Sunday, May 2, 2010

E a Grécia aqui tão perto


No dia 4 de Outubro, o PASOK (social-democrata), de Papandreou, venceu as legislativas antecipadas, tomou posse e descobriu que o défice público era de 12,7 por cento do PIB - e não seis, como tinha anunciado o governo conservador da Nova Democracia, de Kostas Karamanlis. A Grécia entrou na espiral da crise.
Entre gregos - e não só - não é com discursos de Cassandra que se ganham eleições. Karamanlis convocara eleições antecipadas para responder à contestação social, avisando que a crise financeira colocava a Grécia em situação difícil. Propunha uma "austeridade temporária", com o congelamento dos salários e das pensões por um ano. Estava sob forte pressão da UE para reduzir o défice e a mais elevada dívida pública da zona euro.
Inversamente, Papandreou fez um discurso optimista, apostando no "crescimento verde" e num ambicioso plano de investimento nas energias renováveis. Prometeu subir salários e pensões. Era a música que os eleitores queriam ouvir.
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De quem é a culpa? Há uma teoria da conspiração: os especuladores estrangeiros e as agências de notação têm o euro como alvo e atacam a Grécia como elo mais fraco. Nos últimos 30 anos, todos os partidos gregos abusaram da retórica "anti-imperialista" para explicar os desastres da Grécia pelas "maquinações neoliberais" ou dos "americanos", escreve o Eleftherotypia (próximo do PASOK).
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Papandreou reconhece agora que é preciso refazer tudo "de alto a baixo". Após o "milagre económico" que se seguiu à entrada no euro e culminou nos triunfais (e ruinosos) Jogos Olímpicos de 2004, o problema vai muito para lá do défice.
A economia grega deixou de ser competitiva e pouco exporta, o que agrava a pressão sobre a dívida. A questão fiscal é aguda. Por tradição histórica, as receitas do Estado sempre assentaram nos impostos indirectos. A fuga ao fisco é generalizada. A corrupção política, patente nos anteriores governos do PASOK, subiu exponencialmente com Karamanlis. A economia subterrânea vale de 30 a 40 por cento do PIB. Serve de amortecedor social, mas à custa das finanças públicas. Os armadores gregos têm a primeira frota mundial, ganham fortunas com as mercadorias chinesas, mas a sua sede fiscal não é em Atenas.

Jorge Almeida Fernandes, Público, 01.05.2010

Estas histórias soam assustadoramente familiares. Onde é que eu já ouvi isto ?

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