Friday, June 29, 2007
"Um passo a pé gasta as caligae..."
Na figura vê-se a Via Appia antiga (no piso original - e que engraçado é ver os carros a lá passarem!), local das catacumbas onde se refugiavam os cristãos, quando eram perseguidos. Vale a pena visitá-la. É mesmo muito longa. Recomendo que tomem um autocarro se lá forem. Não façam como eu, que fui a pé a partir das termas de Caracalla (de acordo com as descrições do meu péssimo guia, tudo parece muito perto).
Ao regressar estive quase uma hora à espera do tal autocarro, porém. Conformei-me em ter de regressar a pé, e meti de novo os pés a caminho. Entre duas paragens, o autocarro apareceu. Felizmente vi-o a tempo de correr para a paragem seguinte (e fazer com que ele me visse) e apanhá-lo. Neste aspecto, a minha verdadeira experiência italiana não foi (e ainda bem) completa.
(Pergunta: quem conhece a citação do título?)
Química real na Tailândia
Pedem-me sempre tão pouco
À falta de ambição responde-se sempre com o essencial; neste caso, nem sequer vou dizer o que penso sobre o raio dos livros. E não passo nada a ninguém.
Cara ou Coroa, Ellery Queen
Retratos e Auto-Retratos, Vasco Pulido Valente
The Moviegoer, Walker Percy
Jesus' Son, Denis Johnson
Thursday, June 28, 2007
Luís Rainha no Público?
Wednesday, June 27, 2007
Um post ofegante
O Memória Inventada, surpreendendo tudo e todos, regressou de férias. O primeiro post de «fim de pausa» (categoria que já devia estar incluída no índice) pôs-me a pensar num casal de tartarugas que eu tive quando morei em Sacavém. Uma vez apanhei uma a mordiscar as patinhas da outra, que sorria; os meus pais nunca acreditaram nesta história. O segundo post pós-pausa tem uma ilustração da qual é impossível desviar o olhar. Há um livro de Isaiah Berlin cujo infeliz grafismo da capa da edição portuguesa (Gradiva, parece-me) sugere que existem oito inimigos da liberdade, entre os quais se incluem Rousseau, a cidade de Berlim e o profeta Isaías. Já aquela capa que ali está no MI parece insinuar que Vasco Graça Moura, Cyrano de Bergerac e Edmond Rostand colaboraram num romance histórico intitulado Bertrand. Ou que dois franceses escreveram um poema épico chamado Vasco Graça Moura.
O autor do blogue A Causa Foi Modificada. obrigou-me ontem a subir a Calçada da Ajuda em 7.4 segundos, uma audaz manobra estratégica que, no entanto, falhou o seu objectivo principal que era, claramente, matar-me.
Peguem num papel e num lápis e tentem fazer um anagrama a partir de Ex-Ivan Nunes. A sério, tentem. É impossível. Aliás, a brincadeira dos anagramas começa a cansar-me. Ando a experimentar algumas ideias para refazer a lista de links. Darei novidades em breve.
Tony Blair não sabe jogar à bola.
Também vasculhei o YouTube à procura de provas visuais de que o Derlei não percebe nada de política externa, mas em vão.
Goodbye, mister socialism
Eduardo Prado Coelho, no Público de hoje, informa:
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António Negri publicou em 2006, na Feltrinelli, um livro a que deu o provocador título de Goodbye, mister socialism. Trata-se uma longa entrevista feita por Ralf Valvola Scelci, onde Negri expõe, de um modo sucinto mas incisivo, o seu actual pensamento político.
...
Porquê este adeus ao socialismo? Porque segundo Negri as esquerdas tradicionais têm uma concepção muito simplificada das suas tarefas: aceitam o liberalismo capitalista mas procuram dar-lhe enquadramento social. E defendem acima de tudo os interesses sindicais dos que têm emprego.
Pode-se dizer que a sua grande obsessão é o emprego. Falta-lhe uma ideia de conjunto que integre as profundas transformações da sociedade contemporânea.
"Os socialistas perderam as referências colectivas."
E é aqui que os movimentos sociais (que são capazes da violência pontual, mas não sonham com a tomada de poder) entram em cena em nome de uma ideia inovadora do "comum". Hoje mobilizar a sociedade significa "entrar profundamente nas consciências".
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Noto, modestamente, a semelhança entre estas ideias e aquelas que tenho defendido nos últimos anos, quer em livro quer neste blog.
Fiquei muito interessado em ler o livro, o que farei em breve, para depois comentar.
Creio que a defesa deste tipo de teses explicará o súbito eclipse de Negri que ainda recentemente andava nas "bocas do mundo" (de certa esquerda).
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Até já, Tony Blair
Tenho sentimentos ambíguos em relação a Tony Blair. Na política internacional creio que o seu balanço é sem dúvida muito negativo, tal resultando principalmente (mas não só) da desastrosa e irresponsável invasão do Iraque. Já na política interna britânica, apesar de não a conhecer aprofundadamente, creio que o seu balanço é largamente positivo, embora não isento de problemas. A economia cresce e o desemprego é baixo. O investimento público é alto, mas os serviços públicos são muito maus. Recorde-se a paz na Irlanda do Norte, a transferência de poderes para a Escócia e, sobretudo, as alterações democratizantes introduzidas na Câmara dos Lordes.
É claro que a Grã-Bretanha ainda é uma monarquia eurocéptica. Enfim, é claro que a Grã-Bretanha ainda é... a Grã-Bretanha, mesmo se por vontade de Blair devesse ser muito mais europeia. A minha simpatia (apesar de tudo) por este homem deve-se a isto: ele é muito maior, de horizontes bem mais largos, do que o seu próprio país. Era difícil imaginar que da Grã-Bretanha pudesse vir coisa melhor. Agora, que serviços poderá Blair ainda prestar à Europa e ao mundo?
Tuesday, June 26, 2007
O novo tratado europeu
A Europa é actualmente líder nalguns dos principais desafios do planeta: combate às alterações climáticas, moderação de conflitos regionais (no Líbano foi evidente), respeito pelos direitos humanos, da sexualidade, da laicidade e da paridade. Estes são desafios muito caros à esquerda, mas se os erros da esquerda retirarem à Europa a sua capacidade de iniciativa esta caberá aos EUA e à China e todos sabemos muito bem a leviandade com que cada um destes países trata estes assuntos. A responsabilidade da Esquerda Europeia estende-se à aproximação da UE aos cidadãos. Neste particular, o actual formato de realização de 27 referendos dispersos no tempo não faz qualquer sentido do ponto de vista democrático e matemático (...). Deste modo, um NÃO tem um peso excessivo, que favorece claramente a generalidade das posições anti-europeístas. Um referendo a nível europeu, realizado no mesmo dia, de uma forma clara e simples para todo o cidadão europeu, não só reforçaria o sentimento que vivemos numa casa comum, com um destino comum, como evitaria o falseamento democrático dos resultados e das reais escolhas dos europeus. Somados os votos de todos os referendos ao Tratado Constitucional, qual foi a percentagem de voto NÃO? 20%? 30%? E entre os votos NÃO havia mais esquerda ou mais direita? Havia certamente muito mais direita, e havia direita da piorzinha...
Monday, June 25, 2007
"Modern literature's finest drunken stupor"
(A propósito do mórbido alcoolismo de Lowry, uma teoria alternativa foi ensaiada por Martin Amis, num dos parágrafos mais cómicos da sua carreira:
«Dipsomaniacs are either born that way, or they just end up that way. Vastly distinguished in the sphere of dipsomania, Malcolm Lowry, it seems, actually planned to be that way, from childhood. The gift was not inherited. In an early short story the narrator records his (Methodist) father"s disapproval of a local lawyer, who lacked "self-discipline"."He did not know," Lowry wrote, "that secretly I had decided that I would be a drunkard when I grew up." While most schoolboys dreamt of becoming engine-drivers or cattle-punchers, little Malcolm dreamt of becoming an alcoholic. And the dream came true. Excluding a few dry-outs, in hospitals and prisons, and the very occasional self-imposed prohibition, Malcolm Lowry was shitfaced for thirty-five years.»
O texto está incluído na colecção The War Against Cliché)
Nove não chega sequer para meter as vírgulas no sítio
Pequeno esboço de psicologia étnica
He has a cunning plan
De volta
Praça do Povo, Roma. Fotografia tirada da Villa Borghese. Ao fundo vê-se o Vaticano.
Tive de sair da conferência duas horas antes do fim, para contornar o sciopero ferroviario e apanhar um autocarro para Roma, de onde pude seguir para Fiumicino (para que conste - a 31 km do centro de Roma).
Não tenho muito tempo para escrever hoje, tendo de resolver assuntos pendentes, entre elas um relatório de arbitragem e uma mudança de gabinete (a título pessoal - é bom ter finalmente um gabinete com vista para a rua!). Deixo-vos com duas fotos de dois belos locais.
Cascatas do Tivoli
The Case is Altered
(Malcolm Lowry, Under the Volcano)
Saturday, June 23, 2007
A minha priminha de 4 anos, canalizando o espírito de Andrea Dworkin
- É uma cama de princesa. Mas também pode ser uma prisão.
(Diálogo verídico, ocorrido ontem à noite)
OPERACLICK
Eu gostei bastante da versão de Macbeth apresentada recentemente no Teatro de S. Carlos.
Fui descobrir uma crítica ao espectáculo no site italiano OPERACLICK (site que recomendo a quem queira estar a par do mundo da ópera a nível internacional).
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Thursday, June 21, 2007
"Sciopero nazionale del personale ferroviario"
Quando eu chegar a Lisboa, se chegar (i.e. se nao perder o aviao gracas ao sciopero), conto pormenores da minha aventura romana.
O Decálogo dos Condutores
No sentido de acelerar os efeitos práticos desta medida foi nomeado um nuncio especial, o Cardeal Guido Ferrari, que iniciou em Lisboa um périplo europeu.
O cardeal, num gesto inédito, fez questão de usar um boné da Brigada de Trânsito, durante a bênção, para mostrar o seu desígnio de estabelecer uma cooperação intensa com a GNR.
Mais tarde reuniu com as Estradas de Portugal E.P.E. cuja denominação, segundo o cardeal, deveria nas novas circunstâncias ser modificada para Caminhos do Senhor E.P.E.
A proposta foi recebida no gabinete do ministro Mário Lino e vai ser estudada para averiguar do eventual impacto sobre a localização do novo aeroporto.
Para se deslocar até ao local das suas várias reuniões o embaixador do Vaticano não hesitou em montar um motociclo da BT, mitra ao vento, com o intuito de avaliar a potência dos meios usados pelas forças de segurança.
Antes de deixar o nosso país Monsenhor Guido Ferrari tem ainda agendada uma reunião na Direcção Geral de Viação por forma a harmonizar a punição das contra-ordenações que, para além das coimas e da inibição de conduzir, deverá também vir a contemplar a penitência do terço.
Em complemento será apresentado um projecto inovador: o “Rodofessionário”.
O projecto do “Rodofessionário”, que ainda procura fontes de financiamento, prevê a colocação de um confessionário em todas as Operações STOP da GNR, para ser usado nos mesmos moldes que o balão da alcoolemia embora com carácter facultativo.
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Free Super Saver Delivery!
Estas frases têm pessoas a mais
O grande especialista nesta técnica é John Leonard, que escreve para a Nation e para o NYRB. Ultimamente em baixo de forma, Leonard conseguiu a proeza de escrever três peças consecutivas sem colocar autores mortos em bacanais autistas, mas neste texto para o NYRB (uma crítica ao mais recente calhamaço de Michael Chabon), apesar de não regressar aos tempos gloriosos em que empilhava toda a carne disponível no assador cultural, conseguiu sair-se com um bastante aceitável "as if Raymond Chandler and Philip K. Dick had smoked a joint with I. B. Singer".
O Livro de Job reloaded
(Liedson, em Metternichianas declarações sobre Derlei, no Record de hoje.)
Desde que chegou a Portugal, Liedson foi submetido aos seguintes testes de personalidade: Lourenço, Elpídeo Silva, Sá Pinto, Douala, Pinilla, Deivid, Alecsandro e Carlos Bueno. Tudo isto sem nunca ficar grisalho, sem nunca mergulhar no alcoolismo, sem nunca agredir ninguém em público, sem nunca renegar o seu Criador.
Panic on the aisles of Continente
Novidades no futebol
Desde que cheguei a Italia, a minha principal preocupacao, relativamente a noticias, era so uma. Nao era Socrates em Moscovo, nem cimeiras da UE, nem nada que se parecesse. Era o Romagnoli. Sempre que me ligava a internet, tinha esta preocupacao: entao e o Romagnoli? A contratacao foi finalmente oficializada e por muito bom preco. Esta de parabens a direccao da SAD do Sporting. Bem vindo, Pipi!
Finalmente ha o Derlei. Ao contrario dos sportinguistas que eu ja li, estou convencido de que se trata de uma boa aposta. Nao se deu bem no Benfica, mas desde quando e que um jogador e mau so por nao jogar bem no Benfica? E um excelente suplente para o Liedson, talvez ate possa jogar ao lado dele, e vai fazer muitos benfiquistas calarem a boca.
Wednesday, June 20, 2007
Pas-de-deux fabuloso
Por que nao tenho escrito muito
Tuesday, June 19, 2007
Participem, participem
Peço desculpa pela curta ausência, mas estive ali entretido a ver televisão
Monday, June 18, 2007
Devolver a palavra ao povo
A confusão autárquica em Lisboa e a convocação de eleições, com Carmona e parte da vereação arguidos num processo, foi apenas o culminar de um longo estertor de acções e omissões em que quase todos os partidos estão comprometidos.
Quando as principais forças políticas tomaram finalmente a decisão de derrubar o executivo insistiram num mote de belo efeito: “devolver a palavra ao povo”. Não como uma inevitabilidade para a qual tinham contribuído mas sim como uma receita infalível para a resolução do imbróglio.
Cabe então perguntar se as eleições que se aproximam nos permitem, ao menos, ter a esperança de que os problemas de Lisboa se resolvam ?
Infelizmente, à luz das primeiras sondagens, a resposta a esta pergunta parece ser NÃO. Vejamos porquê:
- Tínhamos uma câmara apoiada por uma maioria na Assembleia Municipal. Agora parece que vamos ter guerra entre as duas instituições.
- Tínhamos uma maioria possível, na Câmara, pela simples aliança de dois partidos da mesma área política. Agora não se vislumbra o contorno de uma nova maioria.
- Tínhamos cinco partidos que se digladiavam na Câmara. Agora teremos quatro ou cinco partidos e mais dois independentes que o são em conflito com os partidos. Não parece mais fácil de conciliar.
- Tínhamos um Presidente independente embora eleito nas listas de um partido. Agora teremos um Presidente que é um alto dirigente partidário, ex-ministro, autor de leis autárquicas controversas e favorável à Ota.
Parece assim provável a invasão da Câmara pelas guerras contra o Governo do PS e portanto as convergências na Câmara, dadas as divergências a nível nacional, serão ainda mais difíceis.
São dados como certos no executivo camarário António Costa, Negrão, Carmona, Roseta, Ruben e Sá Fernandes. Eis então o que falta decidir :
- O Ruben levará com ele algum camarada ?
- O “Zé” terá a companhia de algum bloquista ?
- O Telmo entra ou não entra ?
- O Negrão fica à frente do Carmona ?
- A Roseta fica à frente do “Zé” ?
- O Carmona e a Roseta elegem quantos acólitos ?
- O Costa terá maioria se se aliar ao Negrão ?
Se esta última hipótese acontecer voltam a mandar em Lisboa os dois partidos que votaram tudo o que foi decidido nos últimos anos.
“Devolve-se a palavra ao povo” para isto ?
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Sunday, June 17, 2007
Saturday, June 16, 2007
Músicas sobre Água
Friday, June 15, 2007
Thursday, June 14, 2007
Wednesday, June 13, 2007
Last Night I Dreamt of Norman Mailer
(ENP, n'A Sexta Coluna)
À primeira leitura julguei que isto era um daquelas analogias codificadas sobre relações, nas quais a Laura Abreu Cravo se especializa, mas depois confirmei, não sem uma pontinha de desapontamento ("As pausas de cinco a dez minutos tornam-na mais generosa", enfim, isto tinha algum potencial eufemístico-analógico por espremer, já para não falar na noção exageradamente optimista de que se ganha "eficácia ao jogar em duas ou mais ao mesmo tempo"), que o Eduardo estava mesmo a escrever sobre fruit-machines. O meu veneno é muito outro, e até serei o primeiro a admitir que Monte Carlo e Blackpool orbitam em planetas diferentes, mas queria deixar aqui uns retalhos de cautionary tale. É que a minha experiência não tem nada a ver com aquilo.
Por exemplo, se sair uma combinação ganhadora depois de um período em que não saiu nada, é provável que o beneficiário não seja eu, mas sim um oriental baixinho, sorridente e seco de carnes, que ocupou o meu lugar depois de eu ter ido buscar um guardanapo para fazer taciturnos cálculos a lápis. E se, nas dez jogadas seguintes, essa combinação sair mais uma, duas ou três vezes, é provável que eu não dê por isso, ocupado que estarei a consolar um amigo com um orifício no bolso das calças superior à dívida externa de Moçambique, e o cartão de débito do Lloyd's aprisionado nas entranhas da ATM do casino. E, se houver diálogo, este não será mental, mas violentamente físico. E se houver saudades, será da escola primária, e do jogo do galo.
Amis on Blair
(O Guardian convidou Martin Amis a acompanhar o farewell tour de Tony Blair. Amis parece-me estar nitidamente em baixo de forma neste tipo de peças. Ainda assim, e apesar de ficar muito aquém do brilho de textos gloriosos do passado, como aquele sobre a convenção Republicana de 1988 [recolhido salvo erro em The Moronic Inferno] é um evento jornalístico a não perder.)
Mötley Crüe
(Da autobiografia de Alex James, esse grande maluco, citada no Times)
Tuesday, June 12, 2007
Ciao Roma!
A liberalização (europeia) dos mercados de viagens
Viajo hoje de Lisboa para Roma numa companhia espanhola, tendo o bilhete sido comprado (electronicamente) na mesma agência francesa.
A raão? O preço anunciado é o total (taxas incluídas), como é honesto, e como desde o princípio deste mês é obrigatório. Mas tem uma distinção que a lei portuguesa não contempla: entre as taxas de aeroporto e as taxas de emissão por parte da agência. São de natureza bem diferente, e nas agências portuguesas vêm sempre indiscriminadas como "taxas". Só que para o mesmo bilhete (qualquer que este seja), o preço nessa agência francesa é sempre sistematicamente 15 euros inferior ao de uma conhecida agência portuguesa do Grupo Espírito Santo. Na agência francesa a "frais d'émission", de 5€, é explícito. Naquela agência portuguesa é de 20€, e só é explícito após a reserva do bilhete.
França e Itália, análise retrospectiva
Renovação Comunista
Comunicado
A Europa está hoje a viver um dia particularmente significativo no plano político. Em França, o governo de Chirac-Villepin foi obrigado a retroceder na lei sobre o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), mercê da luta popular e das manifestações que têm trazido muitos milhões de franceses para a rua desde há várias semanas. Esta lei, particularmente gravosa para os jovens detentores do primeiro emprego, autorizava o despedimento ao fim de dois anos sem qualquer tipo de justificação. Uma forte mobilização dos jovens a que se juntaram os sindicatos e os partidos de esquerda obrigaram ao recuo da direita, abrindo espaço para a sua derrota nas eleições do próximo ano.
Em Itália, de acordo com as projecções realizadas à boca das urnas, a União do centro-esquerda, liderada por Romano Prodi e de que fazem parte os Democratas de Esquerda e a Refundação Comunista, derrotou os partidos da direita liderados pelo actual primeiro-ministro Sílvio Berlusconi. Apesar da heterogeneidade político-ideológica da União, este resultado foi possível devido aos esforços de convergência desenvolvidos pelas forças democráticas que a constituem, que se apresentaram às eleições com um programa de recuperação económica e de melhoria dos benefícios sociais para os mais carenciados.
A Renovação Comunista saúda a luta dos democratas de todos os quadrantes ideológicos que em França e Itália conseguiram, com êxito, travar uma encarniçada escalada neoliberal das forças de direita, criando condições para o desenvolvimento de políticas alternativas que ponham cobro ao desmantelamento do Estado social.
Lisboa, 10 de Abril de 2006
A Comissão Permanente da Renovação Comunista
No dia seguinte publiquei uma reacção ao referido comunicado com o seguinte teor:
Pelo contrário quer o caso da França quer o da Itália revelam, de forma dolorosa, as debilidades da "esquerda".
Na França desencadearam uma luta extremamente aguerrida por um objectivo ridículo. O problema não é o CPE mas sim o facto de o "sistema" capitalista já não estar em condições de assegurar o sustento das novas gerações que insistem em ser assalariadas.
De caminho abriram caminho para o Sarkozy e fizeram mais uma demonstração da pusilanimidade e impotência de um Estado de quem, no entanto, tudo esperam.
Trata-se de uma vitória de Pirro de uma esquerda incapaz de "inventar" um futuro diferente para a sua juventude.
O que vai acontecer é que o patronato continuará alegremente a deslocalizar para a China e para a Índia...
Em Itália, onde não se chega a perceber se a política é para rir ou para chorar, a "esquerda" arregimentou uma molhada cuja única lógica parece ser o facto de todos odiarem Berlusconi, o que é pouco para um projecto.
Apesar disso não conseguiram ter uma vitória convincente contra um adversário que é uma anedota (ao menos em Portugal o Sócrates afinfou uma maioria absoluta à conta do Santana...)
Como é que alguém se pode congratular com tais exemplos ?
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Na altura fui, como é costume, mal compreendido.
Passado pouco mais de um ano já é possível ver quem é que estava a ser realista na sua apreciação e quem é que estava a tomar os desejos por realidades.
Andam os meus amigos a casar e a procriar...
Cientistas portugueses em Inglaterra no DN
(Nuno, presenteias-nos com fotos dos teus piqueniques, presenteias-nos como fotos dos pés dos participantes nos teus piqueniques, mas não falas de nada disto?)
Monday, June 11, 2007
AllStars em Alvalade (II)
Sunday, June 10, 2007
"Embarga Cá" Fernandes
Balanço pessoal de mais uma Feira do Livro de Lisboa
The movies, screwing it up
«The search is what anyone would undertake if he were not sunk in the everydayness of his own life. This morning, for example, I felt as if I had come to myself on a strange island. And what does such a castaway do? Why, he pokes around the neighborhood and he doesn't miss a trick. To become aware of the possibility of the search is to be onto something. Not to be onto something is to be in despair.
(Walker Percy, The Moviegoer, Methuen, p. 13)
(Reparei que, no índice onomástico do Prova de Vida do Pedro Mexia, "Kierkegaard" tem o mesmo número de menções que "Jesus Cristo". O catolicismo de Walker Percy, palpita-me, tinha mais ou menos a mesma ratio.)
Alpha female
Sair do gueto
Força Roger
Saturday, June 9, 2007
“Panaceia” Costa
Quer se trate dos fogos florestais, das morosidades da justiça ou da confusão das forças de segurança é ele o homem certo. Agora também para salvar a capital não se sabe bem de quê.
Remédio tão geral, para a calvície e para os calos e também para a comichão, era nos meus tempos baptizado como “banha da cobra”. Hoje é o “Panaceia” Costa.
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AllStars em Alvalade
Friday, June 8, 2007
Telmo, "O Desejado"
Há pessoal que ainda não se esqueceu do imposto comunitário
Dead Celebrity Watch
(Entretanto, na mesa da roleta, que ia fiscalizando com este meu outro olho, notei que a cor 'Preto' saiu sete - sete! - vezes seguidas, facto que me parece eminentemente investigável pelas autoridades competentes).
A minha escala Warhol
A minha recente conversa com Claude Cohen-Tannoudji foi relatada aqui. Os meus encontros com David Gross (em Santiago de Compostela) e Franck Wilczek (em Minneapolis) foram descritos aqui. Com Gerard ‘t Hooft, a olhar para o mar da Corunha, enquanto discutia com um espanhol a direcção em que ficava a Grã-Bretanha, falou-se da “estrutura fractal da costa marítima” (‘t Hooft entrou assim na discussão). Via C.N. Yang muitas vezes (doutorei-me no Instituto com o seu nome), mas a única vez que lhe falei foi numa entrevista que ele me concedeu (e ao Nuno, que me visitava), e que deve vir a ser publicada em breve.
Passando para a Medalha Fields, na Matemática, via John Milnor todos os dias no meu doutoramento (o seu instituto era ao lado do meu). Ele dizia-me sempre “hi”. (Uma vez, em Princeton, vieram sentar-se na mesa que partilhava com outros colegas ao almoço ele e o célebre John Nash, mas não lhes dissemos nada.)
Não quero deixar de referir Juan Maldacena, outro físico célebre: na referida escola de Santiago de Compostela, ele veio-me pedir e a outro colega se lhe podíamos emprestar um despertador. Depois fomos jantar umas chuletas de ternera.
Se retirasse esta fasquia “nobel”, a lista seria maior, mas como se definiria a “celebridade” sem um prémio deste género?
Ainda dentro dos “nobeis”, mas desta vez da literatura, como qualquer português que visite a Feira do Livro de Lisboa, tenho um livro autografado por José Saramago (ainda ele não era “nobel”).
E é isto.
Thursday, June 7, 2007
Roseta, Arquitecta "não dependente"
Ser candidato independente é, hoje em dia, um grande problema.
"Arquitecta Independente" facilmente se confunde com "Arquitecta pela Independente" e refutar esta última interpretação pode ser visto como um ataque ao Senhor Primeiro Ministro.
Pelo sim pelo não é melhor Roseta apresentar-se como "não dependente".
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Wednesday, June 6, 2007
Ruben, "O Navegador Solitário"
Tuesday, June 5, 2007
Negrão, "O Voluntário"
Na escola punha sempre o dedo no ar para ir ao quadro e continuou assim pela vida fora.
Uma coisa temos que reconhecer: é um cavalheiro que nunca perde a compostura mesmo quando tem que fazer um frete a pedido do chefe.
Infelizmente para ele esta atitude é muitas vezes interpretada como subserviência.
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Um pouco de “Fox News” nos comentários de um blogue de física
A razão da recusa de Weinberg é um “boicote ao boicote”: académicos britânicos não desejam a presença no país dos seus colegas israelitas, como forma de protesto contra a política levada a cabo pelos sucessivos diferentes governos de Israel no Médio Oriente. Weinberg, americano e professor reformado da Universidade do Texas em Austin, decidiu solidarizar-se com os seus colegas israelitas por considerar o protesto britânico de cariz… (adivinhem!) anti-semita.
A carta de Weinberg, e os detalhes da história, podem ser lidos aqui. Lendo a carta, podemos aperceber-nos que Weinberg vê “anti-semitismo” (ou em alternativa “medo de provocar a comunidade muçulmana na Grã Bretanha”) em órgãos como a BBC, o The Guardian e o The Independent.
Devo esclarecer que não acho adequado o boicote à presença de académicos de uma certa nacionalidade ou credo. O credo ou a nacionalidade não vinculam ninguém à política colonialista e agressiva de Israel. Concordaria se o boicote se limitasse a mercadorias, a bens de consumo. Mas pessoas não são mercadorias. Deve boicotar-se o capital, mas não as pessoas. Por isso lamento o tal boicote e lamento profundamente a decisão de Weinberg. O seu colega Salam, que tão frutíferas colaborações com ele teve, não o merecia.
Soube deste episódio através do blogue The Reference Frame. E é para esta mesma entrada deste blogue que eu quero chamar a vossa atenção, nomeadamente para os seus comentários. Comentários que demonstram bem como é impossível ter uma discussão racional sobre o conflito israelo-palestiniano nos EUA. Eu tentei ter essa conversa por algumas vezes e sei o que me aconteceu. Um comentador de bom senso (europeu), Kasper Olsen, fala timidamente sobre o direito dos palestinianos a terem o seu próprio estado, e é imediatamente rodeado por falcões pró-israelitas. Convido-vos a passarem por lá e a fazerem o vosso próprio julgamento. Podem encontrar opiniões que em Portugal (por enquanto) só o colunista do DN Alberto Gonçalves tem o desplante de emitir (enquanto escreve “Palestina” entre aspas), como
“I would probably also give up at this moment and give them a country - which means that Palestinians have the right, too. If you asked what I really think, my answer would be No, they don't deserve it. The concept of the Palestinian nation is just an abstract, soft construct.”
Eu sou contra a Intifada, mas notem que toda esta opinião – o “desistir e dar-lhes um país”, apesar de achar que os palestinianos não têm direito a ele – é o melhor argumento a favor dessa mesma Intifada que eu já li.
Quero ainda destacar
“The problem is that the more land and authority they were granted... the more israelis died in terrorist attacks...”
Como se os territórios ocupados fossem uma concessão feita aos palestinianos, uma prenda que se lhes dava – e não uma devolução daquilo que legitimamente sempre lhes pertenceu. É esta a visão que prevalece na opinião pública americana (que defende um “Grande Israel”) e nos principais meios de comunicação social (não é só a “Fox News”).
Não julguem que estes comentadores são necessariamente neoconservadores, ou mesmo simplesmente republicanos. Pelo contrário: muitos deles são, infelizmente, democratas.
Espero que esta pequena (mas representativa) amostra demonstre que a principal prioridade em política internacional é a necessidade de acabar com o apoio incondicional dos EUA a Israel, se se quer ter um mundo mais seguro. Enquanto isso não acontecer, no que a Europa deve apostar é numa política de defesa comum e autónoma (sem pôr em causa as suas alianças) o mais depressa possível. Que nos proteja das ameaças dos talibãs e dos Ahmenijads, sem dúvida. Mas que nos proteja também dos Drs. Estranhoamores de Washington e dos falcões de Tel Aviv.
Publicado também no Cinco Dias.
Leite democraticamente coalhado por meio de um fermento
Esta maneira de ver a coisa permite-me pensar que me ri daquilo sem grande desconforto porque aquilo tem piada (os fantasmas passíveis de análise sociológica também são um factor, mas não assumem maior ou menor relevância do que em todas as outras coisas a que eu acho piada, nomeadamente cartoons sobre ovelhas, vídeos com gatinhos, entrevistas do Norman Mailer, ou a Zita Seabra). No dia em que os comediantes começarem a dilatar o critério (que até considero válido) da «permeabilidade/fragilidade de quem é visado» para que este exclua a possibilidade de ser um bocadinho mauzinho para a Paris Hilton numa entrega de prémios da MTfuckingV, será, convenhamos, o dia em que a Via Láctea começará discretamente a cair aos bocados.
A outra maneira de ver as coisas é encarar tudo aquilo como "um nojo", "desumano" e "repugnante", posição adoptada por duas pessoas na caixa de comentários do Avatares (que também inclui o clássico gâmbito da "inveja, as pessoas que riem têm é inveja"). O que me põe a pensar, entre colheradas frenéticas de Adagio Simbiótico: que vocabulário é que restará a esta gente para descrever aquelas coisas - que nunca se passam em cima de um palco - e que são efectivamente "um nojo", "desumanas" ou "repugnantes"?
(Para que as minhas caixas de comentários não comecem a ficar para trás em matéria de epítetos à queima-roupa, quero aqui relembrar que cada vez gosto mais do blogue do Luis Miguel Oliveira.
Monday, June 4, 2007
Carmona, “O Regressado”
Foi ele quem disse “Não serei eu o primeiro a abandonar o barco, nem permitirei que me atirem pela borda fora”. No entanto, acabou por ir.
A política tem razões que os técnicos, os realmente engenheiros e os arguidos desconhecem. Carmona foi apenas a consequência, mal tolerada, de um erro chamado Carrilho.
Regressa ao mundo dos vivos para assombrar os candidatos e os partidos que tentaram descarregar sobre ele todos os erros que em Lisboa se cometeram desde o Senhor D. Afonso Henriques.
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Pode-se vender a mãe para conquistar audiências?
É evidente que esta sua entrevista era intercalada com afirmações de um inspector da Judiciária que rebatia as afirmações do referido cabo.
O que é grave é que na véspera do julgamento do cabo, este seja entrevistado pela Televisão para não só acusar a PJ de o ter obrigado a confessar, quando esta apresentou provas muito mais evidentes do que a sua própria confissão, como também para denunciar alguém que não está envolvido no processo, que tem de certeza o seu bom nome a defender e que vê a sua honra e reputação enlameadas. Hoje, pareceu-me ouvir um advogado da pessoa em causa dizer que iria pôr a televisão em tribunal. Acho muito bem e que o seu director e o jornalista responsável pela reportagem sejam acusados de difamação.
A televisão, lá porque uma pessoa não é importante, não tem dinheiro, nem estatuto social, permite que alguém, acusado de um crime grave, bolce aleivosias sobre a honra de outrem, só para fazer chicana com um caso mediático e obter por isso maiores audiências. Triste televisão.
Diálogo entre um filósofo e um físico
Às frases de Desidério Murcho
"...Quanto ao resto, dizer que uma equação guarda mais ideias do que as palavras permitem alcançar é só uma maneira não muito feliz de dizer que por vezes não compreendemos claramente as próprias equações que temos razões para acreditar que são verdadeiras..."o Ricardo contrapõe
lamento, mas é falso! ou, então, temos outro problema de comunicção :-)
as equações de einstein, por exemplo, guardam muitas surpresas que só com a sua exploração conseguimos aprender. nenhuma argumentação sobre gravitação nos teria levado a muitos conceitos fundamentais de física moderna sem realmente estudarmos com atenção e cuidado as soluções dessas equações!
um exemplo claro e recente neste sentido está relacionado com a "interpretação" da mecânica quântica. os físicos do princípio do século escolheram a via de copenhaga "shut up and compute" com um sucesso inegável. ao mesmo tempo, muitos argumentos foram debatidos ao longo dos anos sobre as "implicações filosóficas" das diversas interpretações da mecânica quântica, produzindo barbaridades científicas sem limite (até tempos recentes: lembro-me de uma conferência em boston em meados da década de 90 onde a parvoíce dita e incomprensão da mecânica quântica, por parte das pessoas que apenas se ficavam pelos "argumentos", não tinham limite).
hoje a via das equações provou a sua superioridade para atingir este fim: temos uma descrição a caminho de ser bastante completa de todos os aspectos da mecânica quântica, fazendo uso das ideias de decoerência. décadas de argumentação nem lá perto chegaram.
com isto não quero dizer que os argumentos de nada serviam; óbvio que não!! apenas quero dizer que, muitas vezes, é útil conhecer as equações e aprender a estudá-las, antes de decidir argumentar sobre certas coisas...
Sunday, June 3, 2007
31 no Bloco
O estranho mundo de Zhang Yue
Zhang Yue, vigésimo quinto na lista dos cem mais ricos da China segundo a Forbes, nasceu em Hunan há 41 anos. Foi o primeiro chinês a possuir um jacto privado.
A sua fortuna resultou da invenção e desenvolvimento, com o irmão Zhang Jian, de um novo tipo de ar condicionado. A sua empresa Broad Air Conditioning tornou-se uma enorme firma exportadora.
As instalações da Broad, uma cidade dentro da cidade de Changsha, também incluem uma piramide com 40 metros de altura e um palácio à moda de Versalhes, na opinião de uns, ou de Buckingham, segundo outros.
Os operários moram dentro do recinto da "Broad Town" e funcionam de forma surpreendente mesmo para quem, como eu, já tudo espera da gigantesca China.
É melhor ver o “filme” AQUI
.
Saturday, June 2, 2007
Filipe Moura assinou por Carmona Rodrigues
Friday, June 1, 2007
A Greve Geral e a Ofensiva do Governo
A Greve Geral de 30 de Maio tem sido objecto nos últimos dias de grandes discussões, acima de tudo sobre o alcance e o êxito obtidos. Para o Governo foi um fracasso, o que justifica a continuação da sua política, para o PCP, tal como para a corrente maioritária da INTER, foi "um poderoso aviso ao Governo", segundo noticia o Avante na primeira página de hoje (1/6/07).
Sobre estas duas perspectivas tem-se vindo a desenrolar toda a argumentação, que, como era de prever, encontra nos números que o Governo forneceu e os parciais que a INTER foi revelando a sua principal fonte de confrontação. Resumindo, o Governo afirma que a greve não foi geral mas sim parcialíssima e a CGTP a garantir que não era esse o seu objectivo, visto que pretendia mostrar unicamente o grande descontentamento dos trabalhadores.
Quanto a mim, sendo a apreciação do seu êxito ou fracasso um aspecto importante, e os números, pelo menos em termos mediáticos, um tema não despiciendo, penso que a principal conclusão política que se pode tirar desta greve é a excessiva intervenção do Governo, que parece ser um facto novo e de extrema importância.
Noutras ocasiões, já durante a maioria absoluta do PS, o Governo tem ignorado com olímpico desdém as greves da Função Pública, avançando com números facilmente contraditados ou afirmando mesmo que não se mete nessa discussão. Neste caso foi diferente. O Governo teve a preocupação, em todos os campos, de afrontar a greve e de a transformar, com dados reais ou fictícios, com conferências de imprensa à hora do almoço e do jantar e ainda com o Silva Pereira, à noite, na SIC Notícias, num fracasso para a CGTP e por tabela para o PCP e para o Bloco, o primeiro porque a marcou e o segundo por se sentir obrigado a apoiá-la. Segundo António Filipe no “Debate da Nação”, na RTP I, houve mesmo sete membros do Governo envolvidos nesta operação.
Nesta contra-ofensiva governamental houve de tudo. Os serviços públicos de transportes ameaçaram os trabalhadores e deturparam os serviços mínimos, na Função Pública houve alguns organismos que queriam elaborar listas nominais de grevistas, anuladas pela Comissão Nacional de Protecção de Dados, e um Secretário de Estado fez de porta-voz das entidades patronais anunciando o resultado da greve nos privados. Para terminar, e sem descrever exaustivamente todas as ameaças que foram feitas, gostaria de chamar a atenção para um facto gravíssimo, que transforma os jornalistas em cães de guarda do Governo, ao interromperem uma conferência de imprensa de Carvalho da Silva para lhe pedirem números sobre a greve, quando momentos antes tinham ouvido com todo o respeito, como é prática corrente em todas as conferências de imprensa, os Secretários de Estado a darem a sua opinião sobre a greve.
Num momento de grande desgaste governativo, como sejam os casos, primeiro da licenciatura do Primeiro-Ministro e mais recentemente das declarações de Mário Lino ou da suspensão do professor Charrua, da DREN, em que Governo se tem limitado a resistir ou a fingir que não percebe, verificamos que, neste caso, este passou à ofensiva, tentou humilhar os sindicatos e ainda recorreu à UGT, que fez no dia a seguir à greve declarações perfeitamente provocatórias – "foi a menos participada de sempre das convocadas pela CGTP e demonstrou a arrogância daquela central sindical" –, para atacar a CGTP. Ou seja, o Governo preparou a ofensiva e está a explorar o sucesso da mesma.
Podemos dizer que o PCP, e a INTER por tabela, levado pelo seu desvio esquerdista e sectário, não foi capaz de compreender na ratoeira em que se meteu e transformou os êxitos, por todos reconhecidos, das últimas manifestações dos professores e dos trabalhadores em geral, numa jornada de luta de contornos e conteúdo mal compreendidos no conjunto da sociedade, facilitando de algum modo os ataques do governo e da imprensa alinhada.
Podemos concluir que o Governo escolheu a Greve Geral e a contestação dos trabalhadores como os seus inimigos principais e pretendeu, combatendo no terreno a paralisação e no campo ideológico promovendo a sua desvalorização e realçando o suposto apoio que tem da população para empreender as reformas de direita, acabar de vez com a contestação laboral. Estamos neste caso perante um velho problema do movimento operário em que a social-democracia, utilizando aqui a sua denominação histórica, aparece como a guarda avançada dos interesses económicos e do patronato, no fundo da direita, e a esquerda da social-democracia, obcecada com este inimigo, se deixa arrastar para o esquerdismo e o sectarismo. Temos pois que romper com este velho dilema.
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