Com o francês, no meu caso, passou-se algo semelhante, embora não fosse com telenovelas: de repente, vi-me a viver em França, no meio de franceses, num meio onde a língua mais falada era o francês, e simplesmente quis integrar-me. Comecei a ouvir, a ler e a falar uma língua de que só tinha umas bases aprendidas no secundário, que já estavam esquecidas. Um ano depois já entendia praticamente tudo o que me diziam e era capaz de manter uma conversação em francês. Cometendo erros gramaticais, claro. Mas se eu tivesse medo de os cometer, se não tivesse a iniciativa de querer ser parte da comunicação, nunca seria capaz de falar francês.
Quando se está a falar uma língua estrangeira, o principal objetivo deve ser o de estabelecer comunicação. Não se deve ter medo de cometer erros. O não ter medo de errar, de falhar, que é uma caraterística tão pouco portuguesa. Cito, a propósito do episódio com que comecei, o Vasco Barreto (via o Bruno Sena Martins):
O “portunhol” de Sócrates é sobretudo uma manifestação da sua personalidade. Percebe-se ali o espírito de “desenrascanço”, um fura-vidas, uma enorme e algo autista confiança, a coragem, ousadia ou lata para enfrentar a elite económica e financeira de Espanha com tão parcos recursos.”A necessidade faz o engenho e Sócrates, com uma licenciatura de uma universidade rasca, obtida em condições estranhas, pela primeira vez agiu como um engenheiro. Mostrou que merece o diploma que tem. E, francamente, quando leio os comentários que se têm escrito convenço-me de que vivo num país de tristes, invejosos e tacanhos. Valham-nos a Mariza e o Mourinho!
É claro que Sócrates não se comportou bem, apesar de tudo. Preferiu fazer uma piadola de gosto duvidoso com o líder da oposição, sem ser capaz de dizer, perante aquela audiência e naquela circunstância, o que realmente se impunha. Algo como: Voy a tentar hablar español aquí porque eres la única lengua que ustedes comprendem! No fundo, está muito bem para o triste país que somos.
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