Fui ver o filme "Histórias da Idade de Oiro" ou, em romeno, "Amintiri din epoca de aur".
Os últimos 15 anos do regime de Ceausescu devem ter sido os piores na história da Roménia. No entanto, a máquina de propaganda referiu-se a essa época como os anos de oiro… Mitos urbanos surpreendentes, cómicos, bizarros abundavam, mitos que derivavam de acontecimentos por vezes surreais do quotidiano.
Cinco histórias anedóticas, da autoria de Cristian Mungiu, tratadas por cinco diferentes realizadores, compõem este filme divertidamente amargo.
Nós, os mais velhos, sabemos que a Roménia destes tempos era um regime repressivo, em que imperava o culto da personalidade do "grande líder".
Mas o quadro só fica completo se acrescentarmos a penúria geral, e a geral interiorização da repressão. Um regime baseado no faz de conta.
Os cidadão faziam de conta que amavam o "grande líder", as aldeias faziam de conta que estavam alfabetizadas a 99%, os jornais faziam de conta que Ceausescu era mais alto do que Giscard d'Estaing e todos fingiam ir a caminho do Comunismo.
O problema é que, num regime destes, mesmo um ingénuo estratagema de sobrevivência fácilmente se transforma num enorme crime.
A penúria, a auto-repressão, o incensar do líder, e o fazer de conta continuam infelizmente, em dosagens variáveis, a surgir nas mais insuspeitas situações, mesmo quando o verniz democrático ainda não estalou.
Vendo bem só passaram vinte anos sobre a execução de Ceausescu.
Moral da história: há que estar atento aos fundamentos de qualquer engenharia social que nos proponham. Os nossos projectos de futuro já se terão libertado completamente do Ceausescu que existe por trás de cada esquina, senão mesmo dentro de cada um de nós ?
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