Monday, December 31, 2007
Adieu Carrefour
Nem sequer são as histórias de Paris. As dorades que eu comprava para grelhar (tinha que as preparar na cozinha colectiva), e que me permitiam travar conecimento com meninas portuguesas. Vinham ter comigo a perguntar-me, timidamente e em francês, onde é que eu tinha comprado aquele peixe, de que gostavam muito e que comiam com frequência no país delas. Eram portuguesas, claro.
Nem a vélo com que me passeei e transportei em Paris. São mesmo coisas do quotidiano. De Portugal.
Mantendo-me no ciclismo: desaparece em Portugal a marca Topbike. Este fim de semana veio um selim para a minha bicicleta, antes que desaparecesse. Sete euros. Agora, só em Espanha se arranjam. Em Portugal, ou são caros (e vendidos por comerciantes que não querem abrir ao domingo), ou são maus.
A galette des rois. Onde se arranja uma galette por quatro euros em Lisboa? E toda a pastelaria francesa e portuguesa.
O queijo. Eu costumava rir ao ver os folhetos de propaganda do Continente a anunciarem queijo Brie a 9,90€ o quilo como uma “grande promoção”. Chegava ao Carrefour (como cheguei a semana passada) e encontrava o mesmíssimo queijo, de leite pasteurizado mas artesanal, a 4,90€ o quilo. “Refeição económica”. Costumava rir, dizia. Agora, vou chorar.
Os “produtos 1”, “os mais baratos da região”, e os produtos Carrefour em geral. Os patés a um euro e pouco. E como era desolador ver as prateleiras vazias, sabendo que não seriam mais reabastecidas.
Os legumes e frutas. Fica aqui o desafio: onde se encontra, em Lisboa, batata a 0,39€ o quilo (no máximo; ainda há pouco estava a 0,25€) todo o ano?
Última refeição de 2007: as últimas douradas compradas no Carrefour. Até sempre. Foi um prazer ser vosso cliente.
Nem a vélo com que me passeei e transportei em Paris. São mesmo coisas do quotidiano. De Portugal.
Mantendo-me no ciclismo: desaparece em Portugal a marca Topbike. Este fim de semana veio um selim para a minha bicicleta, antes que desaparecesse. Sete euros. Agora, só em Espanha se arranjam. Em Portugal, ou são caros (e vendidos por comerciantes que não querem abrir ao domingo), ou são maus.
A galette des rois. Onde se arranja uma galette por quatro euros em Lisboa? E toda a pastelaria francesa e portuguesa.
O queijo. Eu costumava rir ao ver os folhetos de propaganda do Continente a anunciarem queijo Brie a 9,90€ o quilo como uma “grande promoção”. Chegava ao Carrefour (como cheguei a semana passada) e encontrava o mesmíssimo queijo, de leite pasteurizado mas artesanal, a 4,90€ o quilo. “Refeição económica”. Costumava rir, dizia. Agora, vou chorar.
Os “produtos 1”, “os mais baratos da região”, e os produtos Carrefour em geral. Os patés a um euro e pouco. E como era desolador ver as prateleiras vazias, sabendo que não seriam mais reabastecidas.
Os legumes e frutas. Fica aqui o desafio: onde se encontra, em Lisboa, batata a 0,39€ o quilo (no máximo; ainda há pouco estava a 0,25€) todo o ano?
Última refeição de 2007: as últimas douradas compradas no Carrefour. Até sempre. Foi um prazer ser vosso cliente.
Uma novela que vai abrilhantar 2008
Sunday, December 30, 2007
Saturday, December 29, 2007
Agradeço a P. o seu negrito, mas também
Bom, se fosse um teste, vocês tinham falhado. É claro que não foi ao James Wood que cresceu uma vulva no abdómen (post anterior). O crítico literário da New Yorker não anda por aí com vulvas no abdómen. Referia-me, naturalmente, ao actor James Woods, que se pode ver abaixo, enfiando a mão enfim, de uma forma que só alguém muito cínico poderia descrever como "fazendo crítica literária para a New Yorker":
O verdadeiro James Wood é este senhor_
_ que nesta imagem específica foi apanhado a fazer, não crítica literária para a New Yorker, mas sim uma mímica quase-perfeita daquele actor português que interpretou o detective privado Claxon, e que também entrou no Major Alvega. Graças à IMDb, descobri que o senhor se chama António Cordeiro, informação que se viria a revelar inútil na demanda de uma imagem sua de tamanho blogável. A introdução dos termos de busca "António Cordeiro" no Google Images levou-me à página da cidade brasileira de Congonhas, a um site sobre Antonio Gramsci, e a inúmeras ilustrações de modelismo náutico, mas, para grande desilusão minha, a nenhum retrato icónico de António Cordeiro, de sobretudo e fedora cinzento, "fazendo crítica literária para a New Yorker" na personagem de Margarida Reis.
Tudo isto é grave, mas não tão grave como a inconsistência gráfica que rodeia o nome "Rogério Casanova". Se as pessoas insistem em não colocar aspas à minha volta (o que acho inconcebível), o mínimo que podiam fazer era mostrar um bocadinho de criatividade; como o Lourenço, por exemplo, que insiste em chamar-me Rodrigo Casanova (sem aspas, mas com dignidade). Uma excelente passagem de ano para ele, e para todos vós, são os meus votos, diria, quase ardentes.
(Por falar em Lourenços: o Claxon não é um primo afastado, não?)
O verdadeiro James Wood é este senhor_
_ que nesta imagem específica foi apanhado a fazer, não crítica literária para a New Yorker, mas sim uma mímica quase-perfeita daquele actor português que interpretou o detective privado Claxon, e que também entrou no Major Alvega. Graças à IMDb, descobri que o senhor se chama António Cordeiro, informação que se viria a revelar inútil na demanda de uma imagem sua de tamanho blogável. A introdução dos termos de busca "António Cordeiro" no Google Images levou-me à página da cidade brasileira de Congonhas, a um site sobre Antonio Gramsci, e a inúmeras ilustrações de modelismo náutico, mas, para grande desilusão minha, a nenhum retrato icónico de António Cordeiro, de sobretudo e fedora cinzento, "fazendo crítica literária para a New Yorker" na personagem de Margarida Reis.
Tudo isto é grave, mas não tão grave como a inconsistência gráfica que rodeia o nome "Rogério Casanova". Se as pessoas insistem em não colocar aspas à minha volta (o que acho inconcebível), o mínimo que podiam fazer era mostrar um bocadinho de criatividade; como o Lourenço, por exemplo, que insiste em chamar-me Rodrigo Casanova (sem aspas, mas com dignidade). Uma excelente passagem de ano para ele, e para todos vós, são os meus votos, diria, quase ardentes.
(Por falar em Lourenços: o Claxon não é um primo afastado, não?)
Friday, December 28, 2007
Thursday, December 27, 2007
Cold turkey
Gosto muito de David Cronenberg. Sempre gostei, mais até do que seria razoável gostar de qualquer canadiano (atravesso um problema semelhante com algumas bandas recentes). E todos aqueles que, como eu, encontram pacatas epifanias em metáforas toxicológicas, já devem ter reparado no seguinte: Cronenberg é um canadiano que, artisticamente falando, não se mete nas drogas. O que nunca impediu alguns dos seus filmes mais antigos de serem descritos como "alucinatórios", como se o homem andasse por aí a impingir ácido às crianças
Quando o abdómen de James Wood se transforma numa vulva para ler VHS, ou a máquina de escrever de Peter Weller começa a mexer as antenas e a falar, não estamos no meio do deserto com os xamãs de Oliver Stone, nem sequer no domínio lúdico do "surreal" (outro termo crítico tão escorregadio que é impossível agarrá-lo sem expor o derrière aos sodomitas semânticos), mas sim numa espécie de realidade intensificada. Nas mãos de outro realizador, essas cenas seriam fragmentos etéreos, observados ao ralenti, através de uma névoa de mescalina. Cronenberg arregaça as pálpebras e salpica tudo com diluente. Se há uma analogia tóxica a utilizar, esta não envolve drops ou cogumelos, mas sim o processo de desintoxicação. A imaginação visual de Cronenberg sempre foi a do ex-alcoólico: aquele que não toca numa gota há anos, e cujos sentidos assimilam tudo com a clareza suja da privação. Isto, pelo menos, é a maneira como as coisas se me afiguram nesta quadra festiva.
Eastern Promises, apesar do meticuloso esforço de Vincent Cassell para estragar todas as cenas em que entra, é um grande filme. Aquele fotograma, que encontrei por pura sorte num site francês, é da minha sequência preferida, a primeira visita da enfermeira ao restaurante. É um momentozinho de nada, antes das tatuagens à Caravaggio, da gorjeta iconográfica, do wrestling na sauna: a caminho da cozinha, o personagem de Mueller-Stahl faz uma pausa para corrigir o ensaio musical das duas crianças, e Naomi Watts fica ali especada no enquadramento, à vontade uns trinta segundos, alheada da cena, sem sequer representar.
Naomi Watts a fazer de figurante enquanto um mafioso careca de avental toca violino: isto sim, é cinema. Ou, pelo menos, é a maneira como as coisas se me afiguram nesta quadra festiva.
Ali v Frazier
«(. . .) the feud is escalating into philosophy's equivalent of a prize fight between two former colleagues who are both among the showiest brawlers in the philosophy dojo. In one corner is McGinn, 57, West Hartlepool-born professor of philosophy at the University of Miami, and the self-styled hard man of philosophy book reviewing. In the other corner is Honderich, 74, Ontario-born Grote Professor Emeritus of the philosophy of mind and logic at University College London, and a man once described by fellow philosopher Roger Scruton as the "thinking man's unthinking man". They are using all the modern weapons at their disposal - blogs, emails, demands for compensation from the academic journal that published the original review, an online counter-review, and an online counter-counter-review.
The heart of their dispute, though, may not be over intellectual matters at all, but about something one of them said more than a quarter of a century ago about the other's ex-girlfriend (of which more later).»
O resto aqui.
The heart of their dispute, though, may not be over intellectual matters at all, but about something one of them said more than a quarter of a century ago about the other's ex-girlfriend (of which more later).»
O resto aqui.
E o vosso Natal, como foi?
Eu levei a minha mãe ao Saldanha Residence, para ver o último filme do Cronenberg.
Wednesday, December 26, 2007
Cinco filmes
Uma nova cadeia, a segunda em menos de um mês, cortesia do Hugo Mendes. Aqui vão os meus cinco filmes:
- Dancer in the Dark, de Lars von Trier;
- Jules e Jim, de François Truffault;
- Ladrões de Bicicletas, de Vittorio de Sica.
Estes três são garantidos. Nos dois restantes já tenho mais dúvidas, mas escolhi (sem ser em definitivo)
- O Padrinho, de Francis Ford Coppola;
- O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, com argumento de Dias Gomes.
Passo então a corrente a outros blógueres. Escolho dois cinéfilos ilustres, o Rui Curado Silva e o João André, e ainda o André Abrantes Amaral (que vai indicar os Woody Allens que eu omiti), o Don Vito, o Zé Mário Silva e o Luís M. Jorge. As minhas desculpas a quem já tiver respondido antes a este inquérito.
Try a Job Swap ou a "Dança das Cadeiras"
Mal refeito das ternuras do Natal ligo o rádio e fico a saber que o Armando Vara foi convidado para saltar de administrador da CGD para administrador do BCP. Como o Presidente da CGD, que fez o convite, também salta abrem-se na CGD dois apetitosos lugares.
O locutor informa de que um desses lugares parece já estar reservado para o ministro Manuel Pinho. O outro será certamente ocupado por alguém que o merece muito. Ambos facilitarão a remodelação ministerial do governo Sócrates.
Na minha infância havia um jogo chamado "rapa, tira, deixa e põe"...
Apetece citar o Miguel Sousa Tavares no Expresso desta semana:
"Repito o que de há muito venho dizendo: em termos de cidadania, há duas espécies de portugueses - os que vivem a pagar ao Estado e os que vivem a tirar ao Estado. E o resto é conversa de comendadores ou de ‘benfeitores’."
Tuesday, December 25, 2007
Monday, December 24, 2007
Um Natal buarqueano
Especial Chico Buarque, esta semana, todos os dias às 0:55 na RTP2. Hoje, para variar do It´s a Wonderful Life, o primeiro episódio: Meu Caro Amigo. Fica aqui a sugestão e, mais uma vez, os votos de Feliz Natal para todos.
Sunday, December 23, 2007
Seis euros e meio
«Miss Obrestad's route to the grand prize - dumped on the final table in bundles of $50 notes, as in the World Series tradition - required her to see off such modern-day poker luminaries as Chris "Jesus" Ferguson, a hirsute scholar of game theory, Dave "Devilfish" Ulliott, a somewhat less cerebral but wily British professional who wears diamond-encrusted knuckle-dusters, and Phil "Poker Brat" Hellmuth, arguably the most celebrated (not least by himself) modern player.»
("Poker: A big deal")
«The captive panda breeding programme has undergone a remarkable transformation. Long-held beliefs about the animal's reproductive capacities have been shattered. No longer are desperate keepers feeding Viagra to underperforming males (that didn't work anyway). Researchers have given up ideas of cloning them. Good old-fashioned sex is now doing the trick. . .»
("The sex life of the panda: Black and white and red all over")
«There are prayer books in everyday vernacular or even street slang ("And even though I walk through/the Hood of death/ I don't back down/ 'coz you have my back"). Or consider innovation. In 2003 Thomas Nelson dreamt up the idea of Bible-zines - crosses between Bibles and teenage magazines. The pioneer was Revolve, which intercuts the New Testament with beauty tips and relationship advice ("are you dating a Godly guy?"). (. . .) There are toddler-friendly versions of the most famous Bible stories. The Boy's Bible promises "gross and gory Bible stuff". God's Little Princess Devotional Bible is pink and sparkly.»
("The Bible v the Koran: the battle of the books")
("Poker: A big deal")
«The captive panda breeding programme has undergone a remarkable transformation. Long-held beliefs about the animal's reproductive capacities have been shattered. No longer are desperate keepers feeding Viagra to underperforming males (that didn't work anyway). Researchers have given up ideas of cloning them. Good old-fashioned sex is now doing the trick. . .»
("The sex life of the panda: Black and white and red all over")
«There are prayer books in everyday vernacular or even street slang ("And even though I walk through/the Hood of death/ I don't back down/ 'coz you have my back"). Or consider innovation. In 2003 Thomas Nelson dreamt up the idea of Bible-zines - crosses between Bibles and teenage magazines. The pioneer was Revolve, which intercuts the New Testament with beauty tips and relationship advice ("are you dating a Godly guy?"). (. . .) There are toddler-friendly versions of the most famous Bible stories. The Boy's Bible promises "gross and gory Bible stuff". God's Little Princess Devotional Bible is pink and sparkly.»
("The Bible v the Koran: the battle of the books")
Friday, December 21, 2007
Boas festas
Com o vídeo do Cocas leitor do André Azevedo Alves, na mensagem anterior, saúdo a chegada do inverno e do frio. Desejo aos meus leitores uma feliz quadra festiva, esperando que seja cheia de chocolate quente, natas e outras coisas boas.
Natal na GaffeLândia
BOAS FESTAS !!
Os quatro ministros que mais se destacaram durante o ano, portanto umas ricas prendas, foram contratados para abrilhantar o DOTeCOMe antes que sejam enviados por Sócrates para a GaffeLândia. Clique nas fotografias. Pode demorar um pouco, pode até não funcionar à primeira, mas acredite que vale a pena esperar.
Thursday, December 20, 2007
Vem aí o inverno
Regressam os dias frios, e nada melhor do que um chocolate quente com natas... Para quem está (como eu) com saudades do Conan, que só regressa a 2 de Janeiro, com uma nova equipa de argumentistas. A greve na Broadway, entretanto, continua.
(Late Night with Conan O'Brien, Fevereiro de 2007)
(Late Night with Conan O'Brien, Fevereiro de 2007)
A semelhança e a diferença
"Iguais são os espectadores do jogo de polo aquático ou os jogadores de cada uma das equipas, entre si, embora a identidade de uma equipa só tenha sentido pela diferença relativamente ao adversário. O jogadores das duas equipas são todos idênticos se contrapostos ao árbitro ou aos espectadores. Pertencemos simultaneamente aos vários conjuntos com que nos identificamos em cada momento. Essa lista define socialmente quem somos. Pertencemos, por exemplo, ao conjunto dos espectadores de "Palombella Rossa", lado a lado com comunistas em crise e com yupies confiantes. Quando saímos a porta do cinema podemos integrar-nos num ou noutro desses conjuntos; isto todos os dias, a todas as horas, até fazermos todos parte do grande conjunto dos mortos."
Escrevi estas notas há mais de 15 anos quando vi o filme do Nanni Moretti pela primeira vez. Feito em 1989, "Palombella Rossa" caíu em cheio sobre a crise desencadeada pela queda do muro de Berlim. Era muito fácil nessa época resumi-lo à pergunta "que significa hoje ser comunista ?", pronunciada pelo protagonista Michele, um comunista jogador de polo aquático que um acidente rodoviário deixara amnésico. Havia a tentação de tomar "Palombella" como uma dissertação sobre a decadência do PCI.
O filme reapareceu agora em DVD e somos inevitavelmente tentados a verificar a impressão que nos causa hoje. A primeira constatação é que a pergunta de Michele continua sem resposta. "Palombella" não a dá e penso mesmo que não tinha essa intenção. A sua pergunta, não formulada, é muito mais vasta; o que fica de nós quando desaparecem os laços que nos ligam aos clubes, igrejas e partidos ? é possível intervir socialmente sem ceder ao clubismo e ao fanatismo ?
A sociedade, como sabemos, não é nada tolerante com tais situações.
O facto de o amnésico Michele ser comunista está longe de ser irrelevante mas um filme muito parecido podia também ser feito com um militante da Democrazia Cristiana na mesma situação de perda da memória. O que verdadeiramente está em causa é, por uma razão qualquer, perdermos a memória dos códigos e rituais que caracterizam a nossa pertença aos grupos com que nos identificamos e que nos definem. Na história de Michele, que podia perfeitamente ser vivida por qualquer um de nós, ele tenta recuperar a sua identidade através da redescoberta dos códigos de cada um dos grupos a que pertence mas acaba por descobrir que esses códigos, por serem apenas formalismos, não lhe dão a chave de que precisa.
O próprio filme, construído sobre uma codificação que Nanni Moretti não revela, obriga o espectador que o queira "compreender" a viver uma perplexidade similar à de um amnésico.
As frases "tu és como nós" e "sabes em que somos diferentes ?" atravessam todo o filme, ditas por diferentes personagens, impondo o tema da semelhança, da diferença e da necessidade que elas têm uma da outra. Essa dialéctica pode ser ilustrada com a militância comunista que causa tanta perplexidade a Michele: os comunistas constatam as injustiças (diferenças) sociais e propõem a igualdade (semelhança) dos homens. Para isso organizam um partido "diferente" dos outros que no entanto precisa de convencer os trabalhadores a desenvolver uma atitude "semelhante" contra a opressão económica.Michele repete que "os comunistas são como os outros" acrescentando, após uma pequena pausa, "mas também são diferentes".
Para Michele torna-se insuportavel lidar com o uso desleixado das palavras no preciso momento em que se confronta com a tarefa de reconstruir as suas referências de leitura do mundo. Ele grita "as palavras são importantes" e mais tarde, talvez já sem esperança, "um conceito logo que é escrito torna-se uma mentira" e "tem que se inventar uma linguagem nova".
No que toca ao equilíbrio entre "semelhança" e "diferença" as palavras são um caso paradigmático; não podem ser usadas nem de forma demasiado convencional (semelhante) nem de forma demasiado criativa (diferente) sob pena de não haver comunicação. Para Michele, que perdeu as suas memórias/referências, todas as palavras serão portanto o ponto de partida para uma linguagem nova e uma forma nova de entender a realidade.
A aventura dessa linguagem nova tem, para Michele como para nós, o preço da incomunicabilidade.
Escrevi estas notas há mais de 15 anos quando vi o filme do Nanni Moretti pela primeira vez. Feito em 1989, "Palombella Rossa" caíu em cheio sobre a crise desencadeada pela queda do muro de Berlim. Era muito fácil nessa época resumi-lo à pergunta "que significa hoje ser comunista ?", pronunciada pelo protagonista Michele, um comunista jogador de polo aquático que um acidente rodoviário deixara amnésico. Havia a tentação de tomar "Palombella" como uma dissertação sobre a decadência do PCI.
O filme reapareceu agora em DVD e somos inevitavelmente tentados a verificar a impressão que nos causa hoje. A primeira constatação é que a pergunta de Michele continua sem resposta. "Palombella" não a dá e penso mesmo que não tinha essa intenção. A sua pergunta, não formulada, é muito mais vasta; o que fica de nós quando desaparecem os laços que nos ligam aos clubes, igrejas e partidos ? é possível intervir socialmente sem ceder ao clubismo e ao fanatismo ?
A sociedade, como sabemos, não é nada tolerante com tais situações.
O facto de o amnésico Michele ser comunista está longe de ser irrelevante mas um filme muito parecido podia também ser feito com um militante da Democrazia Cristiana na mesma situação de perda da memória. O que verdadeiramente está em causa é, por uma razão qualquer, perdermos a memória dos códigos e rituais que caracterizam a nossa pertença aos grupos com que nos identificamos e que nos definem. Na história de Michele, que podia perfeitamente ser vivida por qualquer um de nós, ele tenta recuperar a sua identidade através da redescoberta dos códigos de cada um dos grupos a que pertence mas acaba por descobrir que esses códigos, por serem apenas formalismos, não lhe dão a chave de que precisa.
O próprio filme, construído sobre uma codificação que Nanni Moretti não revela, obriga o espectador que o queira "compreender" a viver uma perplexidade similar à de um amnésico.
As frases "tu és como nós" e "sabes em que somos diferentes ?" atravessam todo o filme, ditas por diferentes personagens, impondo o tema da semelhança, da diferença e da necessidade que elas têm uma da outra. Essa dialéctica pode ser ilustrada com a militância comunista que causa tanta perplexidade a Michele: os comunistas constatam as injustiças (diferenças) sociais e propõem a igualdade (semelhança) dos homens. Para isso organizam um partido "diferente" dos outros que no entanto precisa de convencer os trabalhadores a desenvolver uma atitude "semelhante" contra a opressão económica.Michele repete que "os comunistas são como os outros" acrescentando, após uma pequena pausa, "mas também são diferentes".
Para Michele torna-se insuportavel lidar com o uso desleixado das palavras no preciso momento em que se confronta com a tarefa de reconstruir as suas referências de leitura do mundo. Ele grita "as palavras são importantes" e mais tarde, talvez já sem esperança, "um conceito logo que é escrito torna-se uma mentira" e "tem que se inventar uma linguagem nova".
No que toca ao equilíbrio entre "semelhança" e "diferença" as palavras são um caso paradigmático; não podem ser usadas nem de forma demasiado convencional (semelhante) nem de forma demasiado criativa (diferente) sob pena de não haver comunicação. Para Michele, que perdeu as suas memórias/referências, todas as palavras serão portanto o ponto de partida para uma linguagem nova e uma forma nova de entender a realidade.
A aventura dessa linguagem nova tem, para Michele como para nós, o preço da incomunicabilidade.
Wednesday, December 19, 2007
Fui à Byblos
Uma livraria que, fazendo jus à sua designação, está repleta de livros. É sempre o primeiro erro que estes sítios cometem.
E encontrá-la? Não foi nada fácil de encontrar, a Byblos. Não sei por que carga de água, tinha metido na cabeça que a Byblos ficava no edifício do Amoreiras. Não fica. Tive de pedir indicações a dois transeuntes (que me confessaram, algo embaraçadamente, que também não sabiam onde ficava a Byblos) até que um segurança me salvou a tarde: «Aquela nova loja grande, que vende livros do Miguel Sousa Tavares? Isso não é aqui, é naquele edifício espelhado lá ao fundo».
Não foi nada fácil de achar, aquele edifício espelhado lá ao fundo. Tive de pedir indicações a dois transeuntes (que me confessaram, algo embaraçadamente, que também não sabiam onde ficava aquele edifício espelhado lá ao fundo), até que vi um terceiro transeunte com um livro de Miguel Sousa Tavares debaixo do braço: «É por aqui é, amigo! Pode entrar por aquela portinha giratória naquele edifício espelhado já ali ao fundo, está a ver? Não se preocupe que ainda lá têm muitos livros do Miguel Sousa Tavares».
O que vi lá dentro excedeu todas a minhas expectativas, no sentido em que não fez nada disso, e não me refiro apenas ao número disponível de livros de Miguel Sousa Tavares. A configuração do espaço, para começar, é original, na medida em que não me remeteu para nenhum dos modelos que conheço para superfícies deste género (tem muito pouco a ver com as Fnacs ou com as Waterstones). Há toques verdadeiramente inspirados, como a alcatifa estilo-Weimar, a iluminação sociopata, uns candeeiros nas zonas de leitura claramente modelados nos secadores de um salão de cabeleireira, e as ubíquas pilhas de livros de Miguel Sousa Tavares. Toda a atmosfera, aliás (com excepção dos livros de Miguel Sousa Tavares), evoca um pouco aquelas festas muito populares nos anos 70, em que se metiam as chaves do carro numa terrina de vidro. Não faço ideia quem terá sido o responsável pela decoração, mas aposto que tem bigode, que usa um roupão bordado com as suas iniciais, e que gosta de Barry White.
A arrumação nas secções revelou alguns sinais de espirituoso anarquismo, mas tudo pode não ser mais do que, como disse o Zé Mário, a "vertigem da urgência". Ainda assim, foi transtornante encontrar o Fora do Mundo, do Pedro Mexia, na estante da Sociologia, entre um livro de entrevistas a Carlos Pinto Coelho e um romance histórico de Miguel Sousa Tavares.
A secção de Ficção em português é imensa, e está competentemente dividida em cinco sub-secções: Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Africana, Autores Traduzidos, e Miguel Sousa Tavares. A dos livros estrangeiros foi uma semi-desilusão: pareceu-me ficar aquém da Fnac do Chiado. Ainda assim, vale a pena espreitar a estante dos Penguins, onde os 20th Century Classics, os Modern Classics e aqueloutros Classics baratinhos, com capas cor-de-sabonete-Dove, têm todos direito a duas prateleiras cada. Entre os primeiros - lombadas cinzentas - podem encontrar o Call it Sleep, escrito por um Roth que não era Philip nem Joseph nem Miguel Sousa Tavares, mas que era tão bom quanto eles. Custa 16 euros e 20. E mesmo ao lado, no estaminé das novidades, um belíssimo paperback do Against the Day! Tomei a liberdade de lá enfiar um papelinho com o meu nome e número de telefone, na eventualidade de o comprador querer esclarecer alguma dúvida, ou simplesmente ser meu amigo. Realço também o ecletismo, que não se limita à habitual tríade Inglês-Francês-Castelhano; podem encontrar, para dar um exemplo, traduções do último romance de Miguel Sousa Tavares em italiano, romeno, bengali, mandarim, esperanto, braille e hobbit. Para breve, seguramente, uma edição interactiva em linguagem gestual.
Não foi nada fácil de achar, aquele edifício espelhado lá ao fundo. Tive de pedir indicações a dois transeuntes (que me confessaram, algo embaraçadamente, que também não sabiam onde ficava aquele edifício espelhado lá ao fundo), até que vi um terceiro transeunte com um livro de Miguel Sousa Tavares debaixo do braço: «É por aqui é, amigo! Pode entrar por aquela portinha giratória naquele edifício espelhado já ali ao fundo, está a ver? Não se preocupe que ainda lá têm muitos livros do Miguel Sousa Tavares».
O que vi lá dentro excedeu todas a minhas expectativas, no sentido em que não fez nada disso, e não me refiro apenas ao número disponível de livros de Miguel Sousa Tavares. A configuração do espaço, para começar, é original, na medida em que não me remeteu para nenhum dos modelos que conheço para superfícies deste género (tem muito pouco a ver com as Fnacs ou com as Waterstones). Há toques verdadeiramente inspirados, como a alcatifa estilo-Weimar, a iluminação sociopata, uns candeeiros nas zonas de leitura claramente modelados nos secadores de um salão de cabeleireira, e as ubíquas pilhas de livros de Miguel Sousa Tavares. Toda a atmosfera, aliás (com excepção dos livros de Miguel Sousa Tavares), evoca um pouco aquelas festas muito populares nos anos 70, em que se metiam as chaves do carro numa terrina de vidro. Não faço ideia quem terá sido o responsável pela decoração, mas aposto que tem bigode, que usa um roupão bordado com as suas iniciais, e que gosta de Barry White.
A arrumação nas secções revelou alguns sinais de espirituoso anarquismo, mas tudo pode não ser mais do que, como disse o Zé Mário, a "vertigem da urgência". Ainda assim, foi transtornante encontrar o Fora do Mundo, do Pedro Mexia, na estante da Sociologia, entre um livro de entrevistas a Carlos Pinto Coelho e um romance histórico de Miguel Sousa Tavares.
A secção de Ficção em português é imensa, e está competentemente dividida em cinco sub-secções: Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Africana, Autores Traduzidos, e Miguel Sousa Tavares. A dos livros estrangeiros foi uma semi-desilusão: pareceu-me ficar aquém da Fnac do Chiado. Ainda assim, vale a pena espreitar a estante dos Penguins, onde os 20th Century Classics, os Modern Classics e aqueloutros Classics baratinhos, com capas cor-de-sabonete-Dove, têm todos direito a duas prateleiras cada. Entre os primeiros - lombadas cinzentas - podem encontrar o Call it Sleep, escrito por um Roth que não era Philip nem Joseph nem Miguel Sousa Tavares, mas que era tão bom quanto eles. Custa 16 euros e 20. E mesmo ao lado, no estaminé das novidades, um belíssimo paperback do Against the Day! Tomei a liberdade de lá enfiar um papelinho com o meu nome e número de telefone, na eventualidade de o comprador querer esclarecer alguma dúvida, ou simplesmente ser meu amigo. Realço também o ecletismo, que não se limita à habitual tríade Inglês-Francês-Castelhano; podem encontrar, para dar um exemplo, traduções do último romance de Miguel Sousa Tavares em italiano, romeno, bengali, mandarim, esperanto, braille e hobbit. Para breve, seguramente, uma edição interactiva em linguagem gestual.
Uma nota final sobre a secção de Ciência-Para-Os-Muito-Muito-Leigos, que também me pareceu algo fraquinha: cinco míseras prateleiras, estrategicamente colocadas de forma a que quem venha de lá com o The Ancestor's Tale do Dawkins (13 euros e 20), tenha de passar por quarenta edições ilustradas do Antigo Testamento (com comentário e notas de Miguel Sousa Tavares) antes de chegar à caixa. Gostei muito das escadas rolantes. O aspecto mais negativo de todos é a chuva. Não é que chova lá dentro, mas ainda assim, acho que deviam fazer alguma coisa sobre o assunto.
"Lenine e a Revolução” de Jean Salem – Uma análise crítica – Parte II
.
Começaria esta segunda parte da crítica ao livro de Jean Salem, Lenine e a Revolução, por repor a verdade em relação às transcrições que na primeira atribuí a Francisco Melo, que apresentou o livro na sessão do seu lançamento, e que segundo o mesmo são de Rodney Arismendi, que foi Secretário Geral do Partido Comunista do Uruguai entre 1955-1987, e que morreu em Dezembro de 1989. Esta confusão deve-se a que o Avante!, na notícia relativa ao lançamento do livro, atribui aquelas afirmações a Francisco de Melo, enquanto que este as remete para o político referido, de acordo com o texto integral da sua apresentação publicado posteriormente pelo mesmo jornal .
Mas mais reveladoras do que citações referidas , são as afirmações do próprio Francisco Melo que, a propósito da intervenção de Álvaro Cunhal no XIII Congresso Extraordinário do PCP, realizado em Maio de 1990, sobre os cinco principais traços negativos presentes na construção do socialismo real, considera “que não evitámos ser levado nas nossas análises a pôr uma tónica excessiva nas deformações e na derrota do socialismo real e nas suas causas internas...; não evitámos a permanência de grandes lacunas na contextualização histórica, interna e externa, da construção do socialismo e na reposição da verdade histórica dessa construção; não evitámos as fraquezas da nossa intervenção ideológica na luta contra as falsificações e caricaturas em catadupa bolsadas pelos nossos inimigos de classe. Trata-se de debilidades e omissões que não devem ser minimizadas e muito menos deixadas em silêncio...”.
Pretende, pois, o autor desta citação, apesar do ar sério e respeitador com que trata Cunhal, pôr em causa as limitadíssimas criticas que em tempos aquele fez ao socialismo real, recuperando no seu conjunto todo o passado da URSS e porque não, por enquanto ainda de forma envergonhada, a acção de Estaline.
I – Seis teses sobre Lenine e a Revolução
Mas passemos ao livro. Na primeira parte desta crítica realcei de forma positiva as críticas que Jean Salem, o autor de Lenine e a Revolução, fazia a algumas das ideias feitas que a ideologia dominante expendia sobe a União Soviética e que vinham expressas no seu Prefácio ao livro. Deixei para análise posterior a parte referente ao tema que está na origem do próprio título da obra referida.
O autor resume em seis teses aquilo que Lenine pensa sobre a Revolução. O texto é simples e esquemático. Não resulta de qualquer investigação mais apurada sobre a época histórica em que o autor estudado viveu, nem da análise dos grandes confrontos político-ideológicos que aquele revolucionário travou com alguns dos seus contemporâneos. Estamos perante um livro de divulgação, que baseou o seu objecto de estudo nas Obras Completas de Lenine. Com citações que, mesmo na edição portuguesa, são acompanhadas, para que não restem dúvidas aos “ignorantes”, da sua versão original, em russo.
1 – Primeira tese
Logo a primeira tese dá um pouco o tom de todas elas. Assim, assume explicitamente: “A revolução é uma guerra; e a política é, de uma maneira geral, comparável à arte militar”. Por isso, afirma que Lenine para falar do partido operário recorre frequentemente a metáforas militares. Porque, citando o revolucionário russo, “os partidos socialistas não são clubes de discussão, mas organizações do proletariado em luta.” Quantas vezes no PCP esta frase não foi dirigida contra aqueles que, discordando, queriam continuar a discutir as orientações traçadas.
O autor realça, ainda em relação à primeira tese, que Lenine considerava que depois da revolução falhada de 1905, ainda durante o regime czarista, se tinha iniciado uma época de revoluções na Europa, e que se devia transformar a guerra imperialista que então se tinha iniciado (1914) em guerra civil, dos “oprimidos contra os opressores”. Mesmo a paz de Brest-Litovsk, que permitiu o jovem poder soviético retirar-se da Primeira Guerra Mundial, com grandes custo territoriais, e depois a NEP (Nova Política Económica), iniciada em 1921, são apresentadas em termos de trégua e recuo militar indispensáveis para reunir forças para novas batalhas.
2 - Segunda tese
A segunda tese consiste no seguinte: “uma revolução política é também e sobretudo uma revolução social, uma mudança na situação das classes em que a sociedade se divide.” Nesta tese define-se aquilo que Lenine considera a revolução: “é a destruição violenta da superestrutura política antiquada”, de uma superestrutura que não corresponde já às novas relações de produção. E conclui Jean Salem, parafraseando Lenine: “qualquer revolução política, qualquer revolução verdadeira – que não se limita à substituição de camarilhas –, é uma revolução social, uma “deslocação” de classes em que a sociedade se divide”. Mas os factores subjectivos têm também o seu papel no desencadeamento das revoluções. Aos olhos dos marxistas, segundo Lenine, a sua propaganda conta-se “entre os factores que determinarão se haverá revolução ou não”.
3 – Terceira tese
A terceira tese: “Uma revolução é feita de uma série de batalhas; cabe ao partido de vanguarda fornecer em cada etapa uma palavra de ordem adequada à situação objectiva; cabe-lhe a ele reconhecer o momento oportuno para a insurreição”. Esta tese refere-se à oportunidade de se lançar a revolução. Assim, Jean Salem começa por citar Lenine, num texto já muito conhecido, “só quando “os de baixo” não querem o que é velho e “os de cima” não podem continuar como dantes, só então a revolução pode vencer” e conclui com a citação “é preciso escolher o momento oportuno para as lançar”, mas “a hora da revolução não pode ser objecto de previsão”.
4 – Quarta tese
A quarta tese, a mais polémica e aquela que favorece o modo como a ideologia dominante gosta de ver Lenine, é a seguinte: “os grandes problemas da vida dos povos nunca são resolvidos senão pela força.” Nesta tese temos a explanação da teoria de Lenine sobre o Estado, em que aquele afirma que “o Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação da “ordem” que legaliza e consolida esta opressão moderando o conflito de classes” e, mais adiante, “é a organização especial da força; é a organização da violência para a repressão de uma classe qualquer” e, conclui, “a república burguesa mais democrática não é “mais do que uma máquina de repressão da... massa dos trabalhadores por um punhado de capitalistas”. Depois, ainda segundo Jean Salem, continuando a citar Lenine, “só é marxista aquele que alarga o reconhecimento da luta de classes até ao reconhecimento da ditadura do proletariado”. E deixando-se embalar neste tom chega afirmar, reportando-se ainda a Lenine, “porque o proletariado necessita do poder do Estado, de uma organização centralizada da força, de uma organização da violência, tanto para reprimir a resistência dos exploradores como para dirigir a imensa massa da população...”.
A seguir, ainda dentro da mesma tese, desenvolve a ideia, que Lenine retomou de Marx, que “a classe operária deve quebrar, demolir a “máquina do Estado que encontra montada”, e não limitar-se á sua conquista”. Por isso, Jean Salem pode afirmar que para Lenine “a substituição do Estado burguês pelo proletário é impossível sem revolução violenta”. No entanto, de acordo ainda com o autor, o revolucionário russo “recordará “a justeza da luta” tradicionalmente conduzida pelo seu partido “contra o terror como táctica”, isto a propósito de muitas vezes se considerar que as propostas de Lenine se assemelham ao “blanquismo”.
5 – Quinta tese
A quinta tese – “os revolucionários não devem renunciar à luta pelas reformas” – só está incluída no livro que temos vindo a referir, porque esta tese no texto, que foi apresentado no II Encontro Internacional de Serpa, já referido na primeira parte deste artigo, foi, estranhamente, suprimida. Ela resume-se na expressão de Lenine, quando ainda o seu partido não se designava comunista: “os sociais-democratas não são hostis à luta pelas reformas, mas ao contrário dos sociais-patriotas (designação utilizada por Lenine para os partidos sociais-democratas que na I Guerra Mundial tinham apoiado os seus governos – JNF), dos oportunistas e dos reformistas, subordinam-na à luta pela revolução”. No entanto, Jean Salem convoca igualmente para esta tese esta citação de Marx, referida por Lenine: “existem, numa revolução, momentos em que abandonar uma posição ao inimigo sem combate desmoraliza mais as massas do que uma derrota sofrida em combate” ou ainda, de acordo com o revolucionário russo: “não só a derrota instrui, mas também “as revoluções vencem... mesmo quando sofrem uma derrota”.
6 – Sexta tese
Na sexta tese fala-se de que “na era das massas, a política começa onde se encontram milhões de homens, ou mesmo dezenas de milhões. É necessário, além disso, promover a deslocação tendencial dos focos da revolução para os países dominados.”
Fazendo jus ao título da tese, Jean Salem cita novamente Lenine, quando este diz que “uma revolução só se torna revolução quando dezenas de milhões de pessoas se erguem num impulso unânime”. O que distingue a revolução da luta habitual é que “aqueles que participam no movimento são dez vezes, cem vezes mais numerosos”. E acrescenta, pode por vezes bastar um partido “muito pequeno” para “conduzir as massas”. Em determinados momentos não há necessidade de grandes organizações, “mas para ter a vitória é necessário ter a simpatia das massas”.
Por último, aquele que é quanto a mim um dos problemas centrais da Revolução de Outubro, e Jean Salem volta novamente a citar Lenine: “a revolução russa pode vencer pelas suas próprias forças, mas em nenhum caso ela é capaz de manter e consolidar com as suas próprias mãos as suas conquistas. Não poderá consegui-lo se não houver revolução socialista no Ocidente”. E termina esta tese com uma certa tonalidade amarga, que, como sabemos, corresponde ao que de facto sucedeu, com a afirmação de Lenine de que “veremos a revolução internacional mundial, mas por enquanto isto é muito belo, um conto muito bonito”.
II – Uma reflexão crítica
Sei que a maiorias dos leitores detesta aqueles críticos que lhe revelam a história do livro ou o final do filme. Sei que em relação a um livro de ensaio a descrição do seu conteúdo é menos grave, mas não deixo de reconhecer que vos macei com o realce daquilo que em cada tese eu penso ser o mais importante. Considerei, no entanto, para se perceber o que a seguir vou dizer, que este relato maçador era imprescindível.
Este livro insere-se numa ofensiva do velho marxismo-leninismo, contra as correntes renovadoras da ideologia comunista e tendo ainda como alvo o que poderá restar do eurocomunismo ou da perestroika. Se no prefácio se faz uma crítica justa ao modo como o pensamento dominante analisa a União Soviética ou o que foi o “socialismo real”, vai subliminarmente insinuando que o “revisionismo” contemporâneo é cúmplice desta ofensiva. A referência que fizemos às palavras ditas no seu lançamento visa enquadrar o tipo de preocupações de quem neste momento edita este livro.
Por outro lado, a crítica entusiástica que Miguel Urbano Rodrigues lhe dedica, e que já foi referida na I Parte, atesta bem como o livro de Jean Salem é importante para um certo revolucionarismo marxista-leninista.
Mas deixemo-nos da análise das intenções e passemos aos factos. Rememorar tudo o que Lenine disse na sua época histórica, sobrevalorizando o papel quase militar que Lenine atribuía ao Partido, à violência como parteira da história ou à transformação da guerra imperialista em guerra civil, é esquecermo-nos que já passaram quase cem anos sobre estas formulações, que elas tinham uma clara concordância com um tempo histórico que é manifestamente diferente do de hoje. Mas, o que é mais interessante de tudo isto é que paulatinamente estas posições foram sendo abandonadas pelo movimento comunista, não hoje, mas no tempo que estes autores consideram provavelmente como heróico. É certo, continuando sempre a afirmar a sua fidelidade aos princípios do marxismo-leninismo.
Quem estudou minimamente a evolução da Internacional Comunista compreende que se a estratégia revolucionária era no essencial, por vezes com grande sectarismo, aquela que Lenine formulara, e que Jean Salem tenta corporizar em seis teses, com a teorização das Frentes Populares por Dimitrov, no seu VII Congresso, em 1935, esta linguagem e estas opções começam-se a tornar irreconhecíveis. A aliança entre comunistas e sociais-democratas, a luta pela democracia, contra o fascismo, não se podem unicamente enquadrar na luta pelas reformas, como está explícito na quinta tese, mas traz contribuições muito importantes para o desenvolvimento do movimento comunista. Entre nós, Francisco Martins Rodrigues, um dissidente nos anos 60 do PCP, no seu livro Anti Dimitrov – 1935-1985: meio século de derrotas da revolução reporta àquela época o início de todo o “revisionismo” contemporâneo.
Mas é ainda durante a II Guerra Mundial, quando da grande coligação entre as burguesias patrióticas e anti-nazis e as diversas formações do movimento operário (socialistas e comunistas), de certo modo responsável por aquilo que inicialmente seria o conceito de democracia popular, que se verifica mais uma inflexão acentuada da teoria sobre a Revolução defendida por Lenine.
É interessante relembrar a pressão exercida por Estaline sobre Tito para que este estabeleça um Governo de aliança com outras forças políticas, e não queira implantar de imediato a República Socialista. Ou então, as pressões sobre Mao para que este se aliasse no final da II Grande Guerra com o Komitang.
Mas mais recentemente (1956) podemos relembrar a defesa que Khruchtchev faz, no XX Congresso do PCUS, da via pacífica para o socialismo, que esteve na origem da grande divergência com os chineses.
Mas recorrendo a exemplos da política nacional, temos a supressão do termo ”ditadura do proletariado” do programa do PCP, opção mais prática, para “inglês ver”, do que teórica, mas que no fundo corresponde à necessidade do Partido Comunista se adaptar aos tempos actuais. E por muito que custe a alguns, o próprio conceito de Revolução Democrática e Nacional, as tarefas necessárias para derrubar o fascismo, apesar de defender o levantamento nacional armado, fugia às formulações leninistas de ditadura do proletariado e de revolução socialista. Facto que sempre foi criticado pelos “esquerdistas” de todos os matizes, que baseavam as suas divergências com o PCP na crítica àquela opção.
Não é por acaso que teve recentemente tanto êxito entre alguns militantes do Partido Comunista uma declaração do PC da Grécia, a propósito do 90º aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro, em que se dizia: “No Ocidente capitalista, os partidos comunistas não puderam elaborar uma estratégia de transformação da guerra imperialista ou da luta de libertação numa luta pela conquista do poder operário. Eles remeteram o objectivo do socialismo para mais tarde e definiram tarefas que se limitavam a luta na frente contra o fascismo. O ponto de vista que prevalecia na altura, sustentava que era possível a existência de uma forma intermédia de poder, entre o poder burguês e o poder da classe operária revolucionária, com a possibilidade de vir a evoluir para um poder operário.” Ou então, esta outra: “A política seguida por um bom número de partidos comunistas que consistia em colaborar com a social-democracia, fez parte da estratégia da «governação anti monopolista», uma espécie de estado intermédio entre o capitalismo e o socialismo, que se expressava igualmente através de governos que tentaram administrar o sistema capitalista.”
É evidente que esta crítica do PC da Grécia, que parece dirigida às posições dos partidos comunistas do ocidente, deve ser dirigida ao Partido Guia, o PCUS, responsável, em última instância, pela defesa daquelas orientações.
Neste sentido, este livro reflecte um mal-estar que existe no que resta do movimento comunista ortodoxo que, órfão das orientações e da coesão do “socialismo real”, se refugia numa imaginada pureza do marxismo-leninismo, dando a este uma orientação sectária e por vezes esquerdizante e abandonando, mesmo que sub-repticiamente, as anteriores posições unitárias.
Por outro lado, e para terminar, a visão que é dada de Lenine, principalmente na quarta tese, corresponde, como que reflectida num espelho, à visão que actualmente a ideologia dominante pretende dar daquele revolucionário, ou seja um Lenine de faca nos dentes, antecipando toda a série de horrores que caracterizou o tempo de Estaline. Ao depurar tanto o seu conceito de Revolução, chegam quase ao ponto de o transformar em chefe de grupo terrorista, coisa que de facto ele nunca foi.
Começaria esta segunda parte da crítica ao livro de Jean Salem, Lenine e a Revolução, por repor a verdade em relação às transcrições que na primeira atribuí a Francisco Melo, que apresentou o livro na sessão do seu lançamento, e que segundo o mesmo são de Rodney Arismendi, que foi Secretário Geral do Partido Comunista do Uruguai entre 1955-1987, e que morreu em Dezembro de 1989. Esta confusão deve-se a que o Avante!, na notícia relativa ao lançamento do livro, atribui aquelas afirmações a Francisco de Melo, enquanto que este as remete para o político referido, de acordo com o texto integral da sua apresentação publicado posteriormente pelo mesmo jornal .
Mas mais reveladoras do que citações referidas , são as afirmações do próprio Francisco Melo que, a propósito da intervenção de Álvaro Cunhal no XIII Congresso Extraordinário do PCP, realizado em Maio de 1990, sobre os cinco principais traços negativos presentes na construção do socialismo real, considera “que não evitámos ser levado nas nossas análises a pôr uma tónica excessiva nas deformações e na derrota do socialismo real e nas suas causas internas...; não evitámos a permanência de grandes lacunas na contextualização histórica, interna e externa, da construção do socialismo e na reposição da verdade histórica dessa construção; não evitámos as fraquezas da nossa intervenção ideológica na luta contra as falsificações e caricaturas em catadupa bolsadas pelos nossos inimigos de classe. Trata-se de debilidades e omissões que não devem ser minimizadas e muito menos deixadas em silêncio...”.
Pretende, pois, o autor desta citação, apesar do ar sério e respeitador com que trata Cunhal, pôr em causa as limitadíssimas criticas que em tempos aquele fez ao socialismo real, recuperando no seu conjunto todo o passado da URSS e porque não, por enquanto ainda de forma envergonhada, a acção de Estaline.
I – Seis teses sobre Lenine e a Revolução
Mas passemos ao livro. Na primeira parte desta crítica realcei de forma positiva as críticas que Jean Salem, o autor de Lenine e a Revolução, fazia a algumas das ideias feitas que a ideologia dominante expendia sobe a União Soviética e que vinham expressas no seu Prefácio ao livro. Deixei para análise posterior a parte referente ao tema que está na origem do próprio título da obra referida.
O autor resume em seis teses aquilo que Lenine pensa sobre a Revolução. O texto é simples e esquemático. Não resulta de qualquer investigação mais apurada sobre a época histórica em que o autor estudado viveu, nem da análise dos grandes confrontos político-ideológicos que aquele revolucionário travou com alguns dos seus contemporâneos. Estamos perante um livro de divulgação, que baseou o seu objecto de estudo nas Obras Completas de Lenine. Com citações que, mesmo na edição portuguesa, são acompanhadas, para que não restem dúvidas aos “ignorantes”, da sua versão original, em russo.
1 – Primeira tese
Logo a primeira tese dá um pouco o tom de todas elas. Assim, assume explicitamente: “A revolução é uma guerra; e a política é, de uma maneira geral, comparável à arte militar”. Por isso, afirma que Lenine para falar do partido operário recorre frequentemente a metáforas militares. Porque, citando o revolucionário russo, “os partidos socialistas não são clubes de discussão, mas organizações do proletariado em luta.” Quantas vezes no PCP esta frase não foi dirigida contra aqueles que, discordando, queriam continuar a discutir as orientações traçadas.
O autor realça, ainda em relação à primeira tese, que Lenine considerava que depois da revolução falhada de 1905, ainda durante o regime czarista, se tinha iniciado uma época de revoluções na Europa, e que se devia transformar a guerra imperialista que então se tinha iniciado (1914) em guerra civil, dos “oprimidos contra os opressores”. Mesmo a paz de Brest-Litovsk, que permitiu o jovem poder soviético retirar-se da Primeira Guerra Mundial, com grandes custo territoriais, e depois a NEP (Nova Política Económica), iniciada em 1921, são apresentadas em termos de trégua e recuo militar indispensáveis para reunir forças para novas batalhas.
2 - Segunda tese
A segunda tese consiste no seguinte: “uma revolução política é também e sobretudo uma revolução social, uma mudança na situação das classes em que a sociedade se divide.” Nesta tese define-se aquilo que Lenine considera a revolução: “é a destruição violenta da superestrutura política antiquada”, de uma superestrutura que não corresponde já às novas relações de produção. E conclui Jean Salem, parafraseando Lenine: “qualquer revolução política, qualquer revolução verdadeira – que não se limita à substituição de camarilhas –, é uma revolução social, uma “deslocação” de classes em que a sociedade se divide”. Mas os factores subjectivos têm também o seu papel no desencadeamento das revoluções. Aos olhos dos marxistas, segundo Lenine, a sua propaganda conta-se “entre os factores que determinarão se haverá revolução ou não”.
3 – Terceira tese
A terceira tese: “Uma revolução é feita de uma série de batalhas; cabe ao partido de vanguarda fornecer em cada etapa uma palavra de ordem adequada à situação objectiva; cabe-lhe a ele reconhecer o momento oportuno para a insurreição”. Esta tese refere-se à oportunidade de se lançar a revolução. Assim, Jean Salem começa por citar Lenine, num texto já muito conhecido, “só quando “os de baixo” não querem o que é velho e “os de cima” não podem continuar como dantes, só então a revolução pode vencer” e conclui com a citação “é preciso escolher o momento oportuno para as lançar”, mas “a hora da revolução não pode ser objecto de previsão”.
4 – Quarta tese
A quarta tese, a mais polémica e aquela que favorece o modo como a ideologia dominante gosta de ver Lenine, é a seguinte: “os grandes problemas da vida dos povos nunca são resolvidos senão pela força.” Nesta tese temos a explanação da teoria de Lenine sobre o Estado, em que aquele afirma que “o Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação da “ordem” que legaliza e consolida esta opressão moderando o conflito de classes” e, mais adiante, “é a organização especial da força; é a organização da violência para a repressão de uma classe qualquer” e, conclui, “a república burguesa mais democrática não é “mais do que uma máquina de repressão da... massa dos trabalhadores por um punhado de capitalistas”. Depois, ainda segundo Jean Salem, continuando a citar Lenine, “só é marxista aquele que alarga o reconhecimento da luta de classes até ao reconhecimento da ditadura do proletariado”. E deixando-se embalar neste tom chega afirmar, reportando-se ainda a Lenine, “porque o proletariado necessita do poder do Estado, de uma organização centralizada da força, de uma organização da violência, tanto para reprimir a resistência dos exploradores como para dirigir a imensa massa da população...”.
A seguir, ainda dentro da mesma tese, desenvolve a ideia, que Lenine retomou de Marx, que “a classe operária deve quebrar, demolir a “máquina do Estado que encontra montada”, e não limitar-se á sua conquista”. Por isso, Jean Salem pode afirmar que para Lenine “a substituição do Estado burguês pelo proletário é impossível sem revolução violenta”. No entanto, de acordo ainda com o autor, o revolucionário russo “recordará “a justeza da luta” tradicionalmente conduzida pelo seu partido “contra o terror como táctica”, isto a propósito de muitas vezes se considerar que as propostas de Lenine se assemelham ao “blanquismo”.
5 – Quinta tese
A quinta tese – “os revolucionários não devem renunciar à luta pelas reformas” – só está incluída no livro que temos vindo a referir, porque esta tese no texto, que foi apresentado no II Encontro Internacional de Serpa, já referido na primeira parte deste artigo, foi, estranhamente, suprimida. Ela resume-se na expressão de Lenine, quando ainda o seu partido não se designava comunista: “os sociais-democratas não são hostis à luta pelas reformas, mas ao contrário dos sociais-patriotas (designação utilizada por Lenine para os partidos sociais-democratas que na I Guerra Mundial tinham apoiado os seus governos – JNF), dos oportunistas e dos reformistas, subordinam-na à luta pela revolução”. No entanto, Jean Salem convoca igualmente para esta tese esta citação de Marx, referida por Lenine: “existem, numa revolução, momentos em que abandonar uma posição ao inimigo sem combate desmoraliza mais as massas do que uma derrota sofrida em combate” ou ainda, de acordo com o revolucionário russo: “não só a derrota instrui, mas também “as revoluções vencem... mesmo quando sofrem uma derrota”.
6 – Sexta tese
Na sexta tese fala-se de que “na era das massas, a política começa onde se encontram milhões de homens, ou mesmo dezenas de milhões. É necessário, além disso, promover a deslocação tendencial dos focos da revolução para os países dominados.”
Fazendo jus ao título da tese, Jean Salem cita novamente Lenine, quando este diz que “uma revolução só se torna revolução quando dezenas de milhões de pessoas se erguem num impulso unânime”. O que distingue a revolução da luta habitual é que “aqueles que participam no movimento são dez vezes, cem vezes mais numerosos”. E acrescenta, pode por vezes bastar um partido “muito pequeno” para “conduzir as massas”. Em determinados momentos não há necessidade de grandes organizações, “mas para ter a vitória é necessário ter a simpatia das massas”.
Por último, aquele que é quanto a mim um dos problemas centrais da Revolução de Outubro, e Jean Salem volta novamente a citar Lenine: “a revolução russa pode vencer pelas suas próprias forças, mas em nenhum caso ela é capaz de manter e consolidar com as suas próprias mãos as suas conquistas. Não poderá consegui-lo se não houver revolução socialista no Ocidente”. E termina esta tese com uma certa tonalidade amarga, que, como sabemos, corresponde ao que de facto sucedeu, com a afirmação de Lenine de que “veremos a revolução internacional mundial, mas por enquanto isto é muito belo, um conto muito bonito”.
II – Uma reflexão crítica
Sei que a maiorias dos leitores detesta aqueles críticos que lhe revelam a história do livro ou o final do filme. Sei que em relação a um livro de ensaio a descrição do seu conteúdo é menos grave, mas não deixo de reconhecer que vos macei com o realce daquilo que em cada tese eu penso ser o mais importante. Considerei, no entanto, para se perceber o que a seguir vou dizer, que este relato maçador era imprescindível.
Este livro insere-se numa ofensiva do velho marxismo-leninismo, contra as correntes renovadoras da ideologia comunista e tendo ainda como alvo o que poderá restar do eurocomunismo ou da perestroika. Se no prefácio se faz uma crítica justa ao modo como o pensamento dominante analisa a União Soviética ou o que foi o “socialismo real”, vai subliminarmente insinuando que o “revisionismo” contemporâneo é cúmplice desta ofensiva. A referência que fizemos às palavras ditas no seu lançamento visa enquadrar o tipo de preocupações de quem neste momento edita este livro.
Por outro lado, a crítica entusiástica que Miguel Urbano Rodrigues lhe dedica, e que já foi referida na I Parte, atesta bem como o livro de Jean Salem é importante para um certo revolucionarismo marxista-leninista.
Mas deixemo-nos da análise das intenções e passemos aos factos. Rememorar tudo o que Lenine disse na sua época histórica, sobrevalorizando o papel quase militar que Lenine atribuía ao Partido, à violência como parteira da história ou à transformação da guerra imperialista em guerra civil, é esquecermo-nos que já passaram quase cem anos sobre estas formulações, que elas tinham uma clara concordância com um tempo histórico que é manifestamente diferente do de hoje. Mas, o que é mais interessante de tudo isto é que paulatinamente estas posições foram sendo abandonadas pelo movimento comunista, não hoje, mas no tempo que estes autores consideram provavelmente como heróico. É certo, continuando sempre a afirmar a sua fidelidade aos princípios do marxismo-leninismo.
Quem estudou minimamente a evolução da Internacional Comunista compreende que se a estratégia revolucionária era no essencial, por vezes com grande sectarismo, aquela que Lenine formulara, e que Jean Salem tenta corporizar em seis teses, com a teorização das Frentes Populares por Dimitrov, no seu VII Congresso, em 1935, esta linguagem e estas opções começam-se a tornar irreconhecíveis. A aliança entre comunistas e sociais-democratas, a luta pela democracia, contra o fascismo, não se podem unicamente enquadrar na luta pelas reformas, como está explícito na quinta tese, mas traz contribuições muito importantes para o desenvolvimento do movimento comunista. Entre nós, Francisco Martins Rodrigues, um dissidente nos anos 60 do PCP, no seu livro Anti Dimitrov – 1935-1985: meio século de derrotas da revolução reporta àquela época o início de todo o “revisionismo” contemporâneo.
Mas é ainda durante a II Guerra Mundial, quando da grande coligação entre as burguesias patrióticas e anti-nazis e as diversas formações do movimento operário (socialistas e comunistas), de certo modo responsável por aquilo que inicialmente seria o conceito de democracia popular, que se verifica mais uma inflexão acentuada da teoria sobre a Revolução defendida por Lenine.
É interessante relembrar a pressão exercida por Estaline sobre Tito para que este estabeleça um Governo de aliança com outras forças políticas, e não queira implantar de imediato a República Socialista. Ou então, as pressões sobre Mao para que este se aliasse no final da II Grande Guerra com o Komitang.
Mas mais recentemente (1956) podemos relembrar a defesa que Khruchtchev faz, no XX Congresso do PCUS, da via pacífica para o socialismo, que esteve na origem da grande divergência com os chineses.
Mas recorrendo a exemplos da política nacional, temos a supressão do termo ”ditadura do proletariado” do programa do PCP, opção mais prática, para “inglês ver”, do que teórica, mas que no fundo corresponde à necessidade do Partido Comunista se adaptar aos tempos actuais. E por muito que custe a alguns, o próprio conceito de Revolução Democrática e Nacional, as tarefas necessárias para derrubar o fascismo, apesar de defender o levantamento nacional armado, fugia às formulações leninistas de ditadura do proletariado e de revolução socialista. Facto que sempre foi criticado pelos “esquerdistas” de todos os matizes, que baseavam as suas divergências com o PCP na crítica àquela opção.
Não é por acaso que teve recentemente tanto êxito entre alguns militantes do Partido Comunista uma declaração do PC da Grécia, a propósito do 90º aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro, em que se dizia: “No Ocidente capitalista, os partidos comunistas não puderam elaborar uma estratégia de transformação da guerra imperialista ou da luta de libertação numa luta pela conquista do poder operário. Eles remeteram o objectivo do socialismo para mais tarde e definiram tarefas que se limitavam a luta na frente contra o fascismo. O ponto de vista que prevalecia na altura, sustentava que era possível a existência de uma forma intermédia de poder, entre o poder burguês e o poder da classe operária revolucionária, com a possibilidade de vir a evoluir para um poder operário.” Ou então, esta outra: “A política seguida por um bom número de partidos comunistas que consistia em colaborar com a social-democracia, fez parte da estratégia da «governação anti monopolista», uma espécie de estado intermédio entre o capitalismo e o socialismo, que se expressava igualmente através de governos que tentaram administrar o sistema capitalista.”
É evidente que esta crítica do PC da Grécia, que parece dirigida às posições dos partidos comunistas do ocidente, deve ser dirigida ao Partido Guia, o PCUS, responsável, em última instância, pela defesa daquelas orientações.
Neste sentido, este livro reflecte um mal-estar que existe no que resta do movimento comunista ortodoxo que, órfão das orientações e da coesão do “socialismo real”, se refugia numa imaginada pureza do marxismo-leninismo, dando a este uma orientação sectária e por vezes esquerdizante e abandonando, mesmo que sub-repticiamente, as anteriores posições unitárias.
Por outro lado, e para terminar, a visão que é dada de Lenine, principalmente na quarta tese, corresponde, como que reflectida num espelho, à visão que actualmente a ideologia dominante pretende dar daquele revolucionário, ou seja um Lenine de faca nos dentes, antecipando toda a série de horrores que caracterizou o tempo de Estaline. Ao depurar tanto o seu conceito de Revolução, chegam quase ao ponto de o transformar em chefe de grupo terrorista, coisa que de facto ele nunca foi.
"Blairista e determinado"
Vale a pena ler o perfil de José Sócrates traçado esta semana no Libération, e as histórias a ele associadas. Se há coisa de que eu gosto, confesso, é ler notícias sobre Portugal na imprensa estrangeira. No caso do perfil do Libé, certas pessoas são descritas de uma forma muito mais assertiva do que em Portugal. O dono do "Público", por exemplo, é descrito como o "pior inimigo" de Sócrates. Os rumores sobre uma sua homossexualidade, a relação com Fernanda Câncio, "muito mais aberta em termos de costumes": está lá tudo. Sócrates pela primeira vez afirma-se com clareza como um "blairista", e rejeita a herança dos socialistas franceses, que considera "ultrapassada". Sócrates "já era social-democrata, mesmo durante a revolução de 1974". Tudo dito com uma clareza que nunca se leu em Portugal. Vale mesmo a pena ler.
Tuesday, December 18, 2007
O acordo ortográfico, num sol de quase dezembro
O que eu penso sobre a questão do acordo ortográfico é sumarizado neste artigo do Pedro Lomba, cuja leitura recomendo a todos aqueles que alimentam pretensões de o português de Portugal poder sobreviver na era da globalização. O acordo ortográfico é como o Tratado de Lisboa: mais importante do que o que eles dizem é mesmo assiná-los.
Dito isto, não gosto de tudo o que o acordo propõe, mas é o acordo possível. E seguramente é muito melhor do que haver duas grafias oficiais. Nunca percebi a necessidade das consoantes mudas – por cada exemplo que se der de vogal por elas “aberta”, arranja-se um contraexemplo. O próprio Francisco Frazão reconhece isso.
Uma das questões que deveriam ser resolvidas de vez no acordo é a diferença entre “por que” e “porque”. Até há muito pouco tempo julguei que sabia essa diferença. Só muito recentemente aprendi – no processo de edição do último volume da Gazeta de Física, na revisão deste artigo – que as regras são diferentes em Portugal e no Brasil, e que as regras que eu sempre apliquei (e – garanto aprendi na escola) são as brasileiras. E experimente-se explicar essas regras a um estrangeiro que esteja a aprender português. As regras brasileiras para o “por que” são inteiramente consistentes e muito mais simples. (Eu não percebo as portuguesas, e vou continuar a escrever o “por que” à brasileira, como sempre escrevi.) Para além disso, as regras brasileiras não são usadas pelo MEC, e só o prazer de corrigir o MEC justifica que sejam estas as utilizadas. Por isso “duas palavras” não, caro Francisco: três palavras, como o Caetano canta numa das mais belas canções desta língua que as nossas línguas tanto gostam de roçar. Eu vou, por que não? Por que não? Por que não?
Dito isto, não gosto de tudo o que o acordo propõe, mas é o acordo possível. E seguramente é muito melhor do que haver duas grafias oficiais. Nunca percebi a necessidade das consoantes mudas – por cada exemplo que se der de vogal por elas “aberta”, arranja-se um contraexemplo. O próprio Francisco Frazão reconhece isso.
Uma das questões que deveriam ser resolvidas de vez no acordo é a diferença entre “por que” e “porque”. Até há muito pouco tempo julguei que sabia essa diferença. Só muito recentemente aprendi – no processo de edição do último volume da Gazeta de Física, na revisão deste artigo – que as regras são diferentes em Portugal e no Brasil, e que as regras que eu sempre apliquei (e – garanto aprendi na escola) são as brasileiras. E experimente-se explicar essas regras a um estrangeiro que esteja a aprender português. As regras brasileiras para o “por que” são inteiramente consistentes e muito mais simples. (Eu não percebo as portuguesas, e vou continuar a escrever o “por que” à brasileira, como sempre escrevi.) Para além disso, as regras brasileiras não são usadas pelo MEC, e só o prazer de corrigir o MEC justifica que sejam estas as utilizadas. Por isso “duas palavras” não, caro Francisco: três palavras, como o Caetano canta numa das mais belas canções desta língua que as nossas línguas tanto gostam de roçar. Eu vou, por que não? Por que não? Por que não?
A música é que era outra...
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Encontrei à venda nos CTT dos Restauradores, como se fosse a coisa mais natural do mundo, o livro da primeira classe em que aprendi a ler "no tempo da outra senhora". Ao contrário do que dizem os que estão sempre prontos a criticar, o livro tinha alguns pontos fortes para a época em que foi publicado:
educação sexual
Monday, December 17, 2007
"Este tratado ameaça os interesses americanos"!!!
E lá fui ao debate na sexta feira. E confesso que saí de lá, se não apoiante do "não", pelo menos mais apreensivo relativamente ao Tratado de Lisboa (pior que a anterior "Constituição", cheio de cedências ao Reino Unido). Tal não é surpreendente se considerarmos que ouvi dois memebros daquele que considero ser, presentemente, o melhor blogue de esquerda português. (Disse-o lá, quando intervim. Deveria ser a única pessoa na sala pelo "sim"!) Rui, ajudas-me a recuperar o meu eurooptimismo? Ou terei de recorrer para isso ao (apesar de tudo sempre indispensável) André Azevedo Alves?
Regresso à Escola Naval 40 anos depois
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Regressei à Escola Naval ao fim de 40 anos. Os lugares que sobreviveram sem nós durante muito tempo são uma espécie de vislumbre da nossa morte. Para confirmar esta sensação até existe uma placa onde figura o meu nome.
O 11º Curso de Formação da Reserva Naval, que eu frequentei, apresentou-se no dia 2 de Setembro de 1967 o que foi agora comemorado.
Durante dois ou três meses corri para as formaturas nesta mesma parada que, estranhamente, me parece igual à memória que guardo dela.
As caras dos meus camaradas de então constituem imagens fugidias, que só as fotografias amparam. A excepção são aqueles com que convivemos na guerra em África ou aqueles que depois se tornaram famosos como o Freitas do Amaral e o Amaro da Costa.
A única diferença que eu noto na Escola Naval são as garbosas e simpáticas cadetes, com as suas fardas elegantes, um oásis impensável nos anos 60 do século XX.
Regressei à Escola Naval ao fim de 40 anos. Os lugares que sobreviveram sem nós durante muito tempo são uma espécie de vislumbre da nossa morte. Para confirmar esta sensação até existe uma placa onde figura o meu nome.
O 11º Curso de Formação da Reserva Naval, que eu frequentei, apresentou-se no dia 2 de Setembro de 1967 o que foi agora comemorado.
Durante dois ou três meses corri para as formaturas nesta mesma parada que, estranhamente, me parece igual à memória que guardo dela.
As caras dos meus camaradas de então constituem imagens fugidias, que só as fotografias amparam. A excepção são aqueles com que convivemos na guerra em África ou aqueles que depois se tornaram famosos como o Freitas do Amaral e o Amaro da Costa.
A única diferença que eu noto na Escola Naval são as garbosas e simpáticas cadetes, com as suas fardas elegantes, um oásis impensável nos anos 60 do século XX.
Sunday, December 16, 2007
Eu e Os Presidentes: uma comédia romântica
Passei a semana enrolado com este livro , mas não foi nada fácil. Sempre tive um fraquinho por Presidentes. O fetiche não é monolítico, nem me cega aos encantos do resto da Espécie: gosto de Reis, sou brejeiro com Caudilhos e quando passo por um Kaiser mais roliço na rua, também lhe lanço os mirones. Mas são os Presidentes que me deixam os joelhos a tremer e me fazem ouvir passarinhos.
Quando vi estes Presidentes na Fnac soube logo que estava em apuros. Não me atirei de cabeça, mas senti uma reciprocidade faiscante, indicativa de que os Presidentes também engraçaram comigo. Houve trocas de olhares, houve encostos furtivos; houve química. A corte foi curta. Os Presidentes estavam vulneráveis, vinham de uma relação tumultuosa (com o Stephen Graubard, que os escreveu), e acabei por sair com eles debaixo do braço ao fim de dois dias.
Há quem não goste de Presidentes. Os vice-presidentes não os suportam. Os monárquicos acham-nos feios. O Mencken desprezava-os: o seu Presidente favorito era Calvin Coolidge, que transformou o seu mandato numa longa e inócua siesta :«He had no ideas, and he was not a nuisance». (Mencken nunca teria votado em mim, já agora: ando com uma média de três horas de sono por dia, o que me transforma numa monumental nuisance).
Stephen Graubard é um caso mais complicado: ele gosta claramente de Presidentes, mas é aquele amor doentio, possessivo, fechado, que resulta frequentemente em violência doméstica. O seu ciúme é totalitário; os Presidentes, com ele, não têm autorização para se pintarem, nem para usarem decotes. Eu, mesmo nos momentos menos lúcidos, sei do que gosto nos meus Presidentes, e sou esteticamente tolerante (caracóis soltos, baton discreto, um bocadinho de perna à mostra). Graubard só os quer enrolados em sarapilheira, e a fazer ponto-cruz no quarto dos fundos.
Não é fácil abordar um livro assombrado por um passado tão problemático. Dei o meu melhor: passeei de mão dada com os Presidentes ao som de Elvis Costello, levei os Presidentes a jantar, fingi interesse nos seus problemas. Ouvi a história dos Presidentes com compaixão atenta. Fiquei ali sentado enquanto os Presidentes soluçavam e se atafulhavam daquela comida pós-moderna que não teve papá nem mamã. Graubard, explicaram-me eles, não tinha más intenções (já ouvi esta tantas vezes). Graubard era capaz de momentos doces, em privado. Graubard tinha uma teoria.
Graubard queria provar que é o Homem que molda o Cargo, e não o contrário. Graubard queria demonstrar que a pujança institucional - real e simbólica - da Presidência dos Estados Unidos sofre expansões ou contracções de acordo com a gravitas do seu ocupante, mas que o excesso de elasticidade sistémica, e a natureza intangível dos processos de evolução institucional, resultam numa tranferência de poderes para sucessores menos capazes. Graubard queria fazer tudo isto sem transformar o exercício numa prosaica procissão de heróis e vilões. Nesta linha, não se entusiasmou tanto como o raposão Paul Johnson, que, no seu espartilho revisionista – cujo recomendável programa era estilhaçar o mito de Camelot e a sua ressurreição Clintoniana – conseguiu transformar Nixon num mártir e Reagan num colosso intelectual. Graubard tem as suas preferências (Roosevelt I, Roosevelt II e Truman), nomeia os seus trapalhões (Harding e Eisenhower) e as suas nulidades (JFK, Carter e Bush I), mas consegue fazê-lo sem cair na histeria das claques sectárias.
Tudo isto resulta, e convence; e tudo se percebe nas primeiras páginas. O pior é o resto, que é pouco mais do que uma desavergonhada sessão de bitch-slapping verbal, prolongada por quase novecentas páginas.
Consideremos a seguinte salganhada semântica, do capítulo sobre Warren Harding:
«The first President born after the Civil War, in Blooming Grove, Ohio, the oldest of six children who survived, his middle name, Galamiel, chosen by his devoutly religious mother, reflected her pride in a son who could bear the name of the teacher of Saint Paul, noted for his tolerant and pacific nature.» Isto é um grand slam de prosa amnésica; a frase (que, dada a evidente falta de talento, devia ser três) vai-se esquecendo de si própria a caminho do ponto final.
As coisas pioram:
«These words, never heard by the American public, still shielded from such obscenities, learned only that the vice-president had bested the Soviet leader in their kitchen debate where the vice president, sweating profusely, went ‘toe-to-toe’ – Nixon’s words – with the chairman and scored impressively.» Aqui Graubard perde mesmo a compostura: não se devia fazer isto à língua inglesa, muito menos em público. Temos o dangling modifier, temos a repetição evitável, temos o despejo de clichés, temos os advérbios de modo penosamente mal escolhidos e mal colocados, temos a injecção de vernáculo com um apêndice ridículo. . . A única maneira de tornar esta frase mais feia seria enfiar-lhe uma peruca de palhaço e crescer-lhe um bigode.
Consideremos a seguinte salganhada semântica, do capítulo sobre Warren Harding:
«The first President born after the Civil War, in Blooming Grove, Ohio, the oldest of six children who survived, his middle name, Galamiel, chosen by his devoutly religious mother, reflected her pride in a son who could bear the name of the teacher of Saint Paul, noted for his tolerant and pacific nature.» Isto é um grand slam de prosa amnésica; a frase (que, dada a evidente falta de talento, devia ser três) vai-se esquecendo de si própria a caminho do ponto final.
As coisas pioram:
«These words, never heard by the American public, still shielded from such obscenities, learned only that the vice-president had bested the Soviet leader in their kitchen debate where the vice president, sweating profusely, went ‘toe-to-toe’ – Nixon’s words – with the chairman and scored impressively.» Aqui Graubard perde mesmo a compostura: não se devia fazer isto à língua inglesa, muito menos em público. Temos o dangling modifier, temos a repetição evitável, temos o despejo de clichés, temos os advérbios de modo penosamente mal escolhidos e mal colocados, temos a injecção de vernáculo com um apêndice ridículo. . . A única maneira de tornar esta frase mais feia seria enfiar-lhe uma peruca de palhaço e crescer-lhe um bigode.
Os dois exemplos não foram escolhidos a dedo: representam o modo de expressão básico do autor. Como é que os Presidentes se sujeitaram a esta prosa? Porque é que não saíram de casa com a mala às costas, e telefonaram para um advogado? A elogiosa citação da capa, para quem não tiver lupa, é de Peter Jay, da Spectator: «Gallops through the century with style, wit and scrumptious readability». 'Style' e 'wit', diz ele. Não sei quem é Peter Jay, mas deve ser o tipo de pessoa que defende que entre autor e Presidentes não se mete a colher. Ou então acha que os Presidentes estavam a pedi-las.
Fiz o que pude, mas nenhuma relação séria e duradoura floresce neste pântano. Paguei a sobremesa e o café aos Presidentes, mas venho aqui informar-vos de que eles estão disponíveis.
Fade out. Robbie Williams.
A Faena de Lisboa foi um Tratado !
.
Fabuloso título e boneco de António no Expresso O sucesso do Tratado, em Lisboa, tem sido glosado de todas as formas e em todos os tons. Mas algo escapou aos analistas.
A chave do sucesso não foi a impecável organização, nem a promessa feita por Sócrates aos seus pares de que não dará o mau exemplo de um referendo em Portugal.
Todas as resistências se abateram quando Sócrates explicou aos seus 26 cépticos confrades que o facto de existir um Tratado não impede que continuem todos a fazer o que lhes der na cabeça.
Como eles hesitavam e duvidavam Sócrates falou-lhes da generalidade da legislação portuguesa, uma das mais avançadas no papel, que consegue passar décadas sem aplicação prática.
A estocada final foi a exibição do vídeo em que Ricardo Araújo Pereira imita Marcelo Rebelo de Sousa a propósito do aborto:
- Professor, o aborto é uma coisa extremamente horrível, não é ?
- É !
- Portanto devia ser proibido.
- Exacto !
- Mas eu poderia fazê-lo ?
- Poderia.
- E o que é que me acontecia ?
- Nada.
- Mas estava a ir contra a lei ?..
- Estava !
- E como é que a lei me punia ?
- De maneira nenhuma !
Depois deste visionamento foram todos unânimes: o Tratado só podia mesmo ser assinado em Lisboa.
Saturday, December 15, 2007
Niemeyer
Niemeyer e Lucio Costa aproveitaram para pôr em prática os conceitos modernistas de cidade: ruas sem trânsito (Niemeyer diria que é um desrespeito ao ser humano que ele tome mais de 20 minutos no transporte de uma região a outra), prédios erguidos por pilotis (apoiados em colunas e permitindo o espaço em baixo livre), integração com a natureza. Uma ideologia socialista também se ensaiou: em Brasília todos os apartamentos deveriam ser do governo que os cedia para seus funcionários, não havia regiões mais nobres, ministros e operários dividiriam o mesmo prédio. Brasília deveria ser uma cidade contida em si, não se expandir além dos projetos originais, previa-se que assim que ficasse cheia, outras em moldes parecidos seriam construídas em diversas regiões.
Badass Bible Verses para o fim-de-semana
«And call ye on the name of your gods, and I will call on the name of the LORD: and the God that answereth by fire, let him be God. And all the people answered and said, It is well spoken.
(. . .)
Then the fire of the LORD fell, and consumed the burnt sacrifice, and the wood, and the stones, and the dust, and licked up the water that was in the trench. And when all the people saw it, they fell on their faces: and they said, The LORD, he is the God; the LORD, he is the God. And Elijah said unto them, Take the prophets of Baal; let not one of them escape. And they took them: and Elijah brought them down to the brook Kishon, and slew them there.»
(1 Kings 18: 24, 38-40)
That is how they used to do religious debates back in the day.
The situation was that people of Israel had taken to Baal worship, a faith that added a lot of whores to its rituals and thus gained immediate popularity. Elijah (not the one with the bears, that was Elisha) decided that the people had to choose between Baal and God.
Rather than write a series of books or give a bunch of boring speeches, Elijah invited 450 Baal prophets to a contest, where both sides would set up an animal sacrifice. Whichever God could rain down fire on its sacrifice would be the one everybody worshiped.
It's brilliant in its simplicity, and we're surprised religious debates were ever carried out any other way after that. You can raise all the intellectual challenges you want about faith and the origins of the universe, but at the end of the day, you have to worship the god who can set you on fire. It's common sense.
We like to think Elijah stood in front of the howling column of heavenly fire, straightened his robes, turned to the crowd and said, "Thus, my opponent's argument falls." Then, he finished the debate in the way that all debates should be finished: by having the losers slaughtered.
(. . .)
Then the fire of the LORD fell, and consumed the burnt sacrifice, and the wood, and the stones, and the dust, and licked up the water that was in the trench. And when all the people saw it, they fell on their faces: and they said, The LORD, he is the God; the LORD, he is the God. And Elijah said unto them, Take the prophets of Baal; let not one of them escape. And they took them: and Elijah brought them down to the brook Kishon, and slew them there.»
(1 Kings 18: 24, 38-40)
That is how they used to do religious debates back in the day.
The situation was that people of Israel had taken to Baal worship, a faith that added a lot of whores to its rituals and thus gained immediate popularity. Elijah (not the one with the bears, that was Elisha) decided that the people had to choose between Baal and God.
Rather than write a series of books or give a bunch of boring speeches, Elijah invited 450 Baal prophets to a contest, where both sides would set up an animal sacrifice. Whichever God could rain down fire on its sacrifice would be the one everybody worshiped.
It's brilliant in its simplicity, and we're surprised religious debates were ever carried out any other way after that. You can raise all the intellectual challenges you want about faith and the origins of the universe, but at the end of the day, you have to worship the god who can set you on fire. It's common sense.
We like to think Elijah stood in front of the howling column of heavenly fire, straightened his robes, turned to the crowd and said, "Thus, my opponent's argument falls." Then, he finished the debate in the way that all debates should be finished: by having the losers slaughtered.
(Link recebido por mail, de um leitor irritantemente não-identificado)
Estes putos de hoje em dia
O combate entre Ali e Foreman no Zaire foi um ano antes desse épico em Manila.
Se desconhecias estes factos (que desconhecias), agradecia que não me voltasses a dirigir mails (só links).
Com esta parte concordo.
Friday, December 14, 2007
Eventos (3) - Groove Intercourse
Eventos (2) - debate sobre o Tratado de Lisboa
Hoje às 21:30 no Instituto Franco-Português em Lisboa. Com os honoráveis António Figueira, Daniel Oliveira e Ricardo Paes Mamede. Uma organização do Le Monde Diplomatique.
Uma espécie de democracia
À entrada para a cerimónia da assinatura do "Tratado de Lisboa" Mário Soares declarou que deixou de ser favorável a um referendo como processo de aprovação. E acrescentou: a maior parte daqueles que defendem o referendo fazem-no porque são contra o tratado.
Finalmente, contra todas as probabilidades, consigo concordar com Mário Soares.
Não percebo que se defenda o referendo ao tratado a não ser na esperança de o ver rejeitado o que, adianto já, é uma opinião tão boa como qualquer outra. Acho é que devia ser assumida sem rodeios.
Defender-se o referendo porque (1) o referendo é necessário para garantir a democraticidade do processo (2) é a forma de permitir que seja o povo decidir (3) é preciso ultrapassar o alheamento do povo relativamente à política e aos politicos, parece-me que não convence ninguém.
A generalidade das pessoas não aceita a ideia de que um formalismo, com participação fraca e mal informada, possa ter tão profundos significados e consequências. Se, por absurdo, tal acontecesse seria um verdadeiro logro.
Quem está convencido de que o projecto europeu é um equívoco, que nunca chegará a bom porto, pode querer a realização de referendos para demonstrar, rapidamente, que não vale a pena insistir.
Mesmo esta ideia, embora um pouco deprimente, não me parece nada absurda.
Finalmente, contra todas as probabilidades, consigo concordar com Mário Soares.
Não percebo que se defenda o referendo ao tratado a não ser na esperança de o ver rejeitado o que, adianto já, é uma opinião tão boa como qualquer outra. Acho é que devia ser assumida sem rodeios.
Defender-se o referendo porque (1) o referendo é necessário para garantir a democraticidade do processo (2) é a forma de permitir que seja o povo decidir (3) é preciso ultrapassar o alheamento do povo relativamente à política e aos politicos, parece-me que não convence ninguém.
A generalidade das pessoas não aceita a ideia de que um formalismo, com participação fraca e mal informada, possa ter tão profundos significados e consequências. Se, por absurdo, tal acontecesse seria um verdadeiro logro.
Quem está convencido de que o projecto europeu é um equívoco, que nunca chegará a bom porto, pode querer a realização de referendos para demonstrar, rapidamente, que não vale a pena insistir.
Mesmo esta ideia, embora um pouco deprimente, não me parece nada absurda.
Eventos (1)
O Nuno Anjos, que me acompanhou (e a mais físicos) no primeiro blogue em que participei de raíz, desde a fundação, completa o seu doutoramento hoje. Parabéns, Nuno!
Thursday, December 13, 2007
A situação no Técnico - comentários
O Tárique pediu-me a minha opinião sobre a situação actual do Instituto Superior Técnico, onde trabalho. A minha resposta sucinta é: se é verdade, como se diz, que o novo Regime Jurídico do Ensino Superior foi feito "à medida do IST" (e por que não do ISCTE?), eu pergunto: por que não há o IST de avançar com ele, nem que seja a título experimental?
Entretive-me a ler os comentários dos leitores do Público à notícia. Seleccionei alguns (minha escolha pessoal), que reproduzo aqui com a devida vénia (destaques meus):
Quem não souber quem era o Nabunda, é favor ler aqui, aqui e aqui. Ainda bem que ele é recordado!
Entretive-me a ler os comentários dos leitores do Público à notícia. Seleccionei alguns (minha escolha pessoal), que reproduzo aqui com a devida vénia (destaques meus):
- 11.12.2007 - 22h07 - Anónimo, Lisboa SER OU NÃO SER EIS A QUESTÃO. IST, para onde vais ... Ao longo dos anos, mais de sessenta, sempre tive em referência o IST como uma Universidade de alto gabarito, onde se formam jovens com qualidade técnica e cientifica excepcionais. Mas, há sempre um mas, quando se tenta levar esta Instituição ao sabor de ventos e marés para uma encosta de arribas escarpadas. Será que é importante em termos Científicos e Pedagógicos esta Faculdade passar a Fundação? Será que os homens querem passar uma esponja sobre a história desta Instituição Universitária? Que diria o saudoso NABUNDA, criado e apoiado com carinho por toda a comunidade escolar? Certamente iria morder algumas canelas e fundilhos de calças a alguns senhores que não ponderam sobre o futuro dessa casa e das suas necessidades mais prementes e urgentes. Sou pai, pago atempadamente as propinas devidas do meu educando que frequenta esta Universidade, exijo trabalho e não facilitismo, mas não vou perder esta oportunidade para formular as seguintes questões já que tantas estão a ser colocadas: - O Conselho Directivo e Cientifico já procedeu a um estudo de quantos alunos abandonam essa Universidade e qual o motivo? - Qual é a percentagem de alunos que entra anualmente e a que conclue a Licenciatura? - Qual a média de anos necessários para a conclusão de uma Licenciatura nos diversos Cursos aí ministrados e qual a comparação percentual com outras Universidades? - Em prestação de exames e frequências, qual é a percentagem de níveis negativos por pauta e por disciplina? - Em que disciplinas existe o maior índice de níveis negativos? - A Avaliação de Docentes é feita positivamente pelo número de níveis negativos que inscrevem nas pautas? - Há verificação sistemática da qualidade nutricional e de confecção das refeições servidas nos refeitórios? - Os refeitórios estão certificados no que se refere a equipamentos e higiene? - A venda de bebidas alcoólicas está prevista dentro desse estabelecimento de Ensino? Muitas outras questões poderia colocar, penso que estas vão ocupar, as entidades competentes, no sentido de ponderarem qual o melhor caminho a trilharem para o bom nome do IST.
- 11.12.2007 - 22h24 - Anónimo, Lisboa, Portugal
O que se passou no IST foi - também - um bloqueio imposto pela mediocridade que se pretende defender do mérito, da avaliação dos resultados e da concorrência aberta. É um proteccionismo que não vingará, porque são os contribuintes que o pagam. E pagar incompetência sai caro, já o sabemos. O lider da AEIST, do qual é injusto dizer que traduz a opinião dos estudantes (foi eleito por 2% dos estudantes, mas será que ele liga aos números?), fez declarações na linha tradicional da cerveja boémia que caracteriza a associação e menos na linha de responsabilidade que a devia caracterizar. É a lógica do arraial, das épocas especiais. Perdem os estudantes mais estudiosos e interessados. Não foi desta, mas está para breve a queda das torres de marfim que ainda por cá moram. - 11.12.2007 - 22h45 - Anónimo, Lisboa, Portugal
Provavelmente, digo eu, o ministro Mariano Gago quis induzir a mudança na Universidade portuguesa a partir do IST, reformando os seus estatutos do tempo da outra senhora através da passagem a Fundação, e iniciar o caminho em direcção à Universida moderna, que continua aberta aos melhores mas só mantém - e aqui é que começam os problemas, os bloqueios e os corporativismos do costume - os melhores professores. Esta é que é a questão. Não resultando a abordagem subtil, terá de avançar a moca, utensílio rude mas extremamente útil em tempos difíceis. Não haverá por aí nenhum jornalista disposto a estudar esta história, ou será que já só basta a parangona mal explicada? Foça Gago, força Matos Ferreira. Para a frente é que é Lisboa! - 12.12.2007 - 14h46 - Ricardo Marques, estudante do IST, Lisboa
Agradecia que alguém, com mínimo conhecimento do assunto em causa, me pudesse esclarecer as mudanças que a passagem a fundação de direito privado implica. É pena que a AEIST não tivesse esclarecido aos estudantes o tema ou, se o fez, não foi divulgado da forma correcta. Tal informação é necessária para que os estudantes que compõem o IST possam tomar uma posição. - 12.12.2007 - 22h14 - J.A., IST
Como é que este barracosa tem coragem de afirmar isto: «Bruno Barracosa acusa Carlos Matos Ferreira de defender apenas os seus próprios ideais» mesmo com toda gente a saber que, mesmo é campanha e depois da eleição, é um "chupista" a mando do PSD. Secção H da JSD de Lisboa, Bruno Barracosa militante nº 135321 http://www.jsdseccaoh.com/lista_cp.html ganha vergonha...
Quem não souber quem era o Nabunda, é favor ler aqui, aqui e aqui. Ainda bem que ele é recordado!
Wednesday, December 12, 2007
A luta continua
Em boa hora surgiu uma petição on-line contra as novas exigências "europeias" que se preparam para destruir a diversidade gastronómica em Portugal.
A paranóia regulamentadora que se vem abatendo sobre os cidadãos quer agora atacar antigos costumes alimentares e a espantosa riqueza cultural que eles representam (veja o aterrorizante artigo de António Barreto sobre esta matéria).
Os imbecis que decidem estas coisas num escritório qualquer numa qualquer Bruxelas estão a ir longe de mais e, neste caso concreto, encontrarão certamente uma feroz resistência.
Nem que seja necessário passar os petiscos à clandestinidade.
A luta continua...
Conjectura de Poincaré: geometria para entender o universo
Os astrónomos e os cosmólogos observam o mundo à nossa volta procurando compreender as leis da matéria e da energia, as leis que regem a evolução do Universo. A partir da Teoria da Relatividade de Einstein sabemos que essas leis estão intimamente ligadas à geometria (a "forma") do Universo.Já tinha falado sobre a conjectura de Poincaré aqui, aqui, aqui, e aqui. Recomendo a palestra de Marcelo Viana, matemático brasileiro de origem portuguesa, colaborador do meu amigo Artur, hoje à tarde na Gulbenkian.
Sabemos por exemplo que se a densidade da matéria contida no Universo for suficientemente grande, então ele deverá ser um espaço fechado, limitado; caso contrário, deverá ser um espaço aberto. Qual destas possibilidades ocorre realmente? Qual é a forma do Universo?
Ao mesmo tempo os matemáticos analisam as formas puras do pensamento para entenderem que modelos são possíveis e permitir, portanto, identificar analisar os que melhor se adaptam às observações cosmológicas.
A Conjectura de Poincaré, um dos mais famosos problemas da Matemática, insere-se naturalmente nesse estudo. Afirma a Conjectura de Poincaré que todo o espaço tridimensional fechado "sem buracos" tem uma forma essencialmente esférica. Formulada no início do século XX pelo grande matemático francês Henri Poincaré – também um dos principais artífices da Teoria da Relatividade – esta Conjectura permaneceu um problema em aberto durante cerca de cem anos. Até que, no final de 2003, o matemático russo Gregori Parelman começou a publicar na internet uma série de artigos científicos que contêm a solução desse problema.
Durante o século XX, a Conjectura de Poincaré foi um foco motivador para avanços notáveis na Geometria e na Topologia. A sua história, antes e depois da sua resolução, está recheada de personagens interessantes e episódios rocambolescos, que atraíram a atenção dos meios de comunicação mundial e do público em geral.
Tuesday, December 11, 2007
Blogues 2007 (com poucos links, senão nunca mais saía daqui)
O blogue do ano é sempre o Kleist, mesmo que só escreva um post por semana. Os seguintes seriam a Memória, a Causa, o Julinho, a Voz, o Spinnen, o Galvão, o Bandeira, a de Amsterdam, o Úria, o Avatares e o Complexidade, mais ou menos por esta ordem. Também gosto muito de mim próprio: entraria de caras num top 15. As revelações do ano - não são, eu é que ando sempre atrasado - foram o Agrafo e o Lourenço Bray (escreve-se muito, muito bem naqueles dois sítios, especialmente sobre cães e broncodilatadores). O regresso mais agradável exprime-se em little little words.
O melhor post do ano foi este. A melhor série foi o Diário do Caribe. O segundo melhor post do ano, na Causa antiga, em resposta à corrente dos 5 livros (um que falava no Roth e no livro de viagens da Martha Gellhorn), não se perdeu, ó timóteos em pânico. Eu gravei-o, e disponibilizá-lo-ei a todos os que me enviarem indecentes requisições por escrito. Não vou dizer qual foi o pior post do ano: porque seria indelicado, porque não quero irritar o Eduardo Pitta, e porque num Estado de Direito as pessoas comem os seus croquetes e rissóis da maneira que entenderem - e eu não tenho nada a ver com isso.
Este perigosíssimo texto sobre os Grandes Portugueses foi o post que mais perto esteve de me matar (estava a beber um Capri-Sonne quando o li pela primeira vez, engasguei-me, e cheguei a ver o caso mal parado). Também havia menções honrosas para um do Alexandre sobre a localização ideal para o novo aeroporto (o Second Life), e para outro do Bruno sobre o Paulo Assunção, mas não os vou conseguir achar antes de o galo dos meus vizinhos começar aos berros, portanto nem vale a pena tentar.
Para 2008: espero que a Sexta Coluna e o b-site regressem, pois fazem-me falta, que a Sapo e a Wordpress se afundem em crashes constantes, para que toda a gente tenha de regressar ao Blogger, e acima de tudo que o Gattopardo tenha um pouco mais de calma: é que é impossível acompanhar aquele ritmo.
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- Natal na GaffeLândia
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- O acordo ortográfico, num sol de quase dezembro
- A música é que era outra...
- "Este tratado ameaça os interesses americanos"!!!
- Regresso à Escola Naval 40 anos depois
- Eu e Os Presidentes: uma comédia romântica
- A Faena de Lisboa foi um Tratado !
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- Uma espécie de democracia
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- A situação no Técnico - comentários
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- A plus tard, peut-être, Carrefour!
- Tabletes de Chekhov
- Era o "El Calambre de Yeso", se faz favor
- Uma razão simples a favor de Alcochete
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- Melhore o Natal de um humilde fruticultor (II)
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- Sidney Coleman (1937-2007)
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