Friday, February 29, 2008

Há dois anos do avesso do avesso

A ver se é desta que a minha vida se endireita.

Vim agora da lição de jubilação do prof. Luís Alcácer

"Os limites da ciência", era o título. Foi fixe. Tenho um sacana de um artigo para arbitrar há dois meses. Desculpem se isto está demasiado intimista, mas estou algo bêbado.

Um dia bissexto

Já estava à espera de um dia como este há quatro anos. E não, não é por ser dia 29 de Fevereiro.

Um ano de cheio de exposições

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Acho que é chegada a altura de recordar as exposições "naCHIna 2006" realizadas ao longo de 2007 e agradecer a todos quantos as tornaram possíveis. Simplesmente obrigado.
Veja AQUI a página alusiva.
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Um elogio bissexto

Abro uma excepção no meu hábito de não assinalar aniversários de outros blogues no Avesso do Avesso (prefiro deixar uma mensagem nos comentários). Hoje, 29 de Fevereiro, faz quatro anos o Blasfémias. Apesar do insuportável tom regionalista (por vezes a roçar o provinciano) de alguns textos, apesar do filo-sionismo e do apoio incondicional às acções terroristas de Israel, apesar de toda a demagogia do João Miranda, apesar da destemperança do Carlos Abreu Amorim, apesar da Helena Matos, é da mais elementar justiça reconhecer que é um blogue de grande qualidade e um espaço de debate aberto sem paralelo na blogosfera portuguesa. Parabéns a todos os autores. (E, de mim, só levam outro texto como este daqui a quatro anos!)

Thursday, February 28, 2008

Bilbau, cidade de arquitectura e artes


Mais de quatro anos depois, regressei a um museu Guggenheim. O Guggenheim de Bilbau não se compara com o original no acervo, e mesmo na arquitectura (considero o original um marco). Mas ainda assim é um conjunto que causa belos efeitos, bem integrado na ria que atravessa Bilbau.
O melhor museu de Bilbau é o das Belas Artes, diziam-me e diziam os guias que consultei. É provável que tal seja verdade. Só tendo tempo para visitar um museu, considerei seriamente escolhê-lo, mas acabei por não resistir ao apelo do Guggenheim. O apelo da “marca” que eu conhecia (e de que gostava) foi mais forte.

Wednesday, February 27, 2008

A Esquerda Moderna

Vital Moreira dedicou-se recentemente (Público, 26.02.2008) a um exercício teórico ambicioso: sanar a contradição entre os “valores da esquerda” e a “visão tecnocrática” no seio da política de “modernização” empreendida pelo governo de José Sócrates.

A definição da “modernização” é, já de si, complicada. VM coloca a questão nestes termos:

“Para os portugueses, um país moderno é desde sempre um país tão desenvolvido, tão próspero, tão culto, em suma, tão civilizado como os países europeus de referência.”

Parece legítimo concluir que os portugueses, ou VM por eles, consideram a Europa uma coisa moderna. Mas há quem pense, com alguma razoabilidade, que esse adjectivo não será o que melhor assenta à Europa. É o caso de Paulo Varela Gomes (Público, 27.02.2008):

“A Europa é o sítio mais civil do mundo, mas já saiu fora do tempo e está completamente virada para o seu património histórico e o seu azedume quotidiano. Na Europa não acontece nada de verdadeiramente significativo para o futuro da humanidade. Na Ásia, pelo contrário, numa atmosfera agitada e sangrenta, sente-se em quase tudo o prenúncio daquilo que pode vir a acontecer. Na Ásia, quase não se ouvem as lamentações sobre o mal-estar presente. São abafadas pelo ensurdecedor barulho dos amanhãs que cantam, choram e gemem”.

Deixemo-nos então de definições, terreno sempre traiçoeiro, e guiemo-nos pelos resultados da modernização. VM adianta:

“Ainda que a modernização seja em geral positiva em si mesma, a modernização não é necessariamente de esquerda, nem sequer política ou ideologicamente neutra”.

Aqui a questão complica-se muito. Temos dificuldade em seguir o seu raciocínio; o que é a “modernização em si mesma” senão algo “ideologicamente neutro” ? Se a modernização não é necessariamente de esquerda e não é ideológicamente neutra resulta então que também pode ser de direita ? Poderá a modernização, “em geral positiva”, ser positiva e de direita ao mesmo tempo ? Ou a modernização é “em geral positiva” porque é em geral de esquerda ? E se a modernização for positiva e de direita devemos ou não aceitá-la ?

Segundo Vital Moreira: “Ao adoptar um discurso e um programa modernizador, que também implica uma modernização de si mesma, a esquerda corre o risco de autodescaracterização e de ser acusada de "deriva de direita".

Esta é uma asserção pouco esclarecedora já que o risco de autodescaracterização parece poder ser facilmente evitado; se como vimos mais acima as medidas de modernização tanto podem ser de esquerda como de direita então, para não correr os tais riscos de deriva, bastaria aplicar só aquelas que são de esquerda.

E Vital continua: “Acresce que a emergência do movimento neoliberal de desintervenção do Estado na economia e de desmontagem do Estado social colocou a esquerda na defensiva, que é o ambiente menos propício para qualquer discurso modernizador”.

Apetece perguntar em que país vive Vital Moreira. Como pode falar de “desintervenção do Estado na Economia” num país em que quase todos os dias há notícias da interpenetração entre o governo, os partidos e as maiores empresas da banca, das telecomunicações, da construção. Falar de neoliberalismo num país em que os sectores chave apresentam situações de quase monopólio apadrinhado pelo Estado e vivem de encomendas públicas constitui pelo menos uma originalidade.

VM diz depois: “A modernização da economia não pode visar somente aumentar a produtividade e competitividade internacional, não podendo deixar de ser caracterizada pela luta pelo emprego e pela sua qualidade, pela justiça nas relações laborais, pela garantia das "obrigações de serviços público" nos "serviços de interesse económico geral".

Desta afirmação depreende-se que a modernização proposta na área das relações de produção é muito reduzida. Lutar pelo emprego e pela justiça, num quadro que se presume de continuação do assalariamento actual, é moderno há pelo menos duzentos anos.

Finalmente desembocamos no tema que constitui quase sempre a "piéce de resistance". Uma esquerda, mesmo moderna, quando não sabe o que fazer ao futuro agarra-se ao “Estado Social”.

“Mas onde não é possível perder uma perspectiva de esquerda é na modernização do Estado social. Em nenhuma outra área é tão necessário manter viva a identidade de esquerda e demarcar a diferença com a perspectiva da direita”.

Sejamos justos e admitamos que VM não está só neste pecadilho, muito boa gente que se julga radical embarca na mesma nave da retórica do “Estado Social”. Partem todos de uma abordagem abstracta em que o estado tem sempre dinheiro para pagar; dinheiro recolhido no bolso dos mais ricos e entregue aos realmente mais pobres sem desperdícios ou perversões.

Esta imagem idílica já todos sabemos que não corresponde à realidade. Quem paga o “Estado Social” são os trabalhadores de rendimentos médios que não têm acesso a off-shores. Só uma parte dos recursos do Estado, que muitos consideram pequena demais, chega aos realmente necessitados pois o resto serve para alimentar as burocracias, as empreitadas dos amigos e as corporações mais aguerridas.

A tentativa do governo Sócrates de aumentar a “sustentabilidade” do sistema significa apenas uma coisa: as classes médias que têm pago a factura estão a ficar de tal forma depauperadas que será cada vez mais difícil extrair-lhes recursos.

Não tenhamos ilusões; a única verdadeira solução para o “Estado Social” passa pela modernização, não do sistema económico vigente, mas das propostas da esquerda para uma nova organização social da produção.
Se assim não for, se tentarmos lutar de igual para igual no processo de globalização, iremos decaindo inexoravelmente para níveis convergentes com os praticados nos países asiáticos que estão em vias de se tornar económicamente preponderantes.

Este é que é o verdadeiro desafio de modernização para a esquerda.

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Mon prémier Rivette



Cerca de sessenta pessoas entraram na sala Dr. Félix Ribeiro para ver a versão integral de L'Amour Fou. Duzentos e cinquenta e três minutos depois, sete pessoas cambalearam de lá para fora, entreolhando-se com a cumplicidade culpada dos sobreviventes. Os outros desgraçados (feridos, mortos) pejavam o chão da sala como pipocas descartadas. Muita gente saiu a meio, assustada com la violence; cambada de pussies.
O filme (que, ao contrário do que me disseram, não é uma hilariante gross-out comedy na linha dos irmãos Farrelly) foi uma das experiências mais viscerais a que tive o prazer de assistir desde os célebres Benfica-Porto arbitrados por José Pratas na década de 90, que acabavam sempre com 5 jogadores expulsos.
Pontapé de saída! Quem vem lá? Sébastien Badass, um homem com quem não queres fazer farinha. Olhem para aquele porte, aquele estilo. Ninguém se mete com ele. O filme é a preto-e-branco, mas a camisa hawaiana não engana ninguém: aqui está um homem de quem até o espectro cromático tem medo. Há uma peça a ser ensaiada. Andromaque. Racine. Num ringue de luta livre, evidentemente. Ainda não desenharam um palco capaz de conter a pura badassness de Sébastien. Assistimos aos ensaios. Uns correm bem, outros correm mal. Sébastien fuma. Será que a peça existe mesmo? Se calhar não, e as pessoas têm medo de lhe dizer. E agora? Ok, vêm aí as mulheres. Há imensas mulheres no filme. Sébastien fuma. As mulheres também. Onde é que isto já se viu? Mas Sébastien não quer saber. Ele não quer saber de nada. Ele beija mulheres. Ele cospe no chão. Há uma loura. A loura entra na peça, e depois não entra. Sébastien fuma. Depois come pudim. Depois fuma. Esperem lá. Não acredito. Agora fuma e come pudim, ao mesmo tempo! Este meu não quer mesmo saber. Este meu doesn't give a damn. Isto é um buddy movie sem o buddy, um road movie sem a road. Sébastien não precisa de buddies nem de roads. Mais ensaios. Sébastien fuma. Sébastien gala as actrizes. As actrizes não têm outro remédio senão serem galadas. Há uma festa. As pessoas sentam-se em sofás e dizem coisas. Sébastien fuma. E agora? Tambores! Sébastien produz um tambor e cá vai disto. Incrível. O que é que ele irá fazer a seguir? Ninguém sabe. Eu não sei, tu não sabes, as mulheres não sabem, os homens tremem, os animais de estimação gemem apavorados.
Há mais ensaios. Dois actores sentam-se em cadeiras, mas Sébastien vira as cadeiras ao contrário. Sim, e os actores vão fazer o quê? Protestar? Não me façam rir. Sébastien fuma. Oh não. A camisa já não é hawaiana! Sébastien fuma, de camisa branca. O homem afugentou o Hawai da camisa, e fê-lo sozinho. Os ensaios prosseguem. Sébastien parece aborrecido. Há um ar de pânico em todas as pessoas que, por azar, não são Sébastien. Eu próprio tive de me amarrar à cadeira para não desatar a correr que nem um maluquinho. A loura, em particular, não parece estar a gostar das coisas. Há um cão. A loura quer o cão. O cão não quer a loura. Sébastien dorme. A loura não. Estranhamente, nenhum deles fuma. Algo de extraordinário vai acontecer. A loura pega num alfinete e aproxima-se de Sébastien. Pobre alfinete, parece aterrorizado. A situação é resolvida. Sébastien fuma.
Mmm, o que é isto agora? Uma pistola. Há uma pistola no apartamento. Sébastien oferece-a a várias pessoas. Ninguém aceita. Por fim, ele luta consigo próprio pela posse da pistola. E ganha! Estavam à espera de quê? Mais ensaios. Racine é complicado. Olá. A loura quer-se ir embora? Parece que Sébastien foi longe demais. Isto vai dar molho. É claro que Sébastien foi longe demais: é o que ele faz. Sébastien mostra-se vulnerável. Que charada. Talvez não. Ele é suficientemente rijo para a vulnerabilidade. Vestuário rasgado. Como o Hulk, mas ao contrário. (Ok, usou tesouras, mas o trabalho ficou feito). A loura cede. Ambos fumam.
Pausa nos ensaios. Já não era sem tempo. Sébastien ri! O homem é imprevisível. Está contente. A loura também. O dinheiro que esta gente deve gastar em tabaco. E quando julgamos que já lhe topámos o esquema todo, ele aparece, de cuecas e chapéu, a fazer desenhos nas paredes. A única coisa que lhe falta é vestir-se de mulher e destruir uma porta à machadada. Bingo! E com um machado pequenino. Podia ter usado um machado grande, mas não precisa. A badassness do homem é imensa.
Agora sai à rua. Agora fuma. Os prédios mexem-se. A música é ominosa. Sébastien passa por um espelho. O seu reflexo confunde-o. Pela primeira vez na sua vida, está a ver alguém tão badass como ele. Mais mulheres. Isto será boa ideia? Alguém lhe devia dar uma palavrinha. Mas já não há heróis. A loura grava cassetes e depila as sobrancelhas. A operação corre mal. O ringue de luta livre está deserto. Sébastien fuma. O tempo transborda. Fade out.

O Insurgente na telenovela Duas Caras

Estava eu noutro dia a ver a telenovela da SIC e dou de cara com... um dos Insurgentes! Dedico assim este vídeo ao blogue brevemente reaparecido hoje (já desapareceu outra vez...) e que completa três anos. Quem será o professor Gilmar na vida real? Será o Miguel Noronha? Ou o André Azevedo Alves? Na verdade não deve ser nenhum deles: liberais fassistas talvez sejam, mas discípulos de Fernando Henrique, nem o Fernando Henrique merece isso!

(ver o vídeo por volta dos 7 min)

O meu leitor insuspeitado



Belmiro de Azevedo criticou hoje os bancos, "que, para garantirem lucros, aumentam os preços prejudicando o cliente, que é o mesmo que o Estado faz quando não tem dinheiro quando aumenta os impostos".
"É preocupante a atitude dos bancos: se os custos sobem os lucros têm que subir, é um raciocínio perigoso, estatal", sublinhou o responsável à margem do primeiro encontro da PME Inovação, organizado pela Cotec.

Nota-se que Belmiro foi influenciado pelo que escrevi AQUI e AQUI.

Belmiro é um verdadeiro neo-liberal e por isso não lhe dão muitas abébias em Portugal. Ao contrário do que pensa a maior parte dos comentadores o que vigora no nosso país é uma espécie de economia de casta, um capitalismo feudal, e não o liberalismo económico.

A realidade tem a mania de estragar as análises mais na moda.

Tuesday, February 26, 2008

Dedicado aos meus pais, Ayn Rand e Deus

Quebrei a minha própria regra - de nunca me aproximar de um texto que inclua a expressão «sociedade ocidental» - e li com bastante interesse 25% deste post do Lourenço. Também eu sou enfaticamente a favor da Oxford comma, em parte por motivos autobiográficos. Quando tinha 9 anos, a professora Irene explicou-me que as vírgulas que eu utilizava esporadicamente antes da conjunção "e" eram um erro. «Mas são sempre um erro, professora Irene?» «Sim, pequeno Casanova, um erro.» Claro que isto nunca me convenceu, mas só consegui adoptar uma posição semi-coerente sobre o assunto em 2003, quando trabalhei para uma revista em Edimburgo. (Escrevia recensões críticas a jogos de computador: 800 palavras e uma classificação qualitativa de 0 a 5 joysticks. Nunca me pagaram, e a revista faliu ao fim de 2 números, mas foi o melhor emprego que tive na vida. A minha peça seminal sobre o Fifa 2004 gerou um volume de correspondência sem precedentes: dois emails, um dos quais, afinal, não era para mim. Mas estou a dispersar-me).
O editor da dita revista - e uso o termo "editor" com a latitude mais Ptolomeica que o termo permite - chamou-me um dia ao gabinete - e uso o termo "gabinete com a latitude mais" etc, etc. - para discutir a minha pontuação:
«Just out of curiosity, little Casanova, do you have any ideia what the fuck you're doing when you type a comma into this nonsense you keep handing in?»
Devo, nesta altura, ter balbuciado alguma coisa pouco convincente (nunca me senti confortável a falar com homens em idade adulta que usam tranças e óculos escuros), e ele deu-me uma palestra de aproximadamente vinte minutos sobre a vírgula serial, que foi uma réplica quase verbatim do artigo da Wikipedia que o Lourenço cita. E a minha vida, pequeno leitor, nunca mais foi a mesma. O Lourenço é a favor da Oxford comma, eu sou a favor da Oxford comma, e um dia, num futuro iluminado, seremos todos a favor da Oxford comma.

Morreu Rubens de Falco

O actor brasileiro foi um dos inesquecíveis protagonistas de A Escrava Isaura, o programa de televisão visto em mais países no mundo inteiro.

Voltando ao tema dos bancos

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Banco nas Canárias, FR 2007


Os cinco maiores bancos a operar em Portugal - CGD, BCP, BES, Santander e BPI- lucraram no ano passado 2892 milhões de euros, qualquer coisa como 7,9 milhões de euros por dia. Isto apesar da crise dos empréstimos sub-prime que não foram pagos pelos clientes americanos mas que, entretanto, já tinham sido vendidos sob a forma de títulos de alto rendimento a bancos de todo o mundo.

O cidadão comum interroga-se e não pode deixar de admirar os gestores que conseguem tais resultados (provávelmente obtidos à sua custa). A explicação está na qualidade do pessoal contratado. Aqui vai uma lista que, apesar de um pouco desactualizada, é auto-explicativa:

Fernando Nogueira, ex-Ministro da Presidência, Justiça e Defesa
- Presidente do BCP Angola

José de Oliveira e Costa, ex-Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
- Presidente do Banco Português de Negócios (BPN)

Rui Machete, ex-Ministro dos Assuntos Sociais
- Presidente do Conselho Superior do BPN

Armando Vara, ex-Ministro adjunto do Primeiro Ministro
- Vice-Presidente do BCP

Paulo Teixeira Pinto, ex-Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
- Presidente do BCP (saíu recentemente mas ainda se sente a sua acção)

António Vitorino, ex-Ministro da Presidência e da Defesa
- Presidente da Assembleia Geral do Santander Totta

Celeste Cardona, ex-Ministra da Justiça
- Vogal do CA da CGD

José Silveira Godinho, ex-Secretário de Estado das Finanças
- Administrador do BES

João de Deus Pinheiro, ex-Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros
- Vogal do CA do Banco Privado Português.

Elias da Costa, ex-Secretário de Estado da Construção e Habitação
- Vogal do CA do BES

Monday, February 25, 2008

Grandes liberais e pequenos vigaristas (2)

A continuação do meu texto anterior, sobre as diferenças nos restaurantes portugueses e estrangeiros relativamente às entradas, hoje no Cinco Dias.

Sunday, February 24, 2008

Estatísticas dos Óscares

Número de pausas comerciais na transmissão da TVI: 5

Percentagem de pausas comerciais na transmissão da TVI mais interessantes do que os números musicais: 80%

Probabilidade de "George W. Bush ser o grande bobo da noite", segundo os comentadores da TVI: 100%

Número de piadas sobre George W. Bush: 0

Percentagem das piadas de Jon Stewart nitidamente improvisadas que me fizeram rir: 90%

Percentagem das piadas de Jon Stewart escritas pelos ex-grevistas que me fizeram rir: 66,6%

Percentagem das jogadas do Setúbal-Sporting que me fizeram rir: 66,6%

Percentagem de coisas do dia-a-dia que, no geral, me fazem rir: 66,6%

Percentagem das piadas de Eduardo Nogueira Pinto que me fizeram rir: 100%

Número de Maltesers que comi durante a cerimónia: 93

Número de situações na minha vida em que o tédio era tão grande que dei comigo a contar o número de maltesers que estava a comer: 3

Percentagem de homens presentes na cerimónia mais bonitos do que eu: 99,5%

Percentagem de homens presentes na cerimónia mais bonitos do que eu, não incluindo Philip Seymour Hoffman e Tilda Swinton: 100%

Percentagem de vencedores de Óscares que acham que devemos lutar para concretizar os nossos sonhos: 75%

Percentagem de vencedores de Óscares que não diriam disparates se soubessem que o sonho mais frequente da maioria das pessoas é estar em cuecas no recreio da antiga escola preparatória, com toda a gente a olhar e a apontar: 100%

Número de pessoas na plateia do Kodak Theatre que eu julgava estarem mortas: 4

Número de pessoas na plateia do Kodak Theatre realmente mortas: 1 ("John Travolta"? Perpetuado através de CGI desde 1999.)

Número de pessoas na plateia do Kodak Theatre que estariam mortas a esta hora, se a cerimónia tivesse sido escrita pelos irmãos Coen: todas

Número de Óscares atribuídos a franceses: 3

Número de Óscares atribuídos a alemães: 1

Número de franceses que devolveriam imediatamente os seus Óscares, se ameaçados pelo alemão: 3

Número de páginas de At Swim-Two Birds de Flann O'Brien que eu poderia ter lido durante a cerimónia: 80

Número de vezes que adormeci durante a cerimónia: 2

Número de vezes que acordei aliviado pelo facto de aquela gente toda a apontar para as minhas cuecas no recreio da minha antiga escola preparatória ser apenas um sonho: 2

Probabilidade de voltar a ver a cerimónia na íntegra no ano que vem: 0,5%

Número de vezes que já disse isto antes: 15

Probabilidade de Bertrand Russell ter tido toda a razão quando escreveu "The only rational attitude is one of unyielding despair": 100%

Cobertura da cobertura

O arquitecto está em boa forma, o Alexandre Borges da Atlântico está a ser descaradamente plagiado pelo Alexandre Borges do Noite Americana, perante o conivente silêncio do Alexandre Borges do 31 da Armada. Pacheco Pereira, para surpresa geral, ainda não se pronunciou. A minha mãe está no Messenger, a perguntar se eu estou bem agasalhado.

Pardoning the turkey

C.J.: They sent me two turkeys. The more photo-friendly of the two gets a presidential pardon and a full life at a children's zoo, and the runner-up gets eaten.
Bartlet: If the Oscars were like that, I'd watch.

(The West Wing, "Shibboleth", Season 2)

A reforma é uma miragem ?

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DN, 22.02.2008 - clicar para ampliar


Este quadro de síntese do que aconteceu na Reforma da Administração Pública permite concluir que, apesar de todo o ruído, para o bem e para o mal, "são mais as vozes do que as nozes".

Um SAP na Torre ?

"Em trinta anos que já levo a olhar para a coisa, já vi muitos ministros do Ambiente: bons, maus, sofríveis, corajosos ou acomodados. Nunca conheci nenhum cuja inutilidade fosse tão absoluta. O problema é que, quando se é ministro do Ambiente e, para mais, de um governo que apostou em transformar todo o património natural que resta em ‘território PIN’, ser-se inútil não é ser-se inócuo: pelo contrário, é ser-se deliberadamente útil ao crime projectado. Os investidores projectam, Nunes Correia assina e a obra nasce. Nasce em qualquer lado, mas sempre e de preferência onde era suposto não poder nascer: na Rede Natura, em áreas da Reserva Agrícola ou Ecológica, nas rias, nos sapais, no montado ou até em cima de grutas ou promontórios (!), como sucede no Algarve. Para enganar os tolos, dizem o mesmo de sempre: que isto não é turismo de massas, mas sim de qualidade. Mas basta olhar para a lista dos investidores com projectos já aprovados para Alqueva, e onde se incluem alguns dos piores patos-bravos do país, para perceber o que eles entendem por qualidade. Para acabar de vez com a sua linda obra só falta a este Governo e a este ministro darem a machadada final que têm em estudo: transferir para as autarquias a faculdade de decidir a delimitação das Áreas de Reserva Agrícola e Ecológica. Seria como confiar a um assaltante de bancos a guarda das reservas de ouro do Banco de Portugal."

Concordo absolutamente com este desabafo de Miguel Sousa Tavares no Expresso de ontem.
O património natural ou edificado não pode ser visto como um recurso próprio dos habitantes locais, passível de alienação ao sabor das guerras de caciques autárquicos que prometem mundos e fundos para ganhar as eleições.
As paisagens, as praias e os monumentos são de todo o povo. Não podemos deixar que se destruam verdadeiros tesouros, com acções irreversíveis, em troca de uns hipotéticos "postos de trabalho" (para jardineiros, empregados de mesa e mulheres a dias ?).
Que diríamos se a junta de freguesia de Santa Maria propusesse a instalação de um SAP na Torre de Belém ?

Saturday, February 23, 2008

Coisas que só acontecem aos outros

«Punter wins £1m for 50p horse bet: A punter in North Yorkshire has become the first betting shop millionaire after he placed a 50p bet on eight horses with odds of two million to one.
(...)
The punter discovered he had won at 1200 GMT on Saturday when he went into another William Hill branch in Bedale, 15 miles (24km) away from the branch where he placed his 50p bet.
Graham Sharpe from the bookmakers said: "He placed five more 50p bets for Saturday's racing, then asked staff to check his betting slip from the day before.
"When they told him he had £1m to come but would have to collect it from the Thirsk shop, he went visibly pale before saying that he would have to go and tell his wife."»


(BBC)

Não sei se estão bem a ver a coisa: ele acertou nos vencedores de OITO corridas consecutivas (as acumuladas deste tipo nem sequer permitem "each-way bets"). Apenas dois dos cavalos que escolheu estavam entre os três favoritos para as respectivas corridas; um deles estava a 9 para 1, outro a 10 para 1. A notícia da BBC fala em probabilidades de 2000000/1, mas acho que anda mais perto das 2750000/1.
Pelos meus cálculos, são mais ou menos as mesmas probabilidades de eu acordar amanhã cedo e encontrar o Thomas Pynchon a varrer-me o quintal.

(Trágico fragmento autobiográfico: há cinco anos atrás, só não ganhei noventa mil libras numa acumulada por causa do Ricardo, na altura guarda-redes do Boavista. Acertei nos resultados de dezassete jogos das competições europeias e do campeonato escocês. O décimo-oitavo era o Boavista-Málaga, para a Taça Uefa. Tinha apostado num empate, e consequente eliminação do Boavista. O jogo foi para penalties, o Ricardo marcou um, defendeu outro, o Boavista passou, e eu tive de substituir todo o mobiliário que danifiquei nessa noite. 18 de Março de 2003: ainda tenho o talão da William Hill.
Hoje já estou muito melhor, mas durante anos não conseguia sequer dizer o nome do homem sem me começar a latejar a pálpebra direita.)

Moda Primavera/Verão: aqui.

(Ao contrário do Sapo, o Blogger permite escrever posts sem título. É uma plataforma espectacular, esta.)

Li Zhensheng e a "Revolução Cultural"


No decorrer das minhas pesquisas sobre a China descobri o site de um importante fotógrafo, Li Zhensheng, que testemunhou e fotografou o período da "Revolução Cultural". Tive informações que sugerem uma exposição deste fotógrafo no Porto, na Cadeia da Relação, com começo em Novembro de 2008. Para ver mais clique na imagem.

"oh yes, diz o zétolas, a teodiceia c'est moi"

Declaro, fukuyamamente, o fim dos blogues; o Julinho ganhou. Acabei de testemunhar o fim da evolução blogosférica da humanidade. Daqui para a frente, estamos reduzidos a patéticos micro-conflitos (não nesse sentido, não sejam crianças):

«- bored of having same, tiring sex every night? spice up your life, add inches to your d1ck and increase her pleasure (assinale-se a preocupação em cobrir as lógicas de recurso à extensão com todas as motivações/legitimações possíveis, interpelando todas as nuances da frustração. Por exemplo, só a magnanimidade desta fórmula me fez perceber o egoísmo grotesco de andar no mercado sexual com laughable goods, impondo um cativeiro ignóbil a essa gente que ainda se agarra ao que quase nada tem para agarrar, com fantasias emocionais de amor romântico)

- keep your girlfriend by your side when you have this (mais uma vez, uma eye(not that one; especially not now)-opening elucidação da natureza do amor. Quem disse que o amor não é quantificável? Um cientista social diminuto, sem dúvida)

- women love a man with a huge c0ck and spades of confidence (provavelmente a correlação estatística mais inabalável à espera (que eu saiba, embora duvide) de validação psico-biologista)

- don't let hot women laugh at your small tool, because you can change it today (how do they KNOW these things?!...)

- i used to have a tiny c0ck and it was embarrasing, now i'm huge and loving it (a comoção do discurso confessional e directo à comunidade de sofredores com uma mensagem de esperança, comunidade essa instaurada desde logo na recorrente totalização ontológica linguística do membro, neste caso, até da adjectivação do membro da pessoa (um reducionismo associativo de terceiro grau!; veja-se bem how huge "I" am) - movimento linguístico exponenciado, à imagem do seu produto, pela pressão para a criatividade que, tal qual produção artística em contexto de ditadura, é induzida pela vil censura dos filtros de spam ou assim a falos-chave (estão-me a acompanhar, repararam nos nºs a substituir letras nos nominalismos penianos, certo?) à bem-aventurada promoção dos schl0ngs everywhere. Em busca de uma causa meritória para apoiar? Look no further)
»

E há mais, muito mais (não nesse sentido, não sejam crianças). Leiam o resto, se tiverem coragem.

Friday, February 22, 2008

O meu plano blogosférico para os próximos tempos é ir ali ler um bocadinho de Flann O'Brien e depois vir aqui citar um bocadinho de Flann O'Brien

«Afterwards, near Lad Lane police station, a small man in black fell in with us and tapping me often about the chest, talked to me earnestly on the subject of Rousseau, a member of the French nation. He was animated, his pale features striking in the starlight and his voice going up and falling in the lilt of his argumentum. I did not understand his talk and was personally unacquainted with him. But Kelly was taking in all he said, for he stood near him, his taller head inclined in an attitude of close attention. Kelly then made a low noise and opened his mouth and covered the small man from shoulder to knee with a coating of unpleasant buff-coloured puke. Many other things happened on that night now imperfectly recorded in my memory but that incident is still very clear to me in my mind. Afterwards the small man was some distance from us in the lane, shaking his divested coat and rubbing it along the wall. He is a little man that the name of Rousseau will always recall to me.»

(Flann O'Brien, At Swim-Two-Birds)

A ONU, obviamente, não faz nada

Fui na semana passada informado de que foi cometida uma versão francesa do The Office. Uma breve pesquisa no YouTube (com o auxílio de um dicionário de bolso da Larousse) confirmou a gravidade da situação:




O único comentário a este clip é de um comovido cidadão britânico (provavelmente sem o auxílio de um dicionário de bolso da Larousse): «C'est merde. Desole france.»

(Como se isto não fosse suficiente, fiquei a saber que existe também uma versão alemã, cujo protagonista tem o nome de um antigo avançado do Benfica. Limito-me a apresentar estes factos; caberá à comunidade internacional debatê-los em sede própria.)

Relatório da SEDES afirma que há uma lua maligna a nascer

Lisboa, 22 fev (Lusa) - Num relatório divulgado hoje no seu site, a SEDES, uma das mais antigas associações cívicas nacionais, afirma que se vê na sociedade portuguesa “uma lua maligna a nascer”, e também “sarilhos no caminho”, resultantes dessa mesma “lua maligna a nascer”.
O comunicado afirma ainda que se podem esperar “terramotos e relâmpagos” e “furacões soprando”, devido a essa “lua maligna a nascer”. Os dados recolhidos pela associação parecem indicar uma situação em que se escutará a “voz da raiva e da ruína”, no mesmo quadro genérico de “uma lua maligna a nascer”.
O relatório da SEDES termina aconselhando a sociedade civil a “não ir lá para fora esta noite”, uma vez que o acto poderá ter consequências nefastas, directamente relacionadas com a mesma “lua maligna” que está, ao que tudo indica, “a nascer”.

Grandes liberais e pequenos vigaristas

Um texto meu no Cinco Dias. Está a dar grande discussão.

Bluff, a bater ao lado

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O caso do edifício do Casino de Lisboa, que tem recentemente feito as delícias dos comentadores políticos, vem sendo abordado em termos falaciosos que impedem o público de compreender a verdadeira natureza do problema.
Antes de mais é necessário perceber o que significa a concessão dos casinos. Trata-se no fundo de uma situação equivalente à dos antigos cobradores de impostos: os casinos engodam os cidadãos com luzes e canções e, depois de lhes terem sacado uma espécie de imposto voluntário, entregam uma parte substancial do saque ao Estado.
Vultuosíssimas verbas entram por este meio no erário público.
A discussão interessante deveria ser acerca da aceitação desta parceria que se destina a depenar os incautos ou então, num plano mais venal, sobre se a parte que os casinos entregam ao Estado está bem proporcionada.
Neste quadro o valor do edifício do Casino de Lisboa é quase irrelevante. A questão de ele reverter, ou não, para o Estado não faz sentido quando desligada da avaliação global das trocas que caracterizam a negociação das concessões do jogo.

Thursday, February 21, 2008

A versão legível de Finnegans Wake


«Who has heard honey-talk from Finn before strangers, Finn that is wind-quick, Finn that is a better man than God? Or who has seen the like of Finn or seen the living semblance of him standing in the world, Finn that could best God at ball-throw or wrestling or pig-trailing or at the honeyed discourse of sweet Irish with jewels and gold for bards, or at the listening of distant harpers in a black hole at evening? Or where is the living human man who could beat Finn at the making of generous cheese, at the spearing of ganders, at the magic of thumb-suck, at the shaving of hog-hair, or at the unleashing of long hounds from a golden thong in the full chase, sweet-fingered corn-yellow Finn, Finn that could carry an armed host from Almha to Slieve Luachra in the craw of his gut-hung knickers.»

(Flann O'Brien, At Swim-Two-Birds)

À Benfica

Dantes falava-se nos "quinze minutos à Benfica". Agora, fala-se nos "cinco minutos à Benfica", os cinco minutos finais que evitam derrotas que pareciam certas. Como hoje. Eu já estou habituado e sempre acreditei que o Benfica acabaria por passar, mesmo não sendo benfiquista (e se calhar por isso).

Wednesday, February 20, 2008

E nós a vê-los passar...

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ervas daninhas ?


Como se não bastassem os malefícios causados ao país pelos burocratas de todos os matizes que se acoitam, inamovíveis, nas incontáveis gavetas do gigantesco aparelho do Estado ainda temos que sofrer para promover o sucesso do sistema bancário.

Dizem que é moderníssimo e que deve permanecer em mãos nacionais mas a verdade é que:

- não paga os impostos como devia, tendo nós que suprir as faltas que se esfumaram num off-shore qualquer.
- entrega a uns quantos gestores, que falharam, dezenas de milhões de euros como indemnização não se percebe bem de quê.
- gasta fortunas em publicidade para nos repetir na televisão, até à náusea, que somos donos do banco A, ou que o banco B afinal é outro, ou que o aforro do banco C é que lava mais branco, ou que nos converteremos em autênticas cavalgaduras se tivermos a força de acreditar no banco D.
- depois disto tudo chega ao fim do ano e apresenta lucros de centenas de milhões de euros só possíveis com as taxas e com os juros que impõe à economia real.

Já é altura de alguém dizer que também esta "iniciativa privada", quantas vezes entrelaçada na coisa pública, constitui afinal um empecilho para o desenvolvimento do país.








Bilbau


Bilbau nalgumas coisas pareceu-se-me com Estrasburgo (os passeios à beira do rio estreito com as suas pontes, as bicicletas, os tróleis). Mas há algo de nova-iorquino nesta cidade que me agrada. E não são só os atentados terroristas (piada de mau gosto...) ou o Guggenheim. É a cidade a ser lavada com frequência. São as fachadas de alguns prédios. São as praças que são jardinzinhos e que aparecem no meio dos quarteirões e das ruas só com um sentido (só faltam os esquilos). E é sobretudo a combinação omnipresente do mais antigo com o mais moderno. De igrejas e arranha-céus. Do Casco Viejo e da melhor arquitectura contemporânea. Muito bonito.

Também há boas notícias




Islamistas sofrem enorme derrota nas urnas
Público, 20.02.2008

Os resultados das eleições de segunda-feira no Paquistão não mostram apenas um voto contra o Presidente Pervez Musharraf. Mostram também uma rejeição dos partidos islamistas, mesmo nas regiões onde estes são mais influentes. Os atentados suicidas espalharam sangue no país; e dificultaram a participação dos extremistas na vida política.A televisão estatal noticiou ontem que dos 272 lugares da Assembleia Nacional, só três foram parar às mãos da Muttahida Majlis-e-Amal (MMA), uma aliança de vários grupos islamistas, incluindo alguns que defendem abertamente os taliban e a Al-Qaeda. Revés eleitoral é um termo demasiado fraco para descrever o que aconteceu: a MMA tinha eleito 50 deputados nas legislativas de 2002 e era a terceira força do parlamento. Também governava a Província da Fronteira do Noroeste, uma das quatro do país, junto às regiões tribais que fazem fronteira com o Afeganistão. No entanto, em Peshawar, a capital da província, celebrava-se a queda dos fundamentalistas, segundo constatou um repórter da agência francesa. Arbad Alamgir Khan, candidato do Partido do Povo do Paquistão (PPP), prometeu "livrar o país" dos extremistas. Conseguiu para já ser eleito no que parecia ser um dos seus bastiões.

Tuesday, February 19, 2008

Mais uma vez

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Hábitos espanhóis

Para além dos estereótipos (almoço e jantar tarde, a sesta, etc) há outros hábitos espanhóis menos conhecidos, mas que não deixam de ser surpreendentes. Sabiam que se um comensal sozinho pedir vinho da casa à refeição servem-lhe uma garrafa inteira? Os espanhóis não conhecem as meias garrafas... Durante o dia não sei se é muito boa ideia...
O melhor que a Espanha tem é o El País e o Carrefour, que estão presentes em toda a parte. P ara além dos hipermercados, há a cadeia de supermercados “Carrefour Express”, dentro das cidades. Um país civilizado e que sabe apreciar o que é bom.

"He's a video game, he's not a real person"



(Via um dos estagiários do Andrew Sullivan. Não cometam o meu erro: planeiem as coisas de forma a que não tenham um gole de Capri-Sonne na boca ao minuto 6.)

Pontuação fonética, com Victor Borge e Dean Martin

Monday, February 18, 2008

A Guiné pelos olhos de um soldado

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Em 1968, há 40 anos, a minha vida mudou muito. Casei-me e fui à guerra. É portanto natural que durante o ano em curso eu seja dado a algumas lamechices indesculpáveis noutras circunstâncias.

Completei recentemente a recuperação das fotografias que fiz, enquanto jovem soldado da marinha, ao contactar com o multifacetado povo da Guiné e com os seus trabalhos e festanças. Devem ser entendidas como um tributo ao povo cuja independência fui forçado a combater ao arrepio das minhas convicções. Penso que isso transparece das imagens que pode ver AQUI.



Sunday, February 17, 2008

Eu podia ser o Karl Rove da minha geração

Ando há meses a acompanhar o processo eleitoral americano sem perceber como é que ainda ninguém se lembrou de utilizar uma estratégia de ataque baseada na anagramática, Haverá algum método mais eficaz de enlamear um candidato do que misturar as letras que compõem o seu nome? Enfim, eu sempre estive muito à frente do meu tempo.
A verdade é que não há assunto de campanha que não possa ser analisado com este processo. Os candidatos podem ofuscar o melhor que quiserem durante os debates e discursos, mas ninguém engana o alfabeto. Vejamos, a título de exemplo, as preocupantes posições devolvidas pela selecção de caracteres "PRESIDENT BARACK OBAMA":

Personalidade - O humor sádico e colegial de Obama está a ser bem dissimulado pelos seus assessores, mas as letras não deixam dúvidas sobre o que podemos esperar assim que ele ganhar as eleições: "PRANK! I BECOME A BASTARD."

Economia - "MARKET ABSORBED A PANIC" dá alguns indicadores positivos, mas não nos deixemos enganar com tanta facilidade. A verdade é que, com Obama na Casa Branca "AMERICA'S A PRO-DEBT BANK", o que deve ter um significado sinistro para quem perceba alguma coisa de economia, o que não é o meu caso.

Cultura - O crime associado às diabólicas letras de hip-hop é, como sabemos, um dos grandes flagelos do nosso tempo. Impossível, portanto, depositar grande confiança num presidente cujo próprio nome parece apoiar implicitamente este estado de coisas: "RAP IS BARENAKED COMBAT".

Política Externa - Tal como já foi apontado por muitos comentadores astutos, Barack é um hawk disfarçado. As letras confirmam o modelo estratégico que ele pretende seguir: "RAMBO'S RECIPE DATABANK"

Valores Familiares - Talvez a categoria com sinais mais preocupantes. Uma presidência de Obama transformará a América numa autêntica Sodoma, onde estrelas hollywoodescas desnudadas vão percorrer os bosques à procura de veados fofinhos para violentar. Isto não é uma hipérbole, é a verdade literal: "NAKED ACTOR RAPES BAMBI". Talvez ainda mais perturbante é a sugestão de que um clone maligno do Pai-Natal poderá destruir um sagrado emblema da inocência universal: "MOCK SANTA RAPED BARBIE!" é a manchete que podem esperar um dia.
Mas não me restam dúvidas de que é este o tipo de acto que se vai generalizar numa presidência Obama, cuja natureza será talvez melhor encapsulada num último anagrama: "A BAD, OBSCENE KARMA TRIP".

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As coisas não melhoram quando viramos a nossa atenção para a outra candidata Democrata; os caracteres presentes em "PRESIDENT HILLARY CLINTON" contam uma história ainda mais assustadora:

Competência e intelecto - A capacidade intelectual e o domínio dos factos são dois dos pilares em que assenta sua reputação. Um único anagrama chega para contrariar essa concepção, descrevendo com exactidão as suas faculdades mentais: "TINY PARIS HILTON NERD CELL"

Personalidade e Governação - "HELL TRIP ON SINCERITY LAND" é talvez o resumo mais apto do estilo de governação que podemos esperar de Hillary Clinton, que no fundo é "ONLY HITLER'S PLACID INTERN", e cujo discurso de inauguração promete ser um "ILL-PLANNED HYSTERIC INTRO"

Alimentação e Saúde Infantil - alguns indicadores enigmáticos parecem confirmar que o regime vai incluir uma grande dose de importações da China e Itália, com refeições de "TORTELLINI AND SPRY LICHEN" dando gradualmente lugar a uma dieta de "CHINA'S DINNER PILL LOTTERY", que não consigo descodificar, mas que me parece indubitavelmente perversa. O preconceito anti-criança de Hillary é indisfarçável, de resto, e amplamente confirmado pelas suas "LONELY ANTI-CHILDREN TRIPS", que só surpreendem quem não conhecer a sua opinião sobre os pais: "I LYNCHED A TRILLION PARENTS".

Valores Familiares - Consegue superar o carnaval babilónico de uma presidência Obama. Apesar das suas imaculadas credenciais de feminista radical ("DRY THRILL ANTI-PENIS CLONE"), e de haver, perdoem-me a franqueza, "PLENTY LAND IN HER CLITORIS", não podemos esquecer que uma presidência Hillary devolverá a Pensylvannia Avenue o seu mais dissoluto inquilino, Bill Clinton, ou, se preferirmos, "LADY HITLER'S CLIENT IN PORN", que já deve ter nomeado uma estagiária para efectuar "THE ORALLY INCLINED SPRINT" na sua direcção.

Os indícios são aterradores, mas o Partido Republicano ainda vai a tempo de impedir o Apocalipse. O meu mail está ali, do lado direito da página.

Fucking ourselves out com Pedro Arroja


(Contemporary Portugal)

Combater a artrose com Vasco Barreto

Provavelmente a forma mais eficaz de começar um post sobre extractos bancários

Saturday, February 16, 2008

Os Persas jogam, e dão mate em três dias



A Esquerda e o Centauro

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Segundo o DN de hoje Manuel Alegre quer:

"Refundar a esquerda com o PS e fora do PS "até onde isto for possível". O homem que no passado fim-de-semana lançou, sem piedade, um desafio à nomenklatura socrática ("Se me desafiam para congressos irei às urnas no país") vai convidar os dirigentes socialistas para uma espécie de "congresso da esquerda" que decidiu organizar extra-muros do partido. Além do PS, também o PCP e o Bloco de Esquerda serão desafiados a aparecer na grande convenção sobre o estado da esquerda. E, claro, serão convidados cidadãos independentes".

Nutro enorme desconfiança por estes rasgos de voluntarismo. Em vez de se partir de uma ideia nova, de um projecto, avança-se directamente para a federação de descontentamentos, vaidades, birras e desilusões. É a nossa sina. Uma esquerda que não trabalha, que não inova e que se esgota no protesto.

Quando em 2005 houve a corrida para apear Santana eu bem avisei que esse derrube devia ser feito com base num projecto; três anos depois grande parte da esquerda está farta da vitória que festejou. Quando em 2006 se saudou a vitória sobre Berlusconi eu também disse que não percebia como se podia festejar já que a resultante não passava de um "saco de gatos" que só convergia no que não queria.

Já é tempo de nos convencermos de que o problema da esquerda não é ganhar as eleições e ocupar as cadeiras do poder mas sim o que fazer quando tal acontece. Ter uma política alternativa que funcione.

Ou muito me engano ou esta experiência acabará na dissidência de Alegre que, ao abandonar o PS, se tornará o mentor de uma qualquer "Renovação Socialista".

Veremos o que acontece...

Friday, February 15, 2008

12 palavras

A Bomba, o maradona e o senhor arquitecto (ordem cronológica) imploraram-me que revelasse aqui as minhas doze palavras preferidas, o que não me parece nada razoável, pelo que vou revelar apenas sete:

bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk. Aparece logo no início de Finnegans Wake, uma prolongada sessão de sodomia sintáctica a que me submeti durante quase vinte e oito páginas (aleatórias, incompletas e dolorosas). O livro conta - enfim, acho eu - a história de Humphrey Chimpden Earwicker, um pobre diabo irlandês que passa grande parte da sua vida a ser espancado por ferozes gangues de substantivos compostos. A comovente palavra que transcrevo, quando vertida de joyciês para terráqueo, significa "trambolhão".

Ex-namorada. Estrutura orgânica na qual substâncias como "orgulho" e "auto-estima" são arrefecidas, divididas, e reduzidas às suas mais encarquilhadas moléculas.. A ex-namorada é frequentemente encontrada no outro lado de um canal comunicativo analógico, em noites de bar aberto. As suas propriedades nunca foram rigorosamente catalogadas, embora teólogos medievais tenham especulado que estas incluem a intangibilidade, a omnipotência, e a vozinha irritante.

Aforismo. Um bom aforismo deve ter apenas uma frase. Uma segunda frase costuma estragar tudo. (Os que incluem uma terceira entre parênteses são um descalabro).

Ronaldo. Palavra inscrita em cédulas de nascimento e, posteriormente, através de um complexo algoritmo, convertida em vídeos do YouTube.

Punhal. Metáfora diligente e flexível, periodicamente depositada entre as omoplatas de líderes do PSD.

Lol. Termo arcaico, muito usado na lírica Camoniana de pendor mais misógino, e que alude às propriedades cómicas de um indivíduo e/ou situação. Exemplo: "Ah, minha Dinamene, que encobres o Sol!/ Com tuas larachas desprovidas de lol."

Qualquer advérbio de modo terminado em -mente. Inquestionavelmente eficaz para prolongar artificialmente uma frase embaraçosamente curta.

Escafandro. De todas as palavras que não são insultos, "escafandro" é a melhor qualificada para ser um insulto.

Vaivaivaivaivaivai. Em microeconomia, é o vocábulo arremessado na direcção de um cavalo, numa tentativa desesperada de o fazer correr mais depressa. Deve ser acentuado em todas as sílabas. Costuma estilhaçar-se no momento do impacto, alterando dramaticamente a qualidade de vida do utilizador.

Technorati. Palavra derivada do calão Fenício para "mercador cujas bugigangas gozam de sucesso considerável entre os Hititas". Designa actualmente o instrumento utilizado para medir a relevância ontológica de um sujeito X, em relação a um padrão abstracto Z denominado, por convenção, "Pacheco Pereira".

Pessoa. Talvez a minha palavra preferida. A pessoa é uma composição química patenteada por uma divindade hebraica há cerca de seis mil anos atrás, e tentativamente replicada por um reduzido naipe de peritos nos momentos que se seguiram à Criação. O grande sucesso comercial das pessoas entre as pessoas previamente existentes abriu as portas à liberalização do mercado de pessoas, com o desmantelamento da regulação opressiva que impedia a produção de pessoas em larga escala. Apesar destas medidas, chegou-se a uma situação em que a oferta se revelou incapaz de corresponder à procura; as pessoas queriam cada vez mais pessoas e não havia pessoas suficientes. Este facto, aliado à crescente rudimentarização dos processos técnicos envolvidos, declarou o óbito do profissionalismo metódico, apregoando a era do amadorismo e do do-it-yourself: as pessoas, muitas delas sem qualquer experiência na manufactura de pessoas, passaram a reunir-se com outras pessoas para fabricar as suas próprias pessoas, com as inevitáveis consequências ao nível da qualidade
Apesar de tudo, a pessoa continua a ser um produto muito desejado. Fazer pessoas, em particular, é hoje uma das actividades mais populares entre as pessoas que já cá estão.


É estipulado que a corrente seja passada a doze pessoas, o que não me parece nada razoável, pelo que a vou passar apenas a sete: ao Eduardo, ao Bandeira e ao Filipe Guerra.

''We love you Dick''


O maior físico americano de todos os tempos, Richard Feynman, morreu há 20 anos. Na fotografia, o pano que os alunos do Instituto de Tecnologia da Califórnia, onde leccionava, estenderam na biblioteca quando se confirmou o óbito.
A literatura sobre Feynman (na web e em livros) é inúmera; Feynman é um mito. Ainda assim recomendo esta página e as "wikiquotes", da qual retirei a seguinte:
Physics is like sex. Sure, it may give some practical results, but that's not why we do it.
Grande Feynman, nunca serás esquecido!

Thursday, February 14, 2008

S. Valentim (é hoje !!!)

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Valentim Loureiro diz que vai terminar todos os processos no âmbito do “Apito Dourado” com uma vitória por 15-0, ao ser ilibado em todos os casos em que foi indiciado ou acusado.

«Continuez à nous amuser, Salvador!»

Na Bastilha, em Paris, com Gilberto Gil, 14 de Julho de 2005

Obituário no El Pais (onde soube da notícia) e no Libération (que chama o cantor, desaparecido ontem aos 90 anos, à la une, e faz dele assunto único). Quem não sentiu o suingue de Henri Salvador?

Wednesday, February 13, 2008

Da Cantábria

O sítio é inesperadamente cheio de portugueses. Topa-se com eles em todo o lado. Falei com um grupo, dois casais e os seus filhos, que vieram do Porto à procura de emprego. Deve ser isto que justifica os vôos directos da TAP a partir de Lisboa.
Trabalham em Bilbau, mas preferem viver a 35 km, onde eu estou. Aparentemente essa é também a opçao de muita gente, talvez por ser um sítio mais seguro. Talvez isso justifique éste sítio ser tao caro. Isso e ser um local muito turístico. Quando estiver em Bilbau (no fim de semana) compararei os preços. Por agora é de longe o sítio mais caro onde estive em Espanha. Comparado com Madrid (que é feia, como aqui escrevi, mas nao é uma cidade cara), é uma surpresa. Mas é um sítio muito bonito.

Crise pimba



Ontem fui ao CCB para um concerto em que actuavam 16 dos melhores cantores líricos portugueses. A sala estava longe de esgotada.

Também ontem tomei conhecimento dos dois concertos de Tony Carreira no Pavilhão Atlântico.



Fiquei um bocado abalado, ao tomar consciência da minha anormalidade e de como estou desfasado do "bom povo português". A minha própria noção de democracia está a passar por um mau bocado. Com que direito é que eu e tantos outros bloguistas falamos em nome dos interesses de um povo que temos dificuldade em perceber nas suas idiossincrasias ?

Dê um salto ao site oficial do Tony

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Tuesday, February 12, 2008

Curiosamente

Curiosamente, foi neste alfarrabista em Inverness que um dia encontrei um livro de Júlio de Mattos. Curiosamente, falei disso aqui, num post escrito há exactamente um ano.
Curiosamente, ainda não tinha visto isto, mas já começava a estranhar a inexistência de uma paródia ao vídeo mais eminentemente parodiável dos últimos tempos. O facto de John McCain conhecer Vince Vance e formular política externa com um refrão em Do e Sol é um eficaz afrodisíaco intelectual.
Mas, por enquanto, o meu endorsement não é oficial. Fico à espera de saber a opinião de Rui Santos, sem a qual eu nunca consigo tomar decisões em relação a nada, curiosamente.

A campanha está a ficar feia

De Bilbau - a viagem

Comprei o bilhete na TAP. Sabia que a rota Lisboa-Bilbau fora herdada da Portugáilia, e imaginei que o aviao também fosse. Seria uma maneira de voar com a Portugália, algo que nunca tinha feito - mesmo que oficialmente fosse TAP. Com o que nao contava era em voar nisto:



Um aparelho - um Beech 1900D, usado para vôos regionais - tem capacidade para 18 passageiros, mais o piloto e uma assistente. É movido a hélices! Todos os lugares sao simultaneamente à janela e no corredor. À entrada vemos a bagagem a entrar - ao menos sabemos logo que nao a perderam. O compartimento de bagagens é na parte traseira, como a bagageira de uma carrinha. Todo o aviao, aliás, parece uma carrinha que voa. Ainda há espaço para uma casa de banho a separar a bagageira da cabine. Espaço para guardar a bagagem de mao é que nem pensar: tem de ir aos nossos pés, ou ao lado. Vê-se o compartimento do piloto da cabine a maior parte do tempo. Parece que seguimos todos num táxi aéreo...
Foi uma forma inesperada e engraçada de começar a viagem, Veremos como será o regresso.

Excelentes Variações








Tenho, ao longo do tempo, dado pouca atenção neste blog à musica gravada apesar de ser um devorador de música compulsivo. Pois aqui fica uma sugestão.
As Variações Goldberg por um trio de cordas constituído por Julian Rachlin (violino), Mischa Maisky (violoncelo), Nobuko Imai (viola).
Trata-se de uma transcrição fabulosa que permite, dada a multiplicidade dos instrumentos, realçar deliciosamente as linhas do contraponto.
Descobri este disco enquanto conduzia o automóvel e ouvia a Antena 2.
Para quem não confiar na minha opinião aqui fica uma lista de referências críticas ao disco.
Ao escrever este post fiz alguma investigação e concluí que há bastantes transcrições das Variações Goldberg em disco: para trio de cordas , para orquestra de cordas , para saxofone , para acordeon , para conjunto de metais , para octeto , etc, etc...

Monday, February 11, 2008

Argumentum blogspoticum

O que aconteceu foi o seguinte:
Porque há alturas em que me parece que a vida pode ser um bocadinho mais do que costuma ser, passei hoje uns minutos a fazer experiências com algumas das funcionalidades do blogger, essa plataforma tão amistosa e injustiçada, e à qual tenciono permanecer fiel durante as décadas vindouras.
Ocorreu-me que nunca tinha escrito um post sem caixa de comentários e manipulei os controlos necessários para o poder fazer (não digo que tenha sido muito complicado, mas uma pessoa com insónia crónica aprende a celebrar estas pequenas vitórias). Intitulei o post "Um post sem caixa de comentários" - porque não gosto de enganar ninguém - mas percebi instantaneamente que não havia mais para escrever: o propósito do post estava cumprido, não era preciso acrescentar nada no corpo do dito. Portanto re-intitulei o post "Um post sem caixa de comentários e sem nada escrito no corpo do dito". As coisas estavam a correr bem, sentia-me bastante lúcido.
Depressa cheguei à conclusão que um post sem caixa de comentários e sem nada escrito no corpo do dito não necessita realmente de título, portanto retirei o título, tendo ficado apenas com uma data e uma assinatura. Uma data e uma assinatura, no contexto certo, podem ser tremendamente eficazes. Porém, depois de breve ponderação, acabei por decidir que assinar e datar o que é essencialmente um espaço em branco poderia ser mal interpretado, portando retirei também esses elementos do post - post esse que, por esta altura, já não retinha nenhuma das características que normalmente associamos ao conceito de post. O resultado está à vista: fui forçado a escrever um segundo post - este post: este - a explicar as características de um post prévio que as categorias de percepção dos leitores não vão registar, e que todas as evidências apontam não estar, pura e simplesmente, lá.
Este processo é conhecido como teologia.
Assumo que os infiéis entre vocês vão optar por concluír que o post nunca existiu, mas estão tragicamente enganados.

Regressa o Dr. House


É uma pena que a esquerda "pós-moderna" seja tao alérgica a personagens como House - ou, na vida real, como José Mourinho. Que demonstram que os fins nem sempre justificam os meios - mas justificam-nos mais vezes do que este provérbio é citado. Que deixaram de acreditar na imperfeiçao e na ausência de máculas - por vezes, para atingir o melhor resultado, há que se sujar. Que fazer compromissos. Infelizmente nao se distingue da generalidade do país, que continua a preferir a mediania cinzenta e bem vestida.

Encontro-me na Cantábria e no País Basco esta semana pelo que, para além de perder o Dr. House, nao posso colocar o til... Impressoes de viagem para breve.

O Ministério da Esquerda



A segunda remodelação do governo de Sócrates está em marcha. Repondendo ao inesquecível apelo de Mário Soares "... eu gostaria que o PS agora se voltasse um bocadinho mais para a esquerda", feito em Novembro passado, Sócrates já contactou com Manuel Alegre para encabeçar o Super-Ministério da Esquerda. Diz-se que funcionará na Torre de Belém e terá como lema "Os velhos do Restelo não passarão".

Prosseguem as negociações quanto ao programa; abandonados que foram os projectos "Homem Novo" e "Por uma Sociedade sem Classes" trabalha-se incansávelmente nos planos da re-instalação das urgências, da proibição dos transgénicos, do casamento de animais de espécies diferentes e do arrefecimento global.

Ninguém poderá portanto voltar a acusar o Governo de ser de direita e as eleições de 2009 estão no papo.

YouTubing

Resultados para a pesquisa "James Joyce reading Finnegans Wake": 1 (Não é fácil perceber tudo, por causa daquele cerradíssimo sotaque irlandês. Com o João Villaret a ler o mesmo texto, as coisas seriam totalmente diferentes)

Resultados para a pesquisa "João Villaret reading Finnegans Wake": 0 (infelizmente não há maneira de demonstrar a validade desse raciocínio)

Resultados para a pesquisa "James and Norah Joyce making sweet sweet love": 0 (típico; nunca há celebrity porn de jeito na internet)

Resultados para a pesquisa "Pulido Valente and Filomena Mónica making sweet sweet love": 0 (típico; etc, etc.)

Resultados para a pesquisa "kittens": 43900 (já nos gatinhos, há sempre muito por onde escolher)

Resultados para a pesquisa "kitten reading Finnegans Wake": 0 (desde que não esperemos milagres, obviamente)

Resultados para a pesquisa "kitten falling down": 44 (isto, por exemplo, está dentro do esperado)

Resultados para a pesquisa "Gerald Ford falling down: 3 (tal como isto, de resto)

Resultados para a pesquisa "kitten flying": 177 (isto já é algo surpreendente)

Resultados para a pesquisa "Gerald Ford flying": 4 (bem, o rácio apresenta alguns problemas)

Resultados para a pesquisa "kitten flying over Gerald Ford reading Finnegans Wake": 0 (isto sim, foi uma grande desilusão)

Resultados para a pesquisa "gravity explained": 87 (mas acaba por fazer sentido)

Resultados para a pesquisa "Jorge Sampaio discurso": 0 (aqui, receio que tenhamos chegado ao domínio do inexplicável)

Resultados para a pesquisa "paint drying": 580 (mas, enfim, há compensações)

Resultados para a pesquisa "Nixon playing the piano": 7 (desta, sinceramente, não estava nada à espera)

Resultados para a pesquisa "Nixon meets Elvis": 12 (ah, um grande momento histórico)

Resultados para a pesquisa "historical moment": 3900 (aliás, o YouTube está repleto de momentos históricos)

Resultados para a pesquisa "Miguel Garcia Alkmar": 2 (repleto, digo-vos)

Resultados para a pesquisa "Miguel Garcia reading Finnegans Wake": 0 (ocorreu-me; tinha de tentar)

Resultados para a pesquisa "Elvis is Alive": 501 (prosseguindo: creio que este dado é relevante)

Resultados para a pesquisa "Pontus Farnerud is alive": 0 (ainda mais relevante)

Resultados para a pesquisa "Carlos Freitas is alive": 0 (o café acabou mais ou menos nesta altura)

Resultados para a pesquisa "Nescafe": 1460 (nunca consegui perceber a diferença entre o Nescafé normal e o gold blend; acho que foram cinco anos de dinheiro mal gasto)

Resultados para a pesquisa "difference between regular and gold blend": 0 (uma questão que, pelos vistos, não preocupa a comunidade YouTube)

Resultados para a pesquisa "worries of the YouTube community": 37 (a comunidade YouTube tem trinta e sete preocupações declaradas, mas nenhuma delas está relacionada com os rótulos da Nescafé)

Resultados para a pesquisa "How not to waste your money": 288 (ainda assim, creio que não volto a comprar o gold blend)

Resultados para a pesquisa "this is a whole new level of time wasting": 1 (este valor é meramente simbólico)

Acordei cedo, fiz um cafézinho, vim ao YouTube, introduzi na caixa de busca a expressão "BOXING KANGAROO"

__ e, por incrível que pareça, só obtive 157 resultados. Este foi o mais satisfatório:

(Não quero que concluam da última frase que os vi todos: só os primeiros 20, se tanto, até porque muitos eram repetições. 157 é muito pouco. A segmentação dos mercados ainda não foi capaz de produzir um nicho de aficionados de "vídeos com cangurus pugilistas" facilmente identificável, e capaz de merecer maior etc., o que é, a todos os níveis, lamentável.)

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Friday, February 8, 2008

Derrick





Isto é absolutamente espectacular. Já não deve ser novidade para os que lêem o blogue do Sullivan, mas não resisti a espalhar a coisa.
Pensem bem no extraordinário azar do gajo do microfone: uma pessoa anda uma vida inteira a acumular desalento demográfico; a perder a fé numa adolescência que mal consegue assimilar o conceito de polissílabo; a construir pacientemente um paralisado clichézinho sobre o apoiante-padrão de um político que apela a uma espécie muito particular de idealista choné. Dá-se depois ao trabalho de ir a um comício para confirmar o caos; de nomear uma vítima escolhida a dedo - artefacto suspeito ao pescoço e tudo - para exemplificar o declínio da civilização; e no final deste processo desgastante sai-lhe essa ave rara: alguém mais informado e eloquente do que ele próprio. A gradual mudança de atitude do entrevistador - do armadilhante desprezo à admiração relutante, mas genuína - é uma coisa bonita de se ver, e ilumina melhor a essência do "movimento Obama" do que aquele embaraço dissonante que é o clip do "Yes We Can".
Se isto continua assim, ainda encomendo um pin.

(Continuo a gostar muito de McCain, e a ter impecáveis credenciais de cínico. Mas um homem não é de ferro.)

Roll your Pazuzu-eyes for the Gipper



Este artigo de Paul Waldman na Prospect americana - bastante satisfatório, apesar da quase escandalosa ausência de [ponto-e-vírgulas/pontos-e-vírgula/alguém me ajuda?] - apresenta o argumento estatístico mais esotericamente rebuscado que vi nos últimos tempos. Para demonstrar aquilo que é basicamente uma benigna evidência - a Reaganolatria do movimento conservador - Waldman sai-se com esta: «according to the Social Security Administration, Reagan was the 155th most popular name in America for girls in 2006».
Não duvido que muitos bebés nesta nossa galáxia tenham sido baptizados em homenagem a Ronald Reagan; um deles, como é sabido, foi criado num laboratório da Madeira e vive hoje em Manchester. Mas não se vai buscar o centésimo quinquagésimo quinto posicionado numa lista para reforçar positivamente um argumento. O centésimo quinquagésimo quinto posicionado numa lista não deve servir para mais nada, a não ser para ocupar o espaço livre entre o centésimo quinquagésimo quarto e o centésimo quinquagésimo sexto.
Até porque o resto da lista, analisada sob essa pespectiva Waldmaniana, devolve indicações bem mais intrigantes. O terceiro nome mais popular - para raparigas, atenção - foi Madison. Madison meus amigos; uma geração de raparigas chamadas Madison. Já o nome Hamilton não aparece sequer nos primeiros 500 lugares. Segundo o método-Waldman isto prova estatisticamente que o debate entre Federalistas e Anti-Federalistas continua a ser encenado em maternidades e registos civis por essa América fora.
A baça e desinteressante verdade, claro, é que a persistente popularidade onomástica de Madison não se deve ao campeão dos states'-rights, mas sim à Daryl Hannah, que se encontra assim cento e cinquenta e dois lugares acima do protagonista de Bedtime for Bonzo, com as estonteantes consequências ideológicas que o facto acarreta. Curiosamente, o nome Hillary, que era relativamente popular em 1992 (131º no ranking), viu a sua reputação cair aos trambolhões desde a inauguração de Bill Clinton, encontrando-se hoje na nonagésima octogésima segunda posição. Sem a ajuda de Waldman, contudo, não é possível retirar daqui quaisquer conclusões.

(Já agora, o nome mais popular é Emily, cujas conotações mais óbvias não parecem incomodar ninguém. A menina d' O Exorcista chamava-se Regan, e não Reagan; mas a fotografia fica no post, que mais não seja para irritar a minha mãe quando ela aqui vier.)

O senhor arquitecto anda a ler bons livros

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