Thursday, February 18, 2010

Há mais vida para além de Sócrates

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Parafraseando o saudoso Presidente Sampaio, perante o nervosismo geral, apetece dizer "há mais vida para além de Sócrates".
O facto de a qualquer pessoa bem formada repugnar o acto de "espreitar pelo buraco da fechadura" não implica de forma alguma a inexistência dos factos observados por tal buraco.
Eu também preferia que a polícia pudesse dispensar o recurso a escutas mas tal não me leva a concluir que os factos escutados não existiram.

Independentemente daquilo que se possa pensar sobre a validade das escutas e da sua divulgação pública temos que considerar inadmissíveis os actos que elas revelam. O simples facto de o PM e seus colaboradores próximos tratarem ao telefone, que qualquer criança sabe ser um meio inseguro, assuntos que consideram reservados é antes do mais um caso de incompetência e irresponsabilidade. Pode perguntar-se que informações revelou entretanto o PM pelo telemóvel não já a um tribunal, como é o caso em apreço, mas a um qualquer agente secreto estrangeiro.

Ao contrário do que insinua a defesa demagógica de Sócrates nós não vivemos num país onde inúmeros políticos e dignitários em geral tenham sido destituídos e esquartejados em resultado de perseguições mediáticas e judiciais. Vivemos sim num país onde os desmandos e a corrupção campeiam, sem qualquer castigo, à frente dos olhos de todos. Não há memória de uma única condenação de gente importante.

Não resta ao cidadão comum outro remédio senão colocar estas questões já que a "Justiça VIP", a tal que nunca encontra culpados, usa uns óculos de tal graduação que a realidade, se é que existe, nunca consegue ser nítida.
É a nós que compete decidir se este caso Face Oculta é apenas mais um em que os erros dos notáveis não têm consequências. A repetição de tais situações é sem dúvida a maior ameaça que paira sobre a democracia portuguesa.

Sócrates ainda só viu a ponta do iceberg. Podemos imaginar o que vai acontecer quando as escutas divulgadas contiverem conversas do próprio PM e não só dos seus amigos.
Nem Sócrates, nem nós, nem as agências de rating, podemos conviver com esta espada de Dâmocles sobre a cabeça do PM que pode vir a afectar gravemente o país.
Acho que ele, para pacificar os mercados e o povo, devia anunciar a sua partida logo após a aprovação do OE e do PEC, fazendo gentilmente companhia à Manuela Ferreira Leite.
Só lhe ficava bem.
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