Monday, March 31, 2008

Três posts para vosso entretenimento

(...) Vê bem. A cabra do costume, há sempre uma cabra do costume, rapariga ainda nova, uma pena, apesar de parecer uma lebre, especialmente quando faz aquilo com o nariz. É lixado para uma gaja fazer lembrar os subúrbios da cadeia alimentar. Põe a cabeça em água a toda a gente e quando chega a casa, à noite, todas as noites, ajoelha-se ao lado da cama e pede perdão ao Menino Jesus, que tem a vantagem de estar isento da carga erótica que centenas de anos de arte ocidental depositaram sobre o Senhor Jesus. O Menino Jesus, vá-se lá saber porquê, perdoa-lhe. É um frete que lhe faz todas as noites há uma data de anos. Todas as noites, não. Ela, quando chega a casa embriagada, já não pede nada a ninguém e o Menino Jesus fica sem frete para fazer por umas horas. Mas não é hábito. E ninguém sabe se ele se rala ou se agradece a folga. Depois chora, ela, enquanto se enrola nos lençóis sem conseguir dormir. E no dia seguinte faz a cabeça em água a toda a gente outra vez. A vida é sofrimento, pá. (...)

(Terra Habitada)


«-Olhem para mim, sou como este Grande Intelectual Inglês mas em Portugal sou incompreendido!
-Não és nada! Eu mando muito mais estilo porque sou mais pobre e mais velho.
-Tenho aqui duas citações dele que mostram que a esquerda é estúpida e não manda estilo.
-Mentira! Ele pensava que a esquerda era bonita às vezes. Ele e o Outro Grande Intelectual Francês!
- Os franceses são todos de esquerda! Falo dos Grandes Intelectuais Ingleses!
- Não é verdade! Há Grandes Intelectuais Ingleses que são de esquerda!
- Comuna fascizante! Super Aaron! Mega Aaron!
- 25 de Abril sempre! Sartre Power! Abaixo o patronato e os Grandes Intelectuais de Direita!»


(O Nascer do Sol)


Uns excitam-se com luta-livre de lésbicas na lama. Outros excitam-se com a aliteração em "luta-livre de lésbicas na lama". Os segundos claramente onanistas depravados.

(Ainda Não Está Escuro)

Este país não tem velhos

Muito se tem falado do envelhecimento da população. O prolongamento da vida proporcionado pela ciência actual está sem dúvida a produzir um número historicamente inédito de pessoas fisicamente velhas na nossa sociedade.

Esse fenómeno tem, no entanto, ocultado um outro tanto ou mais importante; na nossa sociedade não existem, ou são mediaticamente irrelevantes, os velhos enquanto detentores da sabedoria, da prudência e do cinismo salutar. Quase não há no espaço público quem transmita ponderação, quem separe o essencial do acessório, quem sirva de contraponto ao primarismo dos entusiasmos juvenis que caracteriza as campanhas fervorosas a favor disto e daquilo.

Com honrosas excepções a geração que foi jovem nos anos 60, que cometeu todos os erros a que tinha direito na sua juventude, que viveu a guerra colonial, o fascismo e o PREC recusa-se a envelhecer e, dessa forma, transmitir aos jovens actuais a sua experiência. Recusa-se a reconhecer os erros que cometeu e a aprender com eles na vã ilusão de assim perpetuar a juventude. Não apaga a memória dos tiques e clubismos de sempre. Corre atrás de qualquer moda contestatária, usurpando dessa forma a irresponsabilidade daqueles que estão na idade de ser irresponsáveis e se vêem na contingência de não ter “jarretas" a quem ultrapassar, quanto mais contrariar.

Esta geração que toma o reumático por acne juvenil, que se recusa a "entrar para o armário", devia era usar a sua longa experiência de muitos falhanços e alguns sucessos para ensinar aos jovens a arte do equilíbrio na avaliação das verdadeiras consequências das nossas paixões. Não o faz.
Apoia alegremente a causa do Dalai Lama, os casamentos homossexuais, as lâmpadas ecológicas. Em vez de ensinar o papel perene das utopias afadiga-se como a Lili Caneças das “causas” fracturantes. Demite-se da sua função geracional e dessa forma inibe os realmente jovens de o ser plenamente.
Onde estão os nossos jovens iconoclastas ? Se acaso existem ninguém dá por eles.

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Sunday, March 30, 2008

MSN


R. Casanova diz:
Pssst. Estás aí?

Internet diz:
não vês k xxim?

R. Casanova diz:
Não dizias nada. Senti a tua falta.

Internet diz:
??

R. Casanova diz:
Senti a tua falta. Foram três semanas.

Internet diz:
ok

R. Casanova diz:
Ok? Não vais dizer mais nada?

Internet diz:
tipo O k? tive okupada, foi xó iXo

R. Casanova diz:
Esquece.

Internet diz:
ok

R. Casanova diz:
Mas está tudo bem contigo? Pareces-me distante...

Internet diz:
não komeces kom ixo, tipo larga-me

R. Casanova diz:
Porque é que me tratas sempre assim? Alguma vez te fiz mal?

Internet diz:
xATo. por ixo é k dps ngm te atUra.

Pastoral Portuguesa diz:
Dá-me atenção.

Internet diz:
olá

R. Casanova diz:
Espera aí um bocadinho.

Pastoral Portuguesa diz:
Porque é que não me dás atenção?

R. Casanova diz:
Eu dou, espera.

Internet diz:
voxês tão é bem 1 pó outro, LoLoL

Pastoral Portuguesa diz:
Não tens dito nada; ando preocupada.

R. Casanova diz:
Eu sei; já falamos.

Internet diz:
pontos-e-vírgulas... LMFAO

Televisão diz:
Internet, kadê Kasanova?

Internet diz:
td fx TV?

Televisão diz:
kadê Kasanova? tenho futebol

Pastoral Portuguesa diz:
Dá-me atenção.

R. Casanova diz:
Vocês as duas importam-se de esperar um bocado?

R. Casanova diz:
Internet?

Internet diz:
k foi?

R. Casanova diz:
Só queria confirmar que está tudo bem entre nós, que não vais voltar a desaparecer.

Internet diz:
eu faxo o k kero, larga-me

R. Casanova diz:
Não consigo perceber porque é que me tratas assim.

Televisão diz:
tenho futebol tenho sporting.

Pastoral Portuguesa diz:
Eu amo-te tanto. Fala comigo.

R. Casanova diz:
Internet?

R. Casanova diz:
Internet?

R. Casanova diz:
Internet?

Sem Sombras

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Pela quarta vez o festival "Terras sem Sombra" mostrou como é possível construir um programa de qualidade numa realização descentrada dos circuitos habituais.

O concerto de encerramento teve lugar ontem, na matriz de Santiago do Cacém, com a designação "A Devoção Mariana na Música Portuguesa dos Séculos XVI a XVIII". Duarte Lobo, Diogo Dias Melgás e Francisco António de Almeida foram servidos pelo Coro Gulbenkian para gáudio dos presentes.

Ainda acontecem coisas boas. Há que registar e divulgar...


Friday, March 28, 2008

Finalmente, mudanças radicais em Portugal!

Em Portimão

(Mais um) excelente texto do Tárique.

"Lume e as horas dão-se sempre"


Este post é muito bom. (Alimentei, ao longo de toda a minha adolescência, uma fantasia pessoal sobre a Kim Deal; envolvia matrimónio e tudo. Independentemente desse facto, este post é mesmo muito bom.

Internet Anagram Server 9,222 - Eu 0

Fiquei esta semana a saber - através do criminosamente sub-valorizado diário desportivo O Jogo - que um computador russo escreveu em 72 horas um romance intitulado O Amor Verdadeiro. Fiquei esta semana a saber - através da criminosamente sub-valorizada imperial da Cinemateca -que é possível fazer anagramas sem papel, sem lápis, e sem mim.
Numa raquítica fracção de segundos, o programa em questão devolveu mais de cinquenta mil anagramas de "Pastoral Portuguesa", o que não deixa de ser impressionante, mesmo que nenhum dos meus dicionários reconheça as palavras "rstulo" e "pslo".
Não estão convencidos? Isto é fácil de testar. Imaginemos que há por aí um novo blogue colectivo chamado Sinusite Crónica, formado por seis pessoas e alojado na plataforma Sapo. Imaginemos agora que introduzimos os respectivos caracteres no Internet Anagram Server, tendo o cuidado de retirar o diacrítico ao 'o', porque o Internet Anagram Server é um beauty snob que não reconhece caracteres cicatrizados. Depois de imaginarmos isto tudo, imaginemos também que estes prodígios de sensatez ortográfica são apenas alguns dos nove mil duzentos e vinte e dois anagramas para Sinusite Crónica devolvidos pelo Internet Anagram Server : Estica Unicsrnio, Insinuar Esticco, Ca Sonsice Intuir, Ascensco Tinir Ui, Crustaceo Nini Si. Imaginemos por fim que eu estive ali quase meia-hora a brincar com lápis e papel, e que o melhor que consegui foi "Incitar seis no cu".
Imaginemos a minha desilusão comigo próprio.

Parvólicas ?


Não acontece nada em Portugal, esse é o problema.
Como se não bastasse o caso da aluna e do telemóvel, que enxameia a comunicação social, agora temos o caso das eólicas que Sá Fernandes se propunha espalhar pela cidade.
Não se sabe o que mais admirar; se o facto de António Costa perder tempo com folclores enquanto Lisboa definha, se o activismo da oposição com este momentoso assunto.
O comunista e ex-dirigente da Quercus Carlos Moura chegou mesmo a alertar para "os perigos que estes equipamentos representam para as colónias de morcegos que existem em Lisboa, por o seu funcionamento desorientar o seu sistema de orientação".
É o que se chama investir contra moinhos de vento enquanto se mantém o silêncio sobre o modo de financiamento das actividades da Câmara de Lisboa que, dizem as más línguas, está falida para os próximos 20 anos.

Anti-CNN



O site www.anti-cnn.com mostra vários exemplos da manipulação de textos e imagens com que se alimenta a campanha contra a China a propósito do Tibete.

Muitos gostariam de impor à China uma amputação do tipo Kosovo. Infelizmente para eles a China não é a Sérvia, nem do ponto de vista militar nem económico, pelo que esse projecto colonialista tem fraca viabilidade.

Se é verdade que devem ser respeitadas as particularidades culturais de cada região (o desenvolvimento económico recente da China está sem dúvida a destruir muitas tradições mesmo fora do Tibete) também é verdade que tal não pode ser resolvido pelo sistemático desmembramento dos países. Tal constituiria um processo sem fim de consequências inimagináveis.

Aqueles que se afadigam a favor do Tibete, entre os quais Sarkozy e Condoleezza Rice, esquecem-se oportunisticamente do País Basco, da Bélgica e de muitos outros casos de diferendos baseados em razões étnicas e nacionais.
As ideias de separatismo são ainda mais perigosas quando se baseiam em factores de índole religiosa e pretendem estabelecer novos estados confessionais, como é o caso do Tibete.

Thursday, March 27, 2008

Um país de blogues

Cinco anos passaram sobre a invasão do Iraque e sobre o boom da blogosfera. Para recordar esta realidade de que também tenho participado, transcrevo na íntegra o artigo de Luís Miguel Queirós no Público de 22.03.2008. Vale a pena ler, entretanto, este comentário.

Há meia-dúzia de anos, poucos sabiam o que era um blogue. Hoje haverá quase 200 mil em Portugal. A blogosfera já nos "deu" a erudição sexual de O Meu Pipi, o humor dos Gato Fedorento, as crónicas de Pedro Mexia ou os comentários de Rui Tavares. E sem ela talvez não tivéssemos visto, há dias, cem mil professores na rua. Por Luís Miguel Queirós

Em Outubro de 2002, quando Pedro Mexia, Pedro Lomba e João Pereira Coutinho lançaram o blogue Coluna Infame, calcula-se que os blogues portugueses não excedessem umas escassas centenas. Ninguém sabe ao certo quantos existem hoje, mas Mexia diz que "já se fala em 200 mil". E um estudo internacional recente indica que Portugal é, de facto, em termos relativos, um dos países onde mais gente escreve em blogues e os lê. Segundo uma sondagem da Nielsen, mais de vinte por cento dos cibernautas portugueses visitam blogues diariamente, o que representa o dobro da média europeia.
Números que parecem apontar para um país com uma opinião pública numerosa, interessada e interveniente. Se não houvesse razões mais óbvias para suspeitar de que não será bem assim, o próprio estudo da Nielsen forneceria motivos de reserva suficientes, já que conclui que os países europeus com mais baixos índices de escrita e leitura de blogues são os escandinavos, ao passo que aqueles em que a blogosfera se mostra mais dinâmica são, além de Portugal, a Grécia e a Itália.
Criar um blogue é fácil e gratuito. Até há pouco tempo, quem quisesse criar uma página pessoal na internet, tinha de dominar a linguagem de programação "html" (HyperText Markup Language), que sempre exige alguns conhecimentos técnicos, e ainda de pagar o alojamento do seu site. Mesmo com os blogues, começou por ser assim, o que explica que muitos dos pioneiros da blogosfera mundial fossem informáticos. Agora, qualquer pessoa minimamente familiarizada com computadores pode abrir e alimentar um blogue, e ainda por cima sem pagar nada por isso.
Estes são argumentos que seguramente ajudam a justificar o insólito sucesso da blogosfera portuguesa, e também a sua extrema variedade, já que, para cada Abrupto (o blogue de Pacheco Pereira) ou Causa Nossa (onde escrevem, entre outros, Vital Moreira e Ana Gomes), há umas centenas de blogues que nunca chegam aos media tradicionais e que, na expressão de Pedro Mexia, "o radar não acusa". O co-fundador da Coluna Infame divide-as em duas categorias principais: "páginas de adolescentes sem interesse nenhum", e aquilo a que chama "a blogosfera javardola". Uma designação eventualmente aplicável a blogues como o popular Gaijas da TV - estava ontem dois lugares acima do Abrupto no Blogómetro, um ranking de popularidade gerido pelo portal "weblog.com.pt" -, para não citar outros blogues com nomes e conteúdos ainda mais sugestivos.
A inflação da blogosfera será, paradoxalmente, resultante de um certo subdesenvolvimento? Ivan Nunes, que manteve o blogue A Praia e colabora hoje no Cinco Dias, não exclui que seja assim, mas interessa-lhe mais realçar que se traduz num "mecanismo de desenvolvimento". E não lhe parece muito relevante saber se os portugueses criam muitos blogues por serem "pobrezinhos, solitários ou conservadores". Pacheco Pereira sublinha que "muitos blogues são muito maus, como não podia deixar de ser, porque reflectem o mundo cá fora que também não é brilhante", mas acredita que "o facto de haver milhares de pessoas em Portugal a ler e escrever blogues é um avanço no espaço público". Rui Tavares, que se revelou no desaparecido blogue colectivo Barnabé, não tem dúvidas de que a dimensão da blogosfera é positiva, e acha que o próprio discurso sobre o atraso português deve ser escrutinado, já que tem dúvidas de que se possa falar de um "atraso cultural". O que "talvez haja", diz, "é um atraso académico".
Para este colunista do PÚBLICO, a suposta "imobilidade" da sociedade portuguesa, e a sua alegada "mediocridade generalizada", são mitos que vêm do regime anterior, e que foram perpetuados pela geração que ascendeu ao poder após o 25 de Abril. Este retrato do país, considera, "não é um diagnóstico, é uma estratégia de defesa". Na sua opinião, a blogosfera apenas "revelou algo que já tinha condições para existir: um debate mais amplo e diverso, com mais qualidade e mais conhecimento, inclusive técnico e científico". A crescente presença de cientistas na blogosfera parece-lhe ser um sinal particularmente positivo: "Hoje, quando um tipo diz um disparate em biologia ou física, caem-lhe logo em cima".
Um dos mitos sobre a blogosfera é o de que esta só adquire a visibilidade que os jornais e a televisão lhe dão, e não teria grande influência real e directa na sociedade. A manifestação de cem mil porfessores em Lisboa, em grande medida organizada através de blogues, como, por exemplo, o Sala de Professores, parece desmentir este juízo.
Uma marca genética
Outro dos efeitos já observáveis da blogosfera foi a renovação do espectro de colunistas e cronistas nos jornais, com nomes como os de Rui Tavares, Pedro Mexia, Pedro Lomba, Ricardo Araújo Pereira ou, mais recentemente, João Miranda, do blogue Blasfémias, entre outros. Todos eles tinham já uma reputação firmada nos respectivos blogues quando chegaram aos jornais ou à televisão. Para Ivan Nunes, uma das coisas mais gratificantes desses primórdios da blogosfera nacional foi justamente a oportunidade de "descobrir gente da [sua] geração que praticamente não escrevia em lado nenhum".
Rui Tavares acha que esse boom inicial de blogues empenhados no comentário político se deveu, em parte, "à asfixia dos canais de opinião", com o pouco espaço disponível nos jornais dominado por um conjunto de comentadores muito próximos em termos geracionais, e quase sempre oriundos dos partidos políticos. "Muita gente", acredita, "começou a escrever na blogosfera porque não se sentia representada em nada do que lia".
Não sendo óbvio que a opinião publicada nos jornais por esses anos de 2002 e 2003 fosse maioritariamente de esquerda, não deixa de ser curioso que, desde o início e até hoje, a blogosfera mais marcadamente política tenha revelado "uma nítida sobre-representação da direita", para usar uma expressão de Ivan Nunes, que crê que essa tendência ainda hoje se mantém. Pedro Mexia subscreve o diagnóstico, e julga que, na origem, o fenómeno está ligado ao atentado às Torres Gémeas, em 2001. "Entre a queda do Muro de Berlim e o 11 de Setembro, não se sabia muito bem o que eram a esquerda e a direita", diz, mas "após o 11 de Setembro, houve uma repolitização evidente, para a qual a posterior guerra do Iraque também contribuiu".
Mexia, que mantém hoje blogue Estado Civil, chama também a atenção para o facto de partidos com pequena representação parlamentar, como o CDS ou o Bloco de Esquerda, estarem provavelmente mais representados na blogosfera do que o PS ou o PSD. E considera "um mistério" o aparente "desinteresse" do PCP: "Um blogue com gente nova do PC, não conheço nenhum".
Embora os mais antigos blogues portugueses datem ainda do final do século passado, foram espaços como a Coluna Infame, a partir do final de 2002, e o pouco posterior Blog de Esquerda, lançado por José Mário Silva e Manuel Deniz Silva, que vieram dar alguma visibilidade à blogosfera. Quando João Pereira Coutinho respondeu torto a um post de Daniel Oliveira, colocado no Blog de Esquerda, e Mexia e Lomba, achando que o seu companheiro tinha passado das marcas, decidiram acabar com o projecto comum, no dia 10 de Junho de 2002, a blogosfera já era algo suficientemente relevante para que José Manuel Fernandes celebrasse o requiem da Coluna Infame no editorial do PÚBLICO. Uma visibilidade que também ficava muito a dever-se ao facto de, cerca de um mês antes, Pacheco Pereira se ter tornado a primeira figura conhecida do grande público a lançar o seu próprio blogue, o Abrupto.
Apesar de existirem blogues sobre tudo e mais alguma coisa - do futebol à religião, da pornografia ao wrestling, do humor à mobilidade sustentada -, a visibilidade que o debate político e ideológico assumiu nos primórdios da blogosfera portuguesa é uma marca genética que ainda hoje se faz sentir. Quando se comenta a blogosfera, é quase sempre nessa blogosfera restrita - a do debate político e da discussão cultural - que se está pensar. De resto, política, cultura e humor andaram muitas vezes interligados nos mesmo blogues, como aconteceu e acontece, por exemplo, nos de Pedro Mexia.
Chegaram os Pinkerton
O crescimento exponencial da blogosfera foi-a transformando, também, de uma pequena cidade onde todos se conhecem e se cruzam na rua, numa grande metrópole, um pouco menos "cozy", para adoptar um termo usado por Pacheco Pereira num texto que suscitou muitos comentários. Já em 2004, este escrevia que "os amigos e conhecidos foram sucessivamente sendo substituídos por estranhos, os círculos de influência, que eram também de troca de reconhecimento, foram-se desagregando, e isso torna os blogues um meio mais duro, menos satisfatório em termos psicológicos". E concluía o autor que "a blogosfera é agora mais hostil do que cozy.".
Pedro Mexia concorda que "as pessoas eram poucas e conheciam-se mais", mas acha que "o ambiente nunca foi cozy", lembrando, com manifesto conhecimento de causa, que até os co-autores de um mesmo blogue se zangavam.
Ivan Nunes pensa que, nesses anos de formação da blogosfera, era possível, de facto, falar-se de uma "comunidade" em sentido mais restrito. "Criaram-se laços de amizade entre pessoas de orientação ideológica diferente", diz, acrescentando: "Sinto que pertenci a essa comunidade, embora outros a ela tenham pertencido de muito mais pleno direito do que eu". Não é por acaso que conjuga o verbo "pertencer" no passado, tendo em conta que continua activo na blogosfera, no Cinco Dias e no ex-Ivan Nunes. No entanto, até admite que hoje possa continuar a falar-se de "comunidade", mas restringida a um grupo de blogues "que se opõem e se citam reciprocamente". Está a pensar em "blogues políticos, que percebem que lhes é útil polemizar para suscitar audiências". Como exemplos, adianta o 31 da Armada, o Blasfémias, o Insurgente, o 5 Dias (onde ele próprio colabora), o Ladrões de Bicicletas ou o Arrastão.
Rui Tavares é o menos nostálgico desses tempos - muito próximos de nós, mas já um tanto míticos - em que a blogosfera seria uma espécie de reunião familiar alargada, à qual se admitia com gosto o primo que votava no partido errado ou gostava de livros e filmes duvidosos. O historiador e colunista do PÚBLICO acha que a blogosfera nunca foi especialmente acolhedora - "o Pacheco Pereira gostava era que ela fosse cozy para ele" - e acha que assim é que está bem. "Se fosse uma espécie de clube britânico, não tinha graça nenhuma", diz Tavares, que acha que aos blogues só não devem permitir-se "as calúnias e a falta de sentido de humor".
Pacheco Pereira recorre a analogias com o velho faroeste americano para caracterizar a blogosfera portuguesa e o modo como esta foi evoluindo. Acha que, entre os blogues com maior expressão, "existem várias tribos, e uma comunidade geral, uma "nação índia", com regras de sociabilidade mais ou menos comuns". Mas crê que se "passou de um ambiente "comunitário" primitivo para uma "luta de classes" agressiva, em grande parte", argumenta, "porque a blogosfera é um campo de recrutamento dos media tradicionais e os bens são escassos na opinião". E acrescenta que "já há tentativas de ganhar dinheiro, criando redes de blogues que se citam artificialmente uns aos outros para depois serem vendidas a algum operador que se pretenda instalar na blogosfera". Recuperando a metáfora inicial, resume: "Continua o far west, mas já chegaram as companhias ferroviárias e os Pinkerton". A recente transferência de muitos dos blogues mais conhecidos para a plataforma fornecida pelo Sapo, alguns deles a convite do próprio portal, parece dar-lhe razão.
Ao contrário de Ivan Nunes ou Mexia, Pacheco Pereira nunca se sentiu parte da comunidade bloguística. "O Abrupto dirige-se em primeiro lugar para fora da blogosfera", diz, "e é daí que vem a maioria dos seus leitores e, penso, a razão do seu sucesso consistente desde 2003". Algo que, afirma, "irrita muita gente, mas é indesmentível nos números".
Casanova e maradona
Os "números" são uma coisa que preocupa todos os bloggers, incluindo, garante Mexia, os que dizem que não lhes ligam nenhuma. Há diversas instituições que fornecem estatísticas relativas à blogosfera, recorrendo aos mais variados métodos e critérios. A popularidade dos blogues pode ser medida pelo número de vezes que alguém a ele acedeu, ou pelo número de páginas visitadas, ou pelo tempo médio que dura cada visita, ou ainda pela quantidade de links para um determinado blogue. Este último processo, utilizado pelo Technorati - que, já em 2007, afirmava rastrear mais de 112 milhões de blogues - propõe-se avaliar não tanto a popularidade, mas aquilo a que esta empresa chama a "autoridade" de um blogue. Isto dito em linguagem simples. O blogue Pastoral Portuguesa, cujo autor assina Rogério Casanova, oferece uma definição mais académica do termo "Technorati", recorrendo ao estilo das entradas de dicionário: "palavra derivada do calão Fenício para "mercador cujas bugigangas gozam de sucesso considerável entre os Hititas". Designa actualmente o instrumento utilizado para medir a relevância ontológica de um sujeito X, em relação a um padrão abstracto Z denominado, por convenção, "Pacheco Pereira"".
O poeta e cronista Manuel António Pina não tem dúvidas em sugerir este Pastoral Portuguesa como um dos mais recomendáveis blogues portugueses em actividade. E sabe do que fala, porque é um leitor infatigável da blogosfera. Já em 2003 afirmava, na Visão (esta e outras informações foram colhidas na muito útil cronologia comentada da blogosfera portuguesa que Leonel Vicente vem disponibilizando em "http://leonelvicente.jottit.com), que "a blogosfera é o lugar onde hoje melhor se escreve e se pensa em português".
Mexia e Ivan Nunes também apreciam o autor que se esconde sob o pseudónimo Rogério Casanova , mas, quando se lhes pergunta que talentos oculta a blogosfera que não tenham ainda "saltado" para os jornais, para a televisão, ou para as páginas de um livro, referem ambos o mesmo nome: alguém que se assina "maradona", assim mesmo, sem maiúscula inicial, e que alimenta o blogue A Causa foi Modificada.
E, como nota Ivan Nunes, há blogues que conseguiram atingir um estatuto de referência no interior da blogosfera, ainda antes de serem conhecidos fora dela. "Nunca esqueçamos", diz, "o Gato Fedorento, que foi um blogue antes de ser tudo o resto, e antes de eles imaginarem que podia ser tudo o resto, e ainda menos esqueçamos O Meu Pipi, que foi um fenómeno extraordinário". Este último, que ostentava uma assombrosa erudição em matéria de gíria aplicável aos órgãos e actividades sexuais, e que chegou mesmo à edição em livro, é ainda hoje um enigma por desvendar. A identidade do seu autor nunca foi revelada.
Apesar destes exemplos, Mexia e Ivan Nunes coincidem em sugerir que haverá apenas "uns cem blogues" que vale a pena ler. Mexia sublinha que o número é arbitrário e que é um modo de dizer que a blogosfera não é um viveiro de talentos ocultos. Rui Tavares, sem propriamente discordar, acha que há, ainda assim, bastantes autores talentosos a escrever em blogues, e nota que o panorama dos colunistas e comentadores que fizeram o seu nome nos jornais não é mais animador. "Se deixarmos ficar só os melhores, os que são bons e escrevem bem, temos o Pacheco Pereira, o Vasco Pulido Valente, o Manuel António Pina, o Ferreira Fernandes... quem mais?".

Tuesday, March 25, 2008

O Norte da Índia em 100 imagens

Quem estiver interessado em percorrer o Norte da Índia através das imagens que recolhi basta-lhe clicar numa destas três fotografias (das 115 que o slideshow mostra).









A angústia dos avançados do Sporting no momento do penálti

Como escreveu o Ricardo Araújo Pereira, um penálti a favor do Sporting é um castigo... contra o Sporting. Parabéns ao Vitória de Setúbal. E espero que a vingança venha na Taça de Portugal.

Monday, March 24, 2008

Pequenas vigarices que a ASAE não detecta

A ASAE continua a actuar, mesmo na quadra de Páscoa, sem olhar a quem. Continuem!
Pelo meu texto anterior talvez possam concluir que sou favorável ao encerramento das grandes superfícies ao domingo. Não é necessariamente verdade; simplesmente gosto que as leis sejam cumpridas. (Sobre a abertura das grandes superfícies ao domingo, em princípio sou favorável, pois o contrário parece-me anacrónico. Mas não faço disso um combate: há assuntos muito mais importantes e, de resto, é minha opinião que desde que o Carrefour voluntariamente saiu de Portugal deixou de haver grandes superfícies que valham mesmo a pena.)
No sábado de Páscoa desloquei-me ao Continente para comprar um folar. No folheto de propaganda vinham anunciados a 3,45€ o quilo. Ao chegar lá, encontro o sinal grande pendurado: “artigo de folheto: folar - 3,45€/kg”. Mesmo por baixo, todos os folares que encontro têm o mesmo preço: 2,24€. O seu peso não vem indicado em lado nenhum. Desconfiado, pego num e levo-o à frutaria para pedir que mo pesem. 400 g, têm aqueles folares. Não é preciso ter uma grande cabeça para concluir que o preço ao quilo daqueles folares é bem superior aos 3,45€ anunciados. Queixo-me na padaria; dizem-me que os folares àquele preço estavam a chegar; era uma questão de esperar um bocadinho. E acabaram por chegar, a 3,45€ o quilo, de tamanhos diferentes, com pesos diferentes e sempre indicados. A maior parte deles eram maiores e mais baratos que os outros sem peso indicado. Desapareceram rapidamente. E lá continuaram os folares que estavam antes: de 400 g, mas sem indicação do peso (só o preço e a data), vendidos a um preço bem superior. Mesmo por baixo do cartaz que indicava: “artigo de folheto: folar - 3,45€/kg”.

Sunday, March 23, 2008

O Tibete como pretexto

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Em Outubro do ano passado escrevi um post intitulado "Arma de arremesso de Bush ? " em que me interrogava sobre a condecoração dada pelo presidente americano ao Dalai Lama.
Toda esta trapalhada dos incidentes no Tibete vem confirmar os meus piores receios.
O candidato republicano, um homem musculado, só pode ser beneficiado se aumentarem as tensões em volta do principal concorrente económico da América.
A proximidade dos jogos olímpicos, cuidadosamente escolhida, proporciona também uma excelente oportunidade para impedir a China de brilhar.
Sendo o Tibete uma parte incontestada da RPC, que a comunidade internacional aceita sem reservas, como se esperava que as autoridades reagissem às destruições e agressões (pouco budistas) desencadeadas sem qualquer razão que as justifique neste momento ?
Será que se pretende inverter uma evolução do PC chinês, que todos reconhecem, no sentido de paulatinamente aliviar os entraves à liberdade civil dos chineses ?
Alguns chineses com quem tenho falado não menosprezam de forma alguma as transformações ocorridas nos últimos anos mas entre nós até há quem o faça.
No Público de hoje Jorge Almeida Fernandes escreve um texto sintomaticamente intitulado "A obsessão chinesa do caos". Presumo que o citado autor já deve ter governado vários estados com mais de mil milhões de habitantes e que, da sua larga experiência, já concluiu que a China não tem razões para tais receios. Este tipo de irresponsáveis, a que se juntam os nossos "budistas" de trazer por casa, está sempre pronto para mais uma campanha a favor dos perseguidos, especialmente se se encontram a milhares de quilómetros e estão na moda.

Jeremy Bentham, Miguel Veloso, e este implemento esférico que aqui temos


Ao minuto 60 da final da Taça da Liga deu-se um incidente curiosíssimo perto de uma das quinas da área do Vitória, envolvendo Abel, Izmailov, Miguel Veloso, e uma bola de futebol. Durou cerca de vinte segundos, e foi certamente contabilizado pelos estatísticos de serviço como “posse de bola” do Sporting. Isto é uma tremenda falsificação da realidade; para aquele lance ser considerado “posse de bola” do Sporting (e não, por hipótese, “posse de Sporting” pela bola) teria de haver uma redefinição radical do que se entende por “posse de bola”. É difícil reproduzir com precisão o que aconteceu sem o auxílio de diagramas, bonifrates, ou um quadro de Jackson Pollock, mas vou fazer o meu melhor, começando por declarar nos termos mais enfáticos que, dos quatro intervenientes na jogada, a bola e Miguel Veloso eram claramente os únicos com uma ideia mais ou menos definida sobre o que estava a acontecer.
O que aconteceu foi isto: no seguimento de um típico lance de ataque do Sporting - que esta época consiste em tentar transportar a bola até ao último terço do campo na vaga esperança de que algo misterioso e inefável aconteça - o Abel encontrou-se subitamente com a dita bola ao alcance do seu pé direito. Um imponderável destes exige uma resposta firme, e Abel tratou de afastar o problema dali o mais rapidamente possível, para se poder concentrar no seu trabalho: correr de um lado para o outro com um ar determinado, se possível obrigando um adversário a correr ao lado dele. As surpresas começaram aqui. A bola que Abel afastou com tanta diligência violou pelo menos sete princípios geométricos e chegou ao pé direito de Izmailov, talvez o imigrante de Leste com menos qualificações a residir em território nacional. Compreensivelmente alarmado, Izmailov correu na direcção da linha de meio-campo, tentando devolver algum equilíbrio euclidiano a uma situação insustentável. Quando viu que o caminho estava barrado, e que não tinha outra hipótese senão tentar fintar um adversário, entrou em pânico, rodopiou, fechou os olhos, e afugentou a bola na direcção geral da linha de fundo. Ora acontece que, neste breve interlúdio eslavo, o Abel tinha continuado a correr na mesma direcção, e a bola, dinamitando séculos de progresso na Física desde Newton, chegou-lhe outra vez aos pés. Sem tempo para raciocinar - a única forma de retirar algo positivo da sua pessoa durante um jogo é confiar apenas nas respostas da sua memória muscular - o Abel estendeu instintivamente a perna; a bola ricocheteou na sua chuteira e atravessou o que apenas posso descrever como seis pernas pertencentes a atletas do Vitória de Setúbal para chegar, inacreditavelmente sã e salva, às imediações de Miguel Veloso.
Miguel Veloso, não vale a pena dourar a pílula, está num horrendo momento de forma, e fez um péssimo jogo. (Passou de um jogador inquestionavelmente superior ao seu pai para um ao mesmo nível do meu pai). Mas continua a ser um dos poucos membros do plantel do Sporting (juntamente com o Moutinho, coitado) com a capacidade para assimilar a ideia de que, em qualquer situação de jogo, existem, no mínimo, duas ou três maneiras de prosseguir a jogada. E talvez o único (além do Moutinho, coitado) que não se importa de fazer pausas de micro-segundos para emitir desapaixonados juízos de valor sobre os trolhas que o rodeiam. Miguel Veloso levantou a cabeça, viu Abel e Izmailov teoricamente “desmarcados” e, leitor atento de Bentham que é, tomou a opção utilitarista (as consequências do acto sendo mais importantes que a sua natureza intrínseca, etc.): endossou-a ao adversário que considerou menos capaz de iniciar um contra-ataque perigoso (creio que foi o Auri, talvez o único jogador do Vitória que não seria titular de caras neste Sporting). Ao minuto 60 da final da Taça da Liga, em pleno lance de ataque do Sporting, a melhor hipótese de maximizar a felicidade geral da sua equipa era ceder a bola ao adversário menos talentoso. O passe Benthamista de Miguel Veloso arrancou-me o único aplauso da noite, e provou de uma vez por todas três verdades que deviam ser óbvias para todos os Sportinguistas para aí desde Setembro:
1. o Miguel Veloso é um bom jogador e um excelente filósofo;
2. o Universo é um lugar desolado;
3. um dia, mais tarde ou mais cedo, vamos todos morrer.

Não queria deixar de endereçar os meus sinceros parabéns ao Vitória Futebol Clube: são da segunda melhor margem do Tejo, praticam o segundo melhor futebol do país, e venceram com toda a justiça o segundo troféu mais inútil da temporada.

Páscoa Revolucionária em Curso

O “Épico Bíblico” é um gosto minoritário, mas permanente. Adquirido na infância, agarra-nos para a vida inteira; só os felizardos conseguem uma desintoxicação eficaz em adultos. Os junkies vão alimentando a obsessão e acabam por abandonar qualquer padrão qualitativo; nas quadras festivas, o menor vestígio televisivo de túnicas ou sandálias provoca salivação imediata.
Na posse desta informação, gerações de produtores dedicaram as suas carreiras a testar os limites do bom senso, e a tentar conceber um produto rigorosamente intragável. Os Dez Mandamentos, mini-série que a TVI transmitiu na Sexta-feira Santa, foi um esforço apreciável nesse sentido. Trabalhando sob a ilustre sombra de DeMille, os responsáveis não tiveram outro remédio senão descer a fasquia abaixo da crosta terrestre. O mercado foi vasculhado à procura dos piores actores disponíveis; estivadores desempregados encarregaram-se dos efeitos especiais; chimpanzés em cativeiro foram fechados numa cave com máquinas de escrever até produzirem um guião consensualmente lamentável. Nada foi deixado ao acaso. Ainda assim, é com prazer que anuncio o fracasso do projecto: cinco horas de sublime incompetência não foram suficientes para me fazer desligar o aparelho e abrir um livro. Ainda não foi desta que a televisão ganhou uma batalha comigo; eles são fracos, eu sou muito mais fraco.
Os rudimentos do enredo são estabelecidos logo de início, para benefício dos neófitos. O Faraó do Egipto e um grupo de trabalhadores hebraicos não-assalariados estão envolvidos numa feroz disputa laboral sobre a posse dos meios de produção. Não há solução à vista. O elenco é submetido a uma cuidadosa estenografia visual, para que ninguém se perca nas profundidades da trama: o Faraó e os seus sacerdotes parecem adeptos de futebol ingleses com os olhos besuntados de kohl; a princesa e as suas cortesãs são todas clones de Eva Longoria; as crianças egípcias foram repescadas de um teledisco perdido dos Soft Cell; os escravos hebraicos têm todo o aspecto de figurantes judeus a receber o salário mínimo; e o Moisés menos semita da história dos épicos bíblicos parece um oficial das SS depois de um dia cansativo no escritório. Devidamente identificados, os intervenientes lançam-se em complexas rondas negociais. Torna-se rapidamente aparente que Moisés não está nada contente com a situação. O seu semblante atormentado traduz empatia com a dor dos trabalhadores. Desencantado com o sisudo conforto do palácio, inicia uma escalada revolucionária, que culmina num gesto irreflectido, seguido de fuga e exílio.
A travessia do deserto é dura: Moisés perde o manto real, as peúgas reais, e o cromado teutónico. Quando finalmente chega ao oásis já ostenta a barba cuidadosamente aparada indicativa de semanas de privação; e já é tão incontornavelmente judeu que até se dá ao luxo de gracejar (o único gracejo voluntário ao longo de 360 minutos). A sua rotina de “Homem-atormentado-com-passado-misterioso” é um grande sucesso no oásis: meia-hora depois de ter chegado, já o patriarca local lhe está a oferecer a filha mais velha. Moisés casa-se, e pasta umas ovelhas, atormentadamente. Mas continua a não estar nada contente com a situação e, quando chega a noite, lança olhares misteriosos à montanha.
“Não subas à montanha! Está amaldiçoada!”, diz-lhe a esposa. Na sequência seguinte, evidentemente, Moisés sobe à montanha e entabula um frutuoso diálogo com um Efeito Especial. O Efeito Especial sussurra-lhe coisas, com rouquidão de linha erótica: “Pega no teu cajado, Moisés. Pega-lhe.” Moisés pega no cajado, atormentadamente.
É estabelecido que o Efeito Especial tem toda uma série de ideias sobre a disputa laboral no Egípcio, e que Moisés foi escolhido como seu porta-voz. Regressado ao palácio, Moisés inicia as negociações com exigências que fariam corar os mais arrojados líderes da CGTP. Implementando a estratégia delineada pelo Efeito Especial, promete represálias apocalípticas: em vez de protestos e paralisações gerais, o patronato pode esperar olhares atormentados e fenómenos atmosféricos. O Faraó, envergando mais quilos de maquilhagem do que todas as Evas Longorias do palácio, limita-se a abanar a cabeça: “Que Efeito Especial é esse de que falas? Onde é que ele está?”. Moisés fita-o em silêncio, atormentadamente.
As negociações prosseguem, sem grandes cedências de parte a parte. “Queremos ouro e prata” exige o representante Moisés. “Queremos cabras”, “queremos leite”, “queremos chicotadas indexadas à inflacção”. Entretanto, a água transforma-se em sangria, há insectos por todos os lados, e um fogo-de-artifício corre espectacularmente mal; são as pragas do Efeito Especial, mas podia perfeitamente ser a descrição de uma viagem de finalistas a Loretta del Mar. Quando o Faraó dá finalmente o seu consentimento à emancipação do problemático bando de proletários, o espectador já não consegue disfarçar uma certa simpatia com o patronato. A velocidade com que a plebe segue Moisés a caminho do deserto deixa a dúvida no ar: será que se pisgaram com a cutelaria?
A viagem para a Terra Prometida é longa e árdua, e os proletários não param de azucrinar um Moisés cada vez mais impaciente com perguntinhas infantis (“Where are you leading us?”, “How will we survive?”, “Are we there yet? Are we there yet?”). A intervalos regulares, para manter a ordem entre a ralé, Moisés é forçado a pegar no seu cajado, atormentadamente, e a transformar petróleo em água.
Entretanto, no Egipto, o patronato dá pela falta do serviço de jantar e lança-se numa louca perseguição pelo deserto, culminando numa insólita competição de mergulho no Mar dos Papiros (os proletários ganham por voto unânime do júri).
Os anos passam, a Terra Prometida não se materializa, e Moisés tem cada vez mais dificuldades em manter o proletariado sob controlo: à mínima distracção sua, desatam a idolatrar gado caprino. O que fazer? Depois de uma longa ausência, o Efeito Especial regressa, envergando a sua sensual voz de gripe: “Do you remember me, Moses? Do you recognize my voice? Can you guess what I'm wearing?” Uma última reunião de trabalho é convocada, mais uma vez no topo da montanha. O Efeito Especial substitui o antigo código de trabalho por dez resplandecentes alíneas, novinhas em folha. Lá em baixo, em ambiente festivo, os proletários desobedecem alegremente a todas elas. O Efeito Especial ordena a punição dos infractores através de um processo disciplinar conhecido como “chacina”. Os anos passam. Moisés envelhece, atormentadamente. Nos seus últimos dias, é-lhe concedida a oportunidade de vislumbrar a Terra Prometida: uns patéticos hectares de terra, repletos de vegetação rasteira e membros do Hezbollah. Rolam os créditos.
Já só faltam nove meses para o Natal.

Próximos ciclos de cinema ali na Barata Salgueiro

«Ninfetas e tusa metafísica: de Sue Lyon a Natalie Portman.»

«Gajas: o que é que elas querem, e porque é que não o dizem logo? Uma retrospectiva freudiana.»

«'Este filme não é sobre mim': um ciclo de cinema faux-confessional.»

«'Este filme não é sobre ti': um ciclo de cinema com faux-dedicatória (para C., M. e R.).»

«Bob Dylan: esse desconhecido.»

Tiveram saudades minhas?

Eu tive tantas saudades vossas.

Friday, March 21, 2008

O que ficou da Índia


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Cheguei da Índia afectado pelos exageros do ar condicionado, que era forçado a alternar com o calor dos locais visitados onde era comum a poeirada e os fumos de pequenas fogueiras feitas com lixo. Quase toda a gente no meu grupo foi atingido, de uma forma ou de outra, por tosses e entupimentos respiratórios vários.

Agora que está na hora de encerrar este capítulo apetece, como sempre, o brilharete de uma síntese. Só que a Índia não é país para sínteses; é ao mesmo tempo exótico e familiar, uma espécie de matriz de onde viemos mas que hoje nos surpreende.

Confesso que me surpreendeu o "atraso" da Índia; não pode ambicionar grandes voos um país onde vacas e outras alimárias se passeiam pelas vias do tráfego (realizando o sonho da nossa ACAM), onde há esquinas de lixo a céu aberto, onde a religião impregna o dia-a-dia em vez de ser uma luz orientadora do destino.

A presença do islamismo, embora minoritária, é aliás uma fonte de tensão que se sente claramente. Pareceu-me que a influência cultural dos muçulmanos é maior do que os 15% que as estatísticas lhes atribuem.

Os invasores muçulmanos vindos do Afeganistão no século XVI dominaram a Índia, e a sua cultura milenar, até à chegada dos ingleses no século XIX. Ainda recentemente eu havia referido Akbar, o maior dos imperadores, sem saber que viria agora a estar no que resta dos seus palácios. Esse domínio deixou marcas profundas.

Os monumentos desse perído, fabulosos, estão em certos casos tão mal mantidos que emboram tenham poucas centenas de anos paracem muito mais arcaicos. Os monumentos hindus, muito mais antigos têm um encanto muito especial (As colunas de Qutub Minar, e os templos de Khajurao, por exemplo).

As infraestruturas são muito deficientes e limitam as possiblidades do turismo. É penoso gastar um dia inteiro para fazer um percurso de 300 km por estrada. O aeroporto de Delhi, onde aterrei uma vez e levantei duas vezes, é um caso sério de desorganização e de confusão. No regresso a Lisboa cheguei ao aeroporto às 23 para poder embarcar às três e meia da manhã.

Eu sei que há pólos de excelência, realizações importantes no plano tecnológico mas, pelo que observei em cerca de mil quilómetros de estrada, isso constitui uma gota num enorme oceano. Grande parte da população dedica-se à agricultura e há também centenas de milhões de pequeníssimos comerciantes.




Nas ruelas, à beira das estradas, por todo o lado estes pequeníssimos comerciantes encontram "loja" nem que seja um metro quadrado de solo. Este imenso bazar, que segue o padrão que também encontramos no magrebe, distingue-se pela sua esmagadora dimensão.
Se é verdade que nas imediações das atracções turísticas esses comerciantes terão possibilidade de fazer excelentes negócios já ao longo do país remoto, em pequeníssimas vilórias, não compreendo como pode ser rentável esta extensíssima rede comercial. Deve ser a minha noção de rentabilidade que não se aplica no caso em apreço.

Em conclusão e finalmente em síntese; eu consigo imaginar a China sem miséria daqui a 20 anos. A Índia não.

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Wednesday, March 19, 2008

Camacho

Volta a estar na ordem do dia a questão do treinador do Benfica, depois da demissão de Camacho. Deve Chalana ficar até ao fim da época?
Não sou benfiquista e nem tenho nada a ver com isso, mas não posso deixar de criticar entretanto a atitude do treinador espanhol, análoga à de Octávio Machado há dez anos no Sporting: sair precipitadamente, numa fase crucial da época. No caso de Camacho, essa atitude é reincidente: já a tinha tomado no Real Madrid. Não creio que seja bom para a sua imagem enquanto treinador: revela que não sabe lidar com a pressão e falha enquanto líder. Se não conseguia motivar os seus jogadores, a culpa também é sua. Não há como negá-lo: ao sair da forma que saiu, Camacho falhou no Benfica. Teve medo de perder. E quem tem medo de perder nunca pode ganhar. De facto, a única coisa que Camacho ganhou até hoje, enquanto treinador, foi uma Taça de Portugal...
Da minha parte, quero que o Sporting fique com o Paulko Bento pelo menos até ao fim da época. Felizmente isso não parece estar em causa.

Tuesday, March 18, 2008

Mais Delanoe em Paris


Paris continua à gauche. E bem: embora eu só lá tenha vivido com Bertrand Delanoe como maire, pareceu-me uma cidade muito bem administrada. Delanoe é um exemplo para outros presidentes de câmara da Europa. Se se confirmarem os prognósticos, tem condições de ser o futuro líder do PS francês.
Destaque ainda para a eleição do português Hermano Ruivo, fundador da Cap Magellan, nas listas do PS, no "meu" XIVème arrondissement.

Monday, March 17, 2008

Trinta anos a ser sustentado por todos os portugueses


A receber o que Alberto João Jardim todos os anos recebe do "continente", qualquer um teria a "obra feita" (que eu admito que ele tenha). O que nem toda a gente faria era manter um controlo policial sobre a ilha, controlar a imprensa, pagar a colunistas e manter sob seu controlo (como empregador) um quarto da população. Mas parece que agora já não lhe chega o subsídio: quer mais dois mil euros do Daniel Oliveira (fora os juros) a título pessoal.

Sunday, March 16, 2008

As Quatro Nobres Verdades (em triplicado, e com carimbo, e entregues no gabinete do 2º andar, depois de tirar senha)

«The China Buddhist Association will issue living-Buddha permits. When the reincarnated living Buddha has been installed, the management at his monastery shall submit a training plan to the local Buddhist Association, which shall report to the provincial people's government for approval. Living Buddhas that have historically been recognized by drawing lots from the golden urn shall have their reincarnated soul-children recognized by drawing lots from the golden urn. Requests not to use the golden urn shall be reported by the provincial people's government to the State Administration of Religious Affairs for approval.
Once a reincarnated living Buddha soul-child has been recognized, it shall be reported to the provincial people's government for approval; those with a great impact shall be reported to the State Administration of Religious Affairs for approval; those with a particularly great impact shall be reported to the State Council for Approval. When there is debate over the size of a living Buddha's impact, the China Buddhist Association shall officiate.
Reincarnated living Buddhas may not reestablish feudal privileges that have already been abolished.
Applicants to be reincarnated living Buddhas may not be reincarnated if the provincial people's government does not allow reincarnations.
»

(De uma ordem emitida pelo Gabinete de Assuntos Religiosos do governo chinês, e traduzida na última Harper's. Provavelmente o mais fascinante exemplo de burocratização do misticismo que tive a oportunidade de ler neste meu presente ciclo kármico.)

A PT anda a brincar com a vida das pessoas

Isto pode parecer um post sobre este post, mas na verdade é um post sobre o efeito extraordinário que a falta de internet tem sobre a memória. Uma das primeiras coisas que li do Mexia - e isto deve ter sido para aí em 1993 - foi precisamente um contarelo: chamava-se «There is a Light That Never Goes Out». Havia alguém que pedia trocos numa lavandaria; aludia-se a um baile de finalistas; e duas personagens, salvo erro, rodopiavam mesmo nos calcanhares.
Uma semana e um dia sem internet em casa. Além de coisas que li no DN Jovem há quinze anos, também dei comigo a recordar nomes completos de jogadores do Sporting da década de noventa. Lembrei-me finalmente onde é que escondi um baralho de cartas eróticas que o meu primo Jorge me deu em 1995 (tem estado debaixo da caixa do Monopólio estes anos todos). Hoje de manhã limpei o exaustor duas vezes, construí um castelo com cotonetes e cola UHU, e li a Harper's de uma ponta à outra.

Saturday, March 15, 2008

Homenagem às mulheres indianas

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Como bom turista lá fui ver o maravilhoso Taj Mahal. Na verdade vi-o ao pôr do Sol, do outro lado do rio e depois ao nascer do Sol.

Na fase das fotografias para a posteridade dei com um grupo de jovens americanos que saltavam como possessos para tentar aparecer nas fotografias por cima do Taj Mahal. Enfim uma cena pouco edificante.

O Taj é sem dúvida um maravilha de equilíbrio e imponência.

Uma outra maravilha da Índia, que não posso calar, são as mulheres.

Trabalham como "moiras" mesmo quando são hindus mas os seus esvoaçantes saris têm sempre uma infinita elegância, quer trabalhem no campo, ou nas obras, ou noutra coisa qualquer.

Numa terra em tantos aspectos caótica e degradada as mulheres são um oásis de beleza e de serena força. Todas elas mereciam também um Taj Mahal.


Friday, March 14, 2008

NVIDIA graphics driver

Era esse o nome do problema.
Desde há mais de uma semana o meu computador estava instável. Cada vez que eu queria ver um vídeo ele entrava em pane e tinha que ser reinicializado. Apercebi-me de que o problema deveria ser uma driver. Fiz todo o tipo de troubleshooting do Windows. Nada. O problema continuava. Cada vez que eu entrava inadvertidamente numa página com vídeo (como acontece com A Bola, por exemplo) o computador entrava em pane e eu tinha que o reinicializar.
Decidi então reinstalar algum software. Primeiro o Windows Media Player (com os codecs todos). Depois o Internet Explorer. O problema melhorou: em vez de o computador entrar em pane, reinicializou-se automaticamente. Por isso, a análise ao sistema após a reinicialização detectou aquilo que todos os troubleshootings que eu fizera não foram capazes. O problema era este. E a solução era reinstalar a driver.
Moral da história: quando o computador entra em pane, é preferível se ele se reinicializar sozinho. Se o tivermos que reinicializar nós, podemos ter problemas.

Thursday, March 13, 2008

Khajurao, a veneração do sexo

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No caminho de Varanasi para Agra fiz uma paragem em Khajurao.
Nesta pequena cidade encontra-se um conjunto de monumentos muito especiais, classificados pela UNESCO como património da humanidade, construídos entre o século IX e o século XI.
Ricamente trabalhados em calcário têm vindo a desaparecer com a passagem do tempo mas ainda lá se podem ver interessante estatuária sobre as virtualidades do sexo. Aqui fica uma das muitas imagens que recolhi no local.

Não há pachorra para as redes sociais

Refiro-me a coisas como o hi5, o Zorpia, o Plaxo, o Star Tracker... Tenho uma conta neles todos e nunca a uso. As desvantagens da diversidade vêem-se aqui: não seria muito melhor uma “concentração de redes”?
Cada amigo meu tem uma rede diferente, e cada um convida-me a pertencer a uma rede diferente. Uma amiga minha, então, pertence às redes todas, e manda-me sempre convites que eu vou aceitando, algo acriticamente, para nunca mais lhes ligar.
Tirando o hi5 (uma rede “social” para adolescentes), as outras redes têm como objectivo ter contactos, e manter os contactos actualizados, algo importante num mundo onde as pessoas vivem em mutação constante. Se eu mudar a minha morada, telefone, emprego, em vez de contactar todos os meus amigos e conhecidos, altero os meus dados no meu perfil na rede, sem dar trabalho nenhum aos meus amigos, que no máximo (se quiserem) receberão a informação num email. Está sempre tudo disponível na rede. Cada pessoa trata assim dos seus dados e corrige-os nas “agendas” dos outros. É simples. O complicado é ter que fazer alterações destas em todas as redes!
Decidi portanto só tomar a sério as redes onde encontro a maioria dos meus amigos e conhecidos. E são duas: o LinkedIn, altamente profissional, e o Facebook, bem mais informal (uma versão um pouquinho menos infanto-juvenil do hi5). Porquê o Facebook? Porque por alguma razão encontro lá montes de colegas meus, físicos teóricos, que se inscreveram lá independentemente (recebi o convite de um).

Wednesday, March 12, 2008

Bilbau, cidade de arquitectura (conclusão)


Bilbau tem uma ponte pedonal que é uma miniatura da Gare do Oriente de Lisboa. Para reforçar a comparação que atrás fiz entre Bilbau e Nova Iorque falta um análogo da Ponte de Brooklyn. Esse análogo é esta ponte de Santiago Calatrava. Também o terminal do aeroporto é da autoria do arquitecto valenciano. Todo o trabalho de Calatrava é facilmente identificável e muito do meu agrado. Lisboa deveria orgulhar-se da Gare do Oriente, que é uma beleza. Talvez não seja muito prática para apanhar o comboio, mas para isso temos a velhinha Santa Apolónia, que agora até tem metro... A avaliar pelas amostras de Bilbau, gosto do Gehry mas prefiro o Calatrava.

Tuesday, March 11, 2008

Varanasi, a antiquíssima



Ontem à noite em Varanasi vi o maior caos de tráfego a que já me foi dado assistir em dias da minha vida. Burros, vacas, padiolas, riquexós, lambretas, automóveis e bicicletas aos milhares.
O que me perturba é pensar que este formigueiro se estende, neste país, a outras mil milhões de pessoas (um número que continua a crescer).

De barco percorri as margens do ganges, à noite e de madrugada, e presenciei as cremações como todo o bom turista. Confesso que os rituais funerários que vi no Nepal me impressionaram mais.

Em Varanasi estes cultos são antiquíssimos e o local é habitado há mais de três mil anos. O tempo aqui pesa.

Passámos num templo lindíssimo que está paredes meias com uma mesquita, acrescento colonialista posterior, que tem dado origem a muitos conflitos com os muculmanos. Havia tropa por todo o lado.

Hoje sigo para Khajurao.

Já ando a fazer riscos na parede

Quarto dia seguido sem internet em casa. Tenho dado voltas à cabeça a tentar recordar em que é que consistia a minha rotina diária antes da internet me chegar a casa; recuperei umas nebulosas memórias de jornais, matraquilhos e psicanálise, mas pouco mais. A única coisa que sei é que já memorizei o teletexto da RTP e isso não pode ser bom para ninguém.

Quando for grande quero ser Ben Marcus

De vez em quando (de três em três anos, se tivermos sorte) descobre-se um escritor que nos proporciona a oportunidade para sermos histéricos e perdermos todo e qualquer sentido das proporções. Ben Marcus - e vai ser esta a minha posição oficial durante os próximos tempos - representa o maior salto evolutivo da Humanidade desde a contratação do polegar oponível.

Monday, March 10, 2008

Rogério Ribeiro (1930-2008)


Até amanhã, camarada.

A Sexta e o Dia da Mulher

Considero o semanário Sexta a melhor publicação gratuita portuguesa (e uma interessantíssima leitura, qualquer que fosse o seu preço). Por isso aborrece-me vê-la transformada num encarte publicitário a propósito do Dia da Mulher. Ler mais no Cinco Dias em dois textos (aqui e aqui).

Fazer política "à vista" dos Himalaias


A um mês da votação que vai ditar o futuro da monarquia no Nepal pode dizer-se que os maoistas (ex-guerrilheiros) ganham de longe a guerra das pichagens em Katmandu.
Não consigo perceber se tal se deve apenas a uma grande militância, do tipo daquela que fazia o MRPP parecer um vencedor provável de todas as eleições.
Também ainda não consegui perceber se estes maoistas têm alguma relação umbilical com a China actual.

Hoje tive oportunidade de visitar uma zona rural, a 2000 metros de altitude, onde fui deparar com três aguerridos jovens que, de megafone em punho, tentavam ganhar os camponeses para a votação.

Não sei se tiveram sucesso mas a verdade é que encontrei o seu calendário em casas modestas e em pequenas tascas à beira do caminho.



P.S. Acabo de ver na BBC Internacional que os tibetanos se estão a levantar contra a China e que terá havido disturbios e confrontos com a polícia em Katmandu. Eu não dei por nada.

Katmandu, 10.03.2008

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Sunday, March 9, 2008

Telefoneless

Desde a manhã de ontem que a internet não acontece em minha casa. Após um colérico pedido de satisfações às pessoas responsáveis pela internet que me costuma acontecer em casa, fui informado de que o telefone também não está a acontecer em minha casa, e que acontecer telefone é um pré-requisito para acontecer internet. Perguntei ao meu interlocutor se ele não achava um pouco estranho que o telefone se recuse a acontecer na minha casa, uma vez que o meu dinheiro continua a acontecer mensalmente no sítio do telefone. O problema, afinal, era outro. Aparentemente, o sítio de Fernão Ferro onde o telefone recebe as suas instruções para acontecer na minha casa foi vandalizado na madrugada de Sábado por indivíduos que não gostam que o telefone e a internet aconteçam nas casas das pessoas. Estes indivíduos são conhecidos como Luditas (ou, em inglês, "unwashed acoustic hippie scum"). Espera-se que a situação seja regularizada amanhã.
Entretanto vim até ao Rio Sul do Fogueteiro, onde, para meu espanto, há zonas em que a internet acontece sem telefone. Perguntei a um indivíduo com aquele ar extraordinariamente bem-informado conferido pela combinação "óculos/barba/t-shirt dos Kraftwerk" qual era a explicação para este milagre, e ele disse-me que há sítios onde a internet acontece no ar. «No ar? Mas no ar normal?» «Não, no ar normal não funciona. Tem de ser um ar tratado. Mas se o ar for bem tratado, a internet acontece independentemente do acontecimento do telefone».
Não costumo levar este tipo de balela mística a sério, mas o indivíduo disse a verdade: este é o primeiro post do Pastoral Portuguesa escrito no meio do ar. Gostava de ter aproveitado melhor a ocasião, mas isto sem o sofá não é a mesma coisa.

Katmandu, Nepal



Cheguei ontem a este simpático (e pobre) país que está há algum tempo a tentar acabar com uma monarquia bastante odiada.

Pelo que me disseram haverá uma votação de tipo constitucional dentro de um mês para decidir mandar embora o rei que, neste momento, tem um poder muito limitado.
Nas ruas já se notam e vêem as campanhas que incluem um Partido Comunista, os guerrilheiros maoistas, socialistas, e um Partido do Congresso à semelhança do indiano.

O Nepal está entalado entre a Índia e a China e sofre óbvia influência dos dois.

A pobreza é de tal ordem que têm que desligar o fornecimento de luz à população durante 8 horas diárias.

Não tenho tempo para as montanhas e por isso ficarei pelas cidades e pelos espantosos monumentos e praças "medievais".

Até depois...

Friday, March 7, 2008

Delhi_catessen



Cá estou eu em Delhi. A viagem de avião foi relativamente pacífica e não foi demasiado cansativa.

A cidade tem alguns monumentos notáveis com destaque, em minha opinião, para o recinto do Qutub Minar.
Mas o que deu mais gozo foi o passeio em riquexó por dentro do bairro muçulmano da velha Delhi. Uma viagem estonteante por dentro de um labirinto.

Delhi é enorme (14 milhões) e o trânsito não dá para explicar.
Acho que devíamos usar Delhi para a "formação" de duas entidades:

ASAE - Os agentes só deviam ser lançados em Portugal depois de um estágio a controlar o comércio e os restaurantes em Delhi
ACAM - Os fundamentalistas da estrada deviam ser amarrados dentro de um taxi em Delhi até jurarem não mais importunar os condutores portugueses.

É o meu primeiro dia na Índia mas já cheguei a uma conclusão: quando se mistura a China e Índia como países emergentes está a falar-se de duas realidades muito diferentes, tanto do ponto de vista económico como do ponto de vista cultural. A explicação fica para depois.

Por que gosto de Zapatero

Thursday, March 6, 2008

Wednesday, March 5, 2008

As coisas: como elas são e quando acontecem

Os blogues do Tiago Cavaco e do Alexandre Andrade comemoraram aniversários, o Real Madrid foi eliminado da Liga dos Campeões, o preço da maionese aumentou, o Andrew Sullivan está a hiperventilar por causa dos Clinton, e o Vasco Barreto acabou com o Memória Inventada.
São coisas que acontecem todos os anos - umas boas, outras não - mas uma pessoa nunca se habitua, nunca está preparada.
Não ando a dormir nada, espero que não se note muito.

A foto da redacção do Público

O jornal onde trabalhei no verão de 2006 faz hoje 18 anos. Para comemorar tem uma edição especial dirigida por Pacheco Pereira.
No suplemento P2 (que hoje está indisponível na rede), existe uma fotografia com a equipa de Lisboa (e outra com a do Porto). Nessa fotografia, o indivíduo com ar de mendigo, no canto superior direito... é mesmo um mendigo. Que pode ser visto, todos os dias, a qualquer hora, na Rua Viriato, à volta da sede do jornal (onde a foto foi tirada). Já por lá andava quando lá estive, a ver quem entrava e quem saía (e eu confesso que não gostava da forma como ele olhava para a minha bicicleta). Quis fazer parte da fotografia colectiva da equipa e conseguiu. No fundo tem uma posição mais estável que muitos jornalistas...

Sergei Prokofiev


Faz hoje exactamente 55 anos que morreu um dos compositores de que mais gosto. No mesmo dia morreu Stalin.
Aqui fica a espantosa energia de Sviatoslav Richter tocando a Sonata No. 6.





As férias da Esperança

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Tuesday, March 4, 2008

Sem comentários


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Chavez, durante o seu interminável programa televisionado "alô presidente", ordena ao seu ministro da defesa "mueva-me diez batallones a la frontera de colombia". O ministro levanta-se e acena com a cabeça, obediente, como se o tivessem mandado comprar um maço de cigarros.
Tudo decorre num ambiente que mistura os Gato Fedorento com a Igreja Universal do Reino de Deus. A plateia, quase toda trajando de vermelho, aplaude de vez em quando seja o que for.

E fico-me por aqui por receio de perder as estribeiras.

Monday, March 3, 2008

Após o dérbi















Algumas notas:

- o “espectador talismã” que eu era desta vez não funcionou... A tradição de que sempre que eu ia ao Alvalade XXI o Sporting ganhava não se cumpriu. Mas também creio não se ter cumprido outra (que não sei precisar tão bem se é verídica, pois vem de tempos mais remotos, do velho estádio de Alvalade), bem mais desagradável: sempre que eu assisto ao vivo a um Sporting-Benfica, o Benfica ganha. A última vez foi a final da taça de Portugal, com o very-light;
- falando em “very-light”, muitos objectos estranhos foram arremessados ontem ao relvado, por ambas as claques, durante o jogo. Os Diabos Vermelhos não cumpriram o minuto de silêncio dedicado a Cabral Ferreira. Adeptos da Juventude Leonina apedrejaram as claques do Benfica, quando estgas chegaram. A isso se deveu o ambiente nas imediações do estádio, quando eu cheguei: parecia que estava no meio de um arrastão de adeptos do Sporting, a serem perseguidos pela polícia;
- pelo que eu descrevo, houve um ambiente de ódio no jogo entre o Sporting e o Benfica, que passou de fora para dentro do estádio, com as claques a provocarem-se mutuamente através das suas palavras de ordem (por vezes mais preocupadas com isso do que com apoiarem as respectivas equipas). Não foi muito agradável. Por comparação, o Sporting-Porto a que assisti em Janeiro foi muitíssimo mais tranquilo, sem incidentes nem provocações. Só por curiosidade, e para desempatar, gostaria de saber como é um Benfica-Porto;quanto ao jogo em si, quem o viu tem que aceitar o resultado. Ficou um penalti por marcar, pois ficou, mas com a eficácia que o Sporting tem tido a converter penaltis esta época isso quer dizer muito pouco. Houve momentos em que o Sporting foi melhor, mas o Benfica conseguiu reequilibrar e, até ficar em inferioridade numérica, estava a ganhar a batalha a meio-campo. Aguardo pela desforra nas meias finais da Taça: o sorteio foi mesmo o que eu queria! Espero por mais uma final Sporting-Setúbal (para mais outra desforra).

Blogspoticamente vosso

«The poet Glyn Maxwell likes to conduct the following test in his writing classes, one apparently used by Auden. He gives them Philip Larkin's poem 'The Whitsun Weddings', with certain words blacked out. He tells them what kind of words - nouns, verbs, adjectives - have been omitted, and how they complete the metre of the line. The aspiring poets must try to fill the blanks. Larkin is travelling by train from the north of England to London, and as he watches from the window, he records passing sights. One of these is a hothouse, which he renders: 'A hothouse flashed uniquely.' Maxwell excises 'uniquely', telling his students that a trisyllabic adverb is missing. Not once has a student supplied 'uniquely'..»

- James Wood, How Fiction Works

(Não sei o que é que será mais surpreendente nesta história: o facto de haver jovens aspirantes a poetas que não conheçam o 'The Whitsun Weddings', ou o facto de autorizarem um poeta a dar aulas. Há alguém que não goste de advérbios de modo? Infelizmente há. Há uma certa escola de composição literária que tem horror ao advérbio de modo. É composta, maioritariamente, pelas mesmas pessoas que têm horror ao ponto-e-vírgula, ao Sporting, à civilização, aos animaizinhos fofos do bosque. São pessoas muito más. A verdade é que não há nada de errado com advérbios de modo, desde que sejam bem utilizados. Frank Kermode, um homem que podia facilmente ser meu amigo se me conhecesse, explicou isto muito bem. neste texto sobre Martin Amis. Qualquer pessoa que dê pontapézinhos em Don DeLillo podia facilmente ser meu amigo:

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An especially favoured site of cliché infection is the adverb. When Don DeLillo has a character say something ‘quietly’ you know he’s drawing on a long tradition of ‘said quietly’ as a conventional announcement that the remark it follows should be taken as particularly impressive. Ordinary reviewers, and even this extraordinary reviewer, cannot manage without the likes of ‘genuinely pleased’ or ‘brilliantly realised’, ‘brilliantly told’. These are rare instances of Amis himself catching a dose of the disease, and, like much of his rather less brilliant writing, they tend to occur in essays on the authors he most respects, in this case V.S. Naipaul.
Normally he protects his health and virtue by ranging as far as possible from adverbial conventionality. I made a list of recherché adverbs, of which this is a selection: ‘beamingly upbeat’, ‘lurchingly written’, ‘deeply unshocked’, ‘embarrassingly good’, ‘tremendously unrelaxed’, ‘fruitfully uneasy’ (Pritchett), ‘pitifully denuded’ (admittedly apt, for a Leavisian bookshelf), ‘janglingly discursive’, ‘remorselessly indulgent’, ‘scarily illusionless’, ‘hugely charmless’, ‘promiscuously absorbed’, ‘customarily rotted’, ‘chortlingly habituate’, ‘finessingly cruel’, ‘implacably talented’, ‘bicker halitotically’.
The great thing about these expressions is that the author can be fairly sure they will never be used again, much less become new enemies of clear thought and virtue.
»

Bom, a votação ali de baixo foi adulterada por pessoas ligadas ao Sapo, numa manifestação de despudor anti-democrático que me deixou boquiaberto. O Sapo não quis deixar o povo decidir. Eu registo. O número de pessoas que suspira quando pensa neste blogue é também consideravelmente menor do que eu julgava. Eu registo. O novo livro de James Wood já está disponível na FNAC do Chiado (em capa mole, não percebo), por dezasseis euros, permitindo que a população lisboeta se torne finalmente tão chata quanto eu. Aquilo era penalty. Aquilo nem sequer era canto. Estou muito desencantado com toda uma série de coisas.)

O pedido de demissão de Sócrates está na ordem do dia

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O país assiste atónito ao afundamento da primeira maioria absoluta do Partido Socialista, apesar de na campanha eleitoral em 2005 Sócrates ter pedido a maioria absoluta como uma espécie de seguro contra a incerteza.

Passados três anos o PS não tem qualquer rival partidário que o atormente mas todos temos a sensação de que a sua capacidade para governar nos moldes que tinha anunciado é cada vez mais titubeante.
O ministro da saúde já foi despedido, sob um paradoxal coro de elogios à sua competência, e a ministra da educação vai segui-lo a muito curto prazo apesar de ser outro dos membros do governo que parece saber para onde quer ir.

O governo está cada vez mais enredado e manietado por forças contrárias que desafiam o conceito de democracia tradicional, talvez porque a maioria absoluta não dá muitas hipóteses à luta partidária convencional. Sucedem-se as campanhas mediáticas, as providências cautelares, os pedidos de demissão, as manifestações e as greves com laivos de desobediência civil.

Se isto fossem expressões genuínas de grandes massas do povo talvez tivéssemos razões para nos congratular mas as sondagens aí estão para nos mostrar que o governo continua a gozar de grande popularidade e, mais importante ainda, que a população não descortina qualquer alternativa credível no panorama partidário. Se todo este ruído é apenas a expressão de particularismos, jogos de interesses corporativos e aproveitamentos demagógicos, então talvez tenhamos boas razões para temer pelo futuro da nossa democracia.

Se aqueles que moram nos arredores de um SAP que se decidiu encerrar, ou os professores que não admitem ser avaliados, desfilando nas ruas, têm o poder de correr com os ministros de um governo que tem maioria na Assembleia da República, então o cidadão votante interrogar-se-á sobre a utilidade de visitar as urnas de quatro em quatro anos. Ninguém parece saber muito bem como gerir este equilíbrio entre a "legitimidade democrática" e os descontentamentos, quantas vezes desproporcionados, de grupos sociais que têm um enorme poder funcional. Em termos de crise de funcionamento da democracia é indiferente saber se a razão está do lado do governo ou de quem protesta nas ruas.

Neste quadro é legítimo desenvolver a seguinte antevisão para o período que nos separa das próximas eleições em 2009:

- as reformas desencadeadas pelo governo encontram cada vez mais obstáculos da parte daqueles que se consideram lesados (quaisquer que sejam as medidas que se tomem haverá sempre quem legitimamente possa invocar prejuízos)

- os ministros vão sendo substituídos por versões light que, de cedência em cedência, desbaratam o próprio sucesso obtido ao nível das contas públicas

- o PSD e o CDS, que actualmente são a principal fonte do anedotário nacional, bebem novo folego nos recuos do governo e renovam-se para as eleições.

- o PCP e o BE, que podem reclamar a parte de leão nas derrotas de Sócrates, vão para as eleições de 2009 em condições de roubar uma parte importante do eleitorado da esquerda do PS.
- as forças centrífugas no interior do PS, com destaque para Manuel Alegre, são aceleradas com efeitos imprevisíveis.

Quem olhe para esta descrição não poderá estranhar que Sócrates se demita e provoque eleições antes de 2009 já que a passagem do tempo lhe é desfavorável em todos os tabuleiros referidos.

O PS tem maior probabilidade de ganhar as eleições em 2008 do que em 2009 mas, como já se percebeu, ganhar as eleições não é tudo. Tal manobra, para além de aumentar as hipóteses de vitória nas eleições, destinar-se-ia também a referendar as reformas do governo e a desbaratar a oposição das classes profissionais e dos interesses regionais que a elas resistem.

Se ainda há salvação para Sócrates ela só poderá vir de um apelo dramático ao povo que assiste pela televisão à infindável guerra de trincheiras entre o governo, o poder judicial, os sindicatos e as autarquias.

Será que Sócrates tem a necessária coragem populista ?
Por ironia do destino, ou talvez não, três anos depois do derrube de Santana (também ele apoiado numa maioria absoluta) o populismo volta a ser o fantasma de Portugal.

Sunday, March 2, 2008

Divertimento

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Acho que os tipos de Chipre nos passaram a perna. E de uma forma perfeitamente genial. De repente, chamaram a atenção da Imprensa internacional e o seu Presidente, de quem ninguém sabia o nome, transformou-se numa vedeta. A «Time», a «Newsweek», a CBS, a NBC, enfim todos os potentados internacionais da informação apontaram as baterias para o homem.
Porquê? Porque o tipo que eles elegeram é comuna.

Seis ideias para bater o comuna cipriota

1) Declaras-te também comuna; é um pouco «déjà vu», mas ainda tem o seu charme. Como és economista, dizes: estudei a fundo «O Capital», agora que sou Presidente e tenho tempo para estas coisas, e decidi, depois de muito pensar (as dúvidas ficam ao teu critério), aderir às teses do comunismo.

2) Declaras-te homossexual. Também faz muito efeito e é inédito ter um Chefe de Estado «gay». É de um domínio um pouco mais íntimo do que ser comunista mas, em contrapartida, é muito mais surpreendente e tem mais adeptos.

3) Mandas calar o Rei de Espanha numa cerimónia pública. É um pouco mal educadito mas teria ampla repercussão e cobertura, sobretudo na Venezuela, Cuba e esquerda folclórica. Os americanos vinham a correr.

4) Chamas estúpido ao Sarkozy em público e aguentas-te à bronca da resposta do homem. Seria uma loucura mediática, mas nada que não se resolvesse com um assessor recrutado no mercado do Bolhão.

5) Ou, melhor ainda, começas a namorar com a Carla Bruni (é difícil, mas se precisares de ajuda neste ponto, cá estou eu).

6) Tornas-te místico, vestes uma toga branca e vais viver numa gruta. É um sacrifício pessoal, mas também para o que comes, bebes e gozas a vida deve-te ser relativamente indiferente. E a CNN, a BBC e outras não resistiam.

Comendador Marques de Correia, Expresso 01.03.2008

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