Friday, April 30, 2010

World Expo 2010 Shanghai



Está  a decorrer a cerimónia de abertura deste mega evento. No nosso país este acontecimento de relevo mundial não está a ter qualquer repercussão.
Se quer ver a transmissão dos espectáculos de abertura clique aqui.

A roupa não faz o profissional

Uma caraterística de uma sociedade culturalmente católica como a nossa é a autoridade ser algo imposto e inquestionável. Nestas sociedades, a autoridade tem de ser demonstrada: se não for explícita, pode ser questionada. Uma das formas de demonstrar essa autoridade é através da roupa que se usa.
Reparem por favor na fotografia que apresento. Nela surgem reputados cientistas após uma defesa de tese numa reconhecida universidade americana, de cujo comité faziam parte. Talvez com a exceção do da direita, nenhum deles tem a mínima preocupação com os trajes que usa (o da esquerda está de calções e t-shirt, indumentária que usa o ano inteiro; o do meio usa a mesma roupa o ano inteiro). A sua autoridade, reconhecida pelos seus pares, resulta do seu trabalho e do seu mérito. Ninguém a diminui por eles eventualmente andarem “mal vestidos”. Sobretudo, ninguém considera isso um “desrespeito pela universidade”. Desrespeito pela universidade seria se eles não cumprissem bem as suas funções: se não investigassem, se dessem más aulas. É assim numa sociedade que valorize as pessoas pelo seu trabalho. O que, infelizmente, de um modo geral não é o caso nas sociedades tradicionalmente católicas.
Um deputado também tem uma autoridade inquestionável, resultante de ter sido eleito. Ter sido designado pelos seus eleitores. Pode-se perfeitamente questionar o trabalho de um deputado (não somente os seus eleitores). Pode verificar-se se ele está presente nos plenários, se participa nas comissões, se apresenta propostas. Pode questionar-se a sua autoridade com base nesse trabalho. Mas não com base na roupa que veste no dia a dia, mesmo no seu trabalho. O mesmo para um ministro.
(Excetuam-se aqui indumentárias que violem a lei: nomeadamente, não se aceita um deputado nu ou com roupas não neutras. Há de haver um código de indumentária e acho isso aceitável, mas seguramente não obriga ao fato e à gravata. Esperam-se fatos formais em cerimónias oficiais, mas um plenário quotidiano da Assembleia da República ou uma reunião não são cerimónias oficiais.)
Se no final do seu mandato os seus eleitores entenderem julgar o deputado pela sua roupa e não pelo seu trabalho, que o façam. É pena, mas é democrático. Se entenderem que o deputado era mal vestido e que tal os desprestigiava, são livres de escolherem outro. Mas entretanto ninguém pode julgar um deputado pela roupa que usa.
Contrariamente à Ana Matos Pires, eu não acho que isto seja um assunto menos relevante (ao contrário do “Manso é a tua tia” de Sócrates a Louçã, dito off the record e sem qualquer valor oficial). O meu prezado Pedro Correia é um bota de elástico quase tão grande como o seu colega de blogue António Figueira (tem sobre este a notória vantagem – para um bota de elástico – de não se dizer de esquerda). Como tal, é natural que ache um “desrespeito” pela Assembleia da República os trajes do (julgo que competente) deputado José Soeiro do Bloco de Esquerda, e o seu preconceito leve a julgar o José um mau deputado (há quem diga o mesmo do João Galamba e do seu brinquinho). Tal como achará que os professores desrespeitam a universidade a apresentarem-se assim como a foto documenta (e provavelmente o seu preconceito levá-lo-á a considerá-los menos competentes por isto). Eu estou farto desta mentalidade, nunca a aceitarei e creio que a principal razão do nosso atraso a ela se deve. Há que perguntar com toda a frontalidade: quem se julgam Pedro Correia, José Manuel Fernandes (outro que tal), quem se julgam os jornalistas para questionarem os trajes dos deputados da nação?

Também publicado no Esquerda Republicana

Thursday, April 29, 2010

Maurizio Crozza imita Mourinho


Agradeço ao meu amigo Olindo a indicação deste vídeo da TV italiana.

Vendas americanas para a China

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O Los Angeles Times dá conta do adiamento do relatório do U.S. Treasury Department sobre as taxas de câmbio no comércio internacional, ansiosamente aguardado por todos aqueles que acusam a China de proteger o seu mercado interno ao manter a sua moeda artificialmente depreciada.

A este propósito o jornal tenta mostrar que não é bem assim, que as exportações dos Estados Unidos para a China têm crescido intensamente apesar do valor do yuan.

Desde 2005 as exportações dos USA para a China, segundo o U.S. Commerce Department, cresceram 69% enquanto para o resto do mundo só 19%.
Os produtos manufacturados exportados para a China tiveram um crescimento de 47% contra apenas 7% para o resto do mundo.
Mesmo os produtos agrícolas duplicaram as suas exportações desde 2005, um crescimento que é o triplo do verificado para outros mercados.
A China compra mais de metada da produção americana de soja.

As percepções empíricas são muitas vezes enganosas.

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Wednesday, April 28, 2010

João Morais (1935-2010)



O "cantinho do Morais" não se esquece mais. Obrigado por ter dado ao Sporting o seu único troféu europeu, em 1964.

Tuesday, April 27, 2010

Parece que é bruxa

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À noite, Armando Vara recebe um telefonema de outro arguido no ‘Face Oculta’, o empresário Fernando Lopes Barreira, que lhe pergunta se viu «a entrevista da ‘bruxa’» à SIC Notícias (referindo-se a Manuela Ferreira Leite, líder do PSD). Vara responde que não e o amigo comenta que «saiu-se bem».

Esta é uma transcrição das escutas do caso Face Oculta. Foi publicada pelo jornal Sol, há uns tempos, mas só recentemente compreendi o alcance do termo "bruxa", utilizado por  Fernando Lopes Barreira, quando se referiu a Manuela Ferreira Leite.




Moral da história: em democracia, se se quer ganhar, nunca se deve dar más notícias aos eleitores antes da votação.
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"Café com blogues" na Brasileira

Hoje em Braga, às 21:00. Comigo, o Luís Aguiar Conraria e o Ricardo Meireles Santos. Transmissão na RUM 4ª feira às 20:00.

O eucalipto



Desde que as Comissões Parlamentares de Inquérito começaram a incidir sobre suspeitos "da casa" (Constâncio, Sócrates) o Partido Socialista iniciou uma deplorável política de terra queimada contra tais iniciativas.
Como não podia deixar de ser, Mário Soares junta-se hoje ao coro, no Diário de Notícias, chorando lágrimas de crocodilo sobre o prestígio perdido pela Assembleia da República. Como é seu timbre omite os casos em que as Comissões serviram os seus próprios propósitos.
Sócrates, tal como antes Cavaco, funciona como uma espécie de eucalipto que seca tudo à sua volta. Cavaco produziu realmente o PSD actual mas Sócrates seca um raio muito maior, senão vejamos.
Secou o jornalismo, apresentado como um ninho de víboras sempre pronto a armar, contra ele, um novo escândalo. Secou a justiça e os tribunais por fazer dos magistrados um bando de conspiradores que só iniciam as investigações sobre ele para servir as oposições. 
Agora é a vez da Assembleia da República. A "casa da democracia", que os portugueses elegeram, parece afinal ser uma casa de doidos ou irresponsáveis. Porquê? Porque se atrevem a criar uma comissão e se propõem esmiuçar a acção do senhor engenheiro.

Até onde irá esta luta de Sócrates pela sobrevivência política ? que mais será preciso destruir no seu caminho ?
A serem reais as alegações com que Sócrates se defende, e os pecados que aponta a quem o questiona, Portugal seria um país condenado de onde deveríamos fugir logo que possível. 

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Monday, April 26, 2010

A minha política é o trabalho dignificado e com direitos para toda a gente

O que se escreve sobre a “tolerância de ponto” a propósito da visita do Papa em dois conhecidos blogues da esquerda portuguesa?

No Cinco Dias, para o patusco António Figueira “mais um feriado é sempre mais um feriado”. Os outros que trabalhem. Que é como quem também diz: menos um imposto pago é sempre menos um imposto pago (os outros que paguem). E assim por diante. E ainda vem com a inevitável comparação com os feriados religiosos. Os feriados religiosos até poderiam nem ser obrigatórios (é outra discussão) mas, mesmo sendo-o, estão previstos e planeados. Não são uma medida avulsa e casuística. Não afetam a economia por isso. Mas melhor ainda é quando o António deseja que festividades de diversas religiões fossem reconhecidas como feriados e, reconhecendo que este é um país de “caretas” (por sinal o António deve ser o tipo mais bota-de-elástico da blogosfera portuguesa) ameaça… emigrar! Caro António, sugiro que imprimas esta declaração e a vás entregando junto com os pedidos de visto de trabalho, a ver qual país é que te aceita…

Já no Vias de Facto, Miguel Serras Pereira insurge-se contra um grupo do Facebook já aqui mencionado pelo Ricardo Alves: “eu trabalho e não quero tolerância de ponto no dia 13 de Maio”. Não parece preocupar Miguel Serras Pereira que haja trabalhadores (não funcionários públicos) que não tenham direito à tal tolerância. Nem que alguns, precários a recibos verdes, que até podem ser católicos e, legitimamente, gostassem de tirar um dia de férias para irem ver o Papa, não o possam fazer. E não parece preocupá-lo, também, que haja funcionários públicos que queiram trabalhar (será seguramente o que eu vou fazer). Não passa pela cabeça do Miguel Serras Pereira, pelos vistos, que haja quem queira trabalhar, e que fazer um protesto, ou uma greve, nunca é (ou nunca deve ser) sinónimo de dizer-se que não se quer trabalhar. Bem pelo contrário – por isso, e só por isso, é ofensiva a expressão “a minha política é o trabalho”, despropositadamente citada por Miguel Serras Pereira, que troca tudo.
Passemos por cima do que Serras Pereira considera “politicamente desastroso”: “dada a crise que atravessamos, não podemos perder tempo de trabalho” (pelos vistos para Serras Pereira a crise não existe ou, se existe, os outros – não necessariamente os ricos -que a paguem: ele é que não). O autor do Vias de Facto sugere protestos alternativos, “puxando um pouco pela imaginação”. (Sempre a “imaginação” a descredibilizar a esquerda. Pior que a “imaginação” só o “sonho”.) Que protestos seriam? Um “encontro-convívio-jornada de onde saísse a reivindicação de transformar essa data num feriado anual celebrando a "liberdade de consciência" e/ou a "cidadania laica", que, de resto, a Constituição em vigor consagra.” Quererá Serras Pereira um feriado por tudo o que a constituição em vigor consagra? Mas, mesmo pondo esta questão de parte, atentemos no essencial: o Papa visita Portugal (um direito inquestionável, desde que não seja pago pelos nossos impostos). Só os católicos o deveriam receber (e não o Estado). A resposta de quem defende a laicidade deveria ser a indiferença (tornando este um dia normal – de trabalho). Serras Pereira propõe que o país passe a dedicar um feriado anual a esta data? O Papa deveria sentir-se mesmo importante… E propõe que toda a gente celebre este evento… com um “encontro-convívio-jornada”. O saudoso Odorico Paraguassu, na sua sabedoria, chamava à sua oposição “esquerda cervejista”. O Miguel Serras Pereira assume-se como um membro de pleno direito da “esquerda cervejista”. A este ponto chegámos.

Recordo, a propósito, uma ocasião em que assisti a um debate, na Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, onde participou um dos membros do Vias de Facto, Diana Andringa. Aproximavam-se na altura, todos o pressentiam, tempos (que viriam a ser sangrentos para alguns colegas meus) de combate às propinas, no fim do cavaquismo, e Andringa deixou-nos (eu era caloiro) um conselho que eu nunca esqueci até hoje, e que foi mais ou menos assim: “não bebam e nem joguem às cartas nas manifestações – dá um mau aspeto do caraças”. Miguel Serras Pereira, pelos vistos, quer transformar os protestos em “encontros-convívio”, provavelmente com bebida e jogos de cartas. A Diana Andringa que lhe ensine alguma coisa, se conseguir.

E assim vai certa “esquerda”: só serve para pedir mais um feriadinho. A “jornada suplementar pela batalha da produção” em que se tornou o feriado de 10 de Junho de 1975 (numa iniciativa da Intersindical) seria impensável hoje, por muitas razões (a principal das quais a que cada vez menos pertence ao povo o que o povo produz). Mas, mesmo que pertencesse, uma “batalha da produção” como resposta à crise seria impensável para quem “mais um feriado é sempre mais um feriado”. Quem pensa assim, mesmo à luz da doutrina comunista, não produz muito. E também não lhe deveria pertencer muito.

Também publicado no Esquerda Republicana

China mostra sua força nos automóveis



Publicado no Estadão.com.br em 24.04.2010

A crise econômica mundial, que catapultou a China para o primeiro lugar entre os mercados automobilísticos globais em 2009, também transformou o Salão do Automóvel de Pequim em um evento crucial para essa indústria, com várias montadoras decidindo lançar seus novos produtos na capital chinesa, em vez de Detroit, Paris ou Tóquio.
Aberta ontem para a imprensa, a feira deverá apresentar 14 novos modelos europeus e americanos e 75 chineses, em uma indicação do alto grau de competição que marca o setor automobilístico na China.
Em meio à retração dos mercados nos Estados Unidos, Europa e Japão no ano passado, a China registrou aumento de 45% na venda de veículos, para um total de 13,6 milhões de unidades - cifra que inclui utilitários e caminhões leves. Nos Estados Unidos, foram vendidos 10,4 milhões de veículos, o menor número em 27 anos.
No primeiro trimestre de 2010, a velocidade do mercado automobilístico chinês acelerou ainda mais, com alta de 63% em relação a igual período de 2009. A transformação nesse setor é mais surpreendente quando se considera que o conceito de carros privados começou a se popularizar no antigo reino das bicicletas depois do ano 2000. Em razão disso e de sua enorme população, a China ainda tem uma baixa relação de veículos por habitante.
Independência. A edição 2010 do Salão do Automóvel de Pequim também revela o fortalecimento das montadoras independentes da China - aquelas que produzem sem associações com multinacionais estrangeiras.
Há cinco anos, a participação das empresas chinesas era acanhada e vista mais como uma anedota do que uma ameaça real aos grandes nomes globais do setor. Atualmente, a presença dessas marcas é agressiva e elas respondem por muitos dos novos lançamentos de carros "verdes" ou experimentais.
As montadoras chinesas estão no início de seu processo de internacionalização, que deverá levar a uma mudança estrutural nesse setor. Além de se expandir internacionalmente, as chinesas também aumentam sua fatia no mercado local. No ano passado, elas ficaram com 30% das vendas, e o objetivo do governo chinês é elevar o porcentual a 50% até 2015.
Mesmo com a expansão das marcas locais, a China se transformou em um mercado crucial para as grandes fabricantes globais. As vendas da General Motors, por exemplo, cresceram 71% no país asiático no primeiro trimestre de 2010, para 623,5 mil unidades. Nos Estados Unidos, a alta foi de 16%, com vendas de 475,2 mil unidades.
Atração. "O rápido crescimento da China torna seu mercado automobilístico extremamente atraente e quase irresistível para qualquer montadora", diz John Humphrey, vice-presidente da consultora J.D. Power em um estudo sobre o futuro desse setor. Apesar dessa atração, Humphrey afirma que será cada vez mais difícil para as montadoras alcançarem suas metas de lucro no mercado chinês, em razão da feroz competição.
A J.D. Power prevê que, em 2015, haverá 90 marcas disputando a preferência do consumidor local, o dobro dos Estados Unidos. Essas montadoras produzirão 300 modelos diferentes, que vão competir entre si e com os importados que entrarão no país. Grande parte dessas marcas é de propriedade das províncias chinesas, que farão de tudo para manter sua posição.

Este vulcão é bem mais preocupante para a Europa do que o vulcão islandês.

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Sunday, April 25, 2010

25DEABRIL

Thursday, April 22, 2010

Duas notícias reveladoras


Satisfeita com o crescimento de 1.000% desde sua chegada na China, a Bentley vai lançar dois modelos de carros luxuosos exclusivos para país asiático. O Continental GT Design Series China e o Continental Flying Spur Speed China serão apresentados ao público no salão do automóvel da China deste ano, que será realizado entre os dias 23 de abril e 2 de maio.
Terra Brasil, 22.04.2010

A Venezuela enviará 100 mil barris diários de petróleo para a China durante os próximos 10 anos para pagar por um empréstimo de US$ 20 bilhões que fechou com Pequim durante o final de semana passado, disse o ministro do Petróleo da Venezuela, Rafael Ramírez.
Estadão, 22.04.2010

Pressões sobre o Google

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Afinal parece que não é só a China. Veja aqui

Desaparecido em combate ?

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Desde que se intensificaram, na imprensa internacional, as notícias preocupantes sobre a economia portuguesa e sobre a eventualidade de Portugal ser o próximo "problema da UE", deixámos de ver Sócrates nas televisões e na Assembleia da República.
Desaparecido em combate ?
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Wednesday, April 21, 2010

A nova bettencorada: casar com uma benfiquista é uma "infelicidade"

Filipe Soares Franco não compareceu à cerimónia da entrega dos emblemas aos sócios do Sporting com 25 anos de filiação. Provavelmente já nem quer dar confiança aos atuais órgãos sociais do clube. Se tivesse comparecido, poderia ter respondido com o seu próprio exemplo (foi casado com uma benfiquista histórica, e só a sua filha é sportinguista - os filhos são benfiquistas) a mais estas declarações imbecis deste presidente que há muito perdeu o cérebro, se é que alguma vez o teve. Poderia ter dito que o sportinguismo é importante, mas mais importantes são outros valores (a própria cultura sportinguista reconhece isto - e é isto que faz este clube diferente). E poderia ter concluído que não admite (não se admite) que sportinguista nenhum venha julgar a "felicidade" de uma relação com alguém de outro clube.
Se o (tristemente) presidente do Sporting tivesse um mínimo de inteligência, perceberia que não é com "trabalho de sapa" que se angariam sportinguistas. Embora a família possa ter influência na escolha do clube (não o nego), cada vez é menos esse o caso. Para um jovem escolher um clube, é também importante que ele ganhe, mas mais ainda (e tradicionalmente é esse o caso dos sportinguistas) é importante a história, os valores e sobretudo a imagem do clube. E é isso que eu nunca vi ser tão degradado como por este presidente. Na confissão de inferioridade que volta a fazer perante o Benfica e, sobretudo (o mais grave), na mentalidade inerente a uma mãe escolher o clube do filho. É provavelmente assim na família de José Eduardo Bettencourt, mas não é assim nos dias de hoje. José Eduardo Bettencourt parou em meados do século passado, e quer arrastar o Sporting junto com ele.

Revista de imprensa (Abril 2010)

Para maior azar de Papandreou, no dia seguinte, o mesmo jornal trazia uma reportagem sobre a contestação de rua, em Atenas, às suas medidas, onde se registava a opinião de uma jovem de 26 anos, declarando que, em caso algum, aceitaria que prolongassem a sua idade de reforma, prevista para os 50. Porque, explicava ela, a sua profissão estava considerada por lei como de "desgaste rápido", o que lhe conferia também direito a uma reforma rápida. E qual era a profissão dela? Cabeleireira. É uma das 280 profissões ou trabalhos a que a lei grega reconheceu o estatuto de 'desgaste rápido', em consequência de sucessivas cedências às reivindicações sindicais.
Por diversas razões, que agora não vêm ao caso, eu acho que, aqui, como no resto, a Europa nunca tem sido justa com a Alemanha e nunca reconheceu suficientemente o esforço que a Alemanha tem feito em defesa da Europa e na manutenção de pontes entre o Leste e o Oeste, entre o Mediterrâneo (incluindo a Turquia) e o Norte. Talvez se perceba isso melhor quando se vê uma imigrante turca de Berlim (onde 20% dos habitantes são imigrantes) atirar para o chão, displicentemente, o embrulho do cachorro acabado de comprar. Numa cidade estimada pelos seus habitantes, limpa e onde tudo funciona, que custou milhões aos pagadores de impostos para se unificar e reconstruir depois do Muro, o gesto é uma ofensa que dá que pensar.
Nessa semana, por coincidência, eu também estava em Berlim e percebi bem por que razão 90% dos alemães não querem ajudar a Grécia a sair do buraco onde se enfiou e chegam até à ironia de perguntar se, em alternativa, os gregos não quererão antes vender algumas ilhas. Como me explicou um alemão, "Papandreou representa um país onde toda a gente tem direito a 13º e 14º mês e onde a idade de reforma nunca vai além dos 60 anos. E vem-nos pedir dinheiro a nós, esquecendo-se que aqui não há direito legal a 13º e 14º mês e a idade de reforma já vai nos 67 anos". (Miguel Sousa Tavares, 01-04-2010)
O SAP de Valença foi fechado a partir das 22h - como trinta e dois outros nos últimos três anos. Tinha uma média de 1,7 utentes por noite, os quais mobilizavam um médico, um enfermeiro, um administrativo. Três funcionários do Estado a receber horas extraordinárias e nocturnas a noite toda, para atenderem 1,7 doentes ou autodeclarados como tal: era, provavelmente, a consulta mais cara do país. Se os casos atendidos fossem graves, o serviço servia de muito pouco ou pior: fazia perder tempo a encaminhar o doente para outro lado, onde houvesse condições para o atender; se não fosse grave, o atendimento nocturno servia apenas para retirar um médico do serviço de dia, onde há mais gente para atender. Como não somos o Dubai e não temos dinheiro para manter 24 horas por dia um médico, um enfermeiro e um funcionário ao serviço de cada cidadão, o SAP de Valença fechou. Agora, a população diz que vai a Tuy, em Espanha, logo ali ao lado e onde dizem que são recebidos a qualquer hora e sem sequer pagar taxas moderadoras. Agradecidos, hastearam bandeiras espanholas na vila e dizem que só voltam a ser portugueses quando reabrir o serviço nocturno do SAP. Eu, que dou ao meu país 60% do que ganho a trabalhar, em impostos directos e indirectos, tenho um recado para os de Valença: por favor, continuem espanhóis. (Miguel Sousa Tavares, 15-04-2010)

Um país romântico

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Quando alguém em Portugal se atreve a perguntar quanto custa o projecto, se há dinheiro para o pagar ou quem é que o vai pagar ouve-se de imediato, em coro, uma acusação: economicista !

Assim são tratados aqueles que se rendem às regras materialistas sem compreender que há valores que estão para além disso.
Nós aqui vivemos numa espécie romântica de socialismo virtual em que não se cuida de saber quanto custa o sonho.
Uma mistura da cavalaria medieval e da habilidade do Alves dos Reis.

Há países, prosaicos, que enriquecem primeiro e depois tratam dos seus desvalidos. Nós não. Comprámos o Estado Social a crédito mostrando assim a nossa generosidade e o nosso desapego. O único problema é que estamos com dificuldades para pagar as prestações.

As instâncias internacionais mostram não compreender estes rasgos de romantismo que nos caracterizam. Na sua cegueira materialista insistem em falar de bancarrota e não se ensaiam nada para deixar de nos emprestar o dinheiro com que alimentamos a grei.
O nosso Ministro das Finanças e o nosso Presidente já lhes deram a reprimenda merecida que o nosso patriotismo impunha. E eles fingiram que se estavam nas tintas.
Seja como fôr, mesmo de tanga, ganharemos moralmente como a nossa selecção costumava fazer.
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Tuesday, April 20, 2010

E agora ?

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O prestigiado economista Joseph Stiglitz não exclui a hipótese de Portugal ou a Espanha acabarem por falir, apesar de agora se estar a organizar o salvamento financeiro da Grécia.
Sitglitz, professor na universidade de Colúmbia, fez esta observação durante uma entrevista ao diário espanhol El País, quando falava da dificuldade em encontrar uma solução para a actual situação em Espanha, onde o desemprego oficial roça os 20 por cento e que está perante o dilema de aumentar, ou não, impostos.
Esta observação deste economista que foi assessor do Presidente Bill Clinton e que é muito crítico da actual globalização comercial e financeira (e particularmente do sistema financeiro) segue-se a várias referências na imprensa internacional à situação financeira portuguesa.
Também hoje, um artigo de opinião no diário britânico Telegraph questiona se a Alemanha também vai ter de financiar Portugal. A comparação do peso das dívidas públicas portuguesa e grega é contrastada com o peso das dívidas dos respectivos sectores privados, e o país não sai muito bem na imagem.
A dívida pública nacional deverá representar este ano 86 por cento do PIB, enquanto a grega representará 124 por cento. Mas a dívida provada nacional era 239 por cento do PIB em 2008, face a 129 da grega, de acordo com um analista do Deutsche bank citado no Telegraph.
Público, 20.04.2010

É altura de perguntar aos governantes das últimas décadas como pensam assumir a responsabilidade desta situação. Ainda há pouco tempo exibiam um sorriso displicente quando se falava dos alertas de Medina Carreira.
E agora ?

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Monday, April 19, 2010

Sunday, April 18, 2010

Primitivos actuais

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Os vulcões da Islândia, e as suas espectaculares consequências para o tráfego aéreo, estão a dar novo alento aos discursos do tipo "pecado e expiação".
Pessoas educadas, aparentemente na posse das suas faculdades mentais, referem-se às erupções como um "castigo" ou pelo menos um "aviso" da natureza.
Como qualquer curandeiro numa ilha perdida do Pacífico, culpam a "desobediência" humana e dissertam sobre a arrogância com que ousámos acreditar nas nossas tecnologias.

Pessoas de fato e gravata, num anacronismo inconsciente, recuperam o discurso dos aborígenes e dos bosquimanos. Como se a natureza fizesse alguma coisa para comunicar com estes seres chamados homens, dignos mas irrisórios, que o tempo, com toda a naturalidade, verá desaparecer.
A natural precariedade da raça humana não se coaduna com a prosápia dos comentadores no prime time televisivo.
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Saturday, April 17, 2010

Uma pergunta inconveniente

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O país está praticamente falido,
a justiça não funciona,
o sistema político mostra-se em larga medida desacreditado,
ouve-se frequentemente augurar o fim do regime.
Será mesmo inútil pensar numa revisão constitucional ?

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Friday, April 16, 2010

Precariedade



Alastra o sentimento de precariedade, muito para além do habitual. Até há pouco tempo o adjectivo estava de certa forma circunscrito à contratação dos jovens, o famigerado trabalho precário.
Agora abrimos o New York Times e lemos que Simon Johnson, professor do MIT, equiparou o financiamento de Portugal a um esquema em pirâmide (como o utilizado pelo gestor norte-americano Bernard Maddof que lhe valeu a prisão perpétua).
O tal economista diz também que Portugal, tal como a Grécia, em vez de abater os juros da sua dívida, tem refinanciado os pagamentos de juros todos os anos através de emissão de nova dívida, chegando mesmo ao ponto de dizer que "vai chegar a altura em que os mercados financeiros se vão recusar pura e simplesmente a financiar este esquema ponzi".

O cidadão que ainda em Setembro, durante a campanha eleitoral, pensou estar a assistir a um salto em frente do país, feito de TGVs, de aeroportos e outras maravilhas, descobre-se subitamente falido e depreciado. Que outras coisas estarão a ocultar-lhe neste preciso momento ? Teme um futuro precário.

Mas não são só os enredos dos homens, e as suas ganâncias, que tornam o mundo imprevisível. Basta um pequeno vulcão da Islândia (onde há tempos acontecera um outro cataclismo mas de natureza bancária) para parar o tráfego aéreo em metade da Europa. À conta disso os checos ficaram-nos com Cavaco por tempo indeterminado.

Andam os homens do aquecimento global tão preocupados com os nossos maus hábitos e afinal basta meia dúzia de grandes vulcões entrarem em actividade para a mobilidade e a logística do planeta regressarem ao século XIX. Como se tal não bastasse as núvens vulcânicas, ocultando o Sol durante meses, podem provocar consequências muito graves na produção de alimentos e condenar à morte milhões de pessoas.

Trabalho precário, civilização precária e planeta precário: está criado o terreno fértil para o nascimento de uma nova super religião com liturgia pela internet.

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Thursday, April 15, 2010

Autocorrupção é o contrário de autoflagelação

O Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, que concluiu o inquérito ao caso Taguspark-Figo em menos de quatro meses, acusou de corrupção passiva para acto ilícito Américo Thomati, presidente da comissão executiva do Taguspark, João Carlos Silva, administrador executivo, e Rui Pedro Soares, administrador não executivo. Luís Figo não foi acusado de corrupção activa, no processo do Taguspark, porque não teria consciência de que o capital deste parque tecnológico era maioritariamente público.

O povo está em estado de choque e não consegue atinar com a lógica deste processo. Por isso considerámos necessário vir a público dar o seguinte esclarecimento:

Não tendo havido um acusado de corrupção activa é forçoso concluir que os acusados de corrupção passiva se corromperam a eles próprios, numa espécie de autocorrupção. Esta nova figura do direito pode ser definida, sem preocupações de rigor jurídico, como o contrário da autoflagelação.

Enquanto que na autoflagelação o sujeito diz "vou infligir a mim próprio umas quantas doses de sofrimento para ganhar a benevolência de um ser espiritualmente superior", na autocorrupção o sujeito diz "vou proporcionar vários mimos a um amigo, pagos com dinheiro que não me pertence, para com isso ganhar a benevolência de um ser hierárquicamente superior".
 
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Wednesday, April 14, 2010

Mercado dos votos está em alta

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George Grosz, O Agitador (1928)


Agita-se o mercado dos votos. Um dos maiores fornecedores de votos tem um novo director de marketing e a concorrência torna-se mais intensa.

Ainda não se sabe quando será a próxima campanha de vendas mas há que estar preparado pois pode precipitar-se de um momento para o outro.
Quer os fornecedores de votos generalistas quer aqueles que se dirigem a nichos do mercado começam a apresentar o estado febril que antecede as campanhas.

Basicamente cada um pretende mostrar que o seu voto é mais barato e rende mais mas há quem ponha o ênfase no rendimento a curto prazo e, por outro lado, quem prefira prometer lá mais para o futuro. Aos votantes compete fazer a sua análise custo-benefício e investir em consciência.

Tudo se joga num subtil apelo aos mercados alvo pois o voto sendo mais barato para uns terá que ser mais caro para outros. E se rende muito para alguns então é certo que renderá menos para outros.
Quem são os que ganham e quem são afinal os outros que perdem?
A resposta dos fornecedores generalistas é ambígua, tentando convencer todos os votantes de que se encontram entre os ganhadores e evitar que alguém perceba que vai perder. Pelo contrário os fornecedores de nichos obtêm a sua vantagem competitiva de revelar que tencionam favorecer os seus mercados alvo e perseguir aqueles que de qualquer modo nunca comprariam os seus votos.

Não consegui nunca perceber como é que há pessoas que são contra o mercado mas, apesar disso, consideram a democaracia dos nossos dias a coisa mais natural deste mundo. Como é que não percebem que esta democracia é consequência e espelho, apenas mais um mercado na economia de mercado em que vivemos.

Opor os partidos e o Estado às empresas, neste contexto, é de certa forma absurdo.  O sucesso quer de uns quer das outras tem as mesmas vantagens e os mesmos pecados.

Para inventarmos um novo tipo de democracia precisamos de inventar primeiro um novo tipo de economia. Ambas são cada vez mais necessárias.

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Monday, April 12, 2010

"Quem apanhará as minhas trufas?"

"Estamos na época das trufas. Se eu não estiver cá nessa semana, quem colherá as minhas trufas?" Foi esta a desculpa de Grigory Perelman para não comparecer na cerimónia de entrega da medalha Fields pela demonstração da conjetura de Poincaré, em Madrid, há quatro anos (conforme escrevemos aqui). Pelos vistos há cogumelos todo o ano: Perelman também se prepara para recusar o prémio (milionário) do Instituto Clay.

Entrou com o pé direito

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Passos Coelho fez, no encerramento do Congresso do PSD, um discurso surpreendentemente hábil. Colocou a revisão constitucional no centro do debate o que vem ao encontro do sentimento generalizado de que o regime se encontra num impasse.
Bem poderá Sócrates minimizar a proposta e tentar recusar-lhe o indispensável apoio parlamentar. Quanto mais a revisão fôr contestada e adiada mais ela aparecerá aos olhos dos portugueses como a panaceia que talvez nem seja.
Ao posicionar-se desta forma o novo presidente do PSD transmite também a ideia de que é algo de fundamental que tem que ser mudado e não uma cosmética de conveniência. É daquelas propostas que não precisam de ser aceites pelos adversários e que talvez até sejam mais frutuosas quando os adversários as recusam.
Se juntarmos a isto as referências à necessidade de controle democrático das nomeações para altos cargos na Administração e nas Empresas Públicas, feitas por Passos Coelho, então podemos ter a certeza de que à partida escolheu o terreno mais favorável para a batalha que pretende travar.

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Sunday, April 11, 2010

Finalmente um défice chinês

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A China registou em Março 2010 o seu primeiro défice comercial mensal desde 2004.

O défice,  de 7.240 milhões de dólares, reflecte um crescimento de 66% das importações (para 119.350 milhões de dólares) em comparação com o mesmo mês do ano passado, em consequência de compras ao exterior de petróleo e cobre em volume recorde, ao mesmo tempo que de dava uma subida nos preços dessas matérias primas. As exportações cresceram "apenas" 24.3% para 112.110 milhões de dólares.
Os analistas discutem agora se este défice é só uma jogada para aliviar a pressão que tem sido feita sobre o governo chinês no sentido de revalorizar a sua moeda, o yuan. Os chineses quereriam mostrar com este aumento das importações que não é necessário revalorizar o yuan para reequilibrar a balança.

Ler mais no Washington Examiner: http://www.washingtonexaminer.com/world/state-media-china-had-724-billion-trade-deficit-in-march-first-in-almost-6-years-90432979.html
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Saturday, April 10, 2010

CSR - Conselho Superior dos Reformados

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Manifesto desde já o meu apoio à proposta de Pedro Passos Coelho, feita ontem no Congresso do PSD, de criação do Conselho Superior dos Reformados composto por ex-Presidentes da República e vários outros ex-qualquer coisa.
Num país que conta já, e contará cada vez mais, com milhões de idosos e reformados a proposta é realmente de saudar. Vem na linha de um hábito ancestral das sociedades humanas que, ao longo de milénios, têm confiado na sabedoria dos conselhos de anciãos.
O passo seguinte, desculpem o trocadilho, será a criação do Conselho Póstumo da República já que é costume entre nós que quem morre se torna não só "impoluto" como, finalmente, genial.
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Friday, April 9, 2010

A ciência da caça às bruxas

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Ao fim de quase três anos o Tribunal Criminal de Lisboa terminou finalmente o julgamento da condutora que, a 2 de Novembro de 2007, atropelou três mulheres no Terreiro do Paço, em Lisboa e condenou-a a três anos de cadeia.
Independentemente da justeza da pena, que segundo parece vai ser objecto de recurso durante vários anos, os termos da sentença são reveladores da ideologia dominante nesta matéria. A condenada “não mostrou arrependimento”, mas antes uma “frieza afectiva”.
A ideologia dominante quanto à sinistralidade, a tese imbecil  da "guerra civil na estrada", insiste em centrar as atenções na culpa desprezando o estudo das verdadeiras causas dos acidentes.
Ao fim de três anos e depois do julgamento continuamos sem saber qual foi realmente a causa do acidente. A velocidade do veículo, mesmo que superior à permitida no local, não explica o despiste e o atropelamento dos peões sobre o passeio. A velocidade poderia ser uma boa explicação para o despiste se o automóvel estivesse a descrever uma curva, o que não é o caso.
Algo terá acontecido certamente para que o veículo saísse da estrada com os resultados trágicos que se conhecem; ou a condutora adormeceu, ou se distraíu a falar ao telemóvel, por exemplo.
Do ponto de vista da prevenção rodoviária o que interessa é perceber muito bem o que se passou e por que razão aconteceu. Do ponto de vista da justiça e do ressarcimento das vítimas importa também perceber muito bem o que se passou pois há uma diferença entre culpa e responsabilidade; não se tem, por exemplo, culpa por adormecer mas tem-se certamente a responsabilidade pelas consequências e danos resultantes de tal facto. Pode-se e deve-se mostrar arrependimento quando há culpa mas não faz sentido alguém arrepender-se de algo que não decidiu ou de que não teve consciência.
Mas estes detalhes não interessam muito aos fundamentalistas que querem essencialmente mostrar todos os condutores como potenciais criminosos.
Os exageros e disparates que esta linha de pensamento produz estão bem ilustrados na primeira pégina do "I" hoje publicado. "São atropeladas 17 pessoas por dia" grita irresponsávelmente o jornal para só nas páginas interiores informar que afinal só morreram 92 durante um ano inteiro e não os 6.133 que a primeira página insinuava.
Estes dislates, que tentam ocultar a fortíssima redução do número de acidentes e de vítimas nos últimos anos, foram inspirados numa "tese de mestrado defendida esta terça-feira no ISCTE por Maria João Martins, enfermeira com cerca de 20 anos de experiência em trauma causado por acidentes".
A grande descoberta desta tese é que "a maior parte dos condutores não se culpabiliza e tenta atribuir a responsabilidade a outros elementos externos". A "cientista" parte do princípio de que os condutores são culpados, não admite sequer como hipótese que o não sejam, e portanto conclui que a atitude dos condutores é não só criminosa como incapaz de admitir a culpa.
Esta fervor ideológico mascarado de "ciência" não explica quase nada sobre as causas dos acidentes ou a forma de os evitar mas parece-se muito com a caça às bruxas tal como era conduzida pela santa inquisição.
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Thursday, April 8, 2010

Um povo de merceeiros ?

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No dia 6 de Abril primeiro-ministro Gordon Brown foi recebido pela rainha Isabel II, a quem compete a dissolução da Câmara dos Comuns. Daí resultou a marcação das eleições para o dia 6 de Maio. No dia 7 de Maio a rainha dará posse ao vencedor.
Um mês basta aos ingleses para renovar a legitimidade do seu governo.

Fico a imaginar uma coisa similar em Portugal. Sócrates dirigindo-se a Cavaco e, com base na erosão a que tem estado sujeito, a pedir-lhe para dar ao povo a possibilidade de confirmar ou rejeitar a sua liderança.

Se demorasse só um mês caíria por terra o argumento da degradação da imagem internacional de Portugal resultante de um processo eleitoral.
Infelizmente na nossa república somos muito mais cerimoniosos do que na monarquia inglesa, precisamos de muito mais salamaleques.

Já Brecht dizia que Hitler considerava os ingleses um povo de merceeiros mas que um dia enviariam contra ele o ouro do Transvaal e de ambas as Índias. E assim foi. Percebe-se porquê.

Hábitos de rico em país de pobres

(fotografado com o telemóvel)


Percorro este passadiço sobre as àguas, em frente ao Pavilhão de Portugal na Expo, quase todos os dias desde há vários anos. Regularmente regressa uma equipa de manutenção que se dedica a substituir as ripas de madeira do pavimento que entretanto apodreceram ou se partiram.

Que o arquitecto não se tenha lembrado de que a madeira, naquelas condições ambientais, iria ter um elevado custo de manutenção é lamentável. Que os gestores da Parque Expo ainda não tenham resolvido substituir as ripas por outras mais resistentes e duráveis (PVC ?) é ainda mais inaceitável.

Por todo o país este tipo de desleixo é multiplicado por milhares de casos. As obras querem-se lindas, para encher o olho, mas ninguém se preocupa muito com aquilo que se vai gastar na sua manutenção. Quem vier atrás que feche a porta.

Por isso já nem ficamos admirados quando nos dizem que foi comprada uma frota de helicópteros sem cuidar de negociar, à partida, um contrato de manutenção. A gravidade é maior mas o desleixo subjacente é o mesmo.

Hábitos de rico em país de pobres.
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Wednesday, April 7, 2010

As viagens da deputada Inês de Medeiros

Na série Seinfeld, a minha personagem favorita era o Kramer. E uma das razões principais para isso é que raramente alguma outra vez terá ficado tão clara a distinção entre lógica e bom senso. O bom do Kramer (com certeza um matemático não aproveitado) defendia pontos de vista que eram absolutamente inatacáveis de um ponto de vista lógico, mas que entravam em conflito com o mais elementar senso comum do dia a dia.
A jurista (é ela que assim se intitula, e frisa-o bem) Isabel Moreira, do Jugular, é algo krameriana na sua argumentação. O pagamento das viagens a Paris da deputada Inês de Medeiros pode até ser estritamente legal, mas não passa pela cabeça de ninguém com um mínimo de bom senso que um deputado da nação tenha ajudas de custo para viagens à sua residência… fora do país. Mais: creio que não passa pela cabeça de ninguém que um deputado da nação tenha residência permanente fora do país.
Excetuam-se, claro, os deputados eleitos pelos círculos da emigração. Mas Inês de Medeiros, recorde-se, apesar de residir em Paris, é eleita pelo círculo de Lisboa, onde é eleitora.
A lógica de Isabel Moreira, a defender quem tem um local de residência e outro de voto, é contrária ao Simplex, e em particular ao Cartão do Cidadão, uma das bandeiras do anterior governo, que tornaria essa prática impossível. Esta situação de Inês de Medeiros não é necessariamente ilegal, porque o Cartão do Cidadão ainda não está generalizado, mas situações como a da deputada têm os dias contados. Entretanto, que fazer com as suas viagens?
Como ponto prévio, declaro-me internacionalista, e europeísta em particular. Dito isto, não faz sentido declarar que o não pagamento de tais viagens põe em causa a “mobilidade dos cidadãos”. Que se paguem tais ajudas a deputados ao Parlamento Europeu, pois acho naturalmente muito bem. Mas a mobilidade entre diferentes países da União Europeia é algo que não se espera de um deputado a um parlamento nacional (que, no contexto europeu, é uma forma local, ou se quisermos regional, de fazer política). Posso concordar com a Fernanda Câncio que este caso abre um precedente, e que se calhar Inês de Medeiros, que não prestou declaração falsa nenhuma, é a menos culpada e não merece um linchamento (mais culpado se calhar é o partido que aceitou a sua candidatura, sabendo estas circunstâncias). E concordo sobretudo quando lamento que o Presidente da AR, tão lesto noutras tomadas de posição, não diga nada sobre este caso. Mas apesar disso tudo (ainda mais estando nós no meio de uma crise profunda, mas mesmo que não estivéssemos), eu não quero pagar as viagens a Paris da deputada Inês de Medeiros.

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Tuesday, April 6, 2010

Exposição Internacional de Cartoon

Encontram-se coisas que valem mesmo a pena nesta exposição. O meu favorito, de um autor de traço inconfundível (contemporâneo do Vítor Santos, que quem andou no Técnico nos anos 90 bem conhece) é o Álvaro Santos, que expôs o cartoon que eu aqui reproduzo. A ver, no Centro Vitória do PCP (na Av. da Liberdade, em Lisboa), só até esta sexta feira.









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VIDAGENS - 50 anos 200 fotos



Vidagens é um vocábulo que inventei para designar a exposição destas 200 fotografias. Foram feitas em dezenas de países, ao longo dos últimos 50 anos. São quase sempre fotografias de pessoas- muitas pessoas- e dos seus lugares. Esta é apenas uma das várias selecções possíveis a partir do extenso material com que tenho tentado ilustrar a maravilhosa diversidade do mundo. (ver aqui)

Quem é quem na internet chinesa


O conflito entre a Google e o governo chinês, por causa da censura nas buscas, fez aumentar a curiosidade acerca do "quem é quem" online na China.
Já quase toda a gente sabe que o principal motor de busca na China é o Baidu - 百度 Com mais de 60% do mercado da China é também o terceiro maior motor de busca do mundo . Mas a internet chinesa tem outras estrelas. Aqui ficam alguns números.

A China reúne 384 milhões utilizadores de Internet. Destes, 221 milhões têm blogs.
108 milhões de chineses fazem compras online e 321 milhões de pessoas realizam downloads de música.
Tencent, o principal portal chinês, agrega mil milhões de contas e 485 milhões de utilizadores activos.
A rede social Qzone reúne 310 milhões de utilizadores e o Renren, uma espécie de Facebook, tem 200 milhões de utilizadores (55 milhões via telemóvel).

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Sunday, April 4, 2010

A outra Ressurreição

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Jesus Salva

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Saturday, April 3, 2010

Prós & Contras: "quem manda nas escolas?"

Já há quinze dias (num debate sobre o PEC e as contas públicas) havia notado, e esta semana só o confirmei: o programa "Prós & Contras", que antigamente alguém chamava "Prós & Prós", está cada vez mais "Contras & Contras". Dantes, praticamente em cada semana estava lá um ministro; agora, para debater a educação, estavam (no último programa, disponível aqui), nada menos que Nuno Crato (apesar de tudo o melhor), Helena Matos e... Paulo Portas. Habilidoso, o líder do CDS conseguiu fazer passar a sua propaganda, a mensagem do seu partido, sem nunca a este se referir. Insistiu que na escola "não é admissível nenhum tipo de violência: violência contra professores, violência contra funcionários..." Não acabou. Ficámos sem saber se Portas toleraria a violência contra os alunos (desde que dirigida por professores ou funcionários).

Foi engraçado ouvir os alunos. No que se segue, para que fique claro, a identificação do quadrante político dos alunos é uma "adivinha" minha. Ninguém se identificou como membro de nenhum partido. Na primeira parte, falou (timidamente) um estudante nitidamente apoiante do PS e das políticas de Maria de Lurdes Rodrigues. Os críticos do "eduquês" e os seus colegas de partidos mais à esquerda defendem posições totalmente opostas, mas ambos reuniam-se para criticarem a anterior ministra - a sua inabilidade política reflete-se em, não ter sabido tirar proveito desta reunião. Na segunda parte, por volta dos 11 min, falou (julgo eu) um estudante apoiante do PCP. Refiro-o pela forma como se quis demarcar do estudante anterior e, pese algum nervosismo, pela forma como lia tudo o que queria dizer, sem se afastar nada do planeado. Logo depois, falou Pedro Feijó, assumidamente do Bloco de Esquerda, apresentado pela apresentadora como "o rapaz que estava doido por falar". O à-vontade a falar era notável. Fixem este nome: daqui a uns anos teremos ali deputado. Entretanto quer estudar Física... Tanto Feijó como a generalidade dos intervenientes pediram (em graus diferentes) "mais autonomia" para as escolas. Fossem professores e estudantes ou fossem só professores a fazê-lo, os programas deveriam ser decididos localmente e não pelo ministério. Gostaria de saber o que pensam os proponentes desse tipo de medidas desta reescrita da História no Estado do Texas.

Também publicado no Esquerda Republicana

Submarino ao fundo

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A corrupção regressa, regularmente, à ribalta da vida política. Procura-se, com maior ou menor sinceridade, remédios para o flagelo.
Mas será que é possível contrariar a cupidez humana ? Não seria preferível usá-la para o bem comum ?

Na nossa democracia representativa os detentores de cargos públicos são mandatados para gastar verbas descomunais e decidir adjudicações milionárias mas, no entanto, auferem salários que rondam os cinco mil euros.
Tentem por uns minutos imaginar o sofrimento de quem vê outros enriquecer por obra de uma decisão sua e a tentação de partilhar também o sucesso daqueles a quem proporcionou a fortuna. 

A corrupção é um mecanismo perverso para as contas públicas porque o corrupto ganha tanto mais quanto mais gastar o dinheiro dos outros. Por isso, para combater a corrupção, a República deve instituir prémios precisamente para quem gastar menos.
Todos os governantes que consigam, comprovadamente, diminuir o custo de uma empreitada ou o valor de uma adjudicação devem receber 10% do valor poupado.
Por cada prémio pago teríamos a benção de uma redução do défice.

Se, por exemplo, um novo governo ao tomar posse impõe negociações ao fornecedor de uma empreitada decidida pelo governo anterior, e consegue reduzir o custo da mesma, deve ser premiado com 10% da verba poupada pelo erário público.

Esta proposta, que desde já merecia também os 10% de todas as corrupções que evitará no futuro, devia ser rapidamente legislada. Todo o segredo está nas regras para aprovação dos prémios e na composição da Comissão que virá a apreciar a  justiça da sua atribuição.

Queira Deus que essa Comissão não ceda, ela própria, à tentação...

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