Agora, que todos os formalismos são invocados para manter oculta a Face Oculta, vem a propósito lembrar as escutas de Valentim e a sua versão lúdica em horário nobre. Que pena os Gatos andarem afastados dos ecrans em vez de nos brindarem com o equivalente do Valentim em versão Armando Vara.
Para avaliar a seriedade daqueles que agora falam em tom trágico do fim do "Estado de Direito" nada melhor do que relembrar como reagiram, ao longo dos últimos anos, à exposição pública dos vários "arguidos" que vão do caricato Valentim Loureiro ao Presidente da República. Trata-se de gente que, perante a divulgação pública das escutas, só abre um olho de cada vez. Que só se indigna quando os visados são do seu clube.
Outra linha de argumentação muito usada recentemente para defender Sócrates é mostrá-lo como vítima indefesa de uma comunicação social hostil. A julgar pelos conteúdos não haveria um único jornal, ou televisão, sério neste país.
Este argumento esquece que foi com estes mesmos jornais e televisões que Sócrates alcançou uma maioria absoluta. Que foram estes mesmos jornais e televisões que puseram Santana nas ruas da amargura abrindo caminho à maioria absoluta de Sócrates.
Hoje, sabendo o que sabemos, confirma-se a ideia de que o "menino guerreiro" era afinal um menino de "incubadora" ao pé do senhor engenheiro.
Há dias tive oportunidade de recordar a intervenção de Sócrates, então na bancada parlamentar da oposição, a invectivar Santana pelas "inadmissíveis pressões" do ministro Gomes da Silva que fizeram saltar Marcelo da TVI para a RTP. A grandiloquência do discurso é simplesmente hilariante.
O que está em causa com a Face Oculta é muito mais do que a mera tentativa de controlar certos meios de comunicação. O que as escutas divulgadas recentemente põem a nu é a completa subversão do regime democrático.
Mostram que os formalismos democráticos que nós cumprimos de vez em quando, nas eleições, são meramente decorativos. O governo que temos não passa de uma repartição onde a generalidade dos ministros se ocupa de meras tarefas administrativas e de gestão.
A política e as alavancas económicas essas são manobradas na sombra por figuras em que ninguém votou e que, em muitos casos, ninguém conhece. São os assessores milionários, os gestores públicos por nomeação e os gestores privados por indicação governamental integrados numa teia incompreensível cujo comando se desconhece.
Eles é que determinam as influências mediáticas e os empréstimos bancários, os subsídios estatais e a aprovação das concessões, eles são as "golden shares" com que opera o verdadeiro poder.
Basta ler o curriculo dos Varas, dos Pedro Soares, dos Soares Carneiro e das Ongoings, para falar apenas os que se tornaram famosos nos últimos dias, para perceber em que tipo de "estado de direito" é que vivemos.
Por isso não nos venham dizer, com a voz embargada, que a revelção das tramóias põem em causa o "estado de direito". É precisamente a reposição do Estado de Direito que se pretende expondo ao escrutínio público as tramóias que o vêm destruindo.
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