Friday, October 31, 2008
"Trick or treat!"
(A propósito: tal como há quatro anos também afirmo que, apesar da crise e das eleições, hoje à noite o americano médio só tem a cabeça no Halloween.)
Este ano já coloquei esse vídeo, há duas semanas, a propósito de outro assunto. Tive que procurar outro, da mesma personagem. Lembrei-me de um bem a propósito da discussão que aqui se tem vindo a ter. Espero que seja suficientemente assustador, especialmente para o Nuno Ramos de Almeida. Bom Halloween para todos!
Oito anos DOTeCOMe
Antes que Outubro acabe tenho que referir aqui o oitavo aniversário do nascimento do site DOTeCOMe de que este blog é descendente.
Imitando o Google, que fez uma coisa semelhante, deixo aqui o link para o DOTeCOMe tal como ele era, pouco depois de nascer, no Outono do ano 2000.
.O libertarianismo em poucas linhas
Eu, cá para mim, tenho uma outra solução: voto em quem defender que o pouco dinheiro que há deve ficar no bolso dos portugueses, para eles o gastarem como quiserem.
O que eu quero é dinheirinho no bolso dos portugueses.
O RAF não quer “dinheirinho no bolso dos portugueses”: o RAF quer que o dinheiro fique no bolso dos portugueses que já o têm. É uma grande diferença. É uma grande diferença para quem tem muito dinheiro, e teria ainda mais se não pagasse impostos (como é o caso do RAF). E é uma grande diferença para quem não tem dinheiro nenhum e, graças aos impostos que o RAF e os libertários pagam, tem acesso a um mínimo de protecção social. Já para as classes médias e trabalhadores por contra de outrem que acreditem na redistribuição de riqueza, por muitos Jorges Coelhos e Varas que haja, o “dinheirinho” fica sempre melhor no Estado que nos bolsos de um libertário.
E hoje ? há condições para uma Revolução ?
(clicar para ampliar)
Domingos Lopes, no Público de hoje, mostra-se chocado com o retrocesso na abordagem da derrocada da URSS patente nas Teses do próximo Congresso do PCP.
Eu já tinha falado desta questão aqui . Continuo a achar que a crítica deste retrocesso não deve implicar a "absolvição" das Teses de 1990. Também elas, embora menos anacrónicas, falhavam o essencial: explicar o "porquê" e não o "como".
Por exemplo dizer que "o marxismo-leninismo foi frequentemente dogmatizado para justificar práticas ultrapassadas e aberrantes" é apenas descrever "como" a URSS descambou e não esclarecer "porque" é que isso foi possível e realmente aconteceu.
Em minha opinião é tudo muito mais simples: A grande Revolução de 1917 veio antes de tempo, foi prematura. Nas condições concretas em que aconteceu, no plano tecnológico e de maturação do capitalismo, o sucesso da URSS comunista era práticamente impossível.
A grande pergunta que resulta é: e hoje ? as condições já estão criadas ? É isso que muita gente anda, ou devia andar, a tentar compreender.
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Thursday, October 30, 2008
Acácio Barradas
Pedro Mexia dixit: «A esquerda adora a rua». Deverá ser por isso que, após o 25 de Abril, o esquerdista Manuel Múrias, anteriormente nomeado director da RTP pelo marxista-leninista Oliveira Salazar, editou e dirigiu um jornal que justamente intitulou «A Rua». E também deverá ser por isso que o ex-director do «Independente», após um longo tirocínio eleitoral por feiras e mercados como líder de um partido de esquerda, já na qualidade de ministro da Defesa convocou para o Caldas uma manifestação de desagravo contra as atoardas com que a direita vilipendiou a sua honra, acusando-o de fraude na Moderna e exigindo a sua demissão. Assim se faz a História...
Obama sub-prime time
Os apoios a Obama continuam a surgir (ver Público).
Ele gastou milhões de dólares na maior campanha televisiva em "prime time" alguma vez realizada na história da América (ver o vídeo acima).
Obama vai ser, estou convencido, o próximo Presidente dos EUA.
Então por que é que isso não me entusiasma ? A resposta é complicada.
Digamos que eu estou convencido de que os problemas que a América enfrenta não são passíveis de solução nem através da extraordinária empatia de Obama.
Um império em declínio não pode interromper esse processo pelo carisma de um homem.
Ele promete cuidar dos americanos mas isso não resolve os desafios estratégicos que a América enfrenta.
Só nos resta esperar que a atitude equilibrada e sensível de Obama ajude os americanos a atravessar os mares agitados que os esperam com dignidade e sentido de responsabilidade, o que já não é pouco.
O principal desafio de Barak Obama, depois de empossado, será a gestão das enormes expectativas que gerou e às quais, estou convencido, até ele sabe que não pode verdadeiramente corresponder. Uma prova de fogo que ditará o seu destino.
Seja como for os americanos não têm nenhuma solução melhor no dia das eleições...
Conversões recentes
Todos os dias cresce o número daqueles que descobrem a vulnerabilidade do sistema capitalista, ou mesmo a iminência da sua derrocada.
É bom que assim seja, mesmo que tarde e a más horas.
Não sei se é igualmente claro para todos que não podemos proceder ao funeral antes de termos algo que funcione para ocupar o vazio.
Aí é que as declarações bombásticas hesitam e se conclui que não foram feitos os trabalhos de casa.
No Público de hoje o Professor João Caraça diz, entre outras coisas, o seguinte que é paradigmático:
"Uma imensa tristeza apoderou-se dos países do Ocidente, especialmente da nação norte-americana. A crise do sector financeiro ameaça estender-se a toda a economia e ninguém parece saber como debelá-la. "
..."Não admira que andemos tristes. Como foi possível a tantos de nós confiar numa mão-cheia de mentiras? Penso que houve duas razões principais. A primeira, por esquecermos os ensinamentos da História. A segunda, por não anteciparmos suficientemente as mudanças que se avizinham."
..."Não percebemos que com as novas tecnologias da informação, que permitem um controlo muito mais eficaz das operações a maior distância, se foram dissociando igualmente os diferentes níveis da grande empresa industrial do século passado. E que, com essa separação, foi desaparecendo igualmente a solidariedade inscrita no seio das nações industrializadas: a unidade entre a questão económica e a questão social. "
..." A crise de agora é de passagem, preparação e selecção dos vencedores da próxima grande mudança estrutural na economia mundial que virá dentro de dez a 20 anos. "
..."Por este motivo a palavra "confiança" voltou com tanta força à ribalta. As instituições americanas de gestão do risco financeiro foram abaladas. Aguentarão? Ou haverá noutras regiões do mundo instituições e redes que saibam tirar partido desta crise e se perfilem para convencer o mundo de que irão conduzir melhor os riscos e as oportunidades que surgirão na próxima grande transformação estrutural? Infelizmente não é o futuro que o dirá; é a visão estratégica e capacidade de o anteciparmos, hoje. De que estamos à espera? Não há tempo a perder. "
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Humanidade vai precisar de dois planetas em 2030
Wednesday, October 29, 2008
Cinco Dias alargados
O João Branco é um engenheiro aeroespacial, e é (mais um) gajo do Técnico. Viveu alguns anos na Holanda e gosta muito desse estranho país onde as pessoas se preocupam mais com o que fumam do que com o que comem. É um ciclista e algarvio militante, para quem as desigualdades em Portugal são culpa dos "homens do norte" (classificação que obviamente inclui os lisboetas).
O Paulo Jorge Vieira é um bairradino cidadão do mundo. Geógrafo de formação pela Universidade de Coimbra, é um trabalhador precário representante da "Geração 500 euros", que nunca sabe como vai ser o seu dia de amanhã. É activista na área dos direitos sexuais - feminista e direitos LGBT -, sócio fundador e actual presidente da direcção da associação "Não Te Prives". Foi membro da Comissão Excutiva do Fórum Social Portugues e da Comissão Executiva dos "Jovens Pelo Sim". Casou-se noutro dia em frente à Assembleia da República. A cerimónia até foi transmitida pela televisão, mas não foi válida.
O Rui Curado Silva é físico nuclear/astrofísico. Fez estudos de doutoramento em Estrasburgo e de licenciatura em Coimbra, onde presentemente é investigador. É também um divulgador da astronomia junto do público. É europeísta, ecologista e interessa-se pelo problema do aquecimento global. É autor do excelente blogue Klepsýdra.
O João, o Paulo e o Rui são para mim três queridos amigos, com quem é um prazer partilhar este espaço. Muito bem vindos e boas postagens!
Regresso a Wallerstein
" Utopística é uma séria avaliação das alternativas históricas, o exercício do nosso julgamento face a uma racionalidade substantiva de uma alternativa possível de sistemas históricos. É a sóbria, racional e realística evolução dos sistemas sociais humanos, com os constrangimentos do seu contexto e as zonas abertas à criatividade humana. Não a face do perfeito (e inevitável) futuro. É antes um exercício, simultaneamente, nos campos da ciência, da política e da moral.- Immanuel Wallerstein (1998)"
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Selon Wallerstein, quatre tendances font faire basculer le système :
1 - « L’expansion géographique ultime de l’économie-monde capitaliste (…) risque d’être portée à son terme dans un avenir proche. Le corollaire inévitable est une forte augmentation des coûts mondiaux de la main-d’œuvre…
2 - « Le coût mondial du maintien d’une couche moyenne immensément plus grande devient insoutenable à la fois pour les employeurs et pour les trésors publics.
3 – « L’imminence de la crise écologique » qui remet en cause « depuis environ 5 siècles l’accumulation du capital basée sur la capacité des entreprises à extérioriser les coûts (… par) sur-utilisation des ressources mondiales. »
4 – « Le béant fossé démographique qui se surimpose en sens inverse sur le fossé économique entre Nord et Sud (…) en train de créer une pression incroyable en faveur du mouvement migratoire… » p.206
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"We need first of all to try to understandnd clearly what is going on. We need then to make our choices about the directions in which we want the world to go. And we must finally figure out how we can act in the present so that it is likely to go in the direction we prefer. We can think of these three tasks as the intellectual, the moral, and the political tasks. They are different, but they are closely interlinked. None of us can opt out of any of these tasks. If we claim we do, we are merely making a hidden choice. The tasks before us are exceptionally difficult. But they offer us, individually and collectively, the possibility of creation, or at least of contributing to the creation of something that might fulfill better our collective possibilities."
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Três citações escolhidas propositadamente para me situar realtivamente a Wallerstein, tão citado e recuperado nos últimos tempos.
Quanto a Utopística é uma ideia que me cativa e que venho sugerindo, sem usar este nome, há vários anos. Parece-me imprescidível para criar uma hegemonia ideológica que potencie a transformação do mundo no sentido que pretendemos.
A última citação, tirada do livro "World-System Analysis", de 2004, vai no mesmo sentido da primeira e reforça a ideia do contributo individual pelo recurso ao empenhamento e à criatividade.
No que toca à explicação da crise no "sistema-mundo", versão globalizada do "modo de produção" marxista, tenho as minhas reservas.
Por um lado a expansão geográfica parece-me longe do seu termo, há ainda muitas centenas de milhões de seres humanos que pouco foram tocados pelo capitalismo e constituem uma gigantesca reserva de "consumidores potenciais", um enorme "exército de reserva" de trabalhadores baratos para usar a terminologia tradicional.
Por outro lado Wallerstein parece não considerar, e não menciona, as transformações na produção e no papel do trabalho no processo produtivo.
Eu tenho defendido que assistimos hoje ao combate entre uma "versão tradicional" do capitalismo e uma "versão digital". Esta última tenta preservar elevadas taxas de lucro através de uma produção em que o trabalho deixou de ser "capital variável" e passou a ser "capital fixo".
Ou seja, em vez obter 8 horas de trabalho e pagar só 5, como costumava acontecer nos tempos de Marx, agora o "empreendedor" compra a produção de um objecto digital que é paga à cabeça e depois pode ser replicada tantas vezes quanto necessário sem incorporação de trabalho vivo adicional. Enquanto que no passado cada nova unidade de mercadoria gerava garantidamente um salário, e portanto capacidade de consumo, agora isso já não acontece.
Se esta nova produção "digital" em expansão (nos telemóveis, na música, nos filmes, no software,etc) se vai constituir como alternativa ao capitalismo "à antiga", nem que seja num período transitório antes de emergir uma "nova economia", é algo que não sabemos mas que vale a pena acompanhar. Este pode ser um tema interessante para um futuro post.
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Não tapem Lisboa
Tuesday, October 28, 2008
Mas o que é isto ? Uma nova Sabrina ?...
Ainda ninguém percebeu o que quer o PS com esta ridícula questão do "Estatuto Político-Administrativo dos Açores". Dá azo à invocação de uma questão de princípio, perfeitamente legítima, em troca de quê ?
Tem todo o ar de ser mais uma irresponsabilidade política baseada em calculismos eleitorais. Aos cidadãos que têm mais que fazer e outras preocupações aparece como uma parvoíce para que vai faltando a paciência.
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Prémio "dardos"
Recebi o prémio "dardos" do simpático blogue "Homem ao mar!" de M. Ferrer, a quem agradeço a gentileza. É suposto eu indicar 15 (quinze) blogues! Para evitar um crescimento tão acentuadamente exponencial do número de blogues contemplados, vou só indicar dois: O Nadir dos Tempos e Klepsýdra. As razões da escolha? Passem pelo Cinco Dias e perceberão.
A minha mãe obrigou-me a vir ao blogue um bocadinho, e continuo a sentir muito amor por James Wood
O repertório habitual está todo presente: elogios a Norman Rush (amén); utilização copiosa da expressão «joy, simple joy»; e piadas sobre televisão. Mas também respostas indirectas a pessoas que nem sequer estão presentes, hábito que pode levar algumas pessoas a pensarem nele como um cafageste invertebrado (não eu, que considero a estrutura óssea de Wood de uma inimpugnável solidez); um dogmatismo miópico sobre o que é o Realismo, característica assumidamente irritante que pode levar algumas pessoas a sentirem uma compulsão de atingir a douta cabeça de Wood com um rectângulo de contraplacado (não eu, esclareço, que apenas tenho a compulsão de acariciar a douta cabeça de Wood com um aglomerado de plumas); e a já clássica implicação com Pynchon, por motivos indiscutivelmente ignóbeis, posição crítica infundada que pode levar os emocionalmente voláteis a etiquetarem Wood como um pederasta cocainómano (não eu, insisto, que olho para Wood como um modelo de sã sexualidade e saudabilíssimo sistema linfático).
O nosso crítico literário preferido não suporta o nosso escritor preferido (plural majestático), e uma pessoa anda há anos a tentar reconciliar estas duas preferências numa Teoria de Campo Unificado, tarefa tão complicada como explicar a relatividade e o electromagnetismo com o mesmo conjunto de equações.
Wood raciocina como se o modelo de ficção que ele prefere fosse o único merecedor de atenção crítica séria; e escreve como se o seu naipe idiossincrático de princípios estéticos tivesse saliência universal. Obviamente, isto irrita muitas pessoas de bem (não é o meu caso; volto a realçar que acho Wood um querubim).
Estas características tornam-no uma figura tão polarizante como Leavis (com quem tem, aliás, bastante em comum), e repelem muitos potenciais admiradores (que não eu), que confundem a primeira característica com uma incapacidade congénita para reconhecer o potencial lúdico da literatura (o que é demonstravelmente falso), e a segunda com um autoritarismo congelado (o que já está mais perto da verdade, mas ele é tão fofinho que eu desculpo-lhe tudo).
O que me parece é que Wood terá sucumbido à maldição do crítico: a pressão da coerência. A partir do momento em que uma série de argumentos justíssimos contra um tipo de excesso recorrente cristaliza numa teoria estética, o crítico vê quase sempre, paradoxalmente, o seu leque de ferramentas reduzido, pois depara-se com a necessidade de deformar as suas análises futuras para que coincidam com o novo ângulo de visão. E um instrumento de curto-alcance, que surgiu como resposta a um objecto artístico específico, transforma-se agora num obstáculo permanente a juízos imparciais.
Trocado por miúdos: o crítico da New Yorker não pode correr o risco de elogiar um autor pelos mesmos motivos usados seis meses antes para criticar outro, que, por convenção jornalística ou pessoal, é encaixado na mesma "escola" ou "geração".
(Ou, à falta de melhor, aposto que o meu pai era capaz de dar porrada no pai de Wood).
Nos seus melhores ensaios negativos, Wood exalta aquilo que é específico na ficção, que nasceu com os Modernistas, e que não pode ser feito por qualquer outra forma de arte: a representação dos processos de consciência. Para Wood, o realismo psicológico é tudo. E com essa alavanca, ele atingiu uma posição previlegiada, a partir da qual conseguiu apontar astutamente algumas das deficiências de muita ficção contemporânea, cristalizada na sua apta definição de "Realismo Histérico":
«Hysterical realism is not exactly magical realism, but magical realism's next stop. It is characterised by a fear of silence. This kind of realism is a perpetual motion machine that appears to have been embarrassed into velocity. Stories and sub-stories sprout on every page. There is a pursuit of vitality at all costs.»
Este parágrafo é dolorosamente apropriado para descrever muitos dos magno-romances dos últimos 10/15 anos, cuja reputação é, e aí estou do lado de Wood, algo exagerada: White Teeth, The Corrections, Middlesex, Underworld, e quase tudo o que Rushdie escreveu depois de 1981. O problema, evidentemente, é que os mesmos "defeitos" podem ser apontados a muitas obras-primas indiscutíveis (no sentido em que uma pessoa gosta muito delas, e não admite cá discussões, ou isto dá para o torto), como Tristram Shandy, Almas Mortas, Ulysses, Gravity's Rainbow ou Infinite Jest. E em última instância, só são defeitos na medida em que afastam a literatura do ideal Chekhoviano de Wood. Ele aborda cada romance contemporâneo com a sua lupa astigmática, à procura de sinais exteriores de realismo histérico; é lógico que os vai encontrar.
O seu texto sobre Against the Day é um tour-de-force de apontar a luneta ao quarto escuro. Quando Pynchon usa algumas das convenções do realismo, e descarta outras, Wood interpreta negativamente essa triagem como um desequilíbrio, quase como uma falha moral. A estrutura da história policial, por exemplo, na qual os personagens (e o leitor) vão recebendo parcelas de informação que tentam organizar e hierarquizar, é constantemente subvertida por Pynchon, que tranca todas as portas antes da derradeira pista, obrigando-nos a retroceder os passos sem qualquer resposta. Isto porque Pynchon não vê nesta convenção a metáfora habitual do puzzle e das peças, mas algo mais parecido com as fractais de Mandelbrot: a incompreensão localizada existe para que o leitor deduza, com a mesma lógica paranóica do autor, que o todo é igualmente caótico; há padrões, mas são sempre fugazes.
A questão do "significado", que tanto frustra Wood, ecoa a célebre crítica de Leavis ao Heart of Darkness: o abuso por parte de Conrad de expressões como "unsayable", "inscrutable" ou "impenetrable". Não me parece que isto sejam meros borrões cognitivos. Pynchon não relativiza a Verdade; apenas reconhece que a nossa apreensão da Verdade é sempre relativa. A sua preocupação está, não tanto em extrair significado, mas em detectar padrões, um modelo narrativo que pode ou não merecer reprovação, mas que merece, pelo menos, ser avaliado nos seus próprios termos. O erro é potenciado quando Wood coteja três descrições de três lugares diferentes (separadas por seiscentas páginas) e aponta triunfantemente as semelhanças, como se estas fossem evidências de desleixe, ou pior, provas da imaterialidade do universo Pynchoniano. Qualquer leitor atento de Pynchon reconhece aqui o intento autorial: a magnificação apofénica das semelhanças entre locais ou eventos distantes. Isto não revela falta de arte, mas sim toda uma forma de ver o mundo, e não se pode criticá-la sem primeiro a entender.
Os apelos sucedem-se
O DN de hoje contém,não um mas sim dois, apelos ao renascimeto da esquerda.
Mário Soares em artigo intitulado "A crise global vista de Paris" avança: "Repensar a esquerda. Eis a que nos conduz o espírito do tempo, se queremos vencer a crise e substituir o sistema. Não se trata, como sugeriu o Presidente Sarkozy, de "destruir o capitalismo financeiro e especulativo e punir os responsáveis" para "refundar outro capitalismo", ou seja: a mudança necessária para que tudo fique na mesma. Trata-se de algo mais simples e concreto: manter a economia de mercado, introduzindo-lhe regras éticas e jurídicas estritas capazes de assegurar a justiça social, numa nova ordem político-económica mundial que tenha como objectivos: erradicar a pobreza, no plano internacional, reduzir drasticamente as desigualdades, encerrar os paraísos fiscais, centros principais de especulação, punindo os traficantes e os especuladores financeiros e voltando aos valores éticos."
Manuel Alegre, pelo seu lado, interroga-se: "Sabe-se que nada ficará como dantes. Mas em que sentido se fará amudança? Era aí que a esquerda deveria ter um papel. Mas onde está ela? Talvez algo de novo possa surgir de uma vitória de Obama. Pelo menos um sopro de renovação. Mas há um grande défice de esquerda na Europa. Uma nova esquerda só poderá nascer de várias rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas. Ruptura com as práticas gestionárias e cúmplices do pensamento único. Ruptura com a cultura do poder pelo podere com o seu contrário, a cultura da margem pela margem, da con-tra-sociedade e do contrapoder. Processo difícil, complicado, mas sem o qual não será possível construir novas convergências. Não para a mirífica repetição da revolução russa de 1917, nem para um modelo utópico global. Tão-pouco para segundas ou terceiras vias. Mas para uma via nova, que restitua à esquerda a sua função de força transformadora da sociedade e criadora de soluções políticas alternativas."
Pela milésima vez assistimos a este apelo que, no caso vertente e para complicar ainda mais as coisas, é feito em estereofonia deixando o cidadão sem saber a qual dos dois atender.
Bendita esquerda que tem ansiãos tão "prá frente" capazes de ressuscitar estes jovens "café com leite" que só se excitam com as coisas fracturantes. Em termos de longevidade política não ficam atrás de Santana Lopes.
Como diz João Miguel Tavares no mesmo jornal: "Em Portugal ainda estamos mais ou menos assim: há coisas com que não se brinca. E é uma pena que assim seja, porque uma sociedade que não se sabe rir de si própria é uma sociedade deprimida, infeliz e pouco inteligente. O riso é uma das características únicas da espécie humana e aquilo que nos separa dos outros primatas. Gente demasiado séria está mais próxima dos macacos do que aqueles que fazem macaquices."
Realmente neste país há certas coisas que já só podem ser levadas para a brincadeira...
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Monday, October 27, 2008
O Estado no Manifesto
Este momento parece adequado para ressuscitar "o papel do Estado" na vida económica. Para tanto alguns fazem tábua rasa das experiências históricas e vão ao ponto de se considerarem seguidores da ortodoxia marxista. Parece assim interessante transcrever duas passagens do "Manifesto do Partido Comunista", publicado pela Editorial "Avante!", que referem o Estado:
"Dos servos da Idade Média saíram os Pfahlbürger das primeiras cidades; desta Pfahlbürgerschaft desenvolveram-se os primeiros elementos da burguesia [Bourgeoisie].
O descobrimento da América, a circum-navegação de África, criaram um novo terreno para a burguesia ascendente. O mercado das Índias orientais e da China, a colonização da América, o intercâmbio [Austausch] com as colónias, a multiplicação dos meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à indústria, um surto nunca até então conhecido, e, com ele, um rápido desenvolvimento ao elemento revolucionário na sociedade feudal em desmoronamento.
O modo de funcionamento até aí feudal ou corporativo da indústria já não chegava para a procura que crescia com novos mercados. Substituiu-a a manufactura. Os mestres de corporação foram desalojados pelo estado médio [Mittelstand] industrial; a divisão do trabalho entre as diversas corporações [Korporationen] desapareceu ante a divisão do trabalho na própria oficina singular.
Mas os mercados continuavam a crescer, a procura continuava a subir. Também a manufactura já não chegava mais. Então o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. Para o lugar da manufactura entrou a grande indústria moderna; para o lugar do estado médio industrial entraram os milionários industriais, os chefes de exércitos industriais inteiros, os burgueses modernos.
A grande indústria estabeleceu o mercado mundial que o descobrimento da América preparara. O mercado mundial deu ao comércio, à navegação, às comunicações por terra, um desenvolvimento imensurável. Este, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria, e na mesma medida em que a indústria, o comércio, a navegação, os caminhos-de-ferro se estenderam, desenvolveu-se a burguesia, multiplicou os seus capitais, empurrou todas as classes transmitidas da Idade Média para segundo plano.
Vemos, pois, como a burguesia moderna é ela própria o produto de um longo curso de desenvolvimento, de uma série de revolucionamentos no modo de produção e de intercâmbio [Verkehr].
Cada um destes estádios de desenvolvimento da burguesia foi acompanhado de um correspondente progresso político. Estado [ou ordem social — Stand] oprimido sob a dominação dos senhores feudais, associação armada e auto-administrada na comuna, aqui cidade-república independente, além terceiro-estado na monarquia sujeito a impostos, depois ao tempo da manufactura contrapeso contra a nobreza na monarquia de estados [ou ordens sociais — ständisch] ou na absoluta, base principal das grandes monarquias em geral — ela conquistou por fim, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, a dominação política exclusiva no moderno Estado representativo. O moderno poder de Estado é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa."
Como se pode ver Marx nunca esperaria do "moderno poder de Estado" qualquer "regulação" passível de prejudicar os negócios de "toda a classe burguesa". Convém relembrar que é nesse Estado que nos encontramos. Mas continuemos:
"O proletariado usará a sua dominação política para arrancar a pouco e pouco todo o capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção na mão do Estado, i. é, do proletariado organizado como classe dominante, e para multiplicar o mais rapidamente possível a massa das forças de produção.
Naturalmente isto só pode primeiro acontecer por meio de intervenções despóticas no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas, através de medidas, portanto, que economicamente parecem insuficientes e insustentáveis mas que no decurso do movimento levam para além de si mesmas e são inevitáveis como meios de revolucionamento de todo o modo de produção.
Estas medidas serão naturalmente diversas consoante os diversos países.
Para os países mais avançados, contudo, poderão ser aplicadas de um modo bastante geral as seguintes:
1. Expropriação da propriedade fundiária e emprego das rendas fundiárias para despesas do Estado.
2. Pesado imposto progressivo.
3. Abolição do direito de herança.
4. Confiscação da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes.
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, através de um banco nacional com capital de Estado e monopólio exclusivo.
6. Centralização do sistema de transportes nas mãos do Estado.
7. Multiplicação das fábricas nacionais, dos instrumentos de produção, arroteamento e melhoramento dos terrenos de acordo com um plano comunitário.
8. Obrigatoriedade do trabalho para todos, instituição de exércitos industriais, em especial para a agricultura.
9. Unificação da exploração da agricultura e da indústria, actuação com vista à eliminação gradual da diferença entre cidade e campo.
10. Educação pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas fábricas na sua forma hodierna. Unificação da educação com a produção material, etc.
Desaparecidas no curso de desenvolvimento as diferenças de classes e concentrada toda a produção nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perde o carácter político. Em sentido próprio, o poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de uma outra. Se o proletariado na luta contra a burguesia necessariamente se unifica em classe, por uma revolução se faz classe dominante e como classe dominante suprime violentamente as velhas relações de produção, então suprime juntamente com estas relações de produção as condições de existência da oposição de classes, as classes em geral, e, com isto, a sua própria dominação como classe."
O Estado é tomado pelo proletariado para destruir o poder dos capitalistas e não para se constituir em novo modo de produção. O novo modo de produção, "concentrada toda a produção nas mãos dos indivíduos associados", não está muito bem definido no seu funcionamento mas não é certamente comandado pelo Estado já que, nesta fase e nas palavras de Marx "o poder público perde o carácter político".
O que nós verificámos durante o Século XX foi que revolução de 1917 originou um Estado que, durante 70 anos, não deu mostras de querer mirrar e desaparecer. Todos sabemos que estava rodeado de inimigos e que, mesmo que outras razões não houvesse, tal impediria o progressivo desaparecimento do Estado como foi previsto por Marx.
Em suma, estas questões são demasiado complexas para serem tratadas de forma ligeira por aqueles que julgam poder resultar da crise financeira actual uma nova economia tutelada pelos ministérios.
Tanto quanto sei o Estado nunca foi modo de produção e penso que nunca o será. O Estado é um produto de cada sociedade; o Estado não resume nem substitui a sociedade e as formas de organização da produção sejam elas quais forem.
P.S. Claro que este texto dá "pano para mangas" e levanta muitas e interessantes questões. Onde está hoje o proletariado ? como se nacionalizam coisas como as redes mundiais de comunicação ? será que o "desparecimento das classes" conduz automáticamente a uma sociedade de paz celestial ? etc, etc.
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Sunday, October 26, 2008
Quem é que falou em "Regulação do Estado" ?
Mas parece que isto não bastava. A sra. dra. Clara Costa, vogal da direcção, andou, supostamente, à custa do contribuinte por Cracóvia, Belfast, Dublin, Marraquexe, Viena e Sevilha. Estas viagens, em que segundo o Ministério Público se fazia acompanhar pelo seu "namorado", custaram à Gebalis 34.000 euros. Como era de esperar, a sra. dra. Clara Costa não vê nada de impróprio neste arranjo. Nem na pequena quantia de 11.530 euros, que empregou, também ela, em "refeições", compatíveis com o seu estatuto. O Expresso declarou isto "falta de vergonha". Peço licença para não concordar. Se o Ministério Público tem razão, a dra. Clara Costa usou o Estado como milhares de outros funcionários, de que ninguém fala e com que ninguém se escandaliza.
Existem na Gebalis - cuja função, convém repetir, é administrar bairros sociais - cinco pelouros: de relações internacionais, de recursos humanos, de sistemas de informação, de comunicação e, compreensivelmente, um pelouro jurídico. Esta exuberância burocrática abre oportunidade a tudo: de "viagens de estudo" a Marraquexe a festejos na marisqueira Sete Mares. Principalmente, quando se dá a cada vogal da direcção um cartão de crédito da empresa. A Gebalis já esqueceu com certeza o fim para que foi criada. Como o resto da máquina do Estado, vive para justificar os seus pelouros, por inúteis que sejam, e anichar os "companheiros" do partido. E, quando chegam, os "companheiros do partido" querem muito humanamente tirar o ventre de misérias: ir a Marraquexe e à marisqueira - o ideal da classe média que a "democracia" lhe prometeu. Para alguma coisa "apoiaram" o sr. X ou sr. Y.
Saturday, October 25, 2008
O absurdo alastra.
O absurdo alastra, como a crise, e instala-se. Mao Tse-tung virou os pés pela cabeça. Despacho da LUSA:
O presidente de turno da União Europeia pregou hoje em Pequim, sob o retrato de Mao Tsé-Tung, à "refundação do capitalismo" para convencer o gigante comunista a integrar-se no exercício internacional para reforma das bases do sistema financeiro mundial.
Nicolas Sarkozy, que participa em Pequim na VII Cimeira Europa-Ásia, poderá ter protagonizado assim o que os historiadores venham no futuro a classificar de "ironia histórica".
Formalmente comunista, todavia, a República Popular da China, fundada há quase 60 anos por Mao Zedong, é actualmente um sócio imprescindível na altura de garantir a estabilidade e o fluxo de dinheiro à escala mundial.
Com as suas colossais reservas de divisas estrangeiras e a sua capacidade para injectar crescimento na economia do Ocidente, o regime chinês tem nas suas mãos uma poderosa ferramenta de recuperação nos momentos de crise financeira.
A VII Cimeira Europa-Ásia, que hoje teve início, prosseguirá no sábado com a promessa de que a China, que já superou a Alemanha como terceira economia mundial, cooperará no estabelecimento de novas regras que impeçam a repetição do ocorrido com o crédito hipotecário de alto risco.
Com a veemência que já o caracteriza, Sarkozy empenhou-se hoje a fundo perante o auditório de líderes para convencer todos de que "o Mundo vai mal", devido à magnitude, rapidez e violência que esta crise bolsista e de crédito está a derribar no ocidente instituições bancárias quase centenárias.
"Mal também porque o modelo de desenvolvimento económico, com as suas emissões de gases para a atmosfera está a por em causa a sobrevivência da espécie humana", argumentou.
"E mal porque 900 milhões de pessoas no planeta não têm o que comer, apesar de toda a riqueza que se cria", concluiu.
Debaixo do retrato de Mao, no Palácio do Povo, na monumental Praça de Tianamen, as afirmações do presidente francês, que preside também à UE, podem soar como revolucionárias.
O discurso de Sarkozy de "refundar o capitalismo" tem a discordância do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que já se distanciou publicamente desta forma de qualificar as coisas.
"Compartilho plenamente os objectivos (de Sarkozy), porém não utilizaria os seus termos, porque têm ressonâncias especiais no meu país", afirmou recentemente Durão Barroso, que na sua juventude foi militante maoísta.
Necessidade a quanto obrigas...
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Friday, October 24, 2008
Assalariamento falsificado
Numa página secundária do DN de 11 de Setembro esta notícia passou despercebida à maior parte dos portugueses. No entanto encerra informação extremamente relevante.
Para quem não saiba convém esclarecer que não se trata aqui dos "contratos a termo" ou "a prazo" que instabilizam os empregos de centenas de milhares de portugueses com destaque para os mais jovens.
O "trabalho temporário" é um outro tipo de precariedade que consiste na cedência de trabalhadores por empresas da especialidade a outras que deles necessitam e os alugam por determinados períodos de tempo; esses trabalhadores exercem portanto as suas funções em empresas, as que os alugam, com quem não mantêm qualquer vínculo laboral.
Para que conste. Porque quando falo da degradação do assalariamento e da crise que o atinge, o que nem sempre é compreendido, é também disto que estou a falar.
Todas as formas de precariedade constituem um abastardamento da relação de produção originária que era aquela que constava do "contrato social" tácito das sociedades de tipo capitalista. O fenómeno, repetido e multiplicado, acabará por ter consequências sistémicas.
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A blogosfera agora tem o seu Carlos Castro
Só que Paulo Pinto Mascarenhas conclui, na sua coluna semanal sobre blogues no Jornal de Negócios, que “as feridas da cisão à esquerda continuam longe de cicatrizadas”, baseado justamente naquelas minhas palavras. Não sei que interesse este tipo de fofocas da blogosfera terá seja para quem for: quem acompanha os blogues está a par do que se passa, e quem não acompanha, não é graças a elas que passará a acompanhar. Mas o Paulo Pinto Mascarenhas escreve-as no jornal, e está no seu direito – mesmo que sejam falsas, como é o caso, e dêem uma impressão errada do que se passa a quem não acompanha o caso na blogosfera. É para escrever as suas crónicas que lhe pagam. É esse o tipo de jornalismo que Paulo Pinto Mascarenhas estava habituado a fazer no semanário onde colaborou, antes de se tornar assessor no governo do fundador e figura tutorial desse mesmo semanário: um jornalismo que procura criar casos onde não há, e os envolvidos são sempre adversários políticos. É a isso que se resume a sua crónica – pelo menos a desta semana – no Jornal de Negócios. Seria interessante no entanto ver como tal crónica se referiria a um “caso” que ocorresse num blogue seu (ou que lhe fosse próximo politicamente). Já ocorreu pelo menos um caso no passado.
China, jornal de parede
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As importações de petróleo pela China aumentaram 8,8% entre Janeiro e Setembro deste ano, para 140 milhões de toneladas métricas, segundo dados divulgados hoje pela Administração Geral Alfandegária.
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As exportações da China cresceram 21,5% em setembro, para 136.400 milhões de dólares, em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado manteve-se estável em relação ao avanço de 21% observado no mês anterior.
Já as importações chinesas cresceram 21,3% no último mês, para 107.100 mil milhões de dólares, em comparação ao mesmo período de 2007, depois de um crescimento de 23,1% em Agosto. Com este resultado, a balança comercial da China registou um superavit de 29.300 mil milhões em Setembro.
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O Comité Central do Partido Comunista da China anunciou uma série de reformas na área rural que visam duplicar, até 2020, a renda per capita média dos quase 800 milhões de chineses que vivem no campo.
Como parte das reformas, espera-se que passe a ser permitido aos camponeses trespassar livremente contratos de arrendamento de terras e que possam subarrendar os terrenos que estão sob seus cuidados – ação actualmente ilegal, mas praticada informalmente.
Thursday, October 23, 2008
De Ressurreição em Ressurreição...
O país está suspenso de uma decisão: Santana concorre ou não à Câmara de Lisboa ?
Ele pode ter muito mais defeitos do que aqueles que todos nós conhecemos no "político médio" português mas está em vias de se tornar um "imortal", acima das derrotas e das campanhas assassinas da media.
À direita há reacções várias.
Inez Dentinho no "Geração de 60" enumera as obras do edil Santana em Lisboa para mostrar que ele não tem que temer o combate com o "desmotivado" António Costa.
Ana Sá Lopes, no Público, em artigo que merece ser lido, diz coisas como:
"O dr. Santana Lopes pode ter dez ou 12 vidas, pouco importa. Em Portugal, onde a memória é curta, qualquer político tem as vidas que quiser: é uma questão de interesse ou de oportunidade. Sem sobressaltos de maior, o "fugitivo" de ontem transforma-se, de um dia para o outro, num portentoso candidato presidencial, capaz de redimir a pátria da sua apagada e vil tristeza. Basta registar o entusiasmo com que a maioria dos comentadores se refere ao promissor futuro do eng. Guterres ou do dr. Durão Barroso. "
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"Como o país a que pertence, a classe política é pobre, fraca e limitada. Daí a rotatividade das mesmas figuras, a ressurreição de uns tantos "mortos", a desresponsabilização geral e o permanente ajuste de contas em que cai invariavelmente qualquer debate."
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"Mas convém ter presente que a inesperada ressurreição de Santana Lopes revela mais sobre o partido que a critica do que sobre os eventuais métodos do candidato. Se a classe política é, como já disse, fraca, pobre e limitada, na oposição revela-se quase inexistente."
À esquerda está a acontecer "o do costume" quando Santana entra em cena. A gritaria oscila entre a incredulidade e a fúria como se faltassem argumentos e projectos e a "defesa do convento" tivesse que ser feita "homem a homem". Nunca gostei deste estilo que já obrigou algumas vezes a canonizar à pressa quem fora excomungado tempos atrás.
No conto da nossa infância havia um Pedro que tanto gritou "vem aí o lobo" que as pessoas deixaram de vir em seu auxílio. Agora parece que há um lobo que se farta de gritar "vem aí o Pedro" e, com excepção dos comentadores de esquerda, há cada vez menos quem se rale com isso.
Assalta-me a dúvida sobre se Santana não se teria já retirado da vida política no caso de as suas investidas terem deixado de provocar estas reacções.
Afinal a sua popularidade é alimentada pelos seus inimigos que parecem não perceber que estão a fazer dele um "estadista" cujo estatuto é imune aos resultados e que continuará a sua carreira de ressurreição em ressurreição.
Para quem é considerado uma nulidade este desfecho pode ser considerado notável.
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Bem leve
Ontem ele foi mais uma vez decisivo (e entrou para a história do Sporting: o melhor marcador nas competições da UEFA). Mas eu nem falo do golo de ontem, que foi uma colaboração com o Derlei. Falo do impressionante golo de sábado, contra a União de Leiria, que marcou o regresso de Liedson. Mais uma vez o levezinho é um exemplo de preserverança, de nunca dar nada por perdido. Vejam bem o vídeo. O Liedson cai (em falta?), mas não perde tempo: está rodeado de três adversários, mas ainda assim levanta-se, recupera a bola e remata para golo. Se fosse um jogador português ficaria sentado no chão a pedir falta, mesmo que ninguém lhe tivesse tocado!
Recordo que este jogador único até aos vinte e poucos anos era desempacotador num supermercado. É um exemplo para todos os portugueses (e não só jogadores de futebol).
Resistir à crise, para já...
O Google bateu as estimativas dos analistas há dias, ao anunciar que os seus lucros no terceiro trimestre de 2008 aumentaram 26%, atingindo os 1,35 mil milhões de dólares, ou 4,24 dólares por acção. A IBM, apesar do crescimento do lucro (5% apenas), trouxe com seus números os primeiros sinais de desaceleração pela queda da receita dos contratos de novos serviços.
Wednesday, October 22, 2008
O Luís Lavoura tem sempre alguma razão
"Comentário de Luis Lavoura
Data: 27 Junho 2008, 12:44
O Filipe Moura ganha facilmente a aposta.
De facto acho que nao faz sentido nenhum a Fernanda (e nao so) estar neste blogue na companhia de comunistas mal reciclados como o Nuno Ramos de Almeida ou o Filipe Moura. E que, se o objetivo da Fernanda e defender os direitos e liberdade dos homossexuais, nao precisa de andar em tao mas companhias, nos no Movimento Liberal Social tambem o fazemos. A diferenca e que somos a favor da liberdade na sua totalidade. Nao somos apenas a favor da liberdade de uma pessoa namorar com quem quiser, somos tambem a favor de ela poder arrendar a sua casa a quem quiser e ao preco que quiserem combinar. Acho que faz sentido ser coerente.
A Fernanda pense bem."
Agora de facto o Luis nunca tem toda a razão. Neste caso, quando afirma que o objectivo da Fernanda Câncio é defender os direitos dos homossexuais, assim, como se fosse o único. São extremamente injustas as pessoas que afirmam que a única causa da Fernanda é o casamento dos homossexuais. Conforme se confirma pelo seu primeiro texto no novo blogue Jugular, a Fernanda tem não uma mas duas causas na vida: o casamento dos homossexuais e o aumento das rendas de casa.
(Fernanda, um dia gostaria de voltar a encontrar-te, e que então me explicasses como podes pôr no mesmo texto as palavras "igualdade", "senhorios" e "inquilinos". "Igualdade", "senhorios" e "inquilinos" são três coisas incompatíveis, pelo menos na minha limitada cabeça.)
Despeço-me dos meus companheiros do Cinco Dias: foi um grande prazer conhecer-vos e espero que a gente se continue a encontrar por aí. Saúdo os membros do novo Jugular. (Saravá companheiro Vasco. Ana e Maria João: acreditam que o café da Dona Maria foi trespassado? Vi isso quando passei por lá noutro dia.) Vou continuar a ler-vos com prazer, e com certeza que haveremos de partilhar outras lutas no futuro. Até lá, eu continuo do avesso do avesso. E quem vier atrás que feche a porta.
Tenho coligido aqui no Avesso do Avesso todos os meus textos publicados na blogosfera. Aqui ficou então um texto meu publicado no Cinco Dias na semana passada, por altura da crise que assolou o blogue.
Candidato a Pacheco Pereira ?
Nos últimos tempos emergiu uma nova estrela na constelação dos comentadores, Rui Tavares. Já aparece a torto e a direito e pedem-lhe para se pronunciar sobre tudo e mais alguma coisa.
O discurso é fluente e as ideias por vezes interessantes mas está a cair num insuportável tom de guru para o qual parecem faltar-lhe idade e experiência.
No dia 20 resolveu estender a sua inteligência até à China na última página do Público (pode ser lido aqui).
Irritou-me logo o título "A bolha da China" pois induz uma semelhança que não existe. A China tem vivido de produtos materiais e não de ficções financeiras ou, sequer, de mercadorias virtuais.
Este começo denuncia o preconceito que depois é confirmado em passagens como:
"Nos últimos anos transferimos grande parte da capacidade produtiva mundial para um regime que parece estável mas que é sobretudo opaco"
Transferimos ? Quem ? Como ? Porquê ?
"Eles ganham em crescimento económico e capacidade para anestesiar o descontentamento interno."
O “descontentamento interno” não é anestesiado mas sim resolvido quando as pessoas começam a ter meios de vida decentes.
"Dir-me-ão: a China parece sólida. E eu direi: sabem o que mais parecia sólido, aqui há uns anos?"
Este argumento é infalível: “se nos enganámos uma vez podemos voltar a enganar-nos”. Brilhante.
"Não faço ideia sobre a probabilidade de rebentar a bolha económica da China. Esperemos que seja pequena — como esperámos com todos os sucessivos cenários pessimistas que se foram confirmando nos últimos meses — e que não ocorra no curto prazo."
Pelo sim pelo não talvez valha a pena considerar que a China tem reservas suficientes para estar dois anos sem exportar nada mesmo mantendo o actual nível de importações.
A hipótese é absurda mas ajuda a perceber a proporção das coisas. (Ver AQUI)
Na candidatura a Pacheco Pereira não se deve queimar etapas...
P.S. Descobri agora mesmo uma notícia a propósito da "bolha chinesa"
WASHINGTON (AFP) — O secretário americano do Tesouro, Henry Paulson, pediu nesta terça-feira à China que não abandone as reformas econômicas, estimando que Pequim tem "uma bela oportunidade" para aprender com os erros que provocaram a crise financeira nos Estados Unidos.
"Muitos na China olham nossos recentes fracassos nos mercados financeiros e concluem que devem deter suas reformas, mas esta é, exatamente, uma bela ocasião para Pequim aprender com nossos erros e avançar com reformas capazes de trazer benefícios importantes para o país e sua população", afirmou Paulson em um discurso em Nova York para o comitê nacional de relações sino-americanas.
Paulson assinalou quatro pontos que devem ser incluídos no "programa de reformas" dos dirigentes chineses: "reequilibrar as fontes do crescimento chinês para torná-lo mais harmonioso e eficaz em matéria energética e ambiental; criar ferramentas de política macroeconômica para garantir um crescimento estável e sem inflação; manter a transição para uma economia de mercado e baseada na inovação; e enfrentar os desafios demográficos".
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A entrevista de Wallerstein
Uma entrevista recente de Immanuel Wallerstein, publicada no Le Monde, teve justificada repercussão na blogosfera portuguesa. Eu encontrei referências e reproduções da entrevista no antreus, Trix-Nitrix, o tempo das cerejas e Esquerda.Net .
Consegui finalmente tempo para, também eu, me pronunciar.
A minha satisfação com a entrada súbita deste tema, "o fim do capitalismo", na ordem do dia, pelo menos nas discussões, prende-se com o facto de eu vir a insistir no tema, sem grande sucesso, desde 1990.
Nessa época escrevi e defendi publicamente que os avanços tecnológicos, com destaque para as tecnologias com base digital, constituíam um desafio para o capitalismo e não eram o "balão de oxigénio" do sistema que muitos pensavam. Quando acrescentei que tais desenvolvimentos minavam fatalmente o assalariamento, relação identitária do capitalismo, a reacção foi de incredulidade.
Ao contrário do que possa parecer não invoco a minha experiência pessoal para reclamar qualquer estatuto mas sim para insistir na necessidade de todos reflectirmos, sem receio de errar, em vez de esperar sempre que os génios ou os cientistas esclareçam o mundo para nós.
A entrevista de Wallerstein reflecte o seu longuíssimo estudo dos ciclos, inspirado em Nicolas Kondratieff e Joseph Schumpeter. A passagem que desencadeou todo o interesse recente penso que foi a seguinte:
"De facto, penso que entrámos nos últimos trinta anos na fase terminal do sistema capitalista. O que no fundamental distingue esta fase da sucessão ininterrupta dos ciclos conjunturais anteriores é que o capitalismo já não consegue “fazer sistema", no sentido do entendimento do físico e químico Ilya Prigogine (1917-2003): Quando um sistema, biológico, químico ou social se desvia muitas vezes da sua situação de estabilidade, não consegue recuperar o equilíbrio, e o resultado foi uma bifurcação. A situação torna-se caótica, incontrolável pelas forças que até então a dominavam e assistimos ao surgimento de uma luta, não entre defensores e opositores do sistema, mas entre todos os intervenientes para determinar o que irá substituí-lo."
Trata-se aqui de interpretar este ciclo como uma ruptura ao contrário do que sucedera com os muitos ciclos que o antecederam.
Eu creio que não basta o formalismo desta constatação é preciso perceber as causas dessa ruptura. Enquanto não compreendermos os mecanismos que actuaram para produzir esta ruptura, se ela existe, continuaremos a ter muita dificuldade em imaginar os desenvolvimentos futuros e afirmar como faz Wallerstein:
"Daqui a dez anos, talvez se possa ver mais claro; em trinta ou quarenta anos, terá surgido um novo sistema."
Para mim o mais importante desta entrevista é isto:
"Acho que também é possível vermos instalar-se um sistema de exploração ainda mais violento do que o capitalismo, do que, pelo contrário, se criar um modelo mais igualitário e redistributivo."
...
"Mas o facto desta fase corresponder actualmente a um sistema em crise, fez-nos entrar num período de caos político durante o qual os actores dominantes, empresários e Estados ocidentais, farão tudo o que é tecnicamente possível para reconquistar o equilíbrio, mas é muito provável que não o consigam. Os mais inteligentes, já devem ter percebido a necessidade de criar algo completamente novo. Mas muitos já estão a mexer-se, de forma desordenada e inconsciente, para fazer emergir novas soluções, sem se saber ainda que sistema vai sair destes ensaios. Estamos num período, bastante raro, onde a crise e a impotência dos poderosos deixa um espaço ao livre arbítrio de cada um: há agora um período de tempo durante o qual todos teremos a oportunidade de influenciar o futuro para a nossa acção individual. "
Considero imperioso que a esquerda assuma este desafio e deixe de considerar estas questões, como fez ao longo dos últimos decénios, como chinesices que só atrapalham a obtenção de mais dois deputados nas próximas eleições.
(os excertos da entrevista foram "roubados" da tradução portuguesa do António Abreu no antreus)
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Tuesday, October 21, 2008
Música contra o atraso de vida
No próximo dia 14 de Novembro, 6ª feira, pelas 21:30, realiza-se na Livraria Trama, Rua S. Filipe Nery, nº25 B, ao Rato (Lisboa), a apresentação do livro: Canto de Intervenção 1960-1974, 3ª edição, Público, Lisboa, 2007, de Eduardo M. Raposo. A apresentação estará a cargo do jornalista Nuno Pacheco.
Segue-se um recital de música, sobre a obra em destaque, com o cantor Francisco Naia, acompanhado à guitarra clássica por José Carita e Ricardo Fonseca em que serão interpretados temasde José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Manuel Freire, Francisco Fanhais e José Jorge Letria.
Congresso Internacional Karl Marx
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Vai ter lugar entre 14 e 16 de Novembro o "Congresso Internacional Karl Marx", organizado pelo Instituto de História Contemporânea, Cooperativa Culturas do Trabalho e Socialismo.
Vou apresentar, em co-autoria com a Maria Rosa, no Domingo dia 16, uma comunicação cujo resumo reproduzo:
Propomo-nos aprofundar, na esteira do nosso livro "DO CAPITALISMO PARA O DIGITALISMO" (ed. Campo das Letras, 2003), o debate sobre a fase actual do Capitalismo baseada em "conhecimento" e nas tecnologias digitais.
Trata-se de saber se ela constitui uma ruptura suficientemente profunda para poder conter o embrião de um novo "modo de produção".
A esquerda de raiz marxista, tende a misturar a transição do "modo de produção" com a luta pelo poder do Estado, como se tal fosse suficiente para a emergência de uma "sociedade sem classes". Por isso subestima o significado das anomalias que a realidade vai apresentando em relação ao seu paradigma.
Mas é necessário avaliar permanentemente os sintomas da emergência de um novo "modo de produção". A pedra de toque deverá ser a decadência e retrocesso do assalariamento, enquanto "relação de produção" identitária do Capitalismo.
Temos vindo a assistir à emergência de uma nova "base material" digital que propicia graus inéditos de automatização do trabalho e de replicação e virtualização das mercadorias. A produtividade das tecnologias actuais provoca superabundância permanente de enorme variedade de mercadorias, tangíveis e intangíveis, que competem pelo mesmo recurso finito: a bolsa do consumidor.
O sistema tem procurado encontrar soluções para alargar os mercados, quer a nível interno quer a nível externo. Por um lado a exportação para economias emergentes, que muitas vezes obriga à deslocalização da produção, e por outro o sobre-endividamento das famílias induzido pelo sistema financeiro. A crise mundial que estamos a viver é apenas a eclosão dramático das suas consequências.
A concorrência leva as empresas a centrar-se no design e no marketing, que se baseiam crescentemente em “trabalho não repetitivo”,em detrimento das actividades produtivas tradicionais. O trabalho é cada vez menos um "capital variável" e mesmo as mercadorias tangíveis, feitas "por mil mãos em cem países", escapam cada vez mais à "teoria do valor".
A efectiva criação de valor pelo “trabalho não repetitivo” tem carácter imprevisível e independente da duração,o que torna desadequado o típico contrato de assalariamento em que o patrão compra força e tempo de trabalho e sabe com alguma probabilidade, à partida, que o que vai pagar é inferior ao que vai obter.
Por isso assistimos a uma tendência generalizada de redução e descaracterização do contrato tradicional de assalariamento substituído por relações precárias, de subcontratação, ou à tarefa nos projectos.
As perguntas a que importa dar resposta são pois:
- Será que o irremediável desequilibrio entre oferta e procura, e a prevalência do “trabalho não-repetitivo” atirarão o assalariamento, e portanto o Capitalismo, para o baú da história ?
- Uma vez que um novo Modo de Produção não trará automaticamente uma sociedade mais justa, como hão-de as forças progressistas aproveitar a janela de oportunidade apresentada pela transição para tentar influenciá-lo?
Monday, October 20, 2008
NÉQUIM
"Um descalabro chamado Queiroz"
Nunca esperei nada de muito significativo desta nova etapa da selecção nacional com Carlos Queiroz. Há demasiados anos que o vejo como um treinador banal de alta competição, bom programador ao que dizem, disciplinado e trabalhador, bem relacionado, que utiliza o servilismo de uma parte da imprensa portuguesa ("professor" para aqui, "professor" para ali) para esconder a falta dos atributos que mais devem habilitar um homem com as suas funções: carisma, capacidade de liderança e sagacidade nas opções técnicas, sobretudo a partir do banco.
A ausência destas qualidades, a que se soma a falta de experiência significativa como jogador, já fora anteriormente visada nas passagens pelo Sporting (onde não ganhou ao leme da melhor equipa dos últimos 20 anos do clube), pelo Real Madrid (onde foi despedido) e pela selecção (em que falhou o apuramento para o Mundial de 1994). Descontando o trabalho às ordens de Alex Fergusson, um verdadeiro líder cuja longevidade desesperou o actual seleccionador nacional e o fez agora abandonar Manchester, o resto foram experiências irrelevantes no futebol do terceiro mundo.
Queiroz continua a recolher ainda hoje os dividendos do investimento feito em 1989 e 1991 com os títulos mundiais de sub-20, quando levou ao limite a capacidade familiar de alguns jovens com qualidade futebolística para os manter perto de 250 dias em estágios sucessivos - coisa absolutamente anormal para o escalão e que alguns desses jovens pagaram de forma dura em termos académicos e culturais. (...)
A propósito do descalabro da selecção de futebol, que está já seriamente em risco de falhar o apuramento para o Mundial, pode e deve dizer-se algumas coisas concretas. Por exemplo estas (e poderiam ser muitas mais):
Ao contrário do que pretende uma mentira tantas vezes repetida, o jogo com a Dinamarca foi mau. Portugal sofreu três golos, perdeu, e poderia, até, ter sofrido outros dois golos logo nos primeiros momentos do jogo. Ou seja, começou mal e terminou pior.
Não se percebe que na preparação do jogo tenha alertado para o facto da Albânia poder atirar alguma equipa para fora do Mundial e depois, na conferência de imprensa, já tivesse sido capaz de assumir, com atraso, que este era um jogo de ganhar. Ou seja, não foi capaz de colocar essa pressão nos jogadores antes, e só depois disse - obviamente por dizer e para ganhar espaço para os cinco meses de férias que se seguem até Março - que a selecção se vai apurar ganhando onde tiver de ser. Conversa fiada. Neste momento poucos são os portugueses apreciadores de futebol que acreditam nisso.
Queiroz disse três vezes na mesma conferência de imprensa, em Braga, que não sabe o que mais pode ou deve fazer para ganhar um jogo de futebol! Não foi deslize. Tenho a certeza absoluta que ele estava a falar verdade.
É normal um treinador perder- -se nos elevadores do estádio (!!!) e (mandar) justificar assim a sua falta ao compromisso contratualmente assumido de falar à televisão (TVI) que tem os direitos do jogo?
Prova-se que é uma absoluta estupidez esperar de um seleccionador a disponibilidade para "reorganizar" o futebol jovem. Um seleccionador não é um director técnico. Como o velho Aragonés provou, desse homem só se espera uma visão, uma estratégia e resultados concretos da missão.
Pergunto de novo: quanto vai pagar a FPF de indemnização a Queiroz se tiver de rescindir o contrato de quatro anos? Scolari, recorde-se, para comparar, nunca teve direito a mais de dois... Madaíl está enganado se pensa que poderá resistir à pressão da opinião pública depois de um eventual fracasso nesta campanha para o Mundial. Quanto muito, promoverá mais um excêntrico, como o euromilhões, porque esperar que Queiroz vá embora agora, e pelo próprio pé, promovendo uma mudança que seria boa para a selecção, é esperar de mais para quem o conhece.
O pior de tudo é o seguinte: em três meses apenas, Queiroz cortou a relação da equipa nacional com o seu público. Como se vai reconstruir agora essa ligação?
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