Friday, December 31, 2010
2010
Interrompi a redefinição do organigrama do meu corpo, SAD, para vos desejar a todos o ano novo que merecem. Na coluna do Bruno Prata, num Público de há duas semanas, uma metáfora estruturante não muito original mas perfeitamente razoável sobre hardware e software conseguiu chegar, em parágrafo e meio, a uma conclusão irrefutável sobre a evolução do Hulk nos últimos nove ou dez meses: "até aí, Hulk já tinha um poder incrível para influenciar o jogo, mas ainda não tinha o poder de o compreender verdadeiramente". No entanto, a metáfora foi esticada ao longo de um oceano adicional e, como é costume acontecer às metáforas quando são esticadas ao longo de oceanos, começou a misturar-se com outras metáforas promíscuas e a perder a penugem por causa do calor. No resto da crónica, fomos sucessivamente informados de que Jesualdo Ferreira "vivia, então, no fio da navalha no que respeita à afinação de Hulk"; de que a afinação do hardware era feita "sempre a lápis", para "poder apagar e voltar à primeira forma se a máquina incrível ameaçasse entrar em rotura"; de que Hulk lá foi apresentando "um processador mais compatível com a dimensão do seu futebol" e "de acordo com as potencialidades de uma ave rara do futebol mundial"; e de que o novo sistema operativo tem "funcionado como um vendaval", depois da posterior afinação de um novo treinador, que terá percebido que "debaixo daquele futebol aparentemente egocêntrico havia um filão por explorar". Temos portanto que o software de uma ave rara debaixo de um filão foi afinado a lápis no fio da navalha até funcionar como um vendaval. Digam o que disserem, a verdade é que este tipo de coisas nunca acontece a jogadores formados em Alcochete. Dedico esta brilhante conclusão ao Daniel, que muito provavelmente escreveu o melhor post do ano; é só ir lá procurar.
Queria também parabenizar todos os blogues que li regularmente em 2010 por terem sobrevivido às cisões potenciais resultantes da presença de Luis Rainha no Universo. Entre os do costume, três deles merecem-me particular destaque, pois parecem ter encontrado o software do seu próprio vendaval ornitológico bem afinado debaixo do filão egocêntrico: o 5 Dias, o Tolan e o Ouriquense. Na sempre pertinente classificação geral dos textos da edição de Natal do Economist, creio que um pódio simpático é formado pelo do barbecue, pelo da Ascension Island e, pelo obituário dos pubs britânicos. As melhores heresias cristãs de 2010 foram as do séc. XVII, mesmo perante competição feroz das heresias cristãs do séc. III. O filme do ano foi o Scott Pilgrim vs. the World; o pior momento televisivo do ano foi aquela repetição de uma coisa em que o rei D. Carlos era assassinado por membros da Cornucópia. O melhor sms do ano foi recebido na manhã de 22 de Dezembro; dizia apenas "José Couceiro?!". Termino juntando-me à onda geral de consternação pela morte da pessoa que inventou uma das grandes instituições da internet: o link quinzenal para textos do Adam Kirsch. Que descanse em paz, e em três colunas.
Queria também parabenizar todos os blogues que li regularmente em 2010 por terem sobrevivido às cisões potenciais resultantes da presença de Luis Rainha no Universo. Entre os do costume, três deles merecem-me particular destaque, pois parecem ter encontrado o software do seu próprio vendaval ornitológico bem afinado debaixo do filão egocêntrico: o 5 Dias, o Tolan e o Ouriquense. Na sempre pertinente classificação geral dos textos da edição de Natal do Economist, creio que um pódio simpático é formado pelo do barbecue, pelo da Ascension Island e, pelo obituário dos pubs britânicos. As melhores heresias cristãs de 2010 foram as do séc. XVII, mesmo perante competição feroz das heresias cristãs do séc. III. O filme do ano foi o Scott Pilgrim vs. the World; o pior momento televisivo do ano foi aquela repetição de uma coisa em que o rei D. Carlos era assassinado por membros da Cornucópia. O melhor sms do ano foi recebido na manhã de 22 de Dezembro; dizia apenas "José Couceiro?!". Termino juntando-me à onda geral de consternação pela morte da pessoa que inventou uma das grandes instituições da internet: o link quinzenal para textos do Adam Kirsch. Que descanse em paz, e em três colunas.
Thursday, December 30, 2010
Internet na China
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A China atingiu em novembro o número de 450 milhões de internautas, 20,3% mais que em 2009, informou o chefe do departamento de informação do Conselho de Estado (Executivo), Wang Chen. Embora a China seja o maior mercado de usuários da internet do mundo, há ainda um enorme campo para crescimento, já que menos de 50% de sua enorme população tem acesso à rede.
O gigante asiático se conectou à internet em 1994, e desde então o seu uso cresceu em marcha acelerada, apesar de o governo chinês continuar impondo fortes limitações ao acesso a determinados sites, muitos deles estrangeiros. Algumas das páginas mais populares do mundo, como YouTube, Twitter e Facebook, estão censuradas na China, embora seja possível acessá-las através de servidores VPN, que "escondem" a direção IP dos usuários.
Apesar das restrições, a internet se tornou na China um meio de informação muito mais dinâmico e livre que outros convencionais, como televisão e jornais. Por isso, serviu para divulgar inúmeros escândalos de corrupção e crimes, além de formar novos líderes de opinião, como o escritor Han Han, considerado o blogueiro mais lido do mundo.
Terra.com.br 30.12.2010
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Afinal a sustentabilidade interessa a todos
Lisboa, 29 dez (Lusa) -- Os desempregados com rendimento superior ao salário mínimo nacional vão começar a pagar taxas moderadoras a partir de 1 de janeiro do próximo ano, estipula uma portaria publicado no Diário da República.
A existência de novas regras já era conhecida desde junho, mas não se sabia qual o limite máximo do rendimento a partir do qual os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) vão passar a pagar as taxas moderadoras.
O diploma, publicado na terça-feira, estabelece também que os reformados que recebam rendimentos acima dos 485 euros vão deixar de ter acesso gratuito aos cuidados prestados pelo SNS, tendo que pagar taxas moderadoras.
Depois das taxas moderadoras, os desempregados e pensionistas ficam também a saber que vão ter que pagar quando os casos não são urgentes.
O argumento repete-se. O secretário de Estado adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, diz que é preciso garantir a sustentabilidade do Estado social.
«As regras definem que tem de haver maior rigor na definição da razão clínica pelo qual o transporte deve de ser subsídiado pelo Serviço Nacional de Saúde, tem de haver uma razão clínica objectiva, que seja demonstrável, que seja da responsabilidade do médico e os transportes só serão pagos a pessoas que tenham maiores dificuldades económicas», adianta.
Admito que seja necessário e, em certa medida, defensável.
Mas não era o PSD que queria destruir o SNS tendencialmente gratuito?
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Wednesday, December 29, 2010
Novela sem fim
Juíz do Tribunal de Instrução Criminal deu a possibilidade a arguidos para recorrerem da última ordem de destruição das escutas dada pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
O juiz de instrução Carlos Alexandre abriu uma porta aos arguidos do processo Face Oculta que pretendam evitar a destruição das escutas entre Armando Vara e José Sócrates. Num despacho concluído ontem, o magistrado titular do Tribunal Central de Instrução Criminal ordenou - pela primeira vez neste processo - que os arguidos fossem notificados da última decisão de destruição de escutas feita pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, relativa a umas conversas e SMS que tinham ficado guardados no sistema informático da Polícia Judiciária.
Ao mesmo tempo, Carlos Alexandre referiu que só "após trânsito" da decisão, isto é, depois dos arguidos se pronunciarem, é que iria dar cumprimento à ordem de destruição.
DN 29.12.2010
Uma novela que nunca mais acaba.
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Tuesday, December 28, 2010
Portugueses afinal têm confiança no futuro
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Estes números da SIBS parecem reflectir um comportamento irresponsável por parte dos portugueses ou então sou eu que não estou a perceber.
Então o futuro não se apresenta carregado de ameaças?
Para além de dissiparem as poupanças das famílias estas compras contribuem para o desiquilibrio das contas já que grande parte dos produtos provem da importação.
Não me venham dizer que estes movimentos todos foram feitos pelos accionistas da PT.
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Estes números da SIBS parecem reflectir um comportamento irresponsável por parte dos portugueses ou então sou eu que não estou a perceber.
Então o futuro não se apresenta carregado de ameaças?
Para além de dissiparem as poupanças das famílias estas compras contribuem para o desiquilibrio das contas já que grande parte dos produtos provem da importação.
Não me venham dizer que estes movimentos todos foram feitos pelos accionistas da PT.
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O efeito borboleta
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Os principais índices norte-americanos começaram a última semana do ano no 'vermelho' e interrompem um ciclo de quatro semanas de ganhos.
A penalizar as bolsas em Nova Iorque está o anúncio de que a China aumentou a sua taxa de juro para tentar travar o crescimento económico.
Diário Económico 28.12.2010
Faz lembrar o "efeito borboleta" que, a propósito das conclusões de Lorenz no âmbito da teoria do caos, admite que o bater de asas de uma borboleta, aqui, pode provocar um tufão do outro lado do mundo.
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Subida de juros na China impede ganhos em Wall Street
Os principais índices norte-americanos começaram a última semana do ano no 'vermelho' e interrompem um ciclo de quatro semanas de ganhos.
A penalizar as bolsas em Nova Iorque está o anúncio de que a China aumentou a sua taxa de juro para tentar travar o crescimento económico.
Diário Económico 28.12.2010
Faz lembrar o "efeito borboleta" que, a propósito das conclusões de Lorenz no âmbito da teoria do caos, admite que o bater de asas de uma borboleta, aqui, pode provocar um tufão do outro lado do mundo.
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Monday, December 27, 2010
Multas subsidiadas
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Com as novas regras da lei do financiamento partidário, os partidos vão passar a acrescentar as multas, ao partido ou a dirigentes, às despesas, uma parcela que é subsidiada pelo Estado.
Assim, o dinheiro que os partidos pagam de coimas regressa aos seus cofres mais tarde, sob a forma de subvenção, avança a edição do Público.
O jornal ouviu também Luís de Sousa, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa para a área da corrupção, considerando que esta medida funciona como «alçapão» para escapar à lei. «Assim deixa de ser coima, deixa de ter efeito punitivo. As multas têm que ser sentidas na pele, têm que ser subtraídas à subvenção», explica.
Este caso, só por si, é suficiente para explicar a razão do nosso atraso e da nossa precária situação actual. Neste ambiente, e com esta gente, não é possível qualquer esperança no futuro.
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Com as novas regras da lei do financiamento partidário, os partidos vão passar a acrescentar as multas, ao partido ou a dirigentes, às despesas, uma parcela que é subsidiada pelo Estado.
Assim, o dinheiro que os partidos pagam de coimas regressa aos seus cofres mais tarde, sob a forma de subvenção, avança a edição do Público.
O jornal ouviu também Luís de Sousa, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa para a área da corrupção, considerando que esta medida funciona como «alçapão» para escapar à lei. «Assim deixa de ser coima, deixa de ter efeito punitivo. As multas têm que ser sentidas na pele, têm que ser subtraídas à subvenção», explica.
Este caso, só por si, é suficiente para explicar a razão do nosso atraso e da nossa precária situação actual. Neste ambiente, e com esta gente, não é possível qualquer esperança no futuro.
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Sunday, December 26, 2010
Vinho Verde Party
Fui recentemente convidado a aderir ao "Tea Party Portugal" e assim "manifestar a revolta dos cidadãos contra o massacre fiscal".
Pela defesa das famílias
Pela decência na política
Pelo direito à verdadeira indignação nacional
Embora concorde com todos os objectivos propostos, e também com alguns omitidos, não consigo aderir ao movimento por uma razão básica; o chá. Não está nos meus hábitos.
Estou mais ao nível de um "Vinho Verde Party". Nesse caso, por desnecessário, nem é preciso incluir no título a referência a Portugal.
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Saturday, December 25, 2010
O Natal dos Aeroportos
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Entre 500 e 700 pessoas viram-se obrigadas a passar a noite de Natal no aeroporto internacional de Bruxelas por conta dos atrasos e cancelamentos de voos devido à neve, uma situação que começa a ser resolvida neste sábado, informou a imprensa local.
Se já temos o "Natal dos Hospitais" por que não termos também o "Natal dos Aeroportos" ?
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Entre 500 e 700 pessoas viram-se obrigadas a passar a noite de Natal no aeroporto internacional de Bruxelas por conta dos atrasos e cancelamentos de voos devido à neve, uma situação que começa a ser resolvida neste sábado, informou a imprensa local.
Se já temos o "Natal dos Hospitais" por que não termos também o "Natal dos Aeroportos" ?
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Brain Wash
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O candidato presidencial Cavaco Silva afirmou-se quinta-feira à noite alvo de uma "campanha suja" a propósito do Banco Português de Negócios (BPN), em resposta ao seu adversário Defensor Moura, que o acusou de "pactuar com negócios ilícitos".
Ao insistir no tema que dominou o confronto de meia hora com o seu opositor, Cavaco admitiu que entre os seus adversários existirão pessoas sérias, “mas terão de nascer duas vezes para ser mais sérios do que eu”, antes de sublinhar que a sua vida foi analisada “ao pormenor” desde 1980.
Público 24.12.2010
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Foto de Matthieu G.
O candidato presidencial Cavaco Silva afirmou-se quinta-feira à noite alvo de uma "campanha suja" a propósito do Banco Português de Negócios (BPN), em resposta ao seu adversário Defensor Moura, que o acusou de "pactuar com negócios ilícitos".
Ao insistir no tema que dominou o confronto de meia hora com o seu opositor, Cavaco admitiu que entre os seus adversários existirão pessoas sérias, “mas terão de nascer duas vezes para ser mais sérios do que eu”, antes de sublinhar que a sua vida foi analisada “ao pormenor” desde 1980.
Público 24.12.2010
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Friday, December 24, 2010
Thursday, December 23, 2010
Wiki Pimba
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Os jornais de hoje garantem que ainda circulam por aí cassettes pirata das mais intrigantes gravações de 2010. É o nosso modesto Wikileaks.
Que pena já não chegarem aos mercados e feiras a tempo das prendas de Natal.
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O país das excepções
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O comando-geral da GNR fez nos últimos meses mais de quatro mil processos de promoção de guardas, sargentos e oficiais daquela força militar. As subidas de posto são relativas a 2007, 2008, 2009 e a este ano, implicando o pagamento de centenas de milhares de euros de retroactivos.
Este é um processo que se acelerou em Outubro, quando foram conhecidas as linhas mestras do Orçamento de Estado de 2011, que prevê o congelamento de carreiras e cortes salariais entre 3,5 e 10 por cento. Isso mesmo assume ao PÚBLICO o porta-voz da GNR, o tenente-coronel Costa Lima, que sublinha, contudo, que "ninguém foi promovido antes do tempo".
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A PSP também promoveu este ano 1200 efectivos (800 agentes, 250 chefes e 150 oficiais) resultantes de concursos realizados em 2008 e 2009. O desbloqueamento das promoções foi pretexto para várias acções de protesto, explica ao PÚBLICO o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da PSP, Paulo Rodrigues, que aponta a concentração de polícias junto da residência oficial do primeiro-ministro, em 23 de Setembro, como a principal razão do fim do impasse na progressão das carreiras.
Público 23.12.2010
Depois da PT e de outras empresas, dos Açores e da Madeira, de certos hospitais, do IVA social etc, etc, etc.
Quer as leis sejam justas, ou injustas, há sempre um caminho para as contornar.
Portugal é excepcional, é o país das excepções.
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O comando-geral da GNR fez nos últimos meses mais de quatro mil processos de promoção de guardas, sargentos e oficiais daquela força militar. As subidas de posto são relativas a 2007, 2008, 2009 e a este ano, implicando o pagamento de centenas de milhares de euros de retroactivos.
Este é um processo que se acelerou em Outubro, quando foram conhecidas as linhas mestras do Orçamento de Estado de 2011, que prevê o congelamento de carreiras e cortes salariais entre 3,5 e 10 por cento. Isso mesmo assume ao PÚBLICO o porta-voz da GNR, o tenente-coronel Costa Lima, que sublinha, contudo, que "ninguém foi promovido antes do tempo".
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A PSP também promoveu este ano 1200 efectivos (800 agentes, 250 chefes e 150 oficiais) resultantes de concursos realizados em 2008 e 2009. O desbloqueamento das promoções foi pretexto para várias acções de protesto, explica ao PÚBLICO o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da PSP, Paulo Rodrigues, que aponta a concentração de polícias junto da residência oficial do primeiro-ministro, em 23 de Setembro, como a principal razão do fim do impasse na progressão das carreiras.
Público 23.12.2010
Depois da PT e de outras empresas, dos Açores e da Madeira, de certos hospitais, do IVA social etc, etc, etc.
Quer as leis sejam justas, ou injustas, há sempre um caminho para as contornar.
Portugal é excepcional, é o país das excepções.
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Wednesday, December 22, 2010
A globalização da CCTV
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Como parte de sua expansão internacional, a estatal CCTV (Televisão Central da China) realizou entre às 11h e às 14h desta terça-feira em São Paulo a cerimônia de inauguração de suas operações na América Latina.
Com sede na capital paulista, a CCTV latino-americana começará suas transmissões para a China em 2011 com 35 profissionais, incluindo 20 em São Paulo. Segundo a diretora da CCTV latino-americana, Ye Lulu, os demais funcionários atuarão em sucursais na Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Peru e Venezuela.
A escolha de São Paulo como sede da CCTV América Latina deveu-se à influência do Brasil na região e à infraestrutura da capital paulista, afirmou a diretora. “Atravessamos 17 mil quilômetros para chegar à terra do samba e do futebol. A CCTV é uma janela para a China conhecer o mundo e vice-versa”, afirmou Ye Lulu durante discurso na cerimônia de inauguração em Pinheiros.
Em seus pronunciamentos para cerca de 100 convidados, o vice-presidente da CCTV, Zhang Changming, e o embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaoqi, indicaram que a CCTV América Latina representará uma oportunidade de incrementar ainda mais as crescentes relações de Pequim com a região e o País. “O Brasil está em ascensão e tem com a China posições similares em várias questões internacionais”, afirmou o embaixador, lembrando que Pequim se tornou neste ano o maior investidor estrangeiro no País.
Com a CCTV América Latina, a rede estatal chinesa, fundada em 1º de maio de 1958, contará com seis bases de operação, sendo as demais na Europa, EUA, Rússia, África e Ásia-Pacífico. Na China, a emissora opera por meio de 26 canais abertos e 13 pagos, tendo diariamente 700 milhões de espectadores. No mundo, a TV atua em 140 países e regiões, atingindo 200 milhões de pessoas. Até o fim deste ano, ela chegará a ter 50 estações de correspondentes no exterior, com a previsão de abrir mais 16 no próximo ano.
IG - Último Segundo, 21.12.2010
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Como parte de sua expansão internacional, a estatal CCTV (Televisão Central da China) realizou entre às 11h e às 14h desta terça-feira em São Paulo a cerimônia de inauguração de suas operações na América Latina.
Com sede na capital paulista, a CCTV latino-americana começará suas transmissões para a China em 2011 com 35 profissionais, incluindo 20 em São Paulo. Segundo a diretora da CCTV latino-americana, Ye Lulu, os demais funcionários atuarão em sucursais na Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Peru e Venezuela.
A escolha de São Paulo como sede da CCTV América Latina deveu-se à influência do Brasil na região e à infraestrutura da capital paulista, afirmou a diretora. “Atravessamos 17 mil quilômetros para chegar à terra do samba e do futebol. A CCTV é uma janela para a China conhecer o mundo e vice-versa”, afirmou Ye Lulu durante discurso na cerimônia de inauguração em Pinheiros.
Em seus pronunciamentos para cerca de 100 convidados, o vice-presidente da CCTV, Zhang Changming, e o embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaoqi, indicaram que a CCTV América Latina representará uma oportunidade de incrementar ainda mais as crescentes relações de Pequim com a região e o País. “O Brasil está em ascensão e tem com a China posições similares em várias questões internacionais”, afirmou o embaixador, lembrando que Pequim se tornou neste ano o maior investidor estrangeiro no País.
Com a CCTV América Latina, a rede estatal chinesa, fundada em 1º de maio de 1958, contará com seis bases de operação, sendo as demais na Europa, EUA, Rússia, África e Ásia-Pacífico. Na China, a emissora opera por meio de 26 canais abertos e 13 pagos, tendo diariamente 700 milhões de espectadores. No mundo, a TV atua em 140 países e regiões, atingindo 200 milhões de pessoas. Até o fim deste ano, ela chegará a ter 50 estações de correspondentes no exterior, com a previsão de abrir mais 16 no próximo ano.
IG - Último Segundo, 21.12.2010
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Sunday, December 19, 2010
Os novos heróis
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A briga com o gigante Google pode ter sido moldada para Qi Lu, um homem acostumado a superar obstáculos. Ele nasceu em Xangai no início dos anos 60, em meio à Revolução Cultural chinesa. Por causa da perseguição da ditadura, seus pais o mandaram ainda garoto para a casa do avô, na província de Jiangsu. Lu passou sua infância num vilarejo habitado por 400 famílias, onde predominava a agricultura de subsistência. A figura mais notável da comunidade era a professora. Uma única, que dava aula para todos os alunos, independentemente da matéria e da série das crianças. “A professora tinha status de rainha”, afirma Qi Lu. “Era a única que comia carne todos os dias do ano.” Segundo ele, para o resto dos habitantes, comer carne era um privilégio que acontecia apenas uma vez por ano. Depois de passar por exames apertados, conseguiu uma vaga na Fundan University, em Xangai. “No início dos anos 80, só 3% dos jovens que se formavam no ensino fundamental ingressavam na universidade.”
A vida de Qi Lu ganhou outro rumo quando ele foi assistir a uma apresentação do professor Edmund M. Clarke, da universidade americana Carnegie Mellon. Clarke ficou impressionado com as perguntas feitas pelo jovem chinês e resolveu oferecer-lhe uma bolsa de estudos para Ph.D. Clarke pagou a inscrição de US$ 45, equivalente a quatro salários e meio de Qi Lu como professor universitário na China. Qi Lu passou no exame e mudou-se para os Estados Unidos. Enquanto estudava, começou a trabalhar na IBM, em 1996. Ajudou a desenvolver o Altavista, um dos primeiros buscadores. Depois foi chamado para o Yahoo!. Dez anos depois, quando saiu, liderava um time de 3 mil engenheiros, que o homenageou com uma camiseta com as frases: “Eu trabalhei com Qi Lu. E você?”.
Mais uma história fascinante.
O arquétipo em voga já não é o magnata da finança. Os heróis das gerações actuais são gurus da tecnologia, com ar desinibido e vagamente ecológico, que inventam produtos de sucesso global.
Ver o resto do artigo AQUI.
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A briga com o gigante Google pode ter sido moldada para Qi Lu, um homem acostumado a superar obstáculos. Ele nasceu em Xangai no início dos anos 60, em meio à Revolução Cultural chinesa. Por causa da perseguição da ditadura, seus pais o mandaram ainda garoto para a casa do avô, na província de Jiangsu. Lu passou sua infância num vilarejo habitado por 400 famílias, onde predominava a agricultura de subsistência. A figura mais notável da comunidade era a professora. Uma única, que dava aula para todos os alunos, independentemente da matéria e da série das crianças. “A professora tinha status de rainha”, afirma Qi Lu. “Era a única que comia carne todos os dias do ano.” Segundo ele, para o resto dos habitantes, comer carne era um privilégio que acontecia apenas uma vez por ano. Depois de passar por exames apertados, conseguiu uma vaga na Fundan University, em Xangai. “No início dos anos 80, só 3% dos jovens que se formavam no ensino fundamental ingressavam na universidade.”
A vida de Qi Lu ganhou outro rumo quando ele foi assistir a uma apresentação do professor Edmund M. Clarke, da universidade americana Carnegie Mellon. Clarke ficou impressionado com as perguntas feitas pelo jovem chinês e resolveu oferecer-lhe uma bolsa de estudos para Ph.D. Clarke pagou a inscrição de US$ 45, equivalente a quatro salários e meio de Qi Lu como professor universitário na China. Qi Lu passou no exame e mudou-se para os Estados Unidos. Enquanto estudava, começou a trabalhar na IBM, em 1996. Ajudou a desenvolver o Altavista, um dos primeiros buscadores. Depois foi chamado para o Yahoo!. Dez anos depois, quando saiu, liderava um time de 3 mil engenheiros, que o homenageou com uma camiseta com as frases: “Eu trabalhei com Qi Lu. E você?”.
Mais uma história fascinante.
O arquétipo em voga já não é o magnata da finança. Os heróis das gerações actuais são gurus da tecnologia, com ar desinibido e vagamente ecológico, que inventam produtos de sucesso global.
Ver o resto do artigo AQUI.
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Pelo emprego na China
Na hora de abrir os presentes, a probabilidade de também serem produzidos naquela que é considerada a fábrica do mundo é francamente elevada: os brinquedos para os mais novos, os cachecóis e as peúgas para os mais velhos, as máquinas fotográficas, os plasmas e o material informático. O Pai Natal afinal tem uma fábrica de brinquedos com duendes atarefados, mas a maioria deles está no outro lado do mundo.
Até as prendas mais desejadas e caras deste Natal, o iPad, o tablet da Apple, e a consola de jogos Wii bem como a maioria dos telemóveis de última geração, não fogem à regra: viajaram do país oriental para fazer as delícias dos portugueses. è normal, na etiquetagem destes produtos encontrar o famoso Made in China ou Assembled in China.
Agência Financeira 18.12.2010
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É por isso que estão em larga medida desactualizadas as teorias económicas que defendem o aumento do consumo privado para a criação de emprego.
Nas condições actuais, com a nossa industria debilitada como está, o consumo das famílias em Portugal cria emprego, sem dúvida, mas é na China.
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Thursday, December 16, 2010
Rottweiler
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O que Roza de Oliveira não nega é que tenha tido "milhões de encontros" com o embaixador Hoffman. Num deles, segundo o mesmo telegrama, terá dito que Ana Gomes "é uma senhora muito excitada que é pior que um rottweiler solto". O assessor rejeita esta frase: "O que posso ter dito, porque tinha um rottweiler na altura, é que a diferença entre Ana Gomes e um rottweiler é que este larga" aquilo a que se agarra. "Era uma expressão que eu usava", afirma.
Público 16.12.2010
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O que Roza de Oliveira não nega é que tenha tido "milhões de encontros" com o embaixador Hoffman. Num deles, segundo o mesmo telegrama, terá dito que Ana Gomes "é uma senhora muito excitada que é pior que um rottweiler solto". O assessor rejeita esta frase: "O que posso ter dito, porque tinha um rottweiler na altura, é que a diferença entre Ana Gomes e um rottweiler é que este larga" aquilo a que se agarra. "Era uma expressão que eu usava", afirma.
Público 16.12.2010
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Wednesday, December 15, 2010
Tuesday, December 14, 2010
Planeamento a longo prazo
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O presidente da FIFA, Joseph Blatter, pediu para que os homossexuais respeitem as tradições no Catar, que recebe o Mundial de 2022, e que sejam abstinentes.
A Bola 14.12.2010
Planeamento a longo prazo.
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O presidente da FIFA, Joseph Blatter, pediu para que os homossexuais respeitem as tradições no Catar, que recebe o Mundial de 2022, e que sejam abstinentes.
A Bola 14.12.2010
Planeamento a longo prazo.
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Uma questão de firewall
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A evasão fiscal das empresas é um dos crimes económico-financeiros que mais tem crescido em Portugal. E quase todas tentam fugir aos impostos de forma organizada e sofisticada. O crime, que anteriormente não motivava um inquérito judicial, é hoje uma das principais preocupações dos magistrados portugueses. Cândida Almeida, directora do DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal), diz ao i que "há muitíssima evasão fiscal em Portugal" e os magistrados têm pouca formação e meios pouco especializados para combater um crime cada vez mais qualificado.
"Todos os que podem fogem aos impostos de uma maneira mais ou menos sofisticada." A magistrada nota que o contexto da evasão fiscal é preocupante para o sistema financeiro português, muito pouco auto-sustentável e o défice recai sobre áreas essenciais para o país. "A qualidade da evasão fiscal em Portugal é extremamente prodigiosa para as finanças de um país que apenas se auto-financia através dos impostos." Por outro lado, a fuga de impostos motiva o bloqueamento de verbas na educação, saúde e justiça, apontou Cândida Almeida, durante o seminário do OSCOT sobre Criminalidade Organizada, que decorreu ontem em Lisboa.
São cerca de cinco mil, o número de inquéritos de crime tributário nas mãos do Ministério Público. E, apesar do aumento no número de processos ser pouco significativo comparativamente a 2009, o crescimento pode ser considerado de 100% relativamente à última década. "Este crime não motivava um inquérito. A investigação hoje existe pelo grande esforço e contributo da Direcção Geral de Impostos, Polícia Judiciária e Ministério Público." A magistrada reforçou ainda a intenção e vontade do governo para travar a evasão fiscal no país, mas alerta para a insuficiência dos meios disponíveis. "Faltam meios humanos, tecnológicos e especialização. A formação tem sido feita à custa própria. Faltam meios necessários para que possamos dedicar-nos com conhecimento e profundidade a estas questões."
A falta de sofisticação do Ministério Público contrapõe a "alta especialização" das empresas. Uma investigação pouco focada, devido à falta de análise e conhecimento das vulnerabilidades das instituições, foi um dos pontos críticos apontado por Maria José Morgado durante a sua intervenção. A directora do DIAP de Lisboa alertou para as dificuldades em combater a criminalidade organizada, sobretudo a corrupção e evasão fiscal, que "tende a disparar". "Não podemos investigar em pilhas de papel", ironiza a magistrada. O crime económico financeiro apresenta grandes barreiras por abranger pessoas colectivas e recorrer ao anonimato. O uso de novas tecnologias, estruturas de negócios lícitos, regime de offshore e o pacto de silêncio são alguns dos exemplos apontados pela magistrada, que dão conta da sofisticação do crime. O Ministério Público não tem qualquer tipo de prevenção, diz Maria José Morgado, que foi categórica na sua afirmação: "Estamos sem firewall. Tudo é possível."
Público 14.12.2010
O único problema das finanças públicas em Portugal é portanto conseguir que todos cumpram as suas obrigações fiscais. Basta fazer uma lei que permita confiscar todos os bens dos faltosos e cumpri-la.
Deixaremos então de ter défice e viveremos num verdadeiro paraíso.
Mas para isso é necessário que os governantes quando se virem na posse dessas enormes verbas não desatem a gastar irresponsavelmente como costumam fazer.
É tão simples que até mete raiva.
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A evasão fiscal das empresas é um dos crimes económico-financeiros que mais tem crescido em Portugal. E quase todas tentam fugir aos impostos de forma organizada e sofisticada. O crime, que anteriormente não motivava um inquérito judicial, é hoje uma das principais preocupações dos magistrados portugueses. Cândida Almeida, directora do DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal), diz ao i que "há muitíssima evasão fiscal em Portugal" e os magistrados têm pouca formação e meios pouco especializados para combater um crime cada vez mais qualificado.
"Todos os que podem fogem aos impostos de uma maneira mais ou menos sofisticada." A magistrada nota que o contexto da evasão fiscal é preocupante para o sistema financeiro português, muito pouco auto-sustentável e o défice recai sobre áreas essenciais para o país. "A qualidade da evasão fiscal em Portugal é extremamente prodigiosa para as finanças de um país que apenas se auto-financia através dos impostos." Por outro lado, a fuga de impostos motiva o bloqueamento de verbas na educação, saúde e justiça, apontou Cândida Almeida, durante o seminário do OSCOT sobre Criminalidade Organizada, que decorreu ontem em Lisboa.
São cerca de cinco mil, o número de inquéritos de crime tributário nas mãos do Ministério Público. E, apesar do aumento no número de processos ser pouco significativo comparativamente a 2009, o crescimento pode ser considerado de 100% relativamente à última década. "Este crime não motivava um inquérito. A investigação hoje existe pelo grande esforço e contributo da Direcção Geral de Impostos, Polícia Judiciária e Ministério Público." A magistrada reforçou ainda a intenção e vontade do governo para travar a evasão fiscal no país, mas alerta para a insuficiência dos meios disponíveis. "Faltam meios humanos, tecnológicos e especialização. A formação tem sido feita à custa própria. Faltam meios necessários para que possamos dedicar-nos com conhecimento e profundidade a estas questões."
A falta de sofisticação do Ministério Público contrapõe a "alta especialização" das empresas. Uma investigação pouco focada, devido à falta de análise e conhecimento das vulnerabilidades das instituições, foi um dos pontos críticos apontado por Maria José Morgado durante a sua intervenção. A directora do DIAP de Lisboa alertou para as dificuldades em combater a criminalidade organizada, sobretudo a corrupção e evasão fiscal, que "tende a disparar". "Não podemos investigar em pilhas de papel", ironiza a magistrada. O crime económico financeiro apresenta grandes barreiras por abranger pessoas colectivas e recorrer ao anonimato. O uso de novas tecnologias, estruturas de negócios lícitos, regime de offshore e o pacto de silêncio são alguns dos exemplos apontados pela magistrada, que dão conta da sofisticação do crime. O Ministério Público não tem qualquer tipo de prevenção, diz Maria José Morgado, que foi categórica na sua afirmação: "Estamos sem firewall. Tudo é possível."
Público 14.12.2010
O único problema das finanças públicas em Portugal é portanto conseguir que todos cumpram as suas obrigações fiscais. Basta fazer uma lei que permita confiscar todos os bens dos faltosos e cumpri-la.
Deixaremos então de ter défice e viveremos num verdadeiro paraíso.
Mas para isso é necessário que os governantes quando se virem na posse dessas enormes verbas não desatem a gastar irresponsavelmente como costumam fazer.
É tão simples que até mete raiva.
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Monday, December 13, 2010
Volta ao bilhar grande
Sem poder ganhar títulos relevantes esta época (fora da Taça, e ninguém acredita no campeonato ou na Liga Europa), está na altura de José Eduardo Bettencourt ir pensando em cumprir a sua promessa. O treinador e o diretor para o futebol seguem-no, obviamente, mas tem que começar por cima.
Sunday, December 12, 2010
Santa ingenuidade
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A China deverá fechar o ano com 18 milhões de veículos vendidos, um novo recorde que reafirma a posição do gigante asiático como o maior mercado automóvel do mundo.
Entre Janeiro e Novembro já se venderam 16,4 milhões de veículos, mais 35% do que no período homólogo de 2009. A maior subida das vendas foi registada nos veículos até aos 1600 centímetros cúbicos, que contam com subsídios e benefícios fiscais.
Estes indicadores elevaram as previsões das vendas de veículos para todo o ano de 2010 na China, estimando-se esse valor acima dos 18 milhões, um número superior aos 13,6 milhões de automóveis vendidos na China em 2009 e que tornaram aquele país no maior mercado mundial de veículos novos, superando os Estados Unidos.
Económico 12.12.2010
Entretanto...
O que era apenas uma ameaça, agora se concretizou. Os chineses já estão fabricando carros na América do Sul – e o primeiro sino-latino é o SUV compacto Chery Tiggo, que começou a ser produzido em Carrasco, no Uruguai. Em uma volta rápida por Buenos Aires, na Argentina, onde o Tiggo foi apresentado no começo de julho, meu conceito (melhor, meu préconceito) sobre carros chineses mudou. Percebem-se no Tiggo qualidades que o colocam como opção ao Ford EcoSport e ao Hyundai Tucson – e isso você terá oportunidade de conferir em outubro, no Salão do Automóvel, em São Paulo. As vendas por aqui começam na virada do ano.
A marca chinesa Chery chega ao Mercosul nas mãos do grupo argentino Socma, dirigido por Franco Macri, empresário que entre os anos 80 e 90 fabricava modelos de Fiat, Peugeot e Chevrolet. Desta vez, Macri fez uma joint-venture para a construção da fábrica onde foram investidos US$ 30 milhões. De Carrasco (Uruguai) sairão 12 mil automóveis por ano, dos quais seis mil terão o Brasil como destino. A fabricante informa que 40% das peças do Tiggo são fornecidas por empresas de Brasil e Argentina. Em 2010, o plano da empresa é dobrar a produção com a fabricação de um novo modelo.
Car & Driver (edição brasileira)
Ainda há quem acredite que a crise financeira da Europa e dos Estados Unidos teve origem no sub-prime imobiliário, no incumprimento do pagamento das casas vendidas a quem não tinha rendimentos suficientes.
Santa ingenuidade. Infelizmente o problema é muito mais fundo.
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A China deverá fechar o ano com 18 milhões de veículos vendidos, um novo recorde que reafirma a posição do gigante asiático como o maior mercado automóvel do mundo.
Entre Janeiro e Novembro já se venderam 16,4 milhões de veículos, mais 35% do que no período homólogo de 2009. A maior subida das vendas foi registada nos veículos até aos 1600 centímetros cúbicos, que contam com subsídios e benefícios fiscais.
Estes indicadores elevaram as previsões das vendas de veículos para todo o ano de 2010 na China, estimando-se esse valor acima dos 18 milhões, um número superior aos 13,6 milhões de automóveis vendidos na China em 2009 e que tornaram aquele país no maior mercado mundial de veículos novos, superando os Estados Unidos.
Económico 12.12.2010
Entretanto...
O que era apenas uma ameaça, agora se concretizou. Os chineses já estão fabricando carros na América do Sul – e o primeiro sino-latino é o SUV compacto Chery Tiggo, que começou a ser produzido em Carrasco, no Uruguai. Em uma volta rápida por Buenos Aires, na Argentina, onde o Tiggo foi apresentado no começo de julho, meu conceito (melhor, meu préconceito) sobre carros chineses mudou. Percebem-se no Tiggo qualidades que o colocam como opção ao Ford EcoSport e ao Hyundai Tucson – e isso você terá oportunidade de conferir em outubro, no Salão do Automóvel, em São Paulo. As vendas por aqui começam na virada do ano.
A marca chinesa Chery chega ao Mercosul nas mãos do grupo argentino Socma, dirigido por Franco Macri, empresário que entre os anos 80 e 90 fabricava modelos de Fiat, Peugeot e Chevrolet. Desta vez, Macri fez uma joint-venture para a construção da fábrica onde foram investidos US$ 30 milhões. De Carrasco (Uruguai) sairão 12 mil automóveis por ano, dos quais seis mil terão o Brasil como destino. A fabricante informa que 40% das peças do Tiggo são fornecidas por empresas de Brasil e Argentina. Em 2010, o plano da empresa é dobrar a produção com a fabricação de um novo modelo.
Car & Driver (edição brasileira)
Ainda há quem acredite que a crise financeira da Europa e dos Estados Unidos teve origem no sub-prime imobiliário, no incumprimento do pagamento das casas vendidas a quem não tinha rendimentos suficientes.
Santa ingenuidade. Infelizmente o problema é muito mais fundo.
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Fome de seriedade
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A propósito da excelente, mas tardia, decisão de recolher a comida não utilizada pelos restaurantes e de a distribuir a quem dela necessite, regressou a retórica da fome.
Chega a ser revoltante ver como tal termo é abusivamente usado entre nós enquanto na África e na Ásia se morre aos milhões, aí sim, de verdadeira fome. A propaganda política e o proselitismo religioso, para não falar na mera voracidade dos que pretendem abocanhar os dinheiros públicos, servem-se despudoradamente da "fome" como bandeira.
Ainda recentemente Cavaco Silva, numa cena deplorável, representou perante as câmaras da TV a sua vergonha por haver portugueses com fome.
Nesta época natalícia não há marca comercial que não queira aparecer como filantrópica pois os especialistas de marketing devem ter convencido o patronato de que a caridade aumenta as vendas. Por outro lado multiplicam-se as ONG destinadas a "ajudar os necessitados" com recolhas gigantescas de donativos.
Com toda esta azáfama somos levados a interrogar-nos se não deviam já ter acabado todos pobres em Portugal, tantos e tão mediáticos são os caridosos.
Mas não, todo este estendal de bondade exposto em público serve mais os seus autores do que os hipotéticos destinatários.
Os números avançados nos jornais parecem basear-se em sensações avulsas e não ter qualquer consistência.
Um trabalho sério e objectivo sobre a matéria continua por realizar deixando o terreno livre para todo o tipo de demagogias.
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A propósito da excelente, mas tardia, decisão de recolher a comida não utilizada pelos restaurantes e de a distribuir a quem dela necessite, regressou a retórica da fome.
Chega a ser revoltante ver como tal termo é abusivamente usado entre nós enquanto na África e na Ásia se morre aos milhões, aí sim, de verdadeira fome. A propaganda política e o proselitismo religioso, para não falar na mera voracidade dos que pretendem abocanhar os dinheiros públicos, servem-se despudoradamente da "fome" como bandeira.
Ainda recentemente Cavaco Silva, numa cena deplorável, representou perante as câmaras da TV a sua vergonha por haver portugueses com fome.
Nesta época natalícia não há marca comercial que não queira aparecer como filantrópica pois os especialistas de marketing devem ter convencido o patronato de que a caridade aumenta as vendas. Por outro lado multiplicam-se as ONG destinadas a "ajudar os necessitados" com recolhas gigantescas de donativos.
Com toda esta azáfama somos levados a interrogar-nos se não deviam já ter acabado todos pobres em Portugal, tantos e tão mediáticos são os caridosos.
Mas não, todo este estendal de bondade exposto em público serve mais os seus autores do que os hipotéticos destinatários.
Os números avançados nos jornais parecem basear-se em sensações avulsas e não ter qualquer consistência.
Um trabalho sério e objectivo sobre a matéria continua por realizar deixando o terreno livre para todo o tipo de demagogias.
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Friday, December 10, 2010
Então pagamos nós
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O Governo vai propor aos parceiros sociais a criação de um fundo para financiar os custos dos despedimentos, à semelhança do que já foi aprovado em Espanha. A matéria foi colocada em cima da mesa na reunião de anteontem com a UGT, mas há ainda muitas questões em aberto.
O objectivo é criar condições para que as empresas deixem de usar os elevados custos dos despedimentos como justificação para não criarem novos postos de trabalho e, ao mesmo tempo, tentar influenciar os indicadores internacionais que colocam Portugal no topo dos países onde os despedimentos são considerados mais dispendiosos.
Caso a ideia vá por diante, e segundo o PÚBLICO apurou, a intenção do Governo é manter o valor das indemnizações por despedimento actualmente previstas no Código do Trabalho e transferir para esse fundo a responsabilidade pelo pagamento da indemnização ao trabalhador. A forma como o fundo será alimentado é outra questão que está por definir, mas deverá contar com as contribuições das empresas e, possivelmente, com dinheiros públicos.
Público 10.12.2010
Em suma, o governo quer por-nos a nós a pagar as indemnizações que as empresas deviam pagar.
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O Governo vai propor aos parceiros sociais a criação de um fundo para financiar os custos dos despedimentos, à semelhança do que já foi aprovado em Espanha. A matéria foi colocada em cima da mesa na reunião de anteontem com a UGT, mas há ainda muitas questões em aberto.
O objectivo é criar condições para que as empresas deixem de usar os elevados custos dos despedimentos como justificação para não criarem novos postos de trabalho e, ao mesmo tempo, tentar influenciar os indicadores internacionais que colocam Portugal no topo dos países onde os despedimentos são considerados mais dispendiosos.
Caso a ideia vá por diante, e segundo o PÚBLICO apurou, a intenção do Governo é manter o valor das indemnizações por despedimento actualmente previstas no Código do Trabalho e transferir para esse fundo a responsabilidade pelo pagamento da indemnização ao trabalhador. A forma como o fundo será alimentado é outra questão que está por definir, mas deverá contar com as contribuições das empresas e, possivelmente, com dinheiros públicos.
Público 10.12.2010
Em suma, o governo quer por-nos a nós a pagar as indemnizações que as empresas deviam pagar.
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Wednesday, December 8, 2010
A crise fica aonde?
Em apenas sete dias, foram levantados 598 milhões de euros da rede multibanco e gastos outros 673 milhões nos terminais de pagamento automáticos nas lojas.
Dados divulgados hoje pela SIBS revelam que, entre 29 de Novembro e 5 de Dezembro, houve nove milhões de levantamentos, num valor total de 598 milhões de euros, mais cinco milhões do que no mesmo período do ano passado.
O valor médio levantado também subiu, passando de 69 para 70 euros.
No mesmo período, foram efectuadas 16 milhões de compras nos terminais de pagamento automático, alcançando um valor global de 673 milhões de euros, o que significa um acréscimo de 30 milhões de euros face a igual período de 2009.
Público 98.12.2010
Afinal essa coisa da crise fica aonde?
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Tuesday, December 7, 2010
Candidato ao prémio Nobel?
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O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, vai ficar detido até 14 de Dezembro, decidiu esta tarde o Tribunal de Justiça de Westminster.
A decisão foi tomada após a audição do fundador da WikiLeaks, em virtude de um mandado de captura europeu relacionado com uma acusação de violação feita pela justiça sueca.
Público 07.12.2010
Se este tipo fosse chinês tornava-se um sério candidato a prémio Nobel da Paz.
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O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, vai ficar detido até 14 de Dezembro, decidiu esta tarde o Tribunal de Justiça de Westminster.
A decisão foi tomada após a audição do fundador da WikiLeaks, em virtude de um mandado de captura europeu relacionado com uma acusação de violação feita pela justiça sueca.
Público 07.12.2010
Se este tipo fosse chinês tornava-se um sério candidato a prémio Nobel da Paz.
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Quem se importa com os professores?
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Um dos números mais curiosos que se pode encontrar no relatório Pisa 2010 é como Portugal é um dos países que mais chumba os seus alunos. Quando falamos de dinheiro, o nosso País gasta comparativamente pouco por aluno mas é dos que paga melhor aos professores.
1 - Reprovações
A taxa de reprovação dos estudantes portugueses é das mais altas dos países da OCDE. 35% dos alunos portugueses chumbam um ou mais anos, enquanto a média da OCDE é de apenas 13%. Números mais altos encontram-se apenas na França, Luxemburgo e Espanha. Já na Noruega, Coreia e Japão não há reprovações e na Islândia o valor também não chega ao 1%.
2 - Hábitos de Leitura
35,6% dos estudantes portugueses dizem que ler é uma das suas actividades preferidas, em comparação com os 32,9% da OCDE. Já no que respeita a leituras ‘online', os portugueses passam mais tempo em relação à média da OCDE a ler ‘emails' e em ‘chats' e menos a ler jornais na Internet.
3 - Salários dos professores
Os salários médios dos professores primários na OCDE, após 15 anos de experiência, são 113% do PIB per capita. Em Portugal, o mesmo índice é de 155%. Este número mantém-se para os professores do Ensino Secundário, enquanto na OCDE os professores secundários ganham entre 118% e 125% do PIB per capita, após 15 anos de carreira. Os países em que os professores ganham mais, segundo o relatório PISA, são Portugal, Coreia, México, Alemanha e Suíça. Os países onde os professores ganham menos são, por exemplo, Hungria, Islândia e Estónia, em comparação com o PIB per capita.
4 - Gastos por aluno
Portugal gasta, por aluno, 42.322 euros (usando Poder Paridade Compra ou PPP). A média da OCDE fica nos 51.511 euros por aluno, mas países como Espanha (55.781 euros por alunos, usando o PPP) ou Itália (58.200 euros) ultrapassam largamente esse valor.
Económico, 07.12.2010
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Um dos números mais curiosos que se pode encontrar no relatório Pisa 2010 é como Portugal é um dos países que mais chumba os seus alunos. Quando falamos de dinheiro, o nosso País gasta comparativamente pouco por aluno mas é dos que paga melhor aos professores.
1 - Reprovações
A taxa de reprovação dos estudantes portugueses é das mais altas dos países da OCDE. 35% dos alunos portugueses chumbam um ou mais anos, enquanto a média da OCDE é de apenas 13%. Números mais altos encontram-se apenas na França, Luxemburgo e Espanha. Já na Noruega, Coreia e Japão não há reprovações e na Islândia o valor também não chega ao 1%.
2 - Hábitos de Leitura
35,6% dos estudantes portugueses dizem que ler é uma das suas actividades preferidas, em comparação com os 32,9% da OCDE. Já no que respeita a leituras ‘online', os portugueses passam mais tempo em relação à média da OCDE a ler ‘emails' e em ‘chats' e menos a ler jornais na Internet.
3 - Salários dos professores
Os salários médios dos professores primários na OCDE, após 15 anos de experiência, são 113% do PIB per capita. Em Portugal, o mesmo índice é de 155%. Este número mantém-se para os professores do Ensino Secundário, enquanto na OCDE os professores secundários ganham entre 118% e 125% do PIB per capita, após 15 anos de carreira. Os países em que os professores ganham mais, segundo o relatório PISA, são Portugal, Coreia, México, Alemanha e Suíça. Os países onde os professores ganham menos são, por exemplo, Hungria, Islândia e Estónia, em comparação com o PIB per capita.
4 - Gastos por aluno
Portugal gasta, por aluno, 42.322 euros (usando Poder Paridade Compra ou PPP). A média da OCDE fica nos 51.511 euros por aluno, mas países como Espanha (55.781 euros por alunos, usando o PPP) ou Itália (58.200 euros) ultrapassam largamente esse valor.
Económico, 07.12.2010
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Sunday, December 5, 2010
O Jardim dos Açores
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Público 05.12.2010
Às maravilhosas ilhas dos Açores saíu em sorte um Jardim que, em vez da farsa histriónica, cultiva o dislate imbecil.
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O presidente do PS/Açores, Carlos César, acusou hoje Cavaco Silva de “dividir os portugueses”, lançando os do continente contra os do arquipélago, na sequência dos comentários que fez à remuneração compensatória para os funcionários públicos.
Público 05.12.2010
Às maravilhosas ilhas dos Açores saíu em sorte um Jardim que, em vez da farsa histriónica, cultiva o dislate imbecil.
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Saturday, December 4, 2010
O TGV chinês avança
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O comboio chinês da China Railway High-Speed, alcançou esta sexta-feira uma velocidade de 486,1 km/h, transformando-se na composição mais rápida do mundo, afirmou a agência Xinhua.
O recorde foi estabelecido no percurso que liga a cidade de Zaozhuang, na província de Shandong, até Bengbu, na província de Anhui, de 220 quilómetros.
Com isso, superou os 416,6 km/h atingidos em Setembro no trajecto entre Xangai, centro económico e financeiro da China, até Hangzhou, capital da província de Zhejiang.
O comboio, do modelo CRH380A, é utilizado no trajecto entre Pequim e Xangai, que em 2011 contará com 24 estações e unirá as duas cidades em quatro horas, passando por sete províncias formando a linha férrea de alta velocidade mais longa do mundo.
Entre outras características, a ferrovia mais rápida do mundo tem salas VIPs com sofás-camas, ecrãs planos de televisão e compartimento para reuniões privadas e de negócios.
A linha férrea Pequim-Xangai ligará as áreas económicas mais proeminentes do país e transformar-se-á na mais ocupada, já que diariamente transportará 220 mil passageiros.
O custo total da linha será de 12 mil milhões de dólares. Interessado na tecnologia francesa e alemã, o Ministério de Ferrovias chinês convidou empresas estrangeiras para investirem no projecto. Alstom, Siemens e Mitsubishi-Kawasak são algumas das envolvidas.
Actualmente, as linhas de alta velocidade da China alcançam os 7.531 quilómetros e são as mais longas do mundo. Na China, diariamente funcionam mil comboios e cerca de 1 milhão de pessoas utilizam o serviço.
Diário Digital 03.12.2010
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O comboio chinês da China Railway High-Speed, alcançou esta sexta-feira uma velocidade de 486,1 km/h, transformando-se na composição mais rápida do mundo, afirmou a agência Xinhua.
O recorde foi estabelecido no percurso que liga a cidade de Zaozhuang, na província de Shandong, até Bengbu, na província de Anhui, de 220 quilómetros.
Com isso, superou os 416,6 km/h atingidos em Setembro no trajecto entre Xangai, centro económico e financeiro da China, até Hangzhou, capital da província de Zhejiang.
O comboio, do modelo CRH380A, é utilizado no trajecto entre Pequim e Xangai, que em 2011 contará com 24 estações e unirá as duas cidades em quatro horas, passando por sete províncias formando a linha férrea de alta velocidade mais longa do mundo.
Entre outras características, a ferrovia mais rápida do mundo tem salas VIPs com sofás-camas, ecrãs planos de televisão e compartimento para reuniões privadas e de negócios.
A linha férrea Pequim-Xangai ligará as áreas económicas mais proeminentes do país e transformar-se-á na mais ocupada, já que diariamente transportará 220 mil passageiros.
O custo total da linha será de 12 mil milhões de dólares. Interessado na tecnologia francesa e alemã, o Ministério de Ferrovias chinês convidou empresas estrangeiras para investirem no projecto. Alstom, Siemens e Mitsubishi-Kawasak são algumas das envolvidas.
Actualmente, as linhas de alta velocidade da China alcançam os 7.531 quilómetros e são as mais longas do mundo. Na China, diariamente funcionam mil comboios e cerca de 1 milhão de pessoas utilizam o serviço.
Diário Digital 03.12.2010
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Friday, December 3, 2010
O buraco
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Há já cinco anos que o buraco na camada de ozono sobre a Antárctida não era tão reduzido, informam hoje investigadores neozelandeses, com base em dados de satélite e medições a partir do solo.
O buraco na camada de ozono, uma “porta de entrada” para os raios ultravioletas que podem ser nocivos para a saúde e Ambiente, atingiu uma área máxima de 22 milhões de quilómetros quadrados este ano, comparada com os 24 milhões registados no ano passado, segundo os investigadores do Niwa, Instituto nacional neozelandês para a Investigação Atmosférica e da Água, sediado em Auckland.
O cientista do Niwa Stephen Wood disse ao jornal “New Zealand Herald” que se tem registado nos últimos anos uma tendência para a diminuição do buraco na camada de ozono. “Todos os anos assistimos a variações na dimensão do buraco de ozono, causadas por diferenças na temperatura e circulação atmosférica. Por isso, não podemos dizer com certeza que o buraco na camada de ozono está a melhorar, com base nas observações que fazemos por ano”, comentou. “Ainda assim, temos agora uma série de anos com buracos de ozono menos severos. Isso indica que podemos começar a ver uma recuperação”, disse Stephen Wood, citado por aquele jornal.
O buraco na camada de ozono sobre a Antárctida forma-se todos os anos em Agosto e Setembro e normalmente desaparece em Novembro ou Dezembro. A maior área alguma vez registada foi 29 milhões de quilómetros quadrados, no ano de 2000.
Público 03.12.2010
Este arreliante retrocesso do buraco, que juntamente com a "gripe das aves" e a "gripe A" tanto nos assustaram, vem assim pôr em causa uma dos muitas catástrofes prometidas que povoam o nosso mundo, prontas a castigar os nossos pecados.
Não faz mal. Novas ameaças serão certamente inventadas.
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Há já cinco anos que o buraco na camada de ozono sobre a Antárctida não era tão reduzido, informam hoje investigadores neozelandeses, com base em dados de satélite e medições a partir do solo.
O buraco na camada de ozono, uma “porta de entrada” para os raios ultravioletas que podem ser nocivos para a saúde e Ambiente, atingiu uma área máxima de 22 milhões de quilómetros quadrados este ano, comparada com os 24 milhões registados no ano passado, segundo os investigadores do Niwa, Instituto nacional neozelandês para a Investigação Atmosférica e da Água, sediado em Auckland.
O cientista do Niwa Stephen Wood disse ao jornal “New Zealand Herald” que se tem registado nos últimos anos uma tendência para a diminuição do buraco na camada de ozono. “Todos os anos assistimos a variações na dimensão do buraco de ozono, causadas por diferenças na temperatura e circulação atmosférica. Por isso, não podemos dizer com certeza que o buraco na camada de ozono está a melhorar, com base nas observações que fazemos por ano”, comentou. “Ainda assim, temos agora uma série de anos com buracos de ozono menos severos. Isso indica que podemos começar a ver uma recuperação”, disse Stephen Wood, citado por aquele jornal.
O buraco na camada de ozono sobre a Antárctida forma-se todos os anos em Agosto e Setembro e normalmente desaparece em Novembro ou Dezembro. A maior área alguma vez registada foi 29 milhões de quilómetros quadrados, no ano de 2000.
Público 03.12.2010
Este arreliante retrocesso do buraco, que juntamente com a "gripe das aves" e a "gripe A" tanto nos assustaram, vem assim pôr em causa uma dos muitas catástrofes prometidas que povoam o nosso mundo, prontas a castigar os nossos pecados.
Não faz mal. Novas ameaças serão certamente inventadas.
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Não é para todos
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São quase dois milhões e meio de euros para estudar a forma como a Europa reage ao conhecimento vindo do resto do mundo. O sociólogo Boaventura Sousa Santos vai receber uma bolsa europeia, de 2,4 milhões de euros, para desenvolver um projecto na área das ciências sociais.
O projecto apoiado pelo European Research Council é o primeiro atribuído na área das ciências sociais e vai ser desenvolvido nos próximos cinco anos pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Para a investigação será criada uma equipa com quatro investigadores doutorados e oito em doutoramento.
Segundo o comunicado do CES, o objectivo do projecto científico centra-se em duas ideias principais: "O conhecimento do mundo excede em muito o modo como a Europa o vê e a transformação social, política e institucional da Europa beneficiará bastante com a compreensão das inovações que estão a ocorrer em muitos países e regiões com quem a Europa tem relações de interdependência". Para tal, a investigação vai abordar a "democratização da democracia; o constitucionalismo intercultural; as outras economias; e os direitos humanos", estudando nove países.
Público, 03.12.2010
Isto até faz inveja. Dispor de milhões de euros para estudar algo totalmente indefinido e comprometer-se a produzir resultados cuja validade é impossível comprovar é algo a que todos gostaríamos de ter acesso.
Mas, como quase todas as coisas boas da vida, não é para todos.
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São quase dois milhões e meio de euros para estudar a forma como a Europa reage ao conhecimento vindo do resto do mundo. O sociólogo Boaventura Sousa Santos vai receber uma bolsa europeia, de 2,4 milhões de euros, para desenvolver um projecto na área das ciências sociais.
O projecto apoiado pelo European Research Council é o primeiro atribuído na área das ciências sociais e vai ser desenvolvido nos próximos cinco anos pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Para a investigação será criada uma equipa com quatro investigadores doutorados e oito em doutoramento.
Segundo o comunicado do CES, o objectivo do projecto científico centra-se em duas ideias principais: "O conhecimento do mundo excede em muito o modo como a Europa o vê e a transformação social, política e institucional da Europa beneficiará bastante com a compreensão das inovações que estão a ocorrer em muitos países e regiões com quem a Europa tem relações de interdependência". Para tal, a investigação vai abordar a "democratização da democracia; o constitucionalismo intercultural; as outras economias; e os direitos humanos", estudando nove países.
Público, 03.12.2010
Isto até faz inveja. Dispor de milhões de euros para estudar algo totalmente indefinido e comprometer-se a produzir resultados cuja validade é impossível comprovar é algo a que todos gostaríamos de ter acesso.
Mas, como quase todas as coisas boas da vida, não é para todos.
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Thursday, December 2, 2010
Opinião qualificada sobre a ADSE
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O presidente da Entidade Reguladora da Saúde defende uma acção mais pedagógica que repressiva do regulador. Mas será inflexível em garantir um tratamento igual para todos os doentes do SNS.
Em relação à ADSE, os responsáveis dos hospitais privados alegam que os pagamentos estão desactualizados.
Esse é um problema que o Governo poderá e deverá resolver. É sabida a minha opinião em relação à ADSE. Noutra sede, defendi a auto-sustentabilidade financeira da ADSE. É uma questão de equidade. É preciso pensar se faz sentido que a maior parte dos contribuintes paguem as despesas de saúde de uma parcela de portugueses que são funcionários públicos.
Público, 02.12.2010
Concordo plenamente.
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O presidente da Entidade Reguladora da Saúde defende uma acção mais pedagógica que repressiva do regulador. Mas será inflexível em garantir um tratamento igual para todos os doentes do SNS.
Em relação à ADSE, os responsáveis dos hospitais privados alegam que os pagamentos estão desactualizados.
Esse é um problema que o Governo poderá e deverá resolver. É sabida a minha opinião em relação à ADSE. Noutra sede, defendi a auto-sustentabilidade financeira da ADSE. É uma questão de equidade. É preciso pensar se faz sentido que a maior parte dos contribuintes paguem as despesas de saúde de uma parcela de portugueses que são funcionários públicos.
Público, 02.12.2010
Concordo plenamente.
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Monday, November 29, 2010
Encaixa Mais
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Palhinhas para inalar droga distribuídas gratuitamente
Título do DN de Hoje
Esta medida faz parte da campanha "Encaixa Mais"
Aos cábulas dá-se diplomas...
Aos corruptos dá-se prescrições...
Aos drogados dá-se palhinhas e seringas...
Às "minorias étnicas" da candonga dá-se casas à borla...
Aos gestores amigos das empresas públicas dá-se mordomias...
Aos velhos pensionistas pobres dá-se o congelamento das pensões...
E àqueles que se esfalfam a trabalhar e a equilibrar o magro orçamento dá-se mais impostos.
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Sunday, November 28, 2010
O melhor amigo do homem... e da mulher
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Quando não lhe apetece carregar com compras, o que faz? Zhang Tiegang, de 32 anos, residente em Changsha (sul da China), manda o cão. De acordo com a edição britânica do jornal Metro, Deng Deng, um cão de raça Sheepdog, de um ano de idade, foi treinado para ir à loja, pegar nos produtos e levá-los para casa.
Sempre que vai às compras, Zhang coloca em Deng Deng uma espécie de sela com arnês, nos quais são colocados dois sacos, onde as compras são colocadas. Tiengang diz que o seu companheiro de quatro patas gosta desta tarefa: “Ele gosta de carregar coisas. Começou por levá-las na boca, mas depois decidi comprar esta espécie de sela com duas sacolas”.
“Ele é tão bom a fazer isto que eu posso mandá-lo sozinho às compras, apenas com o dinheiro e a lista numa das sacolas. Ele chega a casa com a comida e o troco”, acrescenta.
Jornal de Notícias, 27.11.2010
Em 1980 eu descobri um cão que carregava a mala de mão da sua dona moscovita. Uma excelente prevenção contra gatunos.
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Quando não lhe apetece carregar com compras, o que faz? Zhang Tiegang, de 32 anos, residente em Changsha (sul da China), manda o cão. De acordo com a edição britânica do jornal Metro, Deng Deng, um cão de raça Sheepdog, de um ano de idade, foi treinado para ir à loja, pegar nos produtos e levá-los para casa.
Sempre que vai às compras, Zhang coloca em Deng Deng uma espécie de sela com arnês, nos quais são colocados dois sacos, onde as compras são colocadas. Tiengang diz que o seu companheiro de quatro patas gosta desta tarefa: “Ele gosta de carregar coisas. Começou por levá-las na boca, mas depois decidi comprar esta espécie de sela com duas sacolas”.
“Ele é tão bom a fazer isto que eu posso mandá-lo sozinho às compras, apenas com o dinheiro e a lista numa das sacolas. Ele chega a casa com a comida e o troco”, acrescenta.
Jornal de Notícias, 27.11.2010
Em 1980 eu descobri um cão que carregava a mala de mão da sua dona moscovita. Uma excelente prevenção contra gatunos.
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Saturday, November 27, 2010
O incrível DartLacão
Pasmo quando oiço o incrível DartLacão explicar-nos, doutoralmente, a delirante teoria segundo a qual ao relaxar a legislação se torna mais fácil obrigar as empresas públicas a reduzir os salários.
Como se tal não bastasse aparece depois o Passos Coelho, putativo representante da alternativa ao actual governo, a defender a delirante teoria de que é preciso evitar que os geniais gestores públicos fujam para o privado.
Alguém devia dizer-lhe que empresas como a Caixa Geral de Depósitos teriam lucros mesmo que a Administração fosse constituída não pelos actuais boys partidários mas por múmias do Egipto.
Nas outras empresas públicas, aquelas que dão sempre prejuizo, somos nós os cidadãos que o pagamos através das subvenções do Estado.
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Friday, November 26, 2010
Toponímia contra a crise
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No meu bairro enfrentamos a crise com galhardia. Para mostrar aos mercados que não estamos aflitos alguém resolveu fazer toponímia em duplicado.
E não foi só o Santo António, também o S. Luís e os outros santos todos tiveram direito a uma segunda placa, lado a lado que aquela que já se encontrava no local há algum tempo.
Claro que esta segunda placa podia ter sido posta do outro lado da rua, onde eventualmente seria mais útil, mas nesse caso perdia-se parte do efeito da bravata.
O único problema é que alguns transeuntes, ao ver duas imagens similares, chegam a pensar que estão alcoolizados.
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Thursday, November 25, 2010
Os apóstolos da bola
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O plantel segundo Jacopo Bassano (1510-1592)
Temos o plantel que Jesus pediu
Luís Filipe Vieira em declarações à Bola
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O Grito do Povo
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O Grito do Povo era a marca de uma organização pró-chinesa que no ocaso do marcelismo estava bem implantada no Norte e era dirigida por Pedro Baptista, a quem a democracia não reservaria grande papel - ao invés do que aconteceu com o seu rival de então, Pacheco Pereira, que liderava um pequeno e insignificante grupúsculo da mesma obediência ideológica.
Após o 25 de Abril, o Grito do Povo integrou a UDP, conglomerado maoista que publicava a Voz do Povo (onde debutaram José Manuel Fernandes, ex-director do Público, e Henrique Monteiro, futuro ex-director do Expresso) e viria a juntar os trapinhos no Bloco de Esquerda com os seus velhos inimigos trotskistas.
Apesar de nunca ter navegado politicamente nas turvas águas do maoismo, sempre achei feliz a marca Grito do Povo, pois o grito é a expressão da dor física que sentimos quando o sofrimento moral se torna insuportável.
DN, 25.11.2010
Continuam a gritar mas nos jornais "de referência".
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O Grito do Povo era a marca de uma organização pró-chinesa que no ocaso do marcelismo estava bem implantada no Norte e era dirigida por Pedro Baptista, a quem a democracia não reservaria grande papel - ao invés do que aconteceu com o seu rival de então, Pacheco Pereira, que liderava um pequeno e insignificante grupúsculo da mesma obediência ideológica.
Após o 25 de Abril, o Grito do Povo integrou a UDP, conglomerado maoista que publicava a Voz do Povo (onde debutaram José Manuel Fernandes, ex-director do Público, e Henrique Monteiro, futuro ex-director do Expresso) e viria a juntar os trapinhos no Bloco de Esquerda com os seus velhos inimigos trotskistas.
Apesar de nunca ter navegado politicamente nas turvas águas do maoismo, sempre achei feliz a marca Grito do Povo, pois o grito é a expressão da dor física que sentimos quando o sofrimento moral se torna insuportável.
DN, 25.11.2010
Continuam a gritar mas nos jornais "de referência".
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Wednesday, November 24, 2010
Elementos para a compreensão do 25 de Novembro
Excelente artigo publicado no Público há um ano atrás.
No ecrã a preto e branco, o jornalista envolto em fumo de cigarro anunciou os líderes dos partidos Socialista e Comunista. “O sr. dr. teima em querer fazer a revolução com uma minoria”, diz Soares, com um risinho. Cunhal responde rápido: “Não. O que eu quero é fazer a revolução com revolucionários.”
A reunião do Conselho da Revolução fora pedida pelo executivo. O primeiro-ministro, Pinheiro de Azevedo, cujo cognome era o “Almirante sem Medo”, exigia medidas para que o deixassem governar. Os militares não lhe obedeciam, os sindicatos e os comunistas organizavam manifestações de protesto todos os dias, os media divulgavam propaganda radical e apelavam à sublevação, principalmente a Rádio Renascença, que, em Outubro, fora ocupada pelos trabalhadores e se transformara em porta-voz da esquerda revolucionária. Era preciso fazer qualquer coisa.
Pinheiro de Azevedo e alguns dos conselheiros falaram sobre isto durante o intervalo, que se prolongou demasiado devido ao grande interesse do debate da RTP, dando azo a que fosse tomada, um pouco à socapa, aquela decisão, antes de todos voltarem à sala. A decisão terrorista.
“O Partido Comunista tem um pé no Governo e todo o corpo, e o outro pé, de fora, fazendo mobilização no país, para derrubar o Governo”, diz Soares na televisão. “Isto leva em linha recta o país para a confrontação armada e uma guerra civil.” Cunhal vai contrariando: “Nós também queremos evitar a guerra civil. Mas não se fale da disciplina da direita reaccionária…”
Soares continua: “O que o Partido Comunista deu provas, durante estes meses, é que quer transformar este país numa ditadura.” E Cunhal: “Olhe que não, olhe que não.”
Conselheiros da Revolução e ministros voltaram para a sala de reuniões, no Palácio de Belém. Prosseguiram os discursos e as queixas, até que o Conselho disse que sim a todas as sugestões do sarcástico primeiro-ministro. Uma delas, já combinada no intervalo, era a decisão terrorista de Estado e dizia respeito à Rádio Renascença. Às 4h30 da manhã do dia 7, sexta-feira, pouco depois de a reunião ter terminado, uma bomba era lançada, na Buraca, sobre os emissores da rádio rebelde, calando-a de vez. A ordem foi dada pelo Governo, com aval do Conselho da Revolução e através do chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Morais e Silva, e quem a executou foram forças pára-quedistas da Companhia de Caçadores 121, aquartelada no Lumiar.
Ora entre os “páras” o predomínio dos esquerdistas era cada vez maior. Activistas do PCP e dos partidos maoístas faziam agitação e propaganda junto dos efectivos das unidades especiais e altamente disciplinadas de pára-quedistas, fazendo-os sentir um peso na consciência por terem bombardeado a Renascença.
Sábado, 8 de Novembro. Apercebendo-se do mal-estar entre os “páras”, Morais e Silva, acompanhado pelo capitão de Abril Vasco Lourenço, foi à Base Escola de Tropas Pára-Quedistas, em Tancos, explicar a acção contra a “rádio vermelha”. Uma sessão de esclarecimento foi convocada para o pavilhão gimnodesportivo da base. O general começou a falar, ao lado de um embaraçado Vasco Lourenço (que sempre achou injustificável a operação Renascença), mas foi interrompido por um soldado, que lhe roubou o microfone para dizer: “Camaradas, vamos todos sair daqui. O meu general é um burguês, que já fez a sua opção de classe e não pode defender os nossos interesses. Portanto, não temos nada que estar aqui a ouvi-lo.” E abandona o pavilhão com a maioria dos soldados, para se irem juntar a uma reunião paralela, com os sargentos da base.
Humilhado, Morais e Silva ficou sem resposta, e acabou também por sair do recinto. Os oficiais presentes continuaram a reunião, decidindo que, por não haver disciplina possível, iriam apresentar-se no Estado-Maior da Força Aérea, para pedir a passagem aos seus quadros de origem. Nesse mesmo dia, 123 oficiais abandonaram a base de Tancos, deixando-a entregue a sargentos e praças, e instalam-se na base aérea de Cortegaça, perto de Espinho, com a ajuda e apoio do chefe da Região Militar do Norte, Pires Veloso. Morais e Silva, esse, jurou vingar-se.
Domingo, 9 de Novembro. Uma gigantesca manifestação de apoio ao VI Governo Provisório foi convocada para o Terreiro do Paço pelo PS e o PSD. Pinheiro de Azevedo, com Mário Soares e Sá Carneiro, ficou numa das janelas da sala do Estado-Maior da Armada. Mas mal o primeiro-ministro começou a discursar, denunciando o golpismo do Partido Comunista, rebentou uma granada de fumo no meio da multidão. Gerou-se o pânico, correrias, gritos, uns tentando abandonar a praça, outros deixando-se atropelar, outros tentando encontrar e castigar os culpados. Pouco depois, começou a ouvir-se um tiroteio vindo dos arcos da praça. A Polícia Militar tentava dispersar a tiro os desordeiros, provocando o pandemónio. Da janela, Pinheiro de Azevedo gritava: “O povo é sereno! O povo é sereno! É apenas fumaça! É apenas fumaça! O povo é sereno!”
Segunda-feira, 10 de Novembro.
Na base de Tancos realizou-se um plenário em que foi aprovada uma moção de repúdio pela operação contra a Renascença. Os sargentos assumiram a autoridade, reinstalaram a disciplina e treinos com intensidade redobrada, armaram uma companhia especial para garantir a defesa da base.
Terça-feira, 11 de Novembro. Dois sargentos pára-quedistas deslocaram-se ao Forte do Alto do Duque, onde se situava o quartel-general do Copcon (Comando Operacional do Continente). Pediram para falar com o chefe, Otelo Saraiva de Carvalho. “Meu general, vimos aqui oferecer-lhe 20 mil tiros por minuto”, disse um dos sargentos. Colocavam-se à disposição e sob o comando de Otelo, em troca do seu apoio à luta dos “páras”.
Quarta-feira, 12 de Novembro. Otelo manifestou publicamente o seu apoio aos pára-quedistas. Morais e Silva começara a executar a sua vingança. Numa série de ordens confusas, ia mandando passar à disponibilidade os praças pára-quedistas. Na prática, extinguiu os pára-quedistas.
Para explicar a sua posição, Otelo promoveu uma reunião entre Morais e Silva e o Presidente da República, Costa Gomes. “Meu general, eu quero dizer-lhe claramente que não posso apoiar esta decisão unilateral do Morais e Silva”, disse Otelo. “Temos uma força pára-quedista de centenas de homens perfeitamente disciplinados, uma força excelente para o combate, que pode actuar em qualquer situação, e agora, por despacho, este gajo elimina a força de pára-quedistas?”
“Mas eles não me respeitam”, defendeu-se Morais e Silva.
“Não te respeitam, porque tu participaste em ordens que não têm pés nem cabeça”, atacou Otelo. “Destruir à bomba os emissores da Rádio Renascença, só porque ela estava ocupada pelos trabalhadores? Não havia outra forma de resolver o problema?”
A delegação dos pára-quedistas que visitou o Copcon informou ainda Otelo que os oficiais baseados em Cortegaça estavam a enviar aviões para sobrevoarem ameaçadoramente a base de Tancos. “Estão a fazer voos a pique sobre nós”, disse um dos sargentos. “E, se houver alguma atitude ameaçadora, nós queremos rebentar com o avião.”
Otelo enviou então, como medida dissuasora, metralhadoras antiaéreas para os páras em autogestão.
No mesmo dia, às 5 da tarde, uma manifestação de trabalhadores da construção civil cercou o Palácio de S. Bento, onde o Governo se encontrava reunido, para apresentar ao primeiro-ministro o seu caderno reivindicativo. Em frente do portão da residência do primeiro-ministro, os trabalhadores colocaram uma enorme betoneira, obstruindo a saída. Ninguém poderia abandonar o palácio antes de terem sido atendidas as reivindicações, explicaram os delegados sindicais.
No interior, permanecia o Governo inteiro, mas também os deputados da Assembleia Constituinte, que estava reunida, o público que assistia à sessão e os funcionários do palácio. Uma delegação dos manifestantes foi falar com Pinheiro de Azevedo, que declarou não tencionar ler sequer o documento das reivindicações, enquanto se mantivesse aquela situação de pressão. Em resposta, representantes dos trabalhadores entraram no salão nobre e na varanda, onde instalaram um sistema sonoro e de onde iniciaram um comício permanente. Não iriam “arredar pé”, enquanto os seus problemas não fossem resolvidos, gritaram aos altifalantes. E com isso assumiram o sequestro do Governo e dos deputados, que duraria 36 horas, sem que as forças de segurança, comandadas pelo Copcon de Otelo, fizessem coisa alguma.
Vendo a situação entrar num impasse, com os trabalhadores a estenderem mantas e acenderem fogueiras para dormir e ficar ali por tempo indeterminado, Pinheiro de Azevedo veio à varanda apelar à dispersão, sob a promessa de estudar o caderno reivindicativo. Mas os manifestantes não o queriam ouvir, e gritavam e insultavam mal o primeiro-ministro abria a boca. “Fascista!”, chamavam eles, e o “Almirante sem Medo” perdeu a paciência: “Fascista uma merda!” Ou na versão de outras testemunhas: “Vão todos bardamerda!”
Só na manhã de quinta-feira, dia 13 de Novembro, os manifestantes permitiram a saída dos deputados, funcionários e elementos do público assistente à sessão da Constituinte. Os ministros continuaram sequestrados até que Pinheiro de Azevedo acabou por assinar um “compromisso” em que aceitava certas reivindicações.
Sexta-feira, 14 de Novembro.
Os líderes do PS, PPD e CDS fugiram para o Porto, onde participaram numa manifestação de apoio ao Governo, que acabaria com o assalto à sede da União dos Sindicatos. O país estava a dividir-se em dois. A região de Lisboa estava dominada pelas forças comunistas, e cada vez se tornava mais claro, para muita gente, que para as combater seria necessário fazê-lo a partir do Norte, onde os moderados e a direita detinham a supremacia, entre a população e nos quartéis. As forças democráticas tomariam posições na zona do Porto e os comunistas declarariam a Comuna de Lisboa. O país seria dividido em dois e seguir-se-ia a guerra civil.
Não chegou a haver consenso sobre esta solução, mas os líderes dos partidos democráticos, pelo sim pelo não, fugiram para o Porto com as respectivas famílias.
Foi Vasco Lourenço quem sempre recusou esta debandada das forças. A certa altura, numa reunião do Grupo dos Nove, o próprio Melo Antunes, que era o autor do documento, assinado por nove membros do Conselho da Revolução, que marcava posição contra o avanço do totalitarismo esquerdista na vida militar e civil do país, já estava a defender a retirada para o Porto. “Pronto, convenceram-me. Eu aceito”, disse Melo Antunes. Mas decidiu impor uma última condição: “Desde que o Vasco Lourenço também aceite.”
“Não. Eu não aceito. Isso seria a guerra civil”, disse Vasco Lourenço. “Vamo-nos preparar para reagir a qualquer tentativa que haja, e vamos manter o Costa Gomes do nosso lado. Porque o primeiro a saltar perde.”
E o Grupo dos Nove começou a trabalhar num plano militar para combater os comunistas e a extrema-esquerda, sempre na perspectiva de uma reacção contra um eventual golpe deles. Mantendo-se do lado da legalidade, teriam a garantia do apoio da maioria das unidades militares. Por isso era fundamental informar o Presidente Costa Gomes dos seus planos e ganhar o beneplácito dele. E depois esperar por um deslize dos esquerdistas.
Para conceber o plano militar, os Nove designaram Ramalho Eanes, embora Vasco Lourenço fosse o líder operacional do movimento dos moderados. Do outro lado, estavam todas as forças militares controladas pelo Partido Comunista e pelos partidos da extrema-esquerda, com a ajuda de todos os civis a quem seriam distribuídas armas, em caso de confronto. No seu total, contando com as lideranças organizadas e efectivas que possuíam, não constituíam uma força capaz de levar a melhor num conflito armado. Pelo menos era isto que os Nove pensavam.
Mas as coisas já seriam diferentes se Otelo assumisse a liderança de todo o sector da esquerda. O prestígio do comandante do Copcon era imenso. Para muitos, ele representava os trabalhadores, os mais fracos, os ideais do Movimento dos Capitães, encarnava a própria revolução. Fora ele a fazer o 25 de Abril, e a assumir as rédeas do poder quando todos disso se demitiam. Foi ele que permitiu e protegeu as ocupações de casas, de fábricas e de terras, que lançou as campanhas de dinamização cultural e de alfabetização. Ele, com toda a sua loucura e exagero, as suas frases bombásticas e assustadoras (”Fascistas para o Campo Pequeno”), era a figura moral e romântica, o símbolo da infinita generosidade de Abril. Mais do que ninguém, ele tinha a capacidade de arrastar as massas atrás de si. De fazer cumprir todas as ordens que desse, por pura lealdade, por puro afecto.
Por isso, Otelo era cobiçado pelas várias forças políticas. O Partido Comunista tentou por todos os meios tê-lo do seu lado, os esquerdistas acreditaram poder contar com ele, aliciando-o com os ideais de poder popular com que ele simpatizava. Até o CDS tentou levá-lo aos seus comícios, para tirar dividendos do seu poder de sedução. Mas Otelo, apesar de se ter deixado manipular em muitas situações, sempre resistiu ao recrutamento político. Nunca perdeu a independência. Naquela altura, era o comandante da Região Militar de Lisboa e do Copcon, uma estrutura que tinha sob a sua alçada todas as forças de segurança e especiais e ainda as unidades de todas as Forças Armadas, em caso de emergência. O Copcon fora criado pelo Presidente da República (Spínola, na altura). O seu poder era legal, além de imenso. Antes de começar a perder o controlo de muitas das forças, devido à acção e influência dos activistas civis da esquerda, Otelo foi o homem mais poderoso do país.
Agora era visto como o líder de todo o sector da esquerda, o único homem capaz de a unir para qualquer propósito, incluindo o de pegar em armas para defender “as conquistas de Abril”. Os apoiantes dos Nove (que incluíam desde a esquerda moderada do PS até à extrema-direita do ELP e MDLP) viam-no assim. Os comunistas e a extrema-esquerda viam-no assim. Só ele, Otelo, não aceitava esse papel.
Na semana seguinte houve manifestações contra e a favor do Governo, reuniões dos moderados, do seu grupo militar, reuniões do Copcon, com todos os elementos civis afectos ao PC e à esquerda radical que cirandavam em torno de Otelo, reuniões dos pára-quedistas em luta.
Vasco Lourenço informou Otelo do plano militar contra o eventual golpe da esquerda. “Eu garanto-te que nós não tomamos a iniciativa do golpe”, disse-lhe Vasco Lourenço. “Agora, não te envolvas em nenhuma iniciativa, porque se alguém der o primeiro passo, nós estamos em condições de lhe cair em cima. Toma cuidado com isso.”
A ideia era ganhar Otelo para o lado dos Nove. Porque eles estavam do lado da legalidade. Tinham, desde as remodelações havidas meses atrás, em consequência do Pronunciamento de Tancos, apoio da maioria do Conselho da Revolução, e tinham o apoio do Presidente da República. Além disso, Vasco sabia que Otelo compreendia as ideias da facção dos Nove. A liberdade, a realização de eleições e o respeito pelos seus resultados, e até a circunstância de os Estados Unidos e as potências ocidentais não tencionarem permitir a instauração de um regime comunista em Portugal, tudo isto eram argumentos a que Otelo era sensível. Mas o ideal do poder popular era mais forte. E também, segundo os seus detractores, a disponibilidade para ser influenciado pelos seus apaniguados.
Sábado, 15 de Novembro.
O movimento dos moderados teve uma reunião alargada no Palácio das Laranjeiras, em que volta a ser colocada a hipótese de fuga para o Norte. Jaime Neves, o comandante do Regimento de Comandos, que estava do lado dos Nove, mas tinha muitos apoios entre a extrema-direita, declarou de súbito: “Se vamos avançar para o Norte, é melhor ser já. Porque eu, neste momento, garanto que uns 200 homens vêm comigo. Daqui a uma semana ou duas já não sei se me restam alguns.”
Vasco Lourenço reagiu logo, saltando para o patamar das escadas onde muitos se sentavam: “Afinal que merda de comandante és tu? Afinal és um bluff. Vais mas é para a tua unidade e agarras bem os teus homens, e daqui a 15 dias vais ter os mesmos 200 todos contigo. Porque eu já disse que veto quaisquer ideias de fuga para o Norte.”
Na mesma reunião, discutiram-se as medidas a adoptar para fazer face ao agravamento das situações política, militar e social. Foi decidido que era preciso afastar Otelo do comando da Região Militar de Lisboa, substituindo-o por Vasco Lourenço. O segundo passo seria retirar poderes ao Copcon e, depois, extingui-lo. Sem poderes legais, Otelo (que tinha acabado de chamar contra-revolucionário ao Conselho da Revolução) poderia ainda ser perigoso, mas, pensavam os moderados, mais controlável.
“Um comando é muito efectivo quando o seu comandante tem, cumulativamente, muito prestígio e força legal”, pensava Ramalho Eanes. “Entre os subordinados, há um conjunto de homens extremamente determinados que estão ligados ao comandante devido ao seu carisma, e obedecem-lhe intransigentemente. Há outro número de subordinados, talvez maior, que não tem dúvidas em seguir as ordens daquele homem de quem gostam e a quem estão ligados, desde que isso não implique para eles e as suas famílias um grande perigo. O que quer dizer que cumprem as ordens, quando isso não implica consequências para as suas famílias, porque o fizeram num quadro de legalidade.”
Por causa deste princípio da sabedoria militar, Eanes acreditava que, fora da legalidade, Otelo teria menos de metade dos potenciais seguidores, se desse uma ordem de combate contra as forças apoiadas pelo Presidente da República.
No campo político, a decisão que se seguiu à reunião das Laranjeiras foi ainda mais ousada. Foi tomada ao almoço, no restaurante O Chocalho. O que deveria o Governo fazer para impor o respeito? Foi Gomes Mota, um dos mentores do Movimento dos Nove, quem deu a ideia: o Governo poderia suspender as suas funções até que lhe fossem dadas garantias. Entrar em greve!
Vasco Lourenço apoiou logo: “Compro! Compro essa ideia! O Governo vai entrar em greve!” Melo Antunes, sempre mais ponderado, ainda objectou: “Estás louco? O Governo entrar em greve? Onde é que já se viu isso?”
“Nunca se viu, vai-se ver aqui”, respondeu Vasco. “O Governo vai entrar em greve.” Logo a seguir telefonaram a Mário Soares, que acabou por concordar e convenceu os outros ministros civis. E Pinheiro de Azevedo partiu para Belém, para informar alegremente o Presidente da República da original decisão.
À saída, o almirante explicou aos incrédulos jornalistas: “Estou farto de brincadeiras. Eh, pá, fui sequestrado já duas vezes, pá. Estou farto de ser sequestrado. Não gosto. É uma coisa que me chateia, pá. Estou farto. Por isso entrámos em greve.”
Quinta-feira, 20 de Novembro.
Na reunião do Conselho da Revolução o Movimento dos Nove propôs a nomeação de Vasco Lourenço para a Região Militar de Lisboa. Otelo Saraiva de CarvalhoOtelo protestou, mas acabou por concordar. Vasco Lourenço também, com uma condição: que Otelo aceitasse a solução. Porque achava que seria completamente diferente Otelo chegar às unidades que o apoiavam e dizer: “Aceitei esta solução, porque é a menos má”, do que dizer: “Não concordei, mas impuseram-me esta solução.”
Otelo disse que sim, mas, quando chegou ao Copcon, deparou-se com a discordância dos seus oficiais. Telefonou a Costa Gomes: “Ó meu general, está aqui um problema tramado. É que grande parte das unidades não querem o meu afastamento, e não aceitam o Vasco Lourenço. Eu acabei por aceitar a posição deles. Era o meu voto contra todos.”
“É pá, mas isso já está decidido”, responde o Costa Gomes.
“Pois é meu general, mas o que é que eu hei-de fazer?”
No dia seguinte telefonou a Vasco Lourenço: “Eh pá, afinal, falei com a minha rapaziada, e eles não aceitam isso, pá. Tenho de ir explicar isto ao Costa Gomes e gostaria que viesses comigo.” Ao Presidente Otelo disse que as unidades de Lisboa e os seus comandantes não aceitavam Vasco Lourenço, que não tinha por isso condições para chefiar a Região Militar. Vasco respondeu que os comandantes não o queriam porque, com ele, acabaria a bagunça. O Presidente marcou nova reunião, para a decisão final, para dia 24.
No mesmo dia, no Ralis (Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa), uma das unidades dominadas pela esquerda, fez-se um estranho juramento de bandeira. De punhos erguidos, os soldados gritaram: “Juramos ser fiéis à pátria e lutar pela liberdade e independência. Juramos estar sempre, sempre ao lado do povo, ao serviço da classe operária, dos camponeses e do povo trabalhador. Juramos lutar com todas as nossas capacidades, com voluntária aceitação da disciplina revolucionária, contra o fascismo, contra o imperialismo. Pela democracia e poder para o povo, pela vitória da revolução socialista.”
Durante o fim-de-semana o PS organizou grandes manifestações contra o totalitarismo na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, e segunda-feira, 24 de Novembro, o Conselho da Revolução reuniu-se enquanto, em Rio Maior, os agricultores, orientados pela CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), cortavam os acessos a Lisboa, dispondo árvores abatidas ao longo da estrada. O objectivo dos agricultores era exigir que o Conselho da Revolução acabasse com a “anarquia em Lisboa”.
Receando que as barricadas de Rio Maior provocassem alguma acção de resposta da esquerda, Eanes e os operacionais do plano militar colocaram-se em alerta. O Conselho aprovou, para o comando da Região Militar de Lisboa, a nomeação de Vasco Lourenço, que entretanto se considerou desvinculado da condição que impusera, em consequência da “traição” de Otelo.
A reunião acabou tarde. Otelo saiu e dirigiu-se ao Copcon. Eram 4h30 da manhã, mas o forte estava cheio de gente. Oficiais de outras unidades, civis, militantes dos vários partidos de extrema-esquerda. Otelo atira-se para o sofá onde já estavam sentados Costa Martins, um oficial da Força Aérea ligado ao PCP, e outros oficiais da sua confiança. Diz: “Passei aqui só para vos comunicar que deixei definitivamente de ser o comandante da Região Militar de Lisboa. O Vasco Lourenço assumiu o cargo. Eu fico apenas comandante do Copcon.”
Costa Martins levanta-se e diz: “Mas os pára-quedistas não vão aceitar esta situação, e vão ocupar as bases aéreas!” Otelo olha para ele. “As bases aéreas? A que propósito?”
“Isto cheira-me a golpada!”, diz outro oficial, Tomé Pinto. Otelo responde: “A mim também. Aguenta aí.” E chamou o major Arlindo Dias Ferreira, piloto aviador do Copcon, e o capitão Tasso de Figueiredo, da Polícia Aérea do Copcon, levou-os para uma sala à parte.
“Que significa isto? Que boca é esta do Costa Martins?”
“Otelo, isso não é nada connosco”, disse Arlindo. “É a luta dos pára-quedistas com o Morais e Silva, que quer dissolver as unidades.”
Otelo desconfia: “Se isso acontecesse, não poderia servir de pretexto para os Nove, que já encomendaram um plano de operações ao Eanes, para lançarem uma operação contra nós, e para liquidarem a esquerda? É que uma coisa é o apoio que eu dou aos páras, na sua luta contra o Morais e Silva. Outra coisa é eles ocuparem as bases aéreas, em resposta à minha demissão da Região Militar. Não sei se vocês estão a ver a ligação.”
“Não, está descansado, não é nada disso. Nós vamos tomar providências”, respondeu Arlindo.
“Então tomem as providências todas, senão há bronca.” E Otelo decidiu: “Estou estafadíssimo, não estou para aturar esta pessegada, vou para casa descansar. Vocês travem-me essa porcaria, se houver alguma coisa.”
“Vai, vai sossegado.”
Otelo atravessou a sala e saiu. “Já dei indicações ao Arlindo. Boa noite, rapaziada.”
Foi acordado ao meio-dia, pelo seu chefe de Estado-Maior, com a notícia: “Meu general, é melhor vir rapidamente para o Copcon, porque há aqui uma situação muito grave. Os pára-quedistas ocuparam as bases aéreas, de Monte Real ao Montijo, às 5h da manhã.”
Otelo dirigiu-se imediatamente ao Copcon. Mal entrou, o seu chefe de Estado-Maior apontou-lhe a sala ao lado: “Meu general, está ali o comandante da Força de Fuzileiros do Continente, à sua espera.”
Ribeiro Pacheco, capitão-de-fragata, de farda branca, impecável, fez continência. “Sr. general”, disse ele, “vim aqui para lhe dizer que tem a Força de Fuzileiros do Continente ao seu dispor. Mande, que nós obedecemos. Se quiser, nós vamos neste momento atacar o Regimento de Comandos da Amadora. Vamos lá e destruímos aquilo tudo.”
No Regimento de Comandos da Amadora, Ramalho Eanes tinha instalado o posto de comando do contragolpe. Costa Gomes assumiu o comando supremo das Forças Armadas e delegou os seus poderes em Vasco Lourenço, que atribuiu a Eanes o comando operacional. Estava tudo a postos para o combate. Se os fuzileiros atacassem os comandos, seria o início de uma guerra que ninguém podia prever quando e como terminaria. Alem dos fuzileiros, dos pára-quedistas, da Polícia Militar e do Ralis, não se sabia exactamente que outras forças poderiam sair em defesa da esquerda. Eanes, Costa Gomes, Vasco Lourenço, sabiam que tudo dependia de Otelo. Por isso, a primeira coisa que Presidente fez mal soube da saída dos páras foi chamar a Belém o comandante do Copcon.
Mas ele nunca mais chegava. Que iria Otelo fazer? Assumiria a liderança da facção que o via como o seu líder e iniciaria a guerra?
No Copcon, os dois homens olharam-se por escassos segundos. O capitão-de-fragata estava à espera da decisão, em sentido.
“Eh pá, ó Pacheco, aguente aí”, disse-lhe Otelo. “Não vai fazer nada disso. O senhor vai mas é daqui, mete-se no carrinho, vai lá para a Força de Fuzileiros, em Vale do Zebro, e fique lá, calmamente, a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Eu vou ver o que se está a passar. Fique a aguardar qualquer indicação do nosso general Costa Gomes.”
O chefe dos fuzileiros saiu. O chefe de Estado-Maior de Otelo disse-lhe: “O nosso general Costa Gomes já telefonou para cá duas vezes, pedindo para o meu general se apresentar em Belém."
“Diga-lhe que vou comer qualquer coisa e já vou para lá”, respondeu Otelo.
“Ainda bem que chegou, já estava a ficar aflito”, disse Costa Gomes quando Otelo entrou. E só então declarou o estado de sítio.
As operações foram lançadas por Eanes, usando os comandos de Jaime Neves. À excepção da Polícia Militar, na Calçada da Ajuda, onde o tiroteio que se instalou provocou três mortos, todas as acções decorreram sem violência. Na RTP, o golpe dos esquerdistas chegou a anunciar a vitória, numa emissão rapidamente interrompida.
“Aqui não há meias-tintas, não tenho mais tempo para conversar”, anunciou o jovem oficial barbudo Duran Clemente, à entrada dos estúdios do Lumiar. “Isto é tudo muito desagradável, mas, se for necessário matar, eu tenho de matar.” E, depois de ter trancado o director da RTP num gabinete, avançou para o estúdio, onde iniciou um discurso sobre as delícias do poder popular, acompanhado de slides alusivos. Às 21h10, os telespectadores vêem Clemente começar a esbracejar, em protesto contra os sinais que o técnico lhe fazia, e de seguida surgirem no ecrã as imagens do filme O Homem do Diners Club, de Danny Kaye, já emitido dos estúdios do Porto.
O golpe tinha acabado. A fase louca da revolução também. Uma depuração percorreria todos os níveis das Forças Armadas. Um reequilíbrio à direita seria reposto no Conselho da Revolução. Otelo e os seus oficiais seriam presos. O Partido Comunista obteve a garantia de que não seria ilegalizado, desde que abandonasse os impulsos golpistas e aceitasse o jogo eleitoral. Ramalho Eanes emergiria como o herói do 25 de Novembro. Pouco depois era eleito Presidente da República. A fase totalitarista da revolução dava lugar ao período democrático, ainda que à custa de uma boa parte do idealismo inicial. Entrou-se na época da normalização, da revolução possível.
Mas muito ficou por explicar. Quem deu a ordem aos pára-quedistas para ocuparem as bases? Foi o PCP que preparou o golpe da esquerda? Se sim, com que objectivo? Fazer pressão para que houvesse um reequilíbrio à esquerda na composição do Conselho da Revolução e Governo, depois da queda de Vasco Gonçalves? E, nesse caso, porque desistiu? A URSS terá recuado na sua promessa de apoio? Ou terá temido que a extrema-esquerda assumisse o controlo? A ser assim, terá sido esta uma forma hábil de se desembaraçar dos esquerdistas?
E Otelo? Terá traído os companheiros? Terá tido medo? Terá avaliado a correlação de forças e concluído que perderia? Terá planeado tudo, lançando os páras na sua aventura, para provocar a reacção dos Nove, porque previu que isso era a única solução? Isso explicaria por que se fechou em casa, das 5 da manhã ao meio-dia, sem atender o telefone. Terá sido genialmente maquiavélico, ou terá sido enganado? Ou terá feito o jogo dos Nove porque, no fundo, acreditava que eles representavam o regresso à verdadeira essência dos ideais de Abril?
Apesar de todos os mistérios que persistem, visto de hoje o 25 de Novembro parece antes de tudo uma imensa encenação, em que, tacitamente, todos, da extrema-esquerda à extrema-direita, conspiraram para o mesmo desfecho. Como se estivessem cansados, e optassem pela paz.
Contagem decrescente para uma guerra civilNorte Quinta-feira, 6 de Novembro de 1975. À hora de jantar, o Conselho da Revolução interrompeu os trabalhos. Deveria ser um breve intervalo, naquela reunião conjunta com o Governo de coligação, mas prolongou-se, para conselheiros e ministros verem o debate na RTP entre Mário Soares e Álvaro Cunhal.
Foram 20 dias alucinantes. O Governo mandou bombardear a Rádio Renascença. Os trabalhadores da construção civil sequestraram o Governo e a Assembleia. O Governo entrou em greve. Os líderes do PS, PSD e CDS fugiram para o Porto, porque ia ser criada a Comuna de Lisboa independente. Os pára-quedistas ocuparam as bases da Força Aérea. A guerra civil ia começar. A reconstituição hoje possível do 25 de Novembro de 1975, a partir de entrevistas com os principais intervenientes e dos livros que, para deixarem o seu testemunho para a História, alguns deles têm publicado. Por Paulo Moura
No ecrã a preto e branco, o jornalista envolto em fumo de cigarro anunciou os líderes dos partidos Socialista e Comunista. “O sr. dr. teima em querer fazer a revolução com uma minoria”, diz Soares, com um risinho. Cunhal responde rápido: “Não. O que eu quero é fazer a revolução com revolucionários.”
A reunião do Conselho da Revolução fora pedida pelo executivo. O primeiro-ministro, Pinheiro de Azevedo, cujo cognome era o “Almirante sem Medo”, exigia medidas para que o deixassem governar. Os militares não lhe obedeciam, os sindicatos e os comunistas organizavam manifestações de protesto todos os dias, os media divulgavam propaganda radical e apelavam à sublevação, principalmente a Rádio Renascença, que, em Outubro, fora ocupada pelos trabalhadores e se transformara em porta-voz da esquerda revolucionária. Era preciso fazer qualquer coisa.
Pinheiro de Azevedo e alguns dos conselheiros falaram sobre isto durante o intervalo, que se prolongou demasiado devido ao grande interesse do debate da RTP, dando azo a que fosse tomada, um pouco à socapa, aquela decisão, antes de todos voltarem à sala. A decisão terrorista.
“O Partido Comunista tem um pé no Governo e todo o corpo, e o outro pé, de fora, fazendo mobilização no país, para derrubar o Governo”, diz Soares na televisão. “Isto leva em linha recta o país para a confrontação armada e uma guerra civil.” Cunhal vai contrariando: “Nós também queremos evitar a guerra civil. Mas não se fale da disciplina da direita reaccionária…”
Soares continua: “O que o Partido Comunista deu provas, durante estes meses, é que quer transformar este país numa ditadura.” E Cunhal: “Olhe que não, olhe que não.”
Conselheiros da Revolução e ministros voltaram para a sala de reuniões, no Palácio de Belém. Prosseguiram os discursos e as queixas, até que o Conselho disse que sim a todas as sugestões do sarcástico primeiro-ministro. Uma delas, já combinada no intervalo, era a decisão terrorista de Estado e dizia respeito à Rádio Renascença. Às 4h30 da manhã do dia 7, sexta-feira, pouco depois de a reunião ter terminado, uma bomba era lançada, na Buraca, sobre os emissores da rádio rebelde, calando-a de vez. A ordem foi dada pelo Governo, com aval do Conselho da Revolução e através do chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Morais e Silva, e quem a executou foram forças pára-quedistas da Companhia de Caçadores 121, aquartelada no Lumiar.
Ora entre os “páras” o predomínio dos esquerdistas era cada vez maior. Activistas do PCP e dos partidos maoístas faziam agitação e propaganda junto dos efectivos das unidades especiais e altamente disciplinadas de pára-quedistas, fazendo-os sentir um peso na consciência por terem bombardeado a Renascença.
Sábado, 8 de Novembro. Apercebendo-se do mal-estar entre os “páras”, Morais e Silva, acompanhado pelo capitão de Abril Vasco Lourenço, foi à Base Escola de Tropas Pára-Quedistas, em Tancos, explicar a acção contra a “rádio vermelha”. Uma sessão de esclarecimento foi convocada para o pavilhão gimnodesportivo da base. O general começou a falar, ao lado de um embaraçado Vasco Lourenço (que sempre achou injustificável a operação Renascença), mas foi interrompido por um soldado, que lhe roubou o microfone para dizer: “Camaradas, vamos todos sair daqui. O meu general é um burguês, que já fez a sua opção de classe e não pode defender os nossos interesses. Portanto, não temos nada que estar aqui a ouvi-lo.” E abandona o pavilhão com a maioria dos soldados, para se irem juntar a uma reunião paralela, com os sargentos da base.
Humilhado, Morais e Silva ficou sem resposta, e acabou também por sair do recinto. Os oficiais presentes continuaram a reunião, decidindo que, por não haver disciplina possível, iriam apresentar-se no Estado-Maior da Força Aérea, para pedir a passagem aos seus quadros de origem. Nesse mesmo dia, 123 oficiais abandonaram a base de Tancos, deixando-a entregue a sargentos e praças, e instalam-se na base aérea de Cortegaça, perto de Espinho, com a ajuda e apoio do chefe da Região Militar do Norte, Pires Veloso. Morais e Silva, esse, jurou vingar-se.
Domingo, 9 de Novembro. Uma gigantesca manifestação de apoio ao VI Governo Provisório foi convocada para o Terreiro do Paço pelo PS e o PSD. Pinheiro de Azevedo, com Mário Soares e Sá Carneiro, ficou numa das janelas da sala do Estado-Maior da Armada. Mas mal o primeiro-ministro começou a discursar, denunciando o golpismo do Partido Comunista, rebentou uma granada de fumo no meio da multidão. Gerou-se o pânico, correrias, gritos, uns tentando abandonar a praça, outros deixando-se atropelar, outros tentando encontrar e castigar os culpados. Pouco depois, começou a ouvir-se um tiroteio vindo dos arcos da praça. A Polícia Militar tentava dispersar a tiro os desordeiros, provocando o pandemónio. Da janela, Pinheiro de Azevedo gritava: “O povo é sereno! O povo é sereno! É apenas fumaça! É apenas fumaça! O povo é sereno!”
Segunda-feira, 10 de Novembro.
Na base de Tancos realizou-se um plenário em que foi aprovada uma moção de repúdio pela operação contra a Renascença. Os sargentos assumiram a autoridade, reinstalaram a disciplina e treinos com intensidade redobrada, armaram uma companhia especial para garantir a defesa da base.
Terça-feira, 11 de Novembro. Dois sargentos pára-quedistas deslocaram-se ao Forte do Alto do Duque, onde se situava o quartel-general do Copcon (Comando Operacional do Continente). Pediram para falar com o chefe, Otelo Saraiva de Carvalho. “Meu general, vimos aqui oferecer-lhe 20 mil tiros por minuto”, disse um dos sargentos. Colocavam-se à disposição e sob o comando de Otelo, em troca do seu apoio à luta dos “páras”.
Quarta-feira, 12 de Novembro. Otelo manifestou publicamente o seu apoio aos pára-quedistas. Morais e Silva começara a executar a sua vingança. Numa série de ordens confusas, ia mandando passar à disponibilidade os praças pára-quedistas. Na prática, extinguiu os pára-quedistas.
Para explicar a sua posição, Otelo promoveu uma reunião entre Morais e Silva e o Presidente da República, Costa Gomes. “Meu general, eu quero dizer-lhe claramente que não posso apoiar esta decisão unilateral do Morais e Silva”, disse Otelo. “Temos uma força pára-quedista de centenas de homens perfeitamente disciplinados, uma força excelente para o combate, que pode actuar em qualquer situação, e agora, por despacho, este gajo elimina a força de pára-quedistas?”
“Mas eles não me respeitam”, defendeu-se Morais e Silva.
“Não te respeitam, porque tu participaste em ordens que não têm pés nem cabeça”, atacou Otelo. “Destruir à bomba os emissores da Rádio Renascença, só porque ela estava ocupada pelos trabalhadores? Não havia outra forma de resolver o problema?”
A delegação dos pára-quedistas que visitou o Copcon informou ainda Otelo que os oficiais baseados em Cortegaça estavam a enviar aviões para sobrevoarem ameaçadoramente a base de Tancos. “Estão a fazer voos a pique sobre nós”, disse um dos sargentos. “E, se houver alguma atitude ameaçadora, nós queremos rebentar com o avião.”
Otelo enviou então, como medida dissuasora, metralhadoras antiaéreas para os páras em autogestão.
No mesmo dia, às 5 da tarde, uma manifestação de trabalhadores da construção civil cercou o Palácio de S. Bento, onde o Governo se encontrava reunido, para apresentar ao primeiro-ministro o seu caderno reivindicativo. Em frente do portão da residência do primeiro-ministro, os trabalhadores colocaram uma enorme betoneira, obstruindo a saída. Ninguém poderia abandonar o palácio antes de terem sido atendidas as reivindicações, explicaram os delegados sindicais.
No interior, permanecia o Governo inteiro, mas também os deputados da Assembleia Constituinte, que estava reunida, o público que assistia à sessão e os funcionários do palácio. Uma delegação dos manifestantes foi falar com Pinheiro de Azevedo, que declarou não tencionar ler sequer o documento das reivindicações, enquanto se mantivesse aquela situação de pressão. Em resposta, representantes dos trabalhadores entraram no salão nobre e na varanda, onde instalaram um sistema sonoro e de onde iniciaram um comício permanente. Não iriam “arredar pé”, enquanto os seus problemas não fossem resolvidos, gritaram aos altifalantes. E com isso assumiram o sequestro do Governo e dos deputados, que duraria 36 horas, sem que as forças de segurança, comandadas pelo Copcon de Otelo, fizessem coisa alguma.
Vendo a situação entrar num impasse, com os trabalhadores a estenderem mantas e acenderem fogueiras para dormir e ficar ali por tempo indeterminado, Pinheiro de Azevedo veio à varanda apelar à dispersão, sob a promessa de estudar o caderno reivindicativo. Mas os manifestantes não o queriam ouvir, e gritavam e insultavam mal o primeiro-ministro abria a boca. “Fascista!”, chamavam eles, e o “Almirante sem Medo” perdeu a paciência: “Fascista uma merda!” Ou na versão de outras testemunhas: “Vão todos bardamerda!”
Só na manhã de quinta-feira, dia 13 de Novembro, os manifestantes permitiram a saída dos deputados, funcionários e elementos do público assistente à sessão da Constituinte. Os ministros continuaram sequestrados até que Pinheiro de Azevedo acabou por assinar um “compromisso” em que aceitava certas reivindicações.
Sexta-feira, 14 de Novembro.
Os líderes do PS, PPD e CDS fugiram para o Porto, onde participaram numa manifestação de apoio ao Governo, que acabaria com o assalto à sede da União dos Sindicatos. O país estava a dividir-se em dois. A região de Lisboa estava dominada pelas forças comunistas, e cada vez se tornava mais claro, para muita gente, que para as combater seria necessário fazê-lo a partir do Norte, onde os moderados e a direita detinham a supremacia, entre a população e nos quartéis. As forças democráticas tomariam posições na zona do Porto e os comunistas declarariam a Comuna de Lisboa. O país seria dividido em dois e seguir-se-ia a guerra civil.
Não chegou a haver consenso sobre esta solução, mas os líderes dos partidos democráticos, pelo sim pelo não, fugiram para o Porto com as respectivas famílias.
Foi Vasco Lourenço quem sempre recusou esta debandada das forças. A certa altura, numa reunião do Grupo dos Nove, o próprio Melo Antunes, que era o autor do documento, assinado por nove membros do Conselho da Revolução, que marcava posição contra o avanço do totalitarismo esquerdista na vida militar e civil do país, já estava a defender a retirada para o Porto. “Pronto, convenceram-me. Eu aceito”, disse Melo Antunes. Mas decidiu impor uma última condição: “Desde que o Vasco Lourenço também aceite.”
“Não. Eu não aceito. Isso seria a guerra civil”, disse Vasco Lourenço. “Vamo-nos preparar para reagir a qualquer tentativa que haja, e vamos manter o Costa Gomes do nosso lado. Porque o primeiro a saltar perde.”
E o Grupo dos Nove começou a trabalhar num plano militar para combater os comunistas e a extrema-esquerda, sempre na perspectiva de uma reacção contra um eventual golpe deles. Mantendo-se do lado da legalidade, teriam a garantia do apoio da maioria das unidades militares. Por isso era fundamental informar o Presidente Costa Gomes dos seus planos e ganhar o beneplácito dele. E depois esperar por um deslize dos esquerdistas.
Para conceber o plano militar, os Nove designaram Ramalho Eanes, embora Vasco Lourenço fosse o líder operacional do movimento dos moderados. Do outro lado, estavam todas as forças militares controladas pelo Partido Comunista e pelos partidos da extrema-esquerda, com a ajuda de todos os civis a quem seriam distribuídas armas, em caso de confronto. No seu total, contando com as lideranças organizadas e efectivas que possuíam, não constituíam uma força capaz de levar a melhor num conflito armado. Pelo menos era isto que os Nove pensavam.
Mas as coisas já seriam diferentes se Otelo assumisse a liderança de todo o sector da esquerda. O prestígio do comandante do Copcon era imenso. Para muitos, ele representava os trabalhadores, os mais fracos, os ideais do Movimento dos Capitães, encarnava a própria revolução. Fora ele a fazer o 25 de Abril, e a assumir as rédeas do poder quando todos disso se demitiam. Foi ele que permitiu e protegeu as ocupações de casas, de fábricas e de terras, que lançou as campanhas de dinamização cultural e de alfabetização. Ele, com toda a sua loucura e exagero, as suas frases bombásticas e assustadoras (”Fascistas para o Campo Pequeno”), era a figura moral e romântica, o símbolo da infinita generosidade de Abril. Mais do que ninguém, ele tinha a capacidade de arrastar as massas atrás de si. De fazer cumprir todas as ordens que desse, por pura lealdade, por puro afecto.
Por isso, Otelo era cobiçado pelas várias forças políticas. O Partido Comunista tentou por todos os meios tê-lo do seu lado, os esquerdistas acreditaram poder contar com ele, aliciando-o com os ideais de poder popular com que ele simpatizava. Até o CDS tentou levá-lo aos seus comícios, para tirar dividendos do seu poder de sedução. Mas Otelo, apesar de se ter deixado manipular em muitas situações, sempre resistiu ao recrutamento político. Nunca perdeu a independência. Naquela altura, era o comandante da Região Militar de Lisboa e do Copcon, uma estrutura que tinha sob a sua alçada todas as forças de segurança e especiais e ainda as unidades de todas as Forças Armadas, em caso de emergência. O Copcon fora criado pelo Presidente da República (Spínola, na altura). O seu poder era legal, além de imenso. Antes de começar a perder o controlo de muitas das forças, devido à acção e influência dos activistas civis da esquerda, Otelo foi o homem mais poderoso do país.
Agora era visto como o líder de todo o sector da esquerda, o único homem capaz de a unir para qualquer propósito, incluindo o de pegar em armas para defender “as conquistas de Abril”. Os apoiantes dos Nove (que incluíam desde a esquerda moderada do PS até à extrema-direita do ELP e MDLP) viam-no assim. Os comunistas e a extrema-esquerda viam-no assim. Só ele, Otelo, não aceitava esse papel.
Na semana seguinte houve manifestações contra e a favor do Governo, reuniões dos moderados, do seu grupo militar, reuniões do Copcon, com todos os elementos civis afectos ao PC e à esquerda radical que cirandavam em torno de Otelo, reuniões dos pára-quedistas em luta.
Vasco Lourenço informou Otelo do plano militar contra o eventual golpe da esquerda. “Eu garanto-te que nós não tomamos a iniciativa do golpe”, disse-lhe Vasco Lourenço. “Agora, não te envolvas em nenhuma iniciativa, porque se alguém der o primeiro passo, nós estamos em condições de lhe cair em cima. Toma cuidado com isso.”
A ideia era ganhar Otelo para o lado dos Nove. Porque eles estavam do lado da legalidade. Tinham, desde as remodelações havidas meses atrás, em consequência do Pronunciamento de Tancos, apoio da maioria do Conselho da Revolução, e tinham o apoio do Presidente da República. Além disso, Vasco sabia que Otelo compreendia as ideias da facção dos Nove. A liberdade, a realização de eleições e o respeito pelos seus resultados, e até a circunstância de os Estados Unidos e as potências ocidentais não tencionarem permitir a instauração de um regime comunista em Portugal, tudo isto eram argumentos a que Otelo era sensível. Mas o ideal do poder popular era mais forte. E também, segundo os seus detractores, a disponibilidade para ser influenciado pelos seus apaniguados.
Sábado, 15 de Novembro.
O movimento dos moderados teve uma reunião alargada no Palácio das Laranjeiras, em que volta a ser colocada a hipótese de fuga para o Norte. Jaime Neves, o comandante do Regimento de Comandos, que estava do lado dos Nove, mas tinha muitos apoios entre a extrema-direita, declarou de súbito: “Se vamos avançar para o Norte, é melhor ser já. Porque eu, neste momento, garanto que uns 200 homens vêm comigo. Daqui a uma semana ou duas já não sei se me restam alguns.”
Vasco Lourenço reagiu logo, saltando para o patamar das escadas onde muitos se sentavam: “Afinal que merda de comandante és tu? Afinal és um bluff. Vais mas é para a tua unidade e agarras bem os teus homens, e daqui a 15 dias vais ter os mesmos 200 todos contigo. Porque eu já disse que veto quaisquer ideias de fuga para o Norte.”
Na mesma reunião, discutiram-se as medidas a adoptar para fazer face ao agravamento das situações política, militar e social. Foi decidido que era preciso afastar Otelo do comando da Região Militar de Lisboa, substituindo-o por Vasco Lourenço. O segundo passo seria retirar poderes ao Copcon e, depois, extingui-lo. Sem poderes legais, Otelo (que tinha acabado de chamar contra-revolucionário ao Conselho da Revolução) poderia ainda ser perigoso, mas, pensavam os moderados, mais controlável.
“Um comando é muito efectivo quando o seu comandante tem, cumulativamente, muito prestígio e força legal”, pensava Ramalho Eanes. “Entre os subordinados, há um conjunto de homens extremamente determinados que estão ligados ao comandante devido ao seu carisma, e obedecem-lhe intransigentemente. Há outro número de subordinados, talvez maior, que não tem dúvidas em seguir as ordens daquele homem de quem gostam e a quem estão ligados, desde que isso não implique para eles e as suas famílias um grande perigo. O que quer dizer que cumprem as ordens, quando isso não implica consequências para as suas famílias, porque o fizeram num quadro de legalidade.”
Por causa deste princípio da sabedoria militar, Eanes acreditava que, fora da legalidade, Otelo teria menos de metade dos potenciais seguidores, se desse uma ordem de combate contra as forças apoiadas pelo Presidente da República.
No campo político, a decisão que se seguiu à reunião das Laranjeiras foi ainda mais ousada. Foi tomada ao almoço, no restaurante O Chocalho. O que deveria o Governo fazer para impor o respeito? Foi Gomes Mota, um dos mentores do Movimento dos Nove, quem deu a ideia: o Governo poderia suspender as suas funções até que lhe fossem dadas garantias. Entrar em greve!
Vasco Lourenço apoiou logo: “Compro! Compro essa ideia! O Governo vai entrar em greve!” Melo Antunes, sempre mais ponderado, ainda objectou: “Estás louco? O Governo entrar em greve? Onde é que já se viu isso?”
“Nunca se viu, vai-se ver aqui”, respondeu Vasco. “O Governo vai entrar em greve.” Logo a seguir telefonaram a Mário Soares, que acabou por concordar e convenceu os outros ministros civis. E Pinheiro de Azevedo partiu para Belém, para informar alegremente o Presidente da República da original decisão.
À saída, o almirante explicou aos incrédulos jornalistas: “Estou farto de brincadeiras. Eh, pá, fui sequestrado já duas vezes, pá. Estou farto de ser sequestrado. Não gosto. É uma coisa que me chateia, pá. Estou farto. Por isso entrámos em greve.”
Quinta-feira, 20 de Novembro.
Na reunião do Conselho da Revolução o Movimento dos Nove propôs a nomeação de Vasco Lourenço para a Região Militar de Lisboa. Otelo Saraiva de CarvalhoOtelo protestou, mas acabou por concordar. Vasco Lourenço também, com uma condição: que Otelo aceitasse a solução. Porque achava que seria completamente diferente Otelo chegar às unidades que o apoiavam e dizer: “Aceitei esta solução, porque é a menos má”, do que dizer: “Não concordei, mas impuseram-me esta solução.”
Otelo disse que sim, mas, quando chegou ao Copcon, deparou-se com a discordância dos seus oficiais. Telefonou a Costa Gomes: “Ó meu general, está aqui um problema tramado. É que grande parte das unidades não querem o meu afastamento, e não aceitam o Vasco Lourenço. Eu acabei por aceitar a posição deles. Era o meu voto contra todos.”
“É pá, mas isso já está decidido”, responde o Costa Gomes.
“Pois é meu general, mas o que é que eu hei-de fazer?”
No dia seguinte telefonou a Vasco Lourenço: “Eh pá, afinal, falei com a minha rapaziada, e eles não aceitam isso, pá. Tenho de ir explicar isto ao Costa Gomes e gostaria que viesses comigo.” Ao Presidente Otelo disse que as unidades de Lisboa e os seus comandantes não aceitavam Vasco Lourenço, que não tinha por isso condições para chefiar a Região Militar. Vasco respondeu que os comandantes não o queriam porque, com ele, acabaria a bagunça. O Presidente marcou nova reunião, para a decisão final, para dia 24.
No mesmo dia, no Ralis (Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa), uma das unidades dominadas pela esquerda, fez-se um estranho juramento de bandeira. De punhos erguidos, os soldados gritaram: “Juramos ser fiéis à pátria e lutar pela liberdade e independência. Juramos estar sempre, sempre ao lado do povo, ao serviço da classe operária, dos camponeses e do povo trabalhador. Juramos lutar com todas as nossas capacidades, com voluntária aceitação da disciplina revolucionária, contra o fascismo, contra o imperialismo. Pela democracia e poder para o povo, pela vitória da revolução socialista.”
Durante o fim-de-semana o PS organizou grandes manifestações contra o totalitarismo na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, e segunda-feira, 24 de Novembro, o Conselho da Revolução reuniu-se enquanto, em Rio Maior, os agricultores, orientados pela CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), cortavam os acessos a Lisboa, dispondo árvores abatidas ao longo da estrada. O objectivo dos agricultores era exigir que o Conselho da Revolução acabasse com a “anarquia em Lisboa”.
Receando que as barricadas de Rio Maior provocassem alguma acção de resposta da esquerda, Eanes e os operacionais do plano militar colocaram-se em alerta. O Conselho aprovou, para o comando da Região Militar de Lisboa, a nomeação de Vasco Lourenço, que entretanto se considerou desvinculado da condição que impusera, em consequência da “traição” de Otelo.
A reunião acabou tarde. Otelo saiu e dirigiu-se ao Copcon. Eram 4h30 da manhã, mas o forte estava cheio de gente. Oficiais de outras unidades, civis, militantes dos vários partidos de extrema-esquerda. Otelo atira-se para o sofá onde já estavam sentados Costa Martins, um oficial da Força Aérea ligado ao PCP, e outros oficiais da sua confiança. Diz: “Passei aqui só para vos comunicar que deixei definitivamente de ser o comandante da Região Militar de Lisboa. O Vasco Lourenço assumiu o cargo. Eu fico apenas comandante do Copcon.”
Costa Martins levanta-se e diz: “Mas os pára-quedistas não vão aceitar esta situação, e vão ocupar as bases aéreas!” Otelo olha para ele. “As bases aéreas? A que propósito?”
“Isto cheira-me a golpada!”, diz outro oficial, Tomé Pinto. Otelo responde: “A mim também. Aguenta aí.” E chamou o major Arlindo Dias Ferreira, piloto aviador do Copcon, e o capitão Tasso de Figueiredo, da Polícia Aérea do Copcon, levou-os para uma sala à parte.
“Que significa isto? Que boca é esta do Costa Martins?”
“Otelo, isso não é nada connosco”, disse Arlindo. “É a luta dos pára-quedistas com o Morais e Silva, que quer dissolver as unidades.”
Otelo desconfia: “Se isso acontecesse, não poderia servir de pretexto para os Nove, que já encomendaram um plano de operações ao Eanes, para lançarem uma operação contra nós, e para liquidarem a esquerda? É que uma coisa é o apoio que eu dou aos páras, na sua luta contra o Morais e Silva. Outra coisa é eles ocuparem as bases aéreas, em resposta à minha demissão da Região Militar. Não sei se vocês estão a ver a ligação.”
“Não, está descansado, não é nada disso. Nós vamos tomar providências”, respondeu Arlindo.
“Então tomem as providências todas, senão há bronca.” E Otelo decidiu: “Estou estafadíssimo, não estou para aturar esta pessegada, vou para casa descansar. Vocês travem-me essa porcaria, se houver alguma coisa.”
“Vai, vai sossegado.”
Otelo atravessou a sala e saiu. “Já dei indicações ao Arlindo. Boa noite, rapaziada.”
Foi acordado ao meio-dia, pelo seu chefe de Estado-Maior, com a notícia: “Meu general, é melhor vir rapidamente para o Copcon, porque há aqui uma situação muito grave. Os pára-quedistas ocuparam as bases aéreas, de Monte Real ao Montijo, às 5h da manhã.”
Otelo dirigiu-se imediatamente ao Copcon. Mal entrou, o seu chefe de Estado-Maior apontou-lhe a sala ao lado: “Meu general, está ali o comandante da Força de Fuzileiros do Continente, à sua espera.”
Ribeiro Pacheco, capitão-de-fragata, de farda branca, impecável, fez continência. “Sr. general”, disse ele, “vim aqui para lhe dizer que tem a Força de Fuzileiros do Continente ao seu dispor. Mande, que nós obedecemos. Se quiser, nós vamos neste momento atacar o Regimento de Comandos da Amadora. Vamos lá e destruímos aquilo tudo.”
No Regimento de Comandos da Amadora, Ramalho Eanes tinha instalado o posto de comando do contragolpe. Costa Gomes assumiu o comando supremo das Forças Armadas e delegou os seus poderes em Vasco Lourenço, que atribuiu a Eanes o comando operacional. Estava tudo a postos para o combate. Se os fuzileiros atacassem os comandos, seria o início de uma guerra que ninguém podia prever quando e como terminaria. Alem dos fuzileiros, dos pára-quedistas, da Polícia Militar e do Ralis, não se sabia exactamente que outras forças poderiam sair em defesa da esquerda. Eanes, Costa Gomes, Vasco Lourenço, sabiam que tudo dependia de Otelo. Por isso, a primeira coisa que Presidente fez mal soube da saída dos páras foi chamar a Belém o comandante do Copcon.
Mas ele nunca mais chegava. Que iria Otelo fazer? Assumiria a liderança da facção que o via como o seu líder e iniciaria a guerra?
No Copcon, os dois homens olharam-se por escassos segundos. O capitão-de-fragata estava à espera da decisão, em sentido.
“Eh pá, ó Pacheco, aguente aí”, disse-lhe Otelo. “Não vai fazer nada disso. O senhor vai mas é daqui, mete-se no carrinho, vai lá para a Força de Fuzileiros, em Vale do Zebro, e fique lá, calmamente, a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Eu vou ver o que se está a passar. Fique a aguardar qualquer indicação do nosso general Costa Gomes.”
O chefe dos fuzileiros saiu. O chefe de Estado-Maior de Otelo disse-lhe: “O nosso general Costa Gomes já telefonou para cá duas vezes, pedindo para o meu general se apresentar em Belém."
“Diga-lhe que vou comer qualquer coisa e já vou para lá”, respondeu Otelo.
“Ainda bem que chegou, já estava a ficar aflito”, disse Costa Gomes quando Otelo entrou. E só então declarou o estado de sítio.
As operações foram lançadas por Eanes, usando os comandos de Jaime Neves. À excepção da Polícia Militar, na Calçada da Ajuda, onde o tiroteio que se instalou provocou três mortos, todas as acções decorreram sem violência. Na RTP, o golpe dos esquerdistas chegou a anunciar a vitória, numa emissão rapidamente interrompida.
“Aqui não há meias-tintas, não tenho mais tempo para conversar”, anunciou o jovem oficial barbudo Duran Clemente, à entrada dos estúdios do Lumiar. “Isto é tudo muito desagradável, mas, se for necessário matar, eu tenho de matar.” E, depois de ter trancado o director da RTP num gabinete, avançou para o estúdio, onde iniciou um discurso sobre as delícias do poder popular, acompanhado de slides alusivos. Às 21h10, os telespectadores vêem Clemente começar a esbracejar, em protesto contra os sinais que o técnico lhe fazia, e de seguida surgirem no ecrã as imagens do filme O Homem do Diners Club, de Danny Kaye, já emitido dos estúdios do Porto.
O golpe tinha acabado. A fase louca da revolução também. Uma depuração percorreria todos os níveis das Forças Armadas. Um reequilíbrio à direita seria reposto no Conselho da Revolução. Otelo e os seus oficiais seriam presos. O Partido Comunista obteve a garantia de que não seria ilegalizado, desde que abandonasse os impulsos golpistas e aceitasse o jogo eleitoral. Ramalho Eanes emergiria como o herói do 25 de Novembro. Pouco depois era eleito Presidente da República. A fase totalitarista da revolução dava lugar ao período democrático, ainda que à custa de uma boa parte do idealismo inicial. Entrou-se na época da normalização, da revolução possível.
Mas muito ficou por explicar. Quem deu a ordem aos pára-quedistas para ocuparem as bases? Foi o PCP que preparou o golpe da esquerda? Se sim, com que objectivo? Fazer pressão para que houvesse um reequilíbrio à esquerda na composição do Conselho da Revolução e Governo, depois da queda de Vasco Gonçalves? E, nesse caso, porque desistiu? A URSS terá recuado na sua promessa de apoio? Ou terá temido que a extrema-esquerda assumisse o controlo? A ser assim, terá sido esta uma forma hábil de se desembaraçar dos esquerdistas?
E Otelo? Terá traído os companheiros? Terá tido medo? Terá avaliado a correlação de forças e concluído que perderia? Terá planeado tudo, lançando os páras na sua aventura, para provocar a reacção dos Nove, porque previu que isso era a única solução? Isso explicaria por que se fechou em casa, das 5 da manhã ao meio-dia, sem atender o telefone. Terá sido genialmente maquiavélico, ou terá sido enganado? Ou terá feito o jogo dos Nove porque, no fundo, acreditava que eles representavam o regresso à verdadeira essência dos ideais de Abril?
Apesar de todos os mistérios que persistem, visto de hoje o 25 de Novembro parece antes de tudo uma imensa encenação, em que, tacitamente, todos, da extrema-esquerda à extrema-direita, conspiraram para o mesmo desfecho. Como se estivessem cansados, e optassem pela paz.
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