Alguns esclarecimentos sobre os comentários que os meus textos sobre o Nobel da Paz de 2007 suscitaram.
O Prémio Nobel da Paz é um prémio político. Não é um prémio científico. De nenhum modo a atribuição deste prémio significa um reconhecimento da realidade do aquecimento global. É antes um reconhecimento do seu trabalho em prol de uma causa meritória para a humanidade. É um prémio que pressupõe um julgamento moral.
Nesse aspecto dou razão ao Luís Aguiar Conraria no seu comentário: um prémio como o Nobel da Paz não deve ser atribuído para um trabalho que deve ser científico. A ciência não tem moral e nem responsabilidade social; o seu objectivo é, pura e simplesmente, a procura da verdade, por mais inconveniente que esta seja. Por isso o prémio teria sido melhor atribuído a Al Gore (cuja dedicação à causa do ambiente é muito antiga) e a grupos ecologistas.
A hipótese do aquecimento global causada pelo homem é o melhor que nós conhecemos. É presentemente a nossa realidade. É suportada por 90 por cento dos especialistas em climatologia, baseada no trabalho de perto de uma década de mais de 1000 investigadores provenientes de 130 países diferentes. O que não quer dizer que seja a última palavra a dizer sobre o assunto. Agora quem (legitimamente) não está satisfeito com a melhor explicação conhecida para o aquecimento global, que trate de propor outra e mostrar, com base em experiências credíveis, que a actual explicação está errada ou, pelo menos, que existe uma melhor explicação. É assim que funciona a ciência. Eu nunca vi isso em lado nenhum. Pelo contrário, só vi pessoas (por vezes cientistas) a contestarem a actual explicação por esta lhes ser... inconveniente. Por esta requerer uma alteração dos seus hábitos de vida, que há muito se sabe serem poluentes. Por estarem mais preocupados em continuarem a trnasportar-se de carro todos os dias, para não terem de se misturar com o “povo” em transportes públicos. Por não se quererem dar ao trabalho de reciclar. E de usar mais vidro e menos plástico. O que eu não posso aceitar é que esses cientistas disfarcem o seu comodismo e o seu egoísmo como "ciência".
Tudo isto implica um certo esforço, mas não é assim tanto. Na Holanda, toda a gente se transporta de bicicleta ou transportes públicos. Tal como se comia e bebia em louça, pode voltar-se à louça e abandonar os pratos, copos e talheres de plástico. Tudo é uma questão de mentalidade.
Finalmente, quero recordar algo ao Ricardo S. Carvalho (francamente, não sei mesmo se ele sabe). O Prémio Nobel da Paz pressupõe um julgamento moral, como referi. Ser-se “de esquerda” também. São duas coisas diferentes: o Prémio Nobel da Paz não é necessariamente de esquerda (das últimas vezes tem sido, mas nos anos 70 até ganhou o Kissinger). Pode acontecer estarem ambas erradas: prémios Nobel mal atribuídos, que não façam sentido, e opções políticas de esquerda (acontece às vezes). A verdade científica deve prevalecer, mas enquanto ela não existe (e isto admitindo que ela ainda não existe para o aquecimento global, o que está longe de ser pacífico), a esquerda tem o direito de ter as suas opções. Neste contexto, só uma opção de preservar o meio ambiente e melhorar a vida para todos no nosso planeta (contrária aos grandes interesses económicos) se pode considerar de esquerda. Isto é: só uma opção ecológica. Anteriormente falava do Prémio Nobel da Paz; agora falo de esquerda. Não estou a falar de ciência. Para isso (no que diz respeito ao aquecimento global), não sou o mais qualificado.
Sobre este assunto ler ainda o Klepsýdra, o De Rerum Natura, o Vida Breve, o Verdade ou Consequência e o Cosmic Variance.
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