a cair aos bocados.
A outra maneira de ver as coisas é encarar tudo aquilo como "um nojo", "desumano" e "repugnante", posição adoptada por duas pessoas na caixa de comentários do Avatares (que também inclui o clássico gâmbito da "inveja, as pessoas que riem têm é inveja"). O que me põe a pensar, entre colheradas frenéticas de Adagio Simbiótico: que vocabulário é que restará a esta gente para descrever aquelas coisas - que nunca se passam em cima de um palco - e que são efectivamente "um nojo", "desumanas" ou "repugnantes"?
(Para que as minhas caixas de comentários não comecem a ficar para trás em matéria de epítetos à queima-roupa, quero aqui relembrar que cada vez gosto mais do blogue do Luis Miguel Oliveira.
E num assunto à parte, alertar para a manchete mais incorrecta de todos os tempos, que se podia ler hoje, até há poucas horas atrás, na edição online d' A Bola: "Tudo certo com Peseiro". Meus senhores: com Peseiro, nunca esteve, nem nunca estará "tudo certo".)
Monday, June 4, 2007
Carmona, “O Regressado”
Foi ele quem disse “Não serei eu o primeiro a abandonar o barco, nem permitirei que me atirem pela borda fora”. No entanto, acabou por ir.
A política tem razões que os técnicos, os realmente engenheiros e os arguidos desconhecem. Carmona foi apenas a consequência, mal tolerada, de um erro chamado Carrilho.
Regressa ao mundo dos vivos para assombrar os candidatos e os partidos que tentaram descarregar sobre ele todos os erros que em Lisboa se cometeram desde o Senhor D. Afonso Henriques.
.
Pode-se vender a mãe para conquistar audiências?
A RTP 1, que faz gala em afirmar que defende o serviço público de televisão, no seu desmesurado desejo de aumentar as audiências em relação às privadas, não olha meios para obter mais espectadores para os seus programas. Assim, ontem, Domingo, depois do Telejornal, apresentou uma reportagem sobre o cabo da GNR de Santa Comba Dão, cujo julgamento começava hoje segunda-feira, que foi acusado de ter morto três raparigas daquela localidade. É um caso sórdido e patológico que teve, na altura própria grande repercussão mediática e inevitavelmente volta a ter com o início do seu julgamento. Qual era o principal motivo da reportagem, que mereceu primeiro referência no Telejornal, a entrevista em exclusivo na prisão ao cabo da GNR, que se afirmava inocente, depois de já ter confessado tudo na Polícia Judiciária (PJ), acusando um tio de uma das vítimas como o assassino das mesmas.
É evidente que esta sua entrevista era intercalada com afirmações de um inspector da Judiciária que rebatia as afirmações do referido cabo.
O que é grave é que na véspera do julgamento do cabo, este seja entrevistado pela Televisão para não só acusar a PJ de o ter obrigado a confessar, quando esta apresentou provas muito mais evidentes do que a sua própria confissão, como também para denunciar alguém que não está envolvido no processo, que tem de certeza o seu bom nome a defender e que vê a sua honra e reputação enlameadas. Hoje, pareceu-me ouvir um advogado da pessoa em causa dizer que iria pôr a televisão em tribunal. Acho muito bem e que o seu director e o jornalista responsável pela reportagem sejam acusados de difamação.
A televisão, lá porque uma pessoa não é importante, não tem dinheiro, nem estatuto social, permite que alguém, acusado de um crime grave, bolce aleivosias sobre a honra de outrem, só para fazer chicana com um caso mediático e obter por isso maiores audiências. Triste televisão.
É evidente que esta sua entrevista era intercalada com afirmações de um inspector da Judiciária que rebatia as afirmações do referido cabo.
O que é grave é que na véspera do julgamento do cabo, este seja entrevistado pela Televisão para não só acusar a PJ de o ter obrigado a confessar, quando esta apresentou provas muito mais evidentes do que a sua própria confissão, como também para denunciar alguém que não está envolvido no processo, que tem de certeza o seu bom nome a defender e que vê a sua honra e reputação enlameadas. Hoje, pareceu-me ouvir um advogado da pessoa em causa dizer que iria pôr a televisão em tribunal. Acho muito bem e que o seu director e o jornalista responsável pela reportagem sejam acusados de difamação.
A televisão, lá porque uma pessoa não é importante, não tem dinheiro, nem estatuto social, permite que alguém, acusado de um crime grave, bolce aleivosias sobre a honra de outrem, só para fazer chicana com um caso mediático e obter por isso maiores audiências. Triste televisão.
Diálogo entre um filósofo e um físico
Vale a pena ler o texto Serão as constantes da natureza contingentes? de Desidério Murcho, e os comentários dos leitores. Sobretudo do Ricardo S. Carvalho que, ausente que tem andado do blogue onde é residente, nem por isso deixa de estar atento ao que se passa. Com a licença do Ricardo (que tem um estilo "fernanda câncio" de escrita - suponho que coma brócolos do El Corte Inglés) transcrevo esta passagem, que acho imperdível. À atenção de Boaventura de Sousa Santos.
Às frases de Desidério Murcho
Às frases de Desidério Murcho
"...Quanto ao resto, dizer que uma equação guarda mais ideias do que as palavras permitem alcançar é só uma maneira não muito feliz de dizer que por vezes não compreendemos claramente as próprias equações que temos razões para acreditar que são verdadeiras..."o Ricardo contrapõe
lamento, mas é falso! ou, então, temos outro problema de comunicção :-)
as equações de einstein, por exemplo, guardam muitas surpresas que só com a sua exploração conseguimos aprender. nenhuma argumentação sobre gravitação nos teria levado a muitos conceitos fundamentais de física moderna sem realmente estudarmos com atenção e cuidado as soluções dessas equações!
um exemplo claro e recente neste sentido está relacionado com a "interpretação" da mecânica quântica. os físicos do princípio do século escolheram a via de copenhaga "shut up and compute" com um sucesso inegável. ao mesmo tempo, muitos argumentos foram debatidos ao longo dos anos sobre as "implicações filosóficas" das diversas interpretações da mecânica quântica, produzindo barbaridades científicas sem limite (até tempos recentes: lembro-me de uma conferência em boston em meados da década de 90 onde a parvoíce dita e incomprensão da mecânica quântica, por parte das pessoas que apenas se ficavam pelos "argumentos", não tinham limite).
hoje a via das equações provou a sua superioridade para atingir este fim: temos uma descrição a caminho de ser bastante completa de todos os aspectos da mecânica quântica, fazendo uso das ideias de decoerência. décadas de argumentação nem lá perto chegaram.
com isto não quero dizer que os argumentos de nada serviam; óbvio que não!! apenas quero dizer que, muitas vezes, é útil conhecer as equações e aprender a estudá-las, antes de decidir argumentar sobre certas coisas...
Sunday, June 3, 2007
31 no Bloco
Imperdível a cobertura no 31 da Armada da convenção do Bloco de Esquerda. Destaco sobretudo os textos Ponto Verde e a Crónica Final. Parabéns ao Rodrigo Moita de Deus, ao Henrique Burnay e ao Bloco de Esquerda. Tal (excelente) cobertura não ocorreria com qualquer partido. Nem com qualquer blóguer.
O estranho mundo de Zhang Yue
.
Zhang Yue, vigésimo quinto na lista dos cem mais ricos da China segundo a Forbes, nasceu em Hunan há 41 anos. Foi o primeiro chinês a possuir um jacto privado.
A sua fortuna resultou da invenção e desenvolvimento, com o irmão Zhang Jian, de um novo tipo de ar condicionado. A sua empresa Broad Air Conditioning tornou-se uma enorme firma exportadora.
As instalações da Broad, uma cidade dentro da cidade de Changsha, também incluem uma piramide com 40 metros de altura e um palácio à moda de Versalhes, na opinião de uns, ou de Buckingham, segundo outros.
Os operários moram dentro do recinto da "Broad Town" e funcionam de forma surpreendente mesmo para quem, como eu, já tudo espera da gigantesca China.
É melhor ver o “filme” AQUI
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Zhang Yue, vigésimo quinto na lista dos cem mais ricos da China segundo a Forbes, nasceu em Hunan há 41 anos. Foi o primeiro chinês a possuir um jacto privado.
A sua fortuna resultou da invenção e desenvolvimento, com o irmão Zhang Jian, de um novo tipo de ar condicionado. A sua empresa Broad Air Conditioning tornou-se uma enorme firma exportadora.
As instalações da Broad, uma cidade dentro da cidade de Changsha, também incluem uma piramide com 40 metros de altura e um palácio à moda de Versalhes, na opinião de uns, ou de Buckingham, segundo outros.
Os operários moram dentro do recinto da "Broad Town" e funcionam de forma surpreendente mesmo para quem, como eu, já tudo espera da gigantesca China.
É melhor ver o “filme” AQUI
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